Opinião|‘Clube Zero’ se inspira em Wes Anderson para tratar de obsessão alimentar, mas falta foco


Protagonizado por Mia Wasikowska, filme sabe qual estética adotar, mas nunca deixa claro seu objetivo

Por Matheus Mans

Um grupo de alunos está em uma sala, distribuído em um círculo. Todos vestem amarelo, com cores pastéis bem marcantes. Aos poucos, eles começam a explicar o porquê de estarem naquela aula extracurricular: necessidade de mais créditos escolares, vontade de mudar o mundo, ter uma alimentação mais saudável. Que raios de aula é essa, enfim?

Clube Zero, novo filme da cineasta Jessica Hausner (Little Joe: A Flor da Felicidade), logo revela o que quer contar: a jornada de uma classe em uma aula de reeducação alimentar. Por esses diferentes motivos, apresentados no início pelo texto de Hausner e de Géraldine Bajard, esses jovens resolveram entrar nessa aula e entender mais sobre alimentação. No comando do “curso”, Srta. Novak, vivida pela ótima Mia Wasikowska (A Colina Escarlate).

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Mas qual o objetivo disso? Obviamente, filmes não precisam obrigatoriamente ter alguma mensagem ou intenção, mas é preciso causar alguma coisa – um sentimento, uma emoção, qualquer coisa. Clube Zero se mantém na neblina: sabemos como a história está prosseguindo, acompanhamos os passos dos personagens na escola, mas não há clareza.

Wes Anderson na Grécia

A única coisa realmente evidente aqui é o trabalho estético de Hausner. A diretora, que passou por Cannes com a produção, não se envergonha em deixar claro que está se inspirando nos enquadramentos e nas cores de Wes Anderson e na apatia proposital, e um tanto estranha, do cinema grego moderno – com Yorgos Lanthimos como seu propulsor.

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Não há problemas nessa inspiração, desde que sirva aos propósitos da trama. Mas aí voltamos: quais propósitos? Até Anderson, cineasta tão preocupado com o minimalismo de suas cenas, mandou tudo às favas (mas ainda com enquadramentos perfeitos!) com Asteroid City, quando deixou as tramas meramente simpáticas para abraçar a profundidade de um tratado existencialista sobre luto. A perfeição dialoga com a imperfeição realista.

Mia Wasikowska vive a professora Srta. Novak em 'Clube Zero'. Foto: Pandora Filmes/Divulgação
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Depois de apresentar os objetivos de vida de cada um dos alunos no início do filme, naquele círculo em que falam os motivos que os levam a mudar a alimentação, Clube Zero fica andando a esmo, sem vontade, apenas preocupado com essa estética moderninha.

Hausner chega a beliscar alguns temas interessantes, como a relação entre escola e os pais dos alunos, assim como professores e estudantes, mas parece se afastar de temas espinhosos com medo de se complicar ainda mais – Sala dos Professores, indicado ao Oscar de melhor filme internacional em 2024, mergulha nesses temas com mais capacidade.

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Na era em que vídeos de dancinhas atingem milhões de visualizações, em que jovens se sentem pertencentes à grandiosidade do mundo mesmo se deparando com o vazio, Clube Zero tenta falar sobre isso, mas sem compreender de fato os dilemas dessa geração.

'Clube Zero' chega aos cinemas brasileiros em 25 de abril. Foto: Pandora Filmes/Divulgação

“[O filme] tem a ver com o desejo de pertencer a um grupo e de encontrar sentido, e de fazer parte de algo que lhe dê a sensação de que vale a pena viver a sua vida”, disse a diretora ao site The Moveable Fest. Pode até haver uma certa intenção aqui em falar sobre cultos, pertencimento e, principalmente, de efeito manada. Mas sem ter algo profundo a dizer, o filme acaba vítima do que mais critica: embarcar em modas sem ter o que dizer.

Um grupo de alunos está em uma sala, distribuído em um círculo. Todos vestem amarelo, com cores pastéis bem marcantes. Aos poucos, eles começam a explicar o porquê de estarem naquela aula extracurricular: necessidade de mais créditos escolares, vontade de mudar o mundo, ter uma alimentação mais saudável. Que raios de aula é essa, enfim?

Clube Zero, novo filme da cineasta Jessica Hausner (Little Joe: A Flor da Felicidade), logo revela o que quer contar: a jornada de uma classe em uma aula de reeducação alimentar. Por esses diferentes motivos, apresentados no início pelo texto de Hausner e de Géraldine Bajard, esses jovens resolveram entrar nessa aula e entender mais sobre alimentação. No comando do “curso”, Srta. Novak, vivida pela ótima Mia Wasikowska (A Colina Escarlate).

Mas qual o objetivo disso? Obviamente, filmes não precisam obrigatoriamente ter alguma mensagem ou intenção, mas é preciso causar alguma coisa – um sentimento, uma emoção, qualquer coisa. Clube Zero se mantém na neblina: sabemos como a história está prosseguindo, acompanhamos os passos dos personagens na escola, mas não há clareza.

Wes Anderson na Grécia

A única coisa realmente evidente aqui é o trabalho estético de Hausner. A diretora, que passou por Cannes com a produção, não se envergonha em deixar claro que está se inspirando nos enquadramentos e nas cores de Wes Anderson e na apatia proposital, e um tanto estranha, do cinema grego moderno – com Yorgos Lanthimos como seu propulsor.

Não há problemas nessa inspiração, desde que sirva aos propósitos da trama. Mas aí voltamos: quais propósitos? Até Anderson, cineasta tão preocupado com o minimalismo de suas cenas, mandou tudo às favas (mas ainda com enquadramentos perfeitos!) com Asteroid City, quando deixou as tramas meramente simpáticas para abraçar a profundidade de um tratado existencialista sobre luto. A perfeição dialoga com a imperfeição realista.

Mia Wasikowska vive a professora Srta. Novak em 'Clube Zero'. Foto: Pandora Filmes/Divulgação

Depois de apresentar os objetivos de vida de cada um dos alunos no início do filme, naquele círculo em que falam os motivos que os levam a mudar a alimentação, Clube Zero fica andando a esmo, sem vontade, apenas preocupado com essa estética moderninha.

Hausner chega a beliscar alguns temas interessantes, como a relação entre escola e os pais dos alunos, assim como professores e estudantes, mas parece se afastar de temas espinhosos com medo de se complicar ainda mais – Sala dos Professores, indicado ao Oscar de melhor filme internacional em 2024, mergulha nesses temas com mais capacidade.

Na era em que vídeos de dancinhas atingem milhões de visualizações, em que jovens se sentem pertencentes à grandiosidade do mundo mesmo se deparando com o vazio, Clube Zero tenta falar sobre isso, mas sem compreender de fato os dilemas dessa geração.

'Clube Zero' chega aos cinemas brasileiros em 25 de abril. Foto: Pandora Filmes/Divulgação

“[O filme] tem a ver com o desejo de pertencer a um grupo e de encontrar sentido, e de fazer parte de algo que lhe dê a sensação de que vale a pena viver a sua vida”, disse a diretora ao site The Moveable Fest. Pode até haver uma certa intenção aqui em falar sobre cultos, pertencimento e, principalmente, de efeito manada. Mas sem ter algo profundo a dizer, o filme acaba vítima do que mais critica: embarcar em modas sem ter o que dizer.

Um grupo de alunos está em uma sala, distribuído em um círculo. Todos vestem amarelo, com cores pastéis bem marcantes. Aos poucos, eles começam a explicar o porquê de estarem naquela aula extracurricular: necessidade de mais créditos escolares, vontade de mudar o mundo, ter uma alimentação mais saudável. Que raios de aula é essa, enfim?

Clube Zero, novo filme da cineasta Jessica Hausner (Little Joe: A Flor da Felicidade), logo revela o que quer contar: a jornada de uma classe em uma aula de reeducação alimentar. Por esses diferentes motivos, apresentados no início pelo texto de Hausner e de Géraldine Bajard, esses jovens resolveram entrar nessa aula e entender mais sobre alimentação. No comando do “curso”, Srta. Novak, vivida pela ótima Mia Wasikowska (A Colina Escarlate).

Mas qual o objetivo disso? Obviamente, filmes não precisam obrigatoriamente ter alguma mensagem ou intenção, mas é preciso causar alguma coisa – um sentimento, uma emoção, qualquer coisa. Clube Zero se mantém na neblina: sabemos como a história está prosseguindo, acompanhamos os passos dos personagens na escola, mas não há clareza.

Wes Anderson na Grécia

A única coisa realmente evidente aqui é o trabalho estético de Hausner. A diretora, que passou por Cannes com a produção, não se envergonha em deixar claro que está se inspirando nos enquadramentos e nas cores de Wes Anderson e na apatia proposital, e um tanto estranha, do cinema grego moderno – com Yorgos Lanthimos como seu propulsor.

Não há problemas nessa inspiração, desde que sirva aos propósitos da trama. Mas aí voltamos: quais propósitos? Até Anderson, cineasta tão preocupado com o minimalismo de suas cenas, mandou tudo às favas (mas ainda com enquadramentos perfeitos!) com Asteroid City, quando deixou as tramas meramente simpáticas para abraçar a profundidade de um tratado existencialista sobre luto. A perfeição dialoga com a imperfeição realista.

Mia Wasikowska vive a professora Srta. Novak em 'Clube Zero'. Foto: Pandora Filmes/Divulgação

Depois de apresentar os objetivos de vida de cada um dos alunos no início do filme, naquele círculo em que falam os motivos que os levam a mudar a alimentação, Clube Zero fica andando a esmo, sem vontade, apenas preocupado com essa estética moderninha.

Hausner chega a beliscar alguns temas interessantes, como a relação entre escola e os pais dos alunos, assim como professores e estudantes, mas parece se afastar de temas espinhosos com medo de se complicar ainda mais – Sala dos Professores, indicado ao Oscar de melhor filme internacional em 2024, mergulha nesses temas com mais capacidade.

Na era em que vídeos de dancinhas atingem milhões de visualizações, em que jovens se sentem pertencentes à grandiosidade do mundo mesmo se deparando com o vazio, Clube Zero tenta falar sobre isso, mas sem compreender de fato os dilemas dessa geração.

'Clube Zero' chega aos cinemas brasileiros em 25 de abril. Foto: Pandora Filmes/Divulgação

“[O filme] tem a ver com o desejo de pertencer a um grupo e de encontrar sentido, e de fazer parte de algo que lhe dê a sensação de que vale a pena viver a sua vida”, disse a diretora ao site The Moveable Fest. Pode até haver uma certa intenção aqui em falar sobre cultos, pertencimento e, principalmente, de efeito manada. Mas sem ter algo profundo a dizer, o filme acaba vítima do que mais critica: embarcar em modas sem ter o que dizer.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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