LOS ANGELES - Diz o ditado que não se mexe em time que está ganhando. Mas ele não foi seguido pelos produtores de Cinquenta Tons de Cinza, adaptação do primeiro livro da trilogia de E.L. James, com um orçamento estimado em US$ 40 milhões e que arrecadou mais de US$ 517 milhões no mundo inteiro. A roteirista Kelly Marcel foi substituída por Niall Leonard, o marido da autora, uma manobra que não significou mais controle por parte dela, segundo a própria. “Todo mundo diz isso, mas não conhecem meu marido!”, afirmou, em entrevista exclusiva ao Estado. “Ele viveu com o material desde que eu comecei a escrever, em 2009, então o entendia muito.” No segundo filme, Anastasia Steele (Dakota Johnson) e o problemático milionário Christian Grey (Jamie Dornan) reatam seu relacionamento, rompido depois de ela descobrir que o interesse do parceiro por sexo envolvendo sadismo, dominação e masoquismo ia além do que podia suportar. Os dois agora enfrentam uma série de ameaças externas, como uma ex-namorada obcecada e o emprego novo de Ana. A diretora Sam Taylor-Johnson também saiu, o que abriu caminho para algumas mudanças implementadas por James Foley, mais conhecido por seu trabalho em séries como House of Cards. Ele não esconde suas críticas à primeira parte da trilogia cinematográfica. “Queria mudar algumas coisas no design de produção, que fosse algo mais sensual, incluindo os materiais das paredes nos cenários, o carpete, as roupas”, disse. “Não dava para alterar tudo porque o apartamento de Christian Grey já era bem conhecido, então foram sutis. Mas mudamos uma escada que eu achava muito feia.” Ele colocou a história mais no mundo real, levando os personagens para as ruas.
Foley também procurou usar o humor que considera inerente ao material original. “Certas situações eram muito engraçadas”, lembrou. Isso ajudou nas famosas cenas de sexo. “Dakota e Jamie riem o tempo todo. Fiquei feliz. Imagino como deve ser fazer uma cena de sexo entre dois atores que se odeiam”, afirmou. Só para relembrar, no primeiro filme, a falta de química entre os dois foi muito criticada. Se havia, não existe mais, ou pelo menos não é mais evidente. A visão do diretor sobre os livros acabaram transformando também as cenas de sexo. “As do primeiro filme não eram satisfatórias para mim”, disse Foley. “Os encontros sexuais eram frios, gélidos, sem emoção em Cinquenta Tons de Cinza. Eram muito sérios. Achei que, conforme duas pessoas se conhecem, amadurecem e ficam mais confortáveis na presença do outro, o humor tinha de aparecer”, contou.
O diretor afirmou ter sido fácil trabalhar com E.L. James, que atua como produtora. “Eu me senti totalmente livre para fazer o que achava certo”, lembrou. “E ela foi muito respeitosa. De vez em quando, vinha me sussurrar algo no ouvido sobre coisas favoritas dos fãs. Se fazia sentido no filme, eu incorporava. Se não, tudo bem. No começo do processo de Cinquenta Tons Mais Escuros e da última parte da trilogia, Cinquenta Tons de Liberdade, que foram rodados ao mesmo tempo, a escritora fez um pedido simples a Foley: “Vamos nos divertir”. E aconteceu, segundo ela. Esse também é o espírito dos livros, afinal. “Só quero entreter. Não tenho mensagem.” A pressão de fazer o primeiro filme passou. “Agora, a cobrança é para repetir o sucesso”, garantiu James. O que significa conferir se as mudanças agradaram aos fãs.