A notícia repercutiu imediatamente na manhã desta quarta, 20. Regina Duarte saiu da Secretaria Especial de Cultura para assumir a Cinemateca Brasileira. Chega em meio à maior crise.
No fim de semana, a Cinemateca divulgou documento pedindo socorro. Sua situação é crítica. Ex-diretor da instituição e seu eterno guardião, Carlos Augusto Calil, da ECA-USP, levanta a questão de que Regina Duarte não pode assumir porque não existem cargos. O que ela poderia fazer, na visão dele, é trazer dinheiro de Brasília para resolver o imbróglio.
O documento é esclarecedor. Maior arquivo de filmes do País, cuja trajetória é reconhecida internacionalmente, a Cinemateca enfrenta uma situação limite, esclarece o pedido de socorro. “Em meados de maio e não recebeu ainda nenhuma parcela do orçamento anual, cujo montante é da ordem de R$ 12 milhões.”
Ele prossegue: “Após sofrer uma intervenção do Ministério da Cultura em 2013, que destituiu sua diretoria e retirou-lhe a autonomia operacional, vem enfrentando um processo contínuo de enfraquecimento institucional que culmina na atual ameaça de total paralisia”, afirma Calil. A Cinemateca tem sob sua guarda o maior acervo audiovisual da América do Sul, cuja preservação demanda cuidados permanentes de técnicos especializados e manutenção de estritos parâmetros de conservação em baixa temperatura e umidade relativa. “Estão sob sua custódia coleções públicas e privadas que constituem a memória audiovisual do País. Além do seu intrínseco valor cultural, as obras dos produtores nacionais agregam valor econômico; são fonte de renda industrial que mantém a dinâmica do setor. A ameaça que paira sobre a Cinemateca não é a destruição de valores apenas simbólicos, mas igualmente tangíveis", complementa Calil.
O contrato do governo federal com a organização social que a administra – Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP) - foi encerrado por iniciativa do MEC. A atual Secretaria Especial da Cultura, responsável pela Cinemateca, tem seus vínculos administrativos divididos entre os ministérios da Cidadania e do Turismo. “Essa situação esquizofrênica dificulta a atuação do governo com a urgência necessária para impedir a falência da Cinemateca, enquanto a administração pública se dedica a desenhar uma solução de longo prazo. Se o orçamento da Cinemateca não for imediatamente repassado a ACERP, assegurando a manutenção do quadro mínimo de contratados e as condições físicas de conservação, não haverá necessidade de uma perspectiva de fôlego, pois já teremos alcançado a solução final.”
O documento afirma que o descaso da Secretaria do Audiovisual do extinto Ministério da Cultura para com a Cinemateca acarretou o incêndio de fevereiro de 2016 – o quarto sofrido pela instituição em sua história – em que se perderam definitivamente mil rolos de filmes antigos. Em fevereiro deste ano, as instalações da Cinemateca na Vila Leopoldina (São Paulo), que abrigavam parte do acervo, foram atingidas por uma enchente. “Se a indiferença com o futuro do patrimônio audiovisual brasileiro persistir, as consequências serão ainda mais graves. Sem os cuidados dos técnicos e as condições de conservação todo o acervo se deteriorará de modo irreversível.” O documento ganhou adesões importantes e já repercutiu internacionalmente em importasntes publicações europeias. É nesse quadro que Regina Duarte assume.