Foi no ano de 1982, quando os ventos do Brasil começavam a mudar de direção, que o jornalista Luiz Antonio Mello resolveu abrir sua própria rádio. Nascia ali, em um ímpeto um tanto quanto revolucionário para a época, a Fluminense FM, rádio que só transmitia o melhor do rock, como Blitz, Paralamas do Sucesso e Legião Urbana, e que agora ganha seu próprio filme com Aumenta que é Rock’n’Roll, que chegou aos cinemas na quinta, 25.
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Dirigido por Tomás Portella (Carga Máxima), o longa-metragem não tem vergonha de se assumir como uma cinebiografia – há todos aqueles elementos que já estamos acostumados a ver nesse tipo de história, com a estrutura bem clara de início, meio e fim.
No entanto, é difícil dizer que o filme não é divertido ou que não é importante. Afinal, mostra os bastidores um tanto quanto juvenis dessa rádio, com as coisas acontecendo aos atropelos, causando uma sensação de que tudo pode ruir em um segundo. Por outro lado, há essa importância de resgate, não só da Fluminense FM, mas também de Luiz Antonio.
“Mais do que um resgate de memória, este filme é uma construção de memória”, resume Johnny Massaro, que interpreta o próprio Luiz nessa empreitada nas ondas do rádio.
“Eu acho um absurdo o Luiz Antonio ter feito tudo isso que fez, de tamanha importância, e passar despercebido na rua. Ele é muito importante e deveria ser mais reconhecido”, protesta Portella, que teve bastante contato com o jornalista para a execução do filme. “Eu acho que esse filme tem a ver com nos reconhecermos como brasileiros, saindo desse lugar de vira-lata, e mostrando que quando o Brasil é moderno, somos muito modernos”.
Entre arquivos, histórias e direitos autorais
Uma coisa que surpreende ao assistir ao filme é perceber quantas músicas brasileiras fazem parte daquela sinfonia de histórias – tem até músicas do Legião Urbana, geralmente tão difíceis para liberação, assim como sucessos de Blitz, Lobão e alguns internacionais.
Curiosamente, Portella conta que essa foi a parte fácil do processo. “Os artistas, quando sabiam que era para um filme sobre o Luiz Antonio e sobre a Fluminense, liberavam na hora. O Lobão nem quis cobrar”, conta o cineasta. “Depois acabamos acertando um valor geral para esses direitos, mas encontramos pouquíssima resistência nesse sentido”.
O que deu trabalho, por outro lado, foi conseguir reunir todas as histórias que aconteceram não só nas transmissões, mas nos corredores da Fluminense. “São tantas histórias que dava pra gente fazer uma série”, diz Tomás. “É uma história que não acaba nunca”.
Outro ponto importante é colocar na tela um aspecto de vanguarda da rádio, que foi a primeira a ter um trabalho de locução 100% feminino. Quem representa isso melhor na tela é Marina Provenzzano, atriz que vive Alice, uma locutora que não quer saber de agradar os outros e que segue seu próprio caminho – com direito a ter uma reviravolta no final.
“É maravilhoso fazer essa mulher que é motoqueira, que manda o chefe calar a boca, que não deixa que a demitam”, diz Marina. “Essa rádio é especial. Tem um lugar de empoderamento com essa questão da locução. Isso acaba representado na Alice, que tem muita potência, muita coisa reprimida que ela coloca pra fora. Resume a história da rádio.”