‘Carvão’, de Carolina Markowicz, retrata um Brasil que não pode ser motivo de ufanismo


Filme é protagonizado por Maeve Jinkings e história se passa no interior de São Paulo

Por Luiz Carlos Merten

Ainda em cartaz, em horários alternativos de salas especiais da cidade, o longa de Carolina Markowitcz chegou aos cinemas credenciado pelo prêmio - o Redentor de melhor roteiro - que recebeu no Festival do Rio. Justamente, o roteiro. Carvão, é como o filme se chama, não tinha nada a ver com o título quando começou a ser escrito pela diretora. O carvão só surgiu muito tempo depois. Em entrevista ao Estadão, Carolina contou a gênese do filme. O projeto sempre esteve com ela, só precisava o momento certo para aflorar.

Cena do filme Carvão, de Carolina Markowicz Foto: Pandora Filmes
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“Passei a infância em Bragança Paulista, numa comunidade regida pelas aparências. É incrível a sensação de liberdade que a gente pode ter, e ao mesmo tempo saber que está sendo vigiada o tempo todo. A vida toda sempre ouvi a preocupação com o que os outros poderiam pensar, ou dizer. O roteiro foi tomando forma assim. O abjeto pode ser trivializado, pior, pode ser justificado em nome de Deus e da família.” Foi assim que se construiu a história dessa família interiorana, e periférica. Pai, mãe, avô e o filho/neto. O avô está entrevado, a garoto vadia em brincadeiras com o filho do vizinho. Pai e mãe guardam segredos escusos.

O pai tem uma ligação - com outro homem. Quando o avô sofre uma crise, a agente do serviço social acena com duas possibilidades para a mãe, interpretada por Maeve Jinkings. Livrar-se do idoso e acolher em casa um fugitivo, o argentino César Bordón, à procura de esconderijo. Maeve leva ao padre sua inquietação. É lícito abreviar a dor de quem sofre - o avô? Resolvida a questão, o estranho adentra a casa. De certa forma substitui o avô e estabelece uma ligação com o menino. A partir daí, a narrativa torna-se mais complexa.

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Um verdadeiro bestiário, mundo cão. Sexo, oração, droga, dois assassinatos. Vale tudo. Muitas vezes, senão quase sempre, o olhar é o do garoto. Nenhuma poesia infantil. O olhar do garoto, da diretora, é duro. Não há esperança, nem para o pequeno. O filme talvez não tenha nascido especificamente com o desejo de refletir sobre o bolsonarismo e o que se passou no Brasil dos últimos quatro anos - é anterior -, mas o diálogo com o País profundo está na tela, e de forma cristalina.

O carvão - a casa nem a família tinham ligação com o minério. Foi numa fase bem posterior, na busca de locação, que Carolina, através do profissional que fazia a pesquisa para ela, chegou àquele lugar. A casa, o forno, o barranco ao fundo. Em função da própria paisagem, o roteiro, que já vinha sofrendo transformações, tomou sua forma definitiva. Carvão, o filme, talvez não seja fácil. Confronta o público com um Brasil que não pode ser motivo de ufanismo. O elenco Ajuda. Maeve, linda no cinema de Kleber Mendonça Filho, tem momentos em que parece um bicho. O cabelo parece duro de fumaça, de poeira. Foi um sacrifício que ela fez para melhor servir à personagem.

Ainda em cartaz, em horários alternativos de salas especiais da cidade, o longa de Carolina Markowitcz chegou aos cinemas credenciado pelo prêmio - o Redentor de melhor roteiro - que recebeu no Festival do Rio. Justamente, o roteiro. Carvão, é como o filme se chama, não tinha nada a ver com o título quando começou a ser escrito pela diretora. O carvão só surgiu muito tempo depois. Em entrevista ao Estadão, Carolina contou a gênese do filme. O projeto sempre esteve com ela, só precisava o momento certo para aflorar.

Cena do filme Carvão, de Carolina Markowicz Foto: Pandora Filmes

“Passei a infância em Bragança Paulista, numa comunidade regida pelas aparências. É incrível a sensação de liberdade que a gente pode ter, e ao mesmo tempo saber que está sendo vigiada o tempo todo. A vida toda sempre ouvi a preocupação com o que os outros poderiam pensar, ou dizer. O roteiro foi tomando forma assim. O abjeto pode ser trivializado, pior, pode ser justificado em nome de Deus e da família.” Foi assim que se construiu a história dessa família interiorana, e periférica. Pai, mãe, avô e o filho/neto. O avô está entrevado, a garoto vadia em brincadeiras com o filho do vizinho. Pai e mãe guardam segredos escusos.

O pai tem uma ligação - com outro homem. Quando o avô sofre uma crise, a agente do serviço social acena com duas possibilidades para a mãe, interpretada por Maeve Jinkings. Livrar-se do idoso e acolher em casa um fugitivo, o argentino César Bordón, à procura de esconderijo. Maeve leva ao padre sua inquietação. É lícito abreviar a dor de quem sofre - o avô? Resolvida a questão, o estranho adentra a casa. De certa forma substitui o avô e estabelece uma ligação com o menino. A partir daí, a narrativa torna-se mais complexa.

Um verdadeiro bestiário, mundo cão. Sexo, oração, droga, dois assassinatos. Vale tudo. Muitas vezes, senão quase sempre, o olhar é o do garoto. Nenhuma poesia infantil. O olhar do garoto, da diretora, é duro. Não há esperança, nem para o pequeno. O filme talvez não tenha nascido especificamente com o desejo de refletir sobre o bolsonarismo e o que se passou no Brasil dos últimos quatro anos - é anterior -, mas o diálogo com o País profundo está na tela, e de forma cristalina.

O carvão - a casa nem a família tinham ligação com o minério. Foi numa fase bem posterior, na busca de locação, que Carolina, através do profissional que fazia a pesquisa para ela, chegou àquele lugar. A casa, o forno, o barranco ao fundo. Em função da própria paisagem, o roteiro, que já vinha sofrendo transformações, tomou sua forma definitiva. Carvão, o filme, talvez não seja fácil. Confronta o público com um Brasil que não pode ser motivo de ufanismo. O elenco Ajuda. Maeve, linda no cinema de Kleber Mendonça Filho, tem momentos em que parece um bicho. O cabelo parece duro de fumaça, de poeira. Foi um sacrifício que ela fez para melhor servir à personagem.

Ainda em cartaz, em horários alternativos de salas especiais da cidade, o longa de Carolina Markowitcz chegou aos cinemas credenciado pelo prêmio - o Redentor de melhor roteiro - que recebeu no Festival do Rio. Justamente, o roteiro. Carvão, é como o filme se chama, não tinha nada a ver com o título quando começou a ser escrito pela diretora. O carvão só surgiu muito tempo depois. Em entrevista ao Estadão, Carolina contou a gênese do filme. O projeto sempre esteve com ela, só precisava o momento certo para aflorar.

Cena do filme Carvão, de Carolina Markowicz Foto: Pandora Filmes

“Passei a infância em Bragança Paulista, numa comunidade regida pelas aparências. É incrível a sensação de liberdade que a gente pode ter, e ao mesmo tempo saber que está sendo vigiada o tempo todo. A vida toda sempre ouvi a preocupação com o que os outros poderiam pensar, ou dizer. O roteiro foi tomando forma assim. O abjeto pode ser trivializado, pior, pode ser justificado em nome de Deus e da família.” Foi assim que se construiu a história dessa família interiorana, e periférica. Pai, mãe, avô e o filho/neto. O avô está entrevado, a garoto vadia em brincadeiras com o filho do vizinho. Pai e mãe guardam segredos escusos.

O pai tem uma ligação - com outro homem. Quando o avô sofre uma crise, a agente do serviço social acena com duas possibilidades para a mãe, interpretada por Maeve Jinkings. Livrar-se do idoso e acolher em casa um fugitivo, o argentino César Bordón, à procura de esconderijo. Maeve leva ao padre sua inquietação. É lícito abreviar a dor de quem sofre - o avô? Resolvida a questão, o estranho adentra a casa. De certa forma substitui o avô e estabelece uma ligação com o menino. A partir daí, a narrativa torna-se mais complexa.

Um verdadeiro bestiário, mundo cão. Sexo, oração, droga, dois assassinatos. Vale tudo. Muitas vezes, senão quase sempre, o olhar é o do garoto. Nenhuma poesia infantil. O olhar do garoto, da diretora, é duro. Não há esperança, nem para o pequeno. O filme talvez não tenha nascido especificamente com o desejo de refletir sobre o bolsonarismo e o que se passou no Brasil dos últimos quatro anos - é anterior -, mas o diálogo com o País profundo está na tela, e de forma cristalina.

O carvão - a casa nem a família tinham ligação com o minério. Foi numa fase bem posterior, na busca de locação, que Carolina, através do profissional que fazia a pesquisa para ela, chegou àquele lugar. A casa, o forno, o barranco ao fundo. Em função da própria paisagem, o roteiro, que já vinha sofrendo transformações, tomou sua forma definitiva. Carvão, o filme, talvez não seja fácil. Confronta o público com um Brasil que não pode ser motivo de ufanismo. O elenco Ajuda. Maeve, linda no cinema de Kleber Mendonça Filho, tem momentos em que parece um bicho. O cabelo parece duro de fumaça, de poeira. Foi um sacrifício que ela fez para melhor servir à personagem.

Ainda em cartaz, em horários alternativos de salas especiais da cidade, o longa de Carolina Markowitcz chegou aos cinemas credenciado pelo prêmio - o Redentor de melhor roteiro - que recebeu no Festival do Rio. Justamente, o roteiro. Carvão, é como o filme se chama, não tinha nada a ver com o título quando começou a ser escrito pela diretora. O carvão só surgiu muito tempo depois. Em entrevista ao Estadão, Carolina contou a gênese do filme. O projeto sempre esteve com ela, só precisava o momento certo para aflorar.

Cena do filme Carvão, de Carolina Markowicz Foto: Pandora Filmes

“Passei a infância em Bragança Paulista, numa comunidade regida pelas aparências. É incrível a sensação de liberdade que a gente pode ter, e ao mesmo tempo saber que está sendo vigiada o tempo todo. A vida toda sempre ouvi a preocupação com o que os outros poderiam pensar, ou dizer. O roteiro foi tomando forma assim. O abjeto pode ser trivializado, pior, pode ser justificado em nome de Deus e da família.” Foi assim que se construiu a história dessa família interiorana, e periférica. Pai, mãe, avô e o filho/neto. O avô está entrevado, a garoto vadia em brincadeiras com o filho do vizinho. Pai e mãe guardam segredos escusos.

O pai tem uma ligação - com outro homem. Quando o avô sofre uma crise, a agente do serviço social acena com duas possibilidades para a mãe, interpretada por Maeve Jinkings. Livrar-se do idoso e acolher em casa um fugitivo, o argentino César Bordón, à procura de esconderijo. Maeve leva ao padre sua inquietação. É lícito abreviar a dor de quem sofre - o avô? Resolvida a questão, o estranho adentra a casa. De certa forma substitui o avô e estabelece uma ligação com o menino. A partir daí, a narrativa torna-se mais complexa.

Um verdadeiro bestiário, mundo cão. Sexo, oração, droga, dois assassinatos. Vale tudo. Muitas vezes, senão quase sempre, o olhar é o do garoto. Nenhuma poesia infantil. O olhar do garoto, da diretora, é duro. Não há esperança, nem para o pequeno. O filme talvez não tenha nascido especificamente com o desejo de refletir sobre o bolsonarismo e o que se passou no Brasil dos últimos quatro anos - é anterior -, mas o diálogo com o País profundo está na tela, e de forma cristalina.

O carvão - a casa nem a família tinham ligação com o minério. Foi numa fase bem posterior, na busca de locação, que Carolina, através do profissional que fazia a pesquisa para ela, chegou àquele lugar. A casa, o forno, o barranco ao fundo. Em função da própria paisagem, o roteiro, que já vinha sofrendo transformações, tomou sua forma definitiva. Carvão, o filme, talvez não seja fácil. Confronta o público com um Brasil que não pode ser motivo de ufanismo. O elenco Ajuda. Maeve, linda no cinema de Kleber Mendonça Filho, tem momentos em que parece um bicho. O cabelo parece duro de fumaça, de poeira. Foi um sacrifício que ela fez para melhor servir à personagem.

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