Nicolò Bassetti ficou meio nervoso quando sua produtora Gaia Morrione resolveu mandar o documentário Into My Name, sobre a experiência de quatro homens trans, para o ator e produtor Elliot Page (The Umbrella Academy, Juno). “Eu tinha medo da rejeição”, explicou o cineasta italiano. “Mas em poucos dias ele mandou uma carta muito comovente, dizendo ter se identificado com o filme e perguntando o que poderia fazer para ajudar.”
A chancela certamente dá um belo empurrão a Into My Name, que foi o segundo documentário mais bem votado pelo público na seção Panorama do Festival de Berlim e tem sua sessão final neste domingo, 20, último dia do evento.
Para Bassetti, Into My Name é pessoal. O diretor teve a ideia no meio da noite, alguns anos atrás, depois de ser encorajado pelo filho Matteo, uma pessoa transgênero. “Ele me pediu para não ter medo”, disse. Ter o distanciamento necessário como cineasta foi um desafio. “Eu precisava ter certa objetividade, mas, sendo pai, claro que você tende a ter uma abordagem mais emotiva. O que realmente me ajudou foi minha relação com Matteo. Trabalhamos de maneira muito próxima, e ele praticamente virou uma espécie de mentor. Nós conversamos o tempo todo e tratamos das inseguranças que eu tinha.”
Sua ideia não foi abordar todos os tipos de experiências que pessoas têm ao fazer suas transições. “Eu também prometi a meu filho que ia evitar os estereótipos, os clichês relacionados aos homens trans.”
Ele escolheu como personagens quatro jovens amigos de Bolonha que estão em diferentes fases e têm vivências diferentes. Estão lá as dificuldades que eles enfrentam, especialmente as burocráticas, mas o filme passa ao largo da violência e do preconceito para focar em suas vidas, relacionamentos e sonhos. “Nós procuramos a beleza, acima de tudo. E se há algo que aprendi foi ver o todo. A não pensar em pessoas como homens e mulheres, mas como seres humanos.”