Improvável. Esse é o adjetivo que mais se encaixa com tudo ao redor de Borderlands, adaptação cinematográfica do videogame de sucesso e que está em cartaz nos cinemas. Afinal, este é mais um projeto que estava rondando Hollywood havia anos, mas que nunca se concretizava. Parecia um mito, uma lenda. Até que, do nada, tudo andou.
O longa é uma tradicional space opera (”ópera espacial”), que segue a essência do game: Lilith (Cate Blanchett) é uma caçadora de recompensas contratada por um poderoso para ir à um planeta às margens da galáxia e resgatar sua filha perdida. Mas, chegando lá, as coisas ficam imprevisíveis: a menina não parece estar interessada em retornar ao pai e, ao seu redor, estão figuras como um soldado baixinho (Kevin Hart) e um psicopata (Florian Munteanu).
Em busca de uma identidade
É um filme simples, na essência, mas que envolve algo extremamente complexo: criar uma identidade própria. As primeiras conversas sobre Borderlands começaram em 2015, quando o cineasta e roteirista Leigh Whannell (O Homem Invisível, Upgrade) abraçou o projeto. As primeiras conversas começaram a pipocar, só que o projeto logo desandou. Eli Roth, um diretor mais lembrado por seus trabalhos no cinema de terror, acabou sendo a opção final.
Mas, de novo, a escolha por Roth esbarra nesse problema essencial de criar uma identidade. O jogo de Borderlands toma de inspiração inúmeros filmes que trafegam nesse universo da ficção científica – de Star Wars a Mad Max. Para se tornar um filme, é essencial que o cineasta se afaste um pouco dessas influências diretas e tenha algo a dizer.
Roth parece não conseguir. Borderlands às vezes lembra uma colagem de filmes de ficção científica que não deram certo, como O Destino de Júpiter e Valerian e a Cidade dos Mil Planetas, enquanto em outros parece um filme feito por fãs querendo imitar Star Wars e até Alita, bom filme que se saiu bem de bilheteria em 2019. Difícil pensar em algo, dentro do filme, que tenha uma cara própria, uma identidade, algo que o torne, de pronto, identificável.
E é aí que voltamos ao adjetivo inicial: improvável. Não só o projeto, que parecia relutar em vir à vida, mas tudo que o envolve. Roth tem uma mão muito pesada para o horror e não sabe criar uma aventura, como já tinha mostrado no esquisito O Mistério do Relógio na Parede. E o elenco é espantoso: as oscarizadas Blanchett (Blue Jasmine) e Jamie Lee Curtis (Halloween), Jack Black e Kevin Hart (ambos em Jumanji), Edgar Ramírez (Jungle Cruise).
Pode chamar a atenção em um primeiro momento, mas depois só causa estranheza. Há um claro desconforto em partes dos atores ali presentes, principalmente Blanchett – a inusitada presença dela, aliás, faz Borderlands parecer uma daquelas piadas em que um filme faz uma esquete do que Hollywood se transformou. Tudo é artificial, estranho, desconfortável.
Borderlands foge do propósito em ser divertido – algo que parece simples, mas que é mais complexo do que colocar piadinhas com Jack Black como um robô. Estranho, o filme não consegue passar a barreira do desconforto e sequer compreender com quem está falando.
Crianças? Violento demais. Adolescentes? Não vão se conectar com atores e história. Adultos? Bobinho demais. É um filme sem propósito, sem caminho, sem rumo. E isso é a pior coisa que pode acontecer com uma história. E, assim, Borderlands recai na antiga maldição de filmes baseados em videogames, sem nunca fazer jus à história que faz tanto sucesso nos consoles. Será que não é melhor procurar novas ideias em outros lugares?