Dirigido por Kore-eda, ‘Broker’ discute a família em trama sobre compra de bebês


Filme se aprofunda no emaranhado de mães que abandonam filhos para a adoção; veja trailer

Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Nas primeiras cenas de Broker, numa noite de chuva intensa, uma moça abandona um bebê numa espécie de caixa. O recém-nascido logo é recolhido. A cena – chocante – dá início a esse novo estudo do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sobre a questão da família, disfuncional ou não.

Doona Bae e Lee Joo-young, em Broker Foto: Neon

Dispositivos como esse, que recebem bebês indesejados, são mantidos por entidades religiosas na Coreia do Sul, país onde se passa a história. Nada têm de novo. São similares modernos, equipados com câmeras para registrar a chegada de novos rejeitados, das famigeradas “rodas dos enjeitados”, presentes na Idade Média em vários países europeus e também no Brasil Colônia. As crianças recolhidas eram criadas por instituições de caridade – religiosas, em geral – ou encaminhadas para adoção.

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Mercadoria

Num tempo em que tudo se transforma em mercadoria, essas crianças abandonadas chamam a atenção de “atravessadores” com a ideia de negociá-las com casais em busca de filhos para adoção. Para esses casais, comprar diretamente crianças com atravessadores significa simplificar o muitas vezes complicado processo de adoção.

Esta é a história por trás de Broker. Algo de fundo verídico, pois mulheres sem condições de criar filhos podem chegar ao extremo de abandoná-las para que outras as adotem. E, se existe essa demanda, para falar em termos da economia de mercado, existirão pessoas dispostas a servir como intermediárias. São prestadores de serviço, atravessadores, “brokers” ou corretores, no jargão comercial genérico para a atividade de intermediação.

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Na situação mostrada pelo filme, uma dupla de traficantes leva o bebê rapidamente, antes que a mãe, Moon So-young (Ji-eun Lee), tenha tempo de se arrepender. Logo a imagem do vídeo registrando o depósito do bebê na caixa é apagado para não deixar provas. No entanto, duas policiais, Soo-jin (Bae Doona) e Lee (Lee Joo-Young), observam tudo, tentando dar flagrante nos traficantes de bebês.

Temos aí uma situação bem definida desde o início. Dois homens dispostos a fazer dinheiro, uma mãe talvez arrependida, a presença da polícia, uma criança um pouco mais velha que se junta ao grupo. Quem acha que, com esses elementos, estaremos diante de uma trama rotineira ou sem sal, não perde por esperar.

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Aos poucos somos capturados pela estratégia de Kore-eda. Broker significa uma espécie de desenvolvimento de trabalhos anteriores, como Pais e Filhos e, em especial, Assunto de Família, que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes. Poderíamos, em falta de melhor expressão, chamar seu procedimento de “humanismo crítico”. Põe em cena situações que, pelo inusitado, levam a plateia a pensar e, sobretudo, a questionar seus preconceitos e ideias já prontas.

O que dizer, por exemplo, de uma família em que todos se dedicam ao furto, mas, mesmo assim, mantêm seus laços cimentados pelo afeto recíproco? Assim é Assunto de Família. E o que dizer, agora, desse ato brutal que dá início a Broker, mas matizado a cada passo do road movie em que a história se transforma? Tudo parece no mínimo desconcertante.

Um desses “brokers” é Ha-Sang-hyun (vivido pelo ótimo Song Kang-ho, de Parasita). Dono de uma lavanderia, encontra-se endividado até o último fio de cabelo pelo vício do jogo. Seu ajudante é Dong-soo (Gang Dong-won), criado num orfanato e portanto com experiência em abandono e adoção.

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O interessante é que esses detalhes sobre os personagens vão surgindo aos poucos, sem serem usados como desculpas por desvios de conduta. Apenas informam e reforçam a condição humana, e portanto contraditória, desses personagens. As dúvidas surgem. Mesmo recebendo por isso, procurar os pais mais adequados para uma criança pode ser também um ato de amor? Ou apenas uma desculpa moral para justificar o injustificável?

A maneira ambígua como tudo é conduzido acaba por desativar qualquer certeza prévia. Com Kore-eda somos conduzidos a esse universo multifacetado em que todos têm lá suas razões, dos homens que delinquem às policiais que fazem seu trabalho, mas também se envolvem no caso. Da mãe, que poderia ter se retirado de cena no início da história, mas nela permanece, atuante e angustiada, até o fim.

E o mais curioso é que os integrantes desse grupo paradoxal se agregam em função da presença sem palavras desse bebê, abandonado na primeira cena e que ganha uma curiosa família no decorrer da trama.

Nas primeiras cenas de Broker, numa noite de chuva intensa, uma moça abandona um bebê numa espécie de caixa. O recém-nascido logo é recolhido. A cena – chocante – dá início a esse novo estudo do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sobre a questão da família, disfuncional ou não.

Doona Bae e Lee Joo-young, em Broker Foto: Neon

Dispositivos como esse, que recebem bebês indesejados, são mantidos por entidades religiosas na Coreia do Sul, país onde se passa a história. Nada têm de novo. São similares modernos, equipados com câmeras para registrar a chegada de novos rejeitados, das famigeradas “rodas dos enjeitados”, presentes na Idade Média em vários países europeus e também no Brasil Colônia. As crianças recolhidas eram criadas por instituições de caridade – religiosas, em geral – ou encaminhadas para adoção.

Mercadoria

Num tempo em que tudo se transforma em mercadoria, essas crianças abandonadas chamam a atenção de “atravessadores” com a ideia de negociá-las com casais em busca de filhos para adoção. Para esses casais, comprar diretamente crianças com atravessadores significa simplificar o muitas vezes complicado processo de adoção.

Esta é a história por trás de Broker. Algo de fundo verídico, pois mulheres sem condições de criar filhos podem chegar ao extremo de abandoná-las para que outras as adotem. E, se existe essa demanda, para falar em termos da economia de mercado, existirão pessoas dispostas a servir como intermediárias. São prestadores de serviço, atravessadores, “brokers” ou corretores, no jargão comercial genérico para a atividade de intermediação.

Na situação mostrada pelo filme, uma dupla de traficantes leva o bebê rapidamente, antes que a mãe, Moon So-young (Ji-eun Lee), tenha tempo de se arrepender. Logo a imagem do vídeo registrando o depósito do bebê na caixa é apagado para não deixar provas. No entanto, duas policiais, Soo-jin (Bae Doona) e Lee (Lee Joo-Young), observam tudo, tentando dar flagrante nos traficantes de bebês.

Temos aí uma situação bem definida desde o início. Dois homens dispostos a fazer dinheiro, uma mãe talvez arrependida, a presença da polícia, uma criança um pouco mais velha que se junta ao grupo. Quem acha que, com esses elementos, estaremos diante de uma trama rotineira ou sem sal, não perde por esperar.

Aos poucos somos capturados pela estratégia de Kore-eda. Broker significa uma espécie de desenvolvimento de trabalhos anteriores, como Pais e Filhos e, em especial, Assunto de Família, que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes. Poderíamos, em falta de melhor expressão, chamar seu procedimento de “humanismo crítico”. Põe em cena situações que, pelo inusitado, levam a plateia a pensar e, sobretudo, a questionar seus preconceitos e ideias já prontas.

O que dizer, por exemplo, de uma família em que todos se dedicam ao furto, mas, mesmo assim, mantêm seus laços cimentados pelo afeto recíproco? Assim é Assunto de Família. E o que dizer, agora, desse ato brutal que dá início a Broker, mas matizado a cada passo do road movie em que a história se transforma? Tudo parece no mínimo desconcertante.

Um desses “brokers” é Ha-Sang-hyun (vivido pelo ótimo Song Kang-ho, de Parasita). Dono de uma lavanderia, encontra-se endividado até o último fio de cabelo pelo vício do jogo. Seu ajudante é Dong-soo (Gang Dong-won), criado num orfanato e portanto com experiência em abandono e adoção.

O interessante é que esses detalhes sobre os personagens vão surgindo aos poucos, sem serem usados como desculpas por desvios de conduta. Apenas informam e reforçam a condição humana, e portanto contraditória, desses personagens. As dúvidas surgem. Mesmo recebendo por isso, procurar os pais mais adequados para uma criança pode ser também um ato de amor? Ou apenas uma desculpa moral para justificar o injustificável?

A maneira ambígua como tudo é conduzido acaba por desativar qualquer certeza prévia. Com Kore-eda somos conduzidos a esse universo multifacetado em que todos têm lá suas razões, dos homens que delinquem às policiais que fazem seu trabalho, mas também se envolvem no caso. Da mãe, que poderia ter se retirado de cena no início da história, mas nela permanece, atuante e angustiada, até o fim.

E o mais curioso é que os integrantes desse grupo paradoxal se agregam em função da presença sem palavras desse bebê, abandonado na primeira cena e que ganha uma curiosa família no decorrer da trama.

Nas primeiras cenas de Broker, numa noite de chuva intensa, uma moça abandona um bebê numa espécie de caixa. O recém-nascido logo é recolhido. A cena – chocante – dá início a esse novo estudo do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sobre a questão da família, disfuncional ou não.

Doona Bae e Lee Joo-young, em Broker Foto: Neon

Dispositivos como esse, que recebem bebês indesejados, são mantidos por entidades religiosas na Coreia do Sul, país onde se passa a história. Nada têm de novo. São similares modernos, equipados com câmeras para registrar a chegada de novos rejeitados, das famigeradas “rodas dos enjeitados”, presentes na Idade Média em vários países europeus e também no Brasil Colônia. As crianças recolhidas eram criadas por instituições de caridade – religiosas, em geral – ou encaminhadas para adoção.

Mercadoria

Num tempo em que tudo se transforma em mercadoria, essas crianças abandonadas chamam a atenção de “atravessadores” com a ideia de negociá-las com casais em busca de filhos para adoção. Para esses casais, comprar diretamente crianças com atravessadores significa simplificar o muitas vezes complicado processo de adoção.

Esta é a história por trás de Broker. Algo de fundo verídico, pois mulheres sem condições de criar filhos podem chegar ao extremo de abandoná-las para que outras as adotem. E, se existe essa demanda, para falar em termos da economia de mercado, existirão pessoas dispostas a servir como intermediárias. São prestadores de serviço, atravessadores, “brokers” ou corretores, no jargão comercial genérico para a atividade de intermediação.

Na situação mostrada pelo filme, uma dupla de traficantes leva o bebê rapidamente, antes que a mãe, Moon So-young (Ji-eun Lee), tenha tempo de se arrepender. Logo a imagem do vídeo registrando o depósito do bebê na caixa é apagado para não deixar provas. No entanto, duas policiais, Soo-jin (Bae Doona) e Lee (Lee Joo-Young), observam tudo, tentando dar flagrante nos traficantes de bebês.

Temos aí uma situação bem definida desde o início. Dois homens dispostos a fazer dinheiro, uma mãe talvez arrependida, a presença da polícia, uma criança um pouco mais velha que se junta ao grupo. Quem acha que, com esses elementos, estaremos diante de uma trama rotineira ou sem sal, não perde por esperar.

Aos poucos somos capturados pela estratégia de Kore-eda. Broker significa uma espécie de desenvolvimento de trabalhos anteriores, como Pais e Filhos e, em especial, Assunto de Família, que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes. Poderíamos, em falta de melhor expressão, chamar seu procedimento de “humanismo crítico”. Põe em cena situações que, pelo inusitado, levam a plateia a pensar e, sobretudo, a questionar seus preconceitos e ideias já prontas.

O que dizer, por exemplo, de uma família em que todos se dedicam ao furto, mas, mesmo assim, mantêm seus laços cimentados pelo afeto recíproco? Assim é Assunto de Família. E o que dizer, agora, desse ato brutal que dá início a Broker, mas matizado a cada passo do road movie em que a história se transforma? Tudo parece no mínimo desconcertante.

Um desses “brokers” é Ha-Sang-hyun (vivido pelo ótimo Song Kang-ho, de Parasita). Dono de uma lavanderia, encontra-se endividado até o último fio de cabelo pelo vício do jogo. Seu ajudante é Dong-soo (Gang Dong-won), criado num orfanato e portanto com experiência em abandono e adoção.

O interessante é que esses detalhes sobre os personagens vão surgindo aos poucos, sem serem usados como desculpas por desvios de conduta. Apenas informam e reforçam a condição humana, e portanto contraditória, desses personagens. As dúvidas surgem. Mesmo recebendo por isso, procurar os pais mais adequados para uma criança pode ser também um ato de amor? Ou apenas uma desculpa moral para justificar o injustificável?

A maneira ambígua como tudo é conduzido acaba por desativar qualquer certeza prévia. Com Kore-eda somos conduzidos a esse universo multifacetado em que todos têm lá suas razões, dos homens que delinquem às policiais que fazem seu trabalho, mas também se envolvem no caso. Da mãe, que poderia ter se retirado de cena no início da história, mas nela permanece, atuante e angustiada, até o fim.

E o mais curioso é que os integrantes desse grupo paradoxal se agregam em função da presença sem palavras desse bebê, abandonado na primeira cena e que ganha uma curiosa família no decorrer da trama.

Nas primeiras cenas de Broker, numa noite de chuva intensa, uma moça abandona um bebê numa espécie de caixa. O recém-nascido logo é recolhido. A cena – chocante – dá início a esse novo estudo do cineasta japonês Hirokazu Kore-eda sobre a questão da família, disfuncional ou não.

Doona Bae e Lee Joo-young, em Broker Foto: Neon

Dispositivos como esse, que recebem bebês indesejados, são mantidos por entidades religiosas na Coreia do Sul, país onde se passa a história. Nada têm de novo. São similares modernos, equipados com câmeras para registrar a chegada de novos rejeitados, das famigeradas “rodas dos enjeitados”, presentes na Idade Média em vários países europeus e também no Brasil Colônia. As crianças recolhidas eram criadas por instituições de caridade – religiosas, em geral – ou encaminhadas para adoção.

Mercadoria

Num tempo em que tudo se transforma em mercadoria, essas crianças abandonadas chamam a atenção de “atravessadores” com a ideia de negociá-las com casais em busca de filhos para adoção. Para esses casais, comprar diretamente crianças com atravessadores significa simplificar o muitas vezes complicado processo de adoção.

Esta é a história por trás de Broker. Algo de fundo verídico, pois mulheres sem condições de criar filhos podem chegar ao extremo de abandoná-las para que outras as adotem. E, se existe essa demanda, para falar em termos da economia de mercado, existirão pessoas dispostas a servir como intermediárias. São prestadores de serviço, atravessadores, “brokers” ou corretores, no jargão comercial genérico para a atividade de intermediação.

Na situação mostrada pelo filme, uma dupla de traficantes leva o bebê rapidamente, antes que a mãe, Moon So-young (Ji-eun Lee), tenha tempo de se arrepender. Logo a imagem do vídeo registrando o depósito do bebê na caixa é apagado para não deixar provas. No entanto, duas policiais, Soo-jin (Bae Doona) e Lee (Lee Joo-Young), observam tudo, tentando dar flagrante nos traficantes de bebês.

Temos aí uma situação bem definida desde o início. Dois homens dispostos a fazer dinheiro, uma mãe talvez arrependida, a presença da polícia, uma criança um pouco mais velha que se junta ao grupo. Quem acha que, com esses elementos, estaremos diante de uma trama rotineira ou sem sal, não perde por esperar.

Aos poucos somos capturados pela estratégia de Kore-eda. Broker significa uma espécie de desenvolvimento de trabalhos anteriores, como Pais e Filhos e, em especial, Assunto de Família, que lhe valeu a Palma de Ouro em Cannes. Poderíamos, em falta de melhor expressão, chamar seu procedimento de “humanismo crítico”. Põe em cena situações que, pelo inusitado, levam a plateia a pensar e, sobretudo, a questionar seus preconceitos e ideias já prontas.

O que dizer, por exemplo, de uma família em que todos se dedicam ao furto, mas, mesmo assim, mantêm seus laços cimentados pelo afeto recíproco? Assim é Assunto de Família. E o que dizer, agora, desse ato brutal que dá início a Broker, mas matizado a cada passo do road movie em que a história se transforma? Tudo parece no mínimo desconcertante.

Um desses “brokers” é Ha-Sang-hyun (vivido pelo ótimo Song Kang-ho, de Parasita). Dono de uma lavanderia, encontra-se endividado até o último fio de cabelo pelo vício do jogo. Seu ajudante é Dong-soo (Gang Dong-won), criado num orfanato e portanto com experiência em abandono e adoção.

O interessante é que esses detalhes sobre os personagens vão surgindo aos poucos, sem serem usados como desculpas por desvios de conduta. Apenas informam e reforçam a condição humana, e portanto contraditória, desses personagens. As dúvidas surgem. Mesmo recebendo por isso, procurar os pais mais adequados para uma criança pode ser também um ato de amor? Ou apenas uma desculpa moral para justificar o injustificável?

A maneira ambígua como tudo é conduzido acaba por desativar qualquer certeza prévia. Com Kore-eda somos conduzidos a esse universo multifacetado em que todos têm lá suas razões, dos homens que delinquem às policiais que fazem seu trabalho, mas também se envolvem no caso. Da mãe, que poderia ter se retirado de cena no início da história, mas nela permanece, atuante e angustiada, até o fim.

E o mais curioso é que os integrantes desse grupo paradoxal se agregam em função da presença sem palavras desse bebê, abandonado na primeira cena e que ganha uma curiosa família no decorrer da trama.

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