'Carrie, A Estranha' é um casamento perfeito de personagem e atriz


Filme de Brian de Palma com Sissy Spacek está em curta exibição em rede de cinemas no Brasil nesta quarta-feira, 22; veja o trailer

Por Luiz Carlos Merten

Você ainda pode (re)ver nesta quarta-feira, 22, Carrie, a Estranha nos Clássicos Cinemark e, depois, no fim de semana, será a vez de ET, o Extraterrestre de Steven Spielberg, pedir passagem na revisão de grandes filmes restaurados. Nunca houve, na tela, uma adolescente como Carrie. Nunca houve uma atriz que representasse a adolescente como Sissy Spacek, em Carrie. Ela anda encurvada, balbucia ao invés de falar, olha para baixo (fugindo a todo contato visual) e comprime os livros abraçados contra o peito, como se fossem uma armadura para ocultar os seios em desenvolvimento. 

Carrie tem uma mãe fanática religiosa que já seria suficiente para fazer de sua vida um inferno, mas ela ainda tem os colegas - e John Travolta, e Nancy Allen - que ainda conseguem fazer as coisas piores. A mãe, e Travolta, e Nancy transformam o que seria a noite da redenção de Carrie - o baile de formatura - no máximo da sua humilhação. E ela revoltada, ofendida, vai partir para a vingança usando seus poderes kinestésicos. Carrie está pronta para matar.

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Em 1976, quando fez sua adaptação do livro de Stephen King, Brian De Palma já tinha no currículo obras que haviam chamado a atgenção dos críticos, como Irmãs Diabólicas, O Fantasma do Paraíso e Trágica Obsessão. Os críticos já sabiam que ele era um aplicado discípulo de Alfred Hitchcock e que compartilhava algumas obsessões do mestre do suspense. A cena do chuveiro de Psicose, quando Marion Crane é retalhada na tela e Hitchcock faz mais de 70 cortes em 40 e poucos segundos de filme, virara a Bíblia (profana) de De Palma. E foi aí que ele construiu a 'sua' Carrie. Privada de voz, de expressão, de sexualidade - sua primeira menstruação vira motivo de chacota na escola -, ela reage transformando o sangue sacrificial (de porco) que Travolta e Nancy lançam sobre ela num banho de sangue que transforma a escola num matadouro.

Existem ecos de Psicose, claro, mas principalmente de Marnie, as Confissões de Uma Ladra e O Homem Que Sabia Demais em Carrie - as cenas em que Amy Irving tenta avisar Sissy Spacek do desastre iminente durante o baile evocam as de Doris Day no Albert Hall. De Palma fez depois Vestida para Matar, Um Tiro na Noite, Dublê de Corpo e Os Intocáveis e aí, embora a sombra de Hitchcock ainda estivesse presente (sempre!), as obsessões já eram dele. A mulher, no universo gótico de De Palma, é sempre o joguete dos homens, até chegar ao estupro da vietnamita em Pecados de Guerra, já no limiar dos anos 1990. A destruição do corpo feminino é o grande tema que assombra De Palma. Carrie, de alguma forma, é a sua Cinderela.

O baile, o príncipe, a mãe (pior que madrasta), as colegas cruéis (piores que as meia-irmãs). Tudo remete Carrie ao conto que aqui não é de fadas. Apesar das similaridades, Carrie é a anti-Cinderela. E De Palma, acertando contas com o próprio passado - ele admitiu que sofria bullyng na escola por já ser um freak apaixonado por cinema -, vinga-se de tudo e todos. Seu filme é um conto moral religioso. O sangue, que Hitchcock baniu de Psicose - e por isso fez o filme em preto e branco -, corre solto em Carrie, a Estranha.

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Quase 40 anos depois, em 2013, Kimberley Peirce fez o remake do livro e a sua Carrie não é ruim. Julianne Moore é uma mãe ainda mais esquisita que Piper Laurie. O problema é Chloe Grace Moritz, uma atriz até interessante, mas que, apesar do esforço, não consegue ser 'estranha' como Sissy Spacek. Existem mistérios no cinema. Carrie, hoje nos Clássicos Cinemark, oferece essa raridade que é o casamento perfeito de uma atriz com um papel. Ninguém mais poderia ser Carrie. Tanto é verdade que Sissy nunca se desvencilhou completamente dela, mesmo tendo recebido o Oscar de 1981 por seu papel como Loretta Lynn, a cantora country filha do mineiro em O Destino Mudou Sua Vida, de Michael Apted.

Você ainda pode (re)ver nesta quarta-feira, 22, Carrie, a Estranha nos Clássicos Cinemark e, depois, no fim de semana, será a vez de ET, o Extraterrestre de Steven Spielberg, pedir passagem na revisão de grandes filmes restaurados. Nunca houve, na tela, uma adolescente como Carrie. Nunca houve uma atriz que representasse a adolescente como Sissy Spacek, em Carrie. Ela anda encurvada, balbucia ao invés de falar, olha para baixo (fugindo a todo contato visual) e comprime os livros abraçados contra o peito, como se fossem uma armadura para ocultar os seios em desenvolvimento. 

Carrie tem uma mãe fanática religiosa que já seria suficiente para fazer de sua vida um inferno, mas ela ainda tem os colegas - e John Travolta, e Nancy Allen - que ainda conseguem fazer as coisas piores. A mãe, e Travolta, e Nancy transformam o que seria a noite da redenção de Carrie - o baile de formatura - no máximo da sua humilhação. E ela revoltada, ofendida, vai partir para a vingança usando seus poderes kinestésicos. Carrie está pronta para matar.

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Em 1976, quando fez sua adaptação do livro de Stephen King, Brian De Palma já tinha no currículo obras que haviam chamado a atgenção dos críticos, como Irmãs Diabólicas, O Fantasma do Paraíso e Trágica Obsessão. Os críticos já sabiam que ele era um aplicado discípulo de Alfred Hitchcock e que compartilhava algumas obsessões do mestre do suspense. A cena do chuveiro de Psicose, quando Marion Crane é retalhada na tela e Hitchcock faz mais de 70 cortes em 40 e poucos segundos de filme, virara a Bíblia (profana) de De Palma. E foi aí que ele construiu a 'sua' Carrie. Privada de voz, de expressão, de sexualidade - sua primeira menstruação vira motivo de chacota na escola -, ela reage transformando o sangue sacrificial (de porco) que Travolta e Nancy lançam sobre ela num banho de sangue que transforma a escola num matadouro.

Existem ecos de Psicose, claro, mas principalmente de Marnie, as Confissões de Uma Ladra e O Homem Que Sabia Demais em Carrie - as cenas em que Amy Irving tenta avisar Sissy Spacek do desastre iminente durante o baile evocam as de Doris Day no Albert Hall. De Palma fez depois Vestida para Matar, Um Tiro na Noite, Dublê de Corpo e Os Intocáveis e aí, embora a sombra de Hitchcock ainda estivesse presente (sempre!), as obsessões já eram dele. A mulher, no universo gótico de De Palma, é sempre o joguete dos homens, até chegar ao estupro da vietnamita em Pecados de Guerra, já no limiar dos anos 1990. A destruição do corpo feminino é o grande tema que assombra De Palma. Carrie, de alguma forma, é a sua Cinderela.

O baile, o príncipe, a mãe (pior que madrasta), as colegas cruéis (piores que as meia-irmãs). Tudo remete Carrie ao conto que aqui não é de fadas. Apesar das similaridades, Carrie é a anti-Cinderela. E De Palma, acertando contas com o próprio passado - ele admitiu que sofria bullyng na escola por já ser um freak apaixonado por cinema -, vinga-se de tudo e todos. Seu filme é um conto moral religioso. O sangue, que Hitchcock baniu de Psicose - e por isso fez o filme em preto e branco -, corre solto em Carrie, a Estranha.

Quase 40 anos depois, em 2013, Kimberley Peirce fez o remake do livro e a sua Carrie não é ruim. Julianne Moore é uma mãe ainda mais esquisita que Piper Laurie. O problema é Chloe Grace Moritz, uma atriz até interessante, mas que, apesar do esforço, não consegue ser 'estranha' como Sissy Spacek. Existem mistérios no cinema. Carrie, hoje nos Clássicos Cinemark, oferece essa raridade que é o casamento perfeito de uma atriz com um papel. Ninguém mais poderia ser Carrie. Tanto é verdade que Sissy nunca se desvencilhou completamente dela, mesmo tendo recebido o Oscar de 1981 por seu papel como Loretta Lynn, a cantora country filha do mineiro em O Destino Mudou Sua Vida, de Michael Apted.

Você ainda pode (re)ver nesta quarta-feira, 22, Carrie, a Estranha nos Clássicos Cinemark e, depois, no fim de semana, será a vez de ET, o Extraterrestre de Steven Spielberg, pedir passagem na revisão de grandes filmes restaurados. Nunca houve, na tela, uma adolescente como Carrie. Nunca houve uma atriz que representasse a adolescente como Sissy Spacek, em Carrie. Ela anda encurvada, balbucia ao invés de falar, olha para baixo (fugindo a todo contato visual) e comprime os livros abraçados contra o peito, como se fossem uma armadura para ocultar os seios em desenvolvimento. 

Carrie tem uma mãe fanática religiosa que já seria suficiente para fazer de sua vida um inferno, mas ela ainda tem os colegas - e John Travolta, e Nancy Allen - que ainda conseguem fazer as coisas piores. A mãe, e Travolta, e Nancy transformam o que seria a noite da redenção de Carrie - o baile de formatura - no máximo da sua humilhação. E ela revoltada, ofendida, vai partir para a vingança usando seus poderes kinestésicos. Carrie está pronta para matar.

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Em 1976, quando fez sua adaptação do livro de Stephen King, Brian De Palma já tinha no currículo obras que haviam chamado a atgenção dos críticos, como Irmãs Diabólicas, O Fantasma do Paraíso e Trágica Obsessão. Os críticos já sabiam que ele era um aplicado discípulo de Alfred Hitchcock e que compartilhava algumas obsessões do mestre do suspense. A cena do chuveiro de Psicose, quando Marion Crane é retalhada na tela e Hitchcock faz mais de 70 cortes em 40 e poucos segundos de filme, virara a Bíblia (profana) de De Palma. E foi aí que ele construiu a 'sua' Carrie. Privada de voz, de expressão, de sexualidade - sua primeira menstruação vira motivo de chacota na escola -, ela reage transformando o sangue sacrificial (de porco) que Travolta e Nancy lançam sobre ela num banho de sangue que transforma a escola num matadouro.

Existem ecos de Psicose, claro, mas principalmente de Marnie, as Confissões de Uma Ladra e O Homem Que Sabia Demais em Carrie - as cenas em que Amy Irving tenta avisar Sissy Spacek do desastre iminente durante o baile evocam as de Doris Day no Albert Hall. De Palma fez depois Vestida para Matar, Um Tiro na Noite, Dublê de Corpo e Os Intocáveis e aí, embora a sombra de Hitchcock ainda estivesse presente (sempre!), as obsessões já eram dele. A mulher, no universo gótico de De Palma, é sempre o joguete dos homens, até chegar ao estupro da vietnamita em Pecados de Guerra, já no limiar dos anos 1990. A destruição do corpo feminino é o grande tema que assombra De Palma. Carrie, de alguma forma, é a sua Cinderela.

O baile, o príncipe, a mãe (pior que madrasta), as colegas cruéis (piores que as meia-irmãs). Tudo remete Carrie ao conto que aqui não é de fadas. Apesar das similaridades, Carrie é a anti-Cinderela. E De Palma, acertando contas com o próprio passado - ele admitiu que sofria bullyng na escola por já ser um freak apaixonado por cinema -, vinga-se de tudo e todos. Seu filme é um conto moral religioso. O sangue, que Hitchcock baniu de Psicose - e por isso fez o filme em preto e branco -, corre solto em Carrie, a Estranha.

Quase 40 anos depois, em 2013, Kimberley Peirce fez o remake do livro e a sua Carrie não é ruim. Julianne Moore é uma mãe ainda mais esquisita que Piper Laurie. O problema é Chloe Grace Moritz, uma atriz até interessante, mas que, apesar do esforço, não consegue ser 'estranha' como Sissy Spacek. Existem mistérios no cinema. Carrie, hoje nos Clássicos Cinemark, oferece essa raridade que é o casamento perfeito de uma atriz com um papel. Ninguém mais poderia ser Carrie. Tanto é verdade que Sissy nunca se desvencilhou completamente dela, mesmo tendo recebido o Oscar de 1981 por seu papel como Loretta Lynn, a cantora country filha do mineiro em O Destino Mudou Sua Vida, de Michael Apted.

Você ainda pode (re)ver nesta quarta-feira, 22, Carrie, a Estranha nos Clássicos Cinemark e, depois, no fim de semana, será a vez de ET, o Extraterrestre de Steven Spielberg, pedir passagem na revisão de grandes filmes restaurados. Nunca houve, na tela, uma adolescente como Carrie. Nunca houve uma atriz que representasse a adolescente como Sissy Spacek, em Carrie. Ela anda encurvada, balbucia ao invés de falar, olha para baixo (fugindo a todo contato visual) e comprime os livros abraçados contra o peito, como se fossem uma armadura para ocultar os seios em desenvolvimento. 

Carrie tem uma mãe fanática religiosa que já seria suficiente para fazer de sua vida um inferno, mas ela ainda tem os colegas - e John Travolta, e Nancy Allen - que ainda conseguem fazer as coisas piores. A mãe, e Travolta, e Nancy transformam o que seria a noite da redenção de Carrie - o baile de formatura - no máximo da sua humilhação. E ela revoltada, ofendida, vai partir para a vingança usando seus poderes kinestésicos. Carrie está pronta para matar.

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Em 1976, quando fez sua adaptação do livro de Stephen King, Brian De Palma já tinha no currículo obras que haviam chamado a atgenção dos críticos, como Irmãs Diabólicas, O Fantasma do Paraíso e Trágica Obsessão. Os críticos já sabiam que ele era um aplicado discípulo de Alfred Hitchcock e que compartilhava algumas obsessões do mestre do suspense. A cena do chuveiro de Psicose, quando Marion Crane é retalhada na tela e Hitchcock faz mais de 70 cortes em 40 e poucos segundos de filme, virara a Bíblia (profana) de De Palma. E foi aí que ele construiu a 'sua' Carrie. Privada de voz, de expressão, de sexualidade - sua primeira menstruação vira motivo de chacota na escola -, ela reage transformando o sangue sacrificial (de porco) que Travolta e Nancy lançam sobre ela num banho de sangue que transforma a escola num matadouro.

Existem ecos de Psicose, claro, mas principalmente de Marnie, as Confissões de Uma Ladra e O Homem Que Sabia Demais em Carrie - as cenas em que Amy Irving tenta avisar Sissy Spacek do desastre iminente durante o baile evocam as de Doris Day no Albert Hall. De Palma fez depois Vestida para Matar, Um Tiro na Noite, Dublê de Corpo e Os Intocáveis e aí, embora a sombra de Hitchcock ainda estivesse presente (sempre!), as obsessões já eram dele. A mulher, no universo gótico de De Palma, é sempre o joguete dos homens, até chegar ao estupro da vietnamita em Pecados de Guerra, já no limiar dos anos 1990. A destruição do corpo feminino é o grande tema que assombra De Palma. Carrie, de alguma forma, é a sua Cinderela.

O baile, o príncipe, a mãe (pior que madrasta), as colegas cruéis (piores que as meia-irmãs). Tudo remete Carrie ao conto que aqui não é de fadas. Apesar das similaridades, Carrie é a anti-Cinderela. E De Palma, acertando contas com o próprio passado - ele admitiu que sofria bullyng na escola por já ser um freak apaixonado por cinema -, vinga-se de tudo e todos. Seu filme é um conto moral religioso. O sangue, que Hitchcock baniu de Psicose - e por isso fez o filme em preto e branco -, corre solto em Carrie, a Estranha.

Quase 40 anos depois, em 2013, Kimberley Peirce fez o remake do livro e a sua Carrie não é ruim. Julianne Moore é uma mãe ainda mais esquisita que Piper Laurie. O problema é Chloe Grace Moritz, uma atriz até interessante, mas que, apesar do esforço, não consegue ser 'estranha' como Sissy Spacek. Existem mistérios no cinema. Carrie, hoje nos Clássicos Cinemark, oferece essa raridade que é o casamento perfeito de uma atriz com um papel. Ninguém mais poderia ser Carrie. Tanto é verdade que Sissy nunca se desvencilhou completamente dela, mesmo tendo recebido o Oscar de 1981 por seu papel como Loretta Lynn, a cantora country filha do mineiro em O Destino Mudou Sua Vida, de Michael Apted.

Você ainda pode (re)ver nesta quarta-feira, 22, Carrie, a Estranha nos Clássicos Cinemark e, depois, no fim de semana, será a vez de ET, o Extraterrestre de Steven Spielberg, pedir passagem na revisão de grandes filmes restaurados. Nunca houve, na tela, uma adolescente como Carrie. Nunca houve uma atriz que representasse a adolescente como Sissy Spacek, em Carrie. Ela anda encurvada, balbucia ao invés de falar, olha para baixo (fugindo a todo contato visual) e comprime os livros abraçados contra o peito, como se fossem uma armadura para ocultar os seios em desenvolvimento. 

Carrie tem uma mãe fanática religiosa que já seria suficiente para fazer de sua vida um inferno, mas ela ainda tem os colegas - e John Travolta, e Nancy Allen - que ainda conseguem fazer as coisas piores. A mãe, e Travolta, e Nancy transformam o que seria a noite da redenção de Carrie - o baile de formatura - no máximo da sua humilhação. E ela revoltada, ofendida, vai partir para a vingança usando seus poderes kinestésicos. Carrie está pronta para matar.

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Em 1976, quando fez sua adaptação do livro de Stephen King, Brian De Palma já tinha no currículo obras que haviam chamado a atgenção dos críticos, como Irmãs Diabólicas, O Fantasma do Paraíso e Trágica Obsessão. Os críticos já sabiam que ele era um aplicado discípulo de Alfred Hitchcock e que compartilhava algumas obsessões do mestre do suspense. A cena do chuveiro de Psicose, quando Marion Crane é retalhada na tela e Hitchcock faz mais de 70 cortes em 40 e poucos segundos de filme, virara a Bíblia (profana) de De Palma. E foi aí que ele construiu a 'sua' Carrie. Privada de voz, de expressão, de sexualidade - sua primeira menstruação vira motivo de chacota na escola -, ela reage transformando o sangue sacrificial (de porco) que Travolta e Nancy lançam sobre ela num banho de sangue que transforma a escola num matadouro.

Existem ecos de Psicose, claro, mas principalmente de Marnie, as Confissões de Uma Ladra e O Homem Que Sabia Demais em Carrie - as cenas em que Amy Irving tenta avisar Sissy Spacek do desastre iminente durante o baile evocam as de Doris Day no Albert Hall. De Palma fez depois Vestida para Matar, Um Tiro na Noite, Dublê de Corpo e Os Intocáveis e aí, embora a sombra de Hitchcock ainda estivesse presente (sempre!), as obsessões já eram dele. A mulher, no universo gótico de De Palma, é sempre o joguete dos homens, até chegar ao estupro da vietnamita em Pecados de Guerra, já no limiar dos anos 1990. A destruição do corpo feminino é o grande tema que assombra De Palma. Carrie, de alguma forma, é a sua Cinderela.

O baile, o príncipe, a mãe (pior que madrasta), as colegas cruéis (piores que as meia-irmãs). Tudo remete Carrie ao conto que aqui não é de fadas. Apesar das similaridades, Carrie é a anti-Cinderela. E De Palma, acertando contas com o próprio passado - ele admitiu que sofria bullyng na escola por já ser um freak apaixonado por cinema -, vinga-se de tudo e todos. Seu filme é um conto moral religioso. O sangue, que Hitchcock baniu de Psicose - e por isso fez o filme em preto e branco -, corre solto em Carrie, a Estranha.

Quase 40 anos depois, em 2013, Kimberley Peirce fez o remake do livro e a sua Carrie não é ruim. Julianne Moore é uma mãe ainda mais esquisita que Piper Laurie. O problema é Chloe Grace Moritz, uma atriz até interessante, mas que, apesar do esforço, não consegue ser 'estranha' como Sissy Spacek. Existem mistérios no cinema. Carrie, hoje nos Clássicos Cinemark, oferece essa raridade que é o casamento perfeito de uma atriz com um papel. Ninguém mais poderia ser Carrie. Tanto é verdade que Sissy nunca se desvencilhou completamente dela, mesmo tendo recebido o Oscar de 1981 por seu papel como Loretta Lynn, a cantora country filha do mineiro em O Destino Mudou Sua Vida, de Michael Apted.

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