Como Anya Taylor-Joy recriou a Furiosa em um ‘Mad Max’ com excesso de testosterona e só 30 falas


Nova queridinha de Hollywood estrela o filme de ação do ano e assume papel icônico que foi de Charlize Theron, na sequência que ganhou seis estatuetas do Oscar

Por Pedro Antunes
Atualização:

Na maior parte do tempo, você não ouvirá a voz de Anya Taylor-Joy, mas, ainda assim, a presença dela é uma força gravitacional ali na tela. Dona de um par de olhos hipnotizantes tal qual dos animes e mangás japoneses, a jovem atriz nascida em Miami, nos Estados Unidos, é magnética. Enigmática, também.

Com poucas falas, Anya Taylor-Joy intepreta Furiosa com o olhar Foto: Warner Bros. / Divulgação

Pouco importa que Anya apareça somente na metade do filme para o final, ou o fato de a personagem ter apenas 30 falas, em um total de 2 horas e 38 minutos de longa. Tudo gira em torno dela, a nova queridinha de Hollywood, uma estrela em crescimento, com algumas indicações em premiações importantes como Globo de Ouro, Emmy, Bafta, entre outros.

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Anya dá o maior passo da carreira aqui: é a protagonista que dá nome ao novo filme de George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max, um dos melhores filmes de ação do ano, que estreia nesta quinta, 23. Como Furiosa, ela veste os sapatos de Charlize Theron, também intérprete de Furiosa, na continuação de nome Mad Max: Estrada da Fúria, lançado em 2015 e, no ano seguinte, vencedor de seis estatuetas do Oscar - todas em categorias técnicas.

Furiosa: Uma Saga Mad Max revela a origem da personagem de Theron responsável por realmente conduzir o longa de 2015 - Max, vivido por Tom Hardy, em teoria o protagonista, desaparece em cena apesar de estar sempre ali, como se levado por uma tempestade de areia.

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Parecia lógico que Furiosa ganharia um filme próprio, mas Hollywood precisava estar na mesma página que George Miller, o icônico e veterano diretor australiano que, apesar do Oscar pelos pinguins dançantes de Happy Feet, tornou-se um verdadeiro mestre da ação com a franquia Mad Max, criada por ele em 1979.

Charlize Theron foi a Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria, filme de 2015 Foto: Jasin Boland/Warner Bros. Pictures via AP

Curiosamente, George Miller e Nico Lathouris haviam criado uma história em quadrinhos para narrar o passado de Furiosa ainda em 2015. O elenco do filme recebeu uma cópia desta história prévia como uma introdução à personagem que, na tela de cinema, surge roubando esposas abusadas pelo antagonista Immortan Joe e a tenta, incessantemente, reencontrar o Vale Verde, um oásis de plantas, frutas e água em meio a um mundo desértico e árido.

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Quem era essa figura, a tal Furiosa? Por que os cabelos estavam raspados? O que aconteceu com o braço mutilado? As perguntas ganham respostas, enfim.

Miller brinca que criou os dois filmes juntos, mesmo que o roteiro de Furiosa tenha sido trabalhado ao longo dos anos. O sucesso do filme de 2015 - que custou US$ 160 milhões e faturou US$ 380 milhões - deu sinal verde para Miller criar a história de Furiosa nas telonas.

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Mais ambicioso, violento, enérgico do que jamais visto na saga Mad Max, Furiosa é uma jornada de vingança dilacerante, que arde como grãos de areia nos olhos.

Uma estrela em ascensão

George Miller viu Anya Taylor-Joy pela primeira vez em Noite Passada em Soho, de 2021. A atriz vinha de uma elogiada atuação em A Bruxa (2015) e de O Gambito da Rainha (2020), uma série da Netflix na qual Anya interpretava uma órfã enxadrista prodígio.

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Enxergou na personagem da atriz, Sandie, algo que ele queria para sua Furiosa: uma ferocidade inerente. Ligou para o colega e diretor Edgar Wright e pediu para se conectar com Anya.

Anya Taylor Joy sequer sabia andar de bicicleta e precisou aprender a pilotar motos para viver Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

Era pandemia de covid-19 e Anya trabalhava já em O Homem do Norte. Quando soube, por Wright, que falaria com Miller, arrepiou-se de excitação. A pedido de Miller, gravou três vezes uma cena do filme Rede de Intrigas, como teste para Furiosa. Enviou para ele, recebeu de volta com comentários, gravou mais versões. Ao descobrir que conseguiu o papel de Furiosa, Anya estava em Belfast, no País da Gales, e o máximo que pode fazer foi correr pelo apartamento onde morava durante as filmagens.

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E, depois, se colocou a pensar no problema em que se enfiara. Apesar dos 25 anos na época (hoje ela tem 28 anos), Anya não sabia dirigir.

E, em Mad Max, não ser capaz de dirigir significa morte na certa.

Dirigir para sobreviver

Entre aquela ligação e a estreia de Furiosa, a reputação de Anya só cresceu em Hollywood. A atriz dublou Peach, a princesa da animação Super Mario Bros. O Filme e atuou no filme indie-estranho O Menu, que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Furiosa é uma espécie de O Poderoso Chefão 2 para George Miller, como ele admitiu à Rolling Stone dos Estados Unidos. Era o filme no qual, de alguma forma, veremos como o protagonista do longa anterior (de O Poderoso Chefão, o Don Corleone de Marlon Brando) se transformava para ser quem era. O mesmo veríamos de Furiosa.

Anya queria este papel.

Anya Taylor-Joy vive Furiosa em filme sobre uma jornada de vingança Foto: Warner Bros. Divulgação

Aprontou-se rapidamente a aprender a dirigir, tanto carros quanto motos. Mal sabia andar de bicicleta e, ao longo de um ano, foi capaz manejar uma motocicleta de 150 cilindradas e, depois, de 400 cilindradas de potência.

No volante, a primeira manobra que aprendeu foi um juicy lift 180 graus, que é partir com o carro em toda velocidade, virar o volante com o freio de mão puxado e fazer o carro dar um giro de 180 graus.

“Queria fazer o máximo de cenas em que me era permitido”, explicou Anya em uma entrevista coletiva realizada no México e online (em espanhol, porque ela viveu por anos na Argentina e fala espanhol com naturalidade e velocidade espantosas), para veículos de imprensa da América Latina, inclusive o Estadão. “Eu sequer possuía carteira de motorista. Juro que não tive tempo, estou sempre trabalhando. Mas posso dizer que minha introdução a esse universo foi um pouco diferente daquela do resto das pessoas.”

Definitivamente, nós, mortais, não aprendemos a dirigir para sobreviver no deserto das Wastelands. Será que deveríamos?

Uma heroína que fala pelas suas ações

O universo de Mad Max é, essencialmente, masculino. Pelo menos era, durante a trilogia original, protagonizada por Mel Gibson nos anos de 1979, 1981 e 1985. Furiosa, em Estrada da Fúria, surgiu para quebrar o padrão, em uma alusão à libertação feminina do século 21.

Ainda assim, é pouco. No universo distópico fascinante de Miller, o cheiro é de cueca, sovaco mal lavado e a sensação é do excesso de testosterona no ar.

Furiosa (no início do filme interpretada pela jovem Alyla Browne) é uma órfã tirada da Terra Verde, um oásis secreto em meio ao deserto, ainda na infância e levada para o mundo selvagem de Mad Max. Para sobreviver, ela se adapta aos diferentes homens que cruzam seu caminho e tentam domá-la.

Um deles é Dementus, um homem nascido para a guerra, cruel e poderoso, interpretado por Chris Hemsworth de forma assombrosamente boa (sim, ele sabe atuar mais do que mostra como Thor, nos filmes da Marvel).

Chris Hemsworth interpreta um caricato Dementus, o antagonista de Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

E Dementus é o grande rival de Furiosa neste filme. E uma jornada de sangue, tiros, velocidade e vingança, Furiosa e ele coexistirão em embates ferozes ao longo das quase três horas de produção.

Mas tal qual vemos em Estrada da Fúria, a protagonista não é chegada em muito papo. Muito se deve ao fato de, em certo momento, ela disfarçar o gênero para passar despercebida em meio aos domínios de Immortan Joe (aquele das esposas roubadas do filme Estrada da Fúria).

E faz parte da forma como Miller constrói a ação e a tensão. Nunca com palavras, sempre com expressões e explosões de carros.

Tom Hardy, por exemplo, tinha apenas 16 falas em Estrada da Fúria. Charlize Theron também. Anya, com suas 30 falas, aproveitou-se da limitação para uma arma poderosa, como uma espécie de John Wayne: transformou-se em uma caubói sisuda de um faroeste distópico no qual os cavalos são substituídos por máquinas velozes movidas a gasolina.

“Tive um pouco de medo, quando começamos a gravar”, admitiu Anya, ainda no México. “George [Miller] possuía uma ideia muito clara de como queria que ela se comunicasse com o rosto. Eu pensava: ‘Certo, estamos em Wasteland, qualquer tipo de emoção é uma fraqueza’. Eu só tive meus olhos para me comunicar. Mas precisei mergulhar e me arriscar. Não há pessoa melhor para fazer um filme de Mad Max do que George Miller.

Com olhos vibrantes, não havia pessoa melhor para ser esta jovem Furiosa do que Anya.

Na maior parte do tempo, você não ouvirá a voz de Anya Taylor-Joy, mas, ainda assim, a presença dela é uma força gravitacional ali na tela. Dona de um par de olhos hipnotizantes tal qual dos animes e mangás japoneses, a jovem atriz nascida em Miami, nos Estados Unidos, é magnética. Enigmática, também.

Com poucas falas, Anya Taylor-Joy intepreta Furiosa com o olhar Foto: Warner Bros. / Divulgação

Pouco importa que Anya apareça somente na metade do filme para o final, ou o fato de a personagem ter apenas 30 falas, em um total de 2 horas e 38 minutos de longa. Tudo gira em torno dela, a nova queridinha de Hollywood, uma estrela em crescimento, com algumas indicações em premiações importantes como Globo de Ouro, Emmy, Bafta, entre outros.

Anya dá o maior passo da carreira aqui: é a protagonista que dá nome ao novo filme de George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max, um dos melhores filmes de ação do ano, que estreia nesta quinta, 23. Como Furiosa, ela veste os sapatos de Charlize Theron, também intérprete de Furiosa, na continuação de nome Mad Max: Estrada da Fúria, lançado em 2015 e, no ano seguinte, vencedor de seis estatuetas do Oscar - todas em categorias técnicas.

Furiosa: Uma Saga Mad Max revela a origem da personagem de Theron responsável por realmente conduzir o longa de 2015 - Max, vivido por Tom Hardy, em teoria o protagonista, desaparece em cena apesar de estar sempre ali, como se levado por uma tempestade de areia.

Parecia lógico que Furiosa ganharia um filme próprio, mas Hollywood precisava estar na mesma página que George Miller, o icônico e veterano diretor australiano que, apesar do Oscar pelos pinguins dançantes de Happy Feet, tornou-se um verdadeiro mestre da ação com a franquia Mad Max, criada por ele em 1979.

Charlize Theron foi a Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria, filme de 2015 Foto: Jasin Boland/Warner Bros. Pictures via AP

Curiosamente, George Miller e Nico Lathouris haviam criado uma história em quadrinhos para narrar o passado de Furiosa ainda em 2015. O elenco do filme recebeu uma cópia desta história prévia como uma introdução à personagem que, na tela de cinema, surge roubando esposas abusadas pelo antagonista Immortan Joe e a tenta, incessantemente, reencontrar o Vale Verde, um oásis de plantas, frutas e água em meio a um mundo desértico e árido.

Quem era essa figura, a tal Furiosa? Por que os cabelos estavam raspados? O que aconteceu com o braço mutilado? As perguntas ganham respostas, enfim.

Miller brinca que criou os dois filmes juntos, mesmo que o roteiro de Furiosa tenha sido trabalhado ao longo dos anos. O sucesso do filme de 2015 - que custou US$ 160 milhões e faturou US$ 380 milhões - deu sinal verde para Miller criar a história de Furiosa nas telonas.

Mais ambicioso, violento, enérgico do que jamais visto na saga Mad Max, Furiosa é uma jornada de vingança dilacerante, que arde como grãos de areia nos olhos.

Uma estrela em ascensão

George Miller viu Anya Taylor-Joy pela primeira vez em Noite Passada em Soho, de 2021. A atriz vinha de uma elogiada atuação em A Bruxa (2015) e de O Gambito da Rainha (2020), uma série da Netflix na qual Anya interpretava uma órfã enxadrista prodígio.

Enxergou na personagem da atriz, Sandie, algo que ele queria para sua Furiosa: uma ferocidade inerente. Ligou para o colega e diretor Edgar Wright e pediu para se conectar com Anya.

Anya Taylor Joy sequer sabia andar de bicicleta e precisou aprender a pilotar motos para viver Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

Era pandemia de covid-19 e Anya trabalhava já em O Homem do Norte. Quando soube, por Wright, que falaria com Miller, arrepiou-se de excitação. A pedido de Miller, gravou três vezes uma cena do filme Rede de Intrigas, como teste para Furiosa. Enviou para ele, recebeu de volta com comentários, gravou mais versões. Ao descobrir que conseguiu o papel de Furiosa, Anya estava em Belfast, no País da Gales, e o máximo que pode fazer foi correr pelo apartamento onde morava durante as filmagens.

E, depois, se colocou a pensar no problema em que se enfiara. Apesar dos 25 anos na época (hoje ela tem 28 anos), Anya não sabia dirigir.

E, em Mad Max, não ser capaz de dirigir significa morte na certa.

Dirigir para sobreviver

Entre aquela ligação e a estreia de Furiosa, a reputação de Anya só cresceu em Hollywood. A atriz dublou Peach, a princesa da animação Super Mario Bros. O Filme e atuou no filme indie-estranho O Menu, que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Furiosa é uma espécie de O Poderoso Chefão 2 para George Miller, como ele admitiu à Rolling Stone dos Estados Unidos. Era o filme no qual, de alguma forma, veremos como o protagonista do longa anterior (de O Poderoso Chefão, o Don Corleone de Marlon Brando) se transformava para ser quem era. O mesmo veríamos de Furiosa.

Anya queria este papel.

Anya Taylor-Joy vive Furiosa em filme sobre uma jornada de vingança Foto: Warner Bros. Divulgação

Aprontou-se rapidamente a aprender a dirigir, tanto carros quanto motos. Mal sabia andar de bicicleta e, ao longo de um ano, foi capaz manejar uma motocicleta de 150 cilindradas e, depois, de 400 cilindradas de potência.

No volante, a primeira manobra que aprendeu foi um juicy lift 180 graus, que é partir com o carro em toda velocidade, virar o volante com o freio de mão puxado e fazer o carro dar um giro de 180 graus.

“Queria fazer o máximo de cenas em que me era permitido”, explicou Anya em uma entrevista coletiva realizada no México e online (em espanhol, porque ela viveu por anos na Argentina e fala espanhol com naturalidade e velocidade espantosas), para veículos de imprensa da América Latina, inclusive o Estadão. “Eu sequer possuía carteira de motorista. Juro que não tive tempo, estou sempre trabalhando. Mas posso dizer que minha introdução a esse universo foi um pouco diferente daquela do resto das pessoas.”

Definitivamente, nós, mortais, não aprendemos a dirigir para sobreviver no deserto das Wastelands. Será que deveríamos?

Uma heroína que fala pelas suas ações

O universo de Mad Max é, essencialmente, masculino. Pelo menos era, durante a trilogia original, protagonizada por Mel Gibson nos anos de 1979, 1981 e 1985. Furiosa, em Estrada da Fúria, surgiu para quebrar o padrão, em uma alusão à libertação feminina do século 21.

Ainda assim, é pouco. No universo distópico fascinante de Miller, o cheiro é de cueca, sovaco mal lavado e a sensação é do excesso de testosterona no ar.

Furiosa (no início do filme interpretada pela jovem Alyla Browne) é uma órfã tirada da Terra Verde, um oásis secreto em meio ao deserto, ainda na infância e levada para o mundo selvagem de Mad Max. Para sobreviver, ela se adapta aos diferentes homens que cruzam seu caminho e tentam domá-la.

Um deles é Dementus, um homem nascido para a guerra, cruel e poderoso, interpretado por Chris Hemsworth de forma assombrosamente boa (sim, ele sabe atuar mais do que mostra como Thor, nos filmes da Marvel).

Chris Hemsworth interpreta um caricato Dementus, o antagonista de Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

E Dementus é o grande rival de Furiosa neste filme. E uma jornada de sangue, tiros, velocidade e vingança, Furiosa e ele coexistirão em embates ferozes ao longo das quase três horas de produção.

Mas tal qual vemos em Estrada da Fúria, a protagonista não é chegada em muito papo. Muito se deve ao fato de, em certo momento, ela disfarçar o gênero para passar despercebida em meio aos domínios de Immortan Joe (aquele das esposas roubadas do filme Estrada da Fúria).

E faz parte da forma como Miller constrói a ação e a tensão. Nunca com palavras, sempre com expressões e explosões de carros.

Tom Hardy, por exemplo, tinha apenas 16 falas em Estrada da Fúria. Charlize Theron também. Anya, com suas 30 falas, aproveitou-se da limitação para uma arma poderosa, como uma espécie de John Wayne: transformou-se em uma caubói sisuda de um faroeste distópico no qual os cavalos são substituídos por máquinas velozes movidas a gasolina.

“Tive um pouco de medo, quando começamos a gravar”, admitiu Anya, ainda no México. “George [Miller] possuía uma ideia muito clara de como queria que ela se comunicasse com o rosto. Eu pensava: ‘Certo, estamos em Wasteland, qualquer tipo de emoção é uma fraqueza’. Eu só tive meus olhos para me comunicar. Mas precisei mergulhar e me arriscar. Não há pessoa melhor para fazer um filme de Mad Max do que George Miller.

Com olhos vibrantes, não havia pessoa melhor para ser esta jovem Furiosa do que Anya.

Na maior parte do tempo, você não ouvirá a voz de Anya Taylor-Joy, mas, ainda assim, a presença dela é uma força gravitacional ali na tela. Dona de um par de olhos hipnotizantes tal qual dos animes e mangás japoneses, a jovem atriz nascida em Miami, nos Estados Unidos, é magnética. Enigmática, também.

Com poucas falas, Anya Taylor-Joy intepreta Furiosa com o olhar Foto: Warner Bros. / Divulgação

Pouco importa que Anya apareça somente na metade do filme para o final, ou o fato de a personagem ter apenas 30 falas, em um total de 2 horas e 38 minutos de longa. Tudo gira em torno dela, a nova queridinha de Hollywood, uma estrela em crescimento, com algumas indicações em premiações importantes como Globo de Ouro, Emmy, Bafta, entre outros.

Anya dá o maior passo da carreira aqui: é a protagonista que dá nome ao novo filme de George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max, um dos melhores filmes de ação do ano, que estreia nesta quinta, 23. Como Furiosa, ela veste os sapatos de Charlize Theron, também intérprete de Furiosa, na continuação de nome Mad Max: Estrada da Fúria, lançado em 2015 e, no ano seguinte, vencedor de seis estatuetas do Oscar - todas em categorias técnicas.

Furiosa: Uma Saga Mad Max revela a origem da personagem de Theron responsável por realmente conduzir o longa de 2015 - Max, vivido por Tom Hardy, em teoria o protagonista, desaparece em cena apesar de estar sempre ali, como se levado por uma tempestade de areia.

Parecia lógico que Furiosa ganharia um filme próprio, mas Hollywood precisava estar na mesma página que George Miller, o icônico e veterano diretor australiano que, apesar do Oscar pelos pinguins dançantes de Happy Feet, tornou-se um verdadeiro mestre da ação com a franquia Mad Max, criada por ele em 1979.

Charlize Theron foi a Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria, filme de 2015 Foto: Jasin Boland/Warner Bros. Pictures via AP

Curiosamente, George Miller e Nico Lathouris haviam criado uma história em quadrinhos para narrar o passado de Furiosa ainda em 2015. O elenco do filme recebeu uma cópia desta história prévia como uma introdução à personagem que, na tela de cinema, surge roubando esposas abusadas pelo antagonista Immortan Joe e a tenta, incessantemente, reencontrar o Vale Verde, um oásis de plantas, frutas e água em meio a um mundo desértico e árido.

Quem era essa figura, a tal Furiosa? Por que os cabelos estavam raspados? O que aconteceu com o braço mutilado? As perguntas ganham respostas, enfim.

Miller brinca que criou os dois filmes juntos, mesmo que o roteiro de Furiosa tenha sido trabalhado ao longo dos anos. O sucesso do filme de 2015 - que custou US$ 160 milhões e faturou US$ 380 milhões - deu sinal verde para Miller criar a história de Furiosa nas telonas.

Mais ambicioso, violento, enérgico do que jamais visto na saga Mad Max, Furiosa é uma jornada de vingança dilacerante, que arde como grãos de areia nos olhos.

Uma estrela em ascensão

George Miller viu Anya Taylor-Joy pela primeira vez em Noite Passada em Soho, de 2021. A atriz vinha de uma elogiada atuação em A Bruxa (2015) e de O Gambito da Rainha (2020), uma série da Netflix na qual Anya interpretava uma órfã enxadrista prodígio.

Enxergou na personagem da atriz, Sandie, algo que ele queria para sua Furiosa: uma ferocidade inerente. Ligou para o colega e diretor Edgar Wright e pediu para se conectar com Anya.

Anya Taylor Joy sequer sabia andar de bicicleta e precisou aprender a pilotar motos para viver Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

Era pandemia de covid-19 e Anya trabalhava já em O Homem do Norte. Quando soube, por Wright, que falaria com Miller, arrepiou-se de excitação. A pedido de Miller, gravou três vezes uma cena do filme Rede de Intrigas, como teste para Furiosa. Enviou para ele, recebeu de volta com comentários, gravou mais versões. Ao descobrir que conseguiu o papel de Furiosa, Anya estava em Belfast, no País da Gales, e o máximo que pode fazer foi correr pelo apartamento onde morava durante as filmagens.

E, depois, se colocou a pensar no problema em que se enfiara. Apesar dos 25 anos na época (hoje ela tem 28 anos), Anya não sabia dirigir.

E, em Mad Max, não ser capaz de dirigir significa morte na certa.

Dirigir para sobreviver

Entre aquela ligação e a estreia de Furiosa, a reputação de Anya só cresceu em Hollywood. A atriz dublou Peach, a princesa da animação Super Mario Bros. O Filme e atuou no filme indie-estranho O Menu, que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Furiosa é uma espécie de O Poderoso Chefão 2 para George Miller, como ele admitiu à Rolling Stone dos Estados Unidos. Era o filme no qual, de alguma forma, veremos como o protagonista do longa anterior (de O Poderoso Chefão, o Don Corleone de Marlon Brando) se transformava para ser quem era. O mesmo veríamos de Furiosa.

Anya queria este papel.

Anya Taylor-Joy vive Furiosa em filme sobre uma jornada de vingança Foto: Warner Bros. Divulgação

Aprontou-se rapidamente a aprender a dirigir, tanto carros quanto motos. Mal sabia andar de bicicleta e, ao longo de um ano, foi capaz manejar uma motocicleta de 150 cilindradas e, depois, de 400 cilindradas de potência.

No volante, a primeira manobra que aprendeu foi um juicy lift 180 graus, que é partir com o carro em toda velocidade, virar o volante com o freio de mão puxado e fazer o carro dar um giro de 180 graus.

“Queria fazer o máximo de cenas em que me era permitido”, explicou Anya em uma entrevista coletiva realizada no México e online (em espanhol, porque ela viveu por anos na Argentina e fala espanhol com naturalidade e velocidade espantosas), para veículos de imprensa da América Latina, inclusive o Estadão. “Eu sequer possuía carteira de motorista. Juro que não tive tempo, estou sempre trabalhando. Mas posso dizer que minha introdução a esse universo foi um pouco diferente daquela do resto das pessoas.”

Definitivamente, nós, mortais, não aprendemos a dirigir para sobreviver no deserto das Wastelands. Será que deveríamos?

Uma heroína que fala pelas suas ações

O universo de Mad Max é, essencialmente, masculino. Pelo menos era, durante a trilogia original, protagonizada por Mel Gibson nos anos de 1979, 1981 e 1985. Furiosa, em Estrada da Fúria, surgiu para quebrar o padrão, em uma alusão à libertação feminina do século 21.

Ainda assim, é pouco. No universo distópico fascinante de Miller, o cheiro é de cueca, sovaco mal lavado e a sensação é do excesso de testosterona no ar.

Furiosa (no início do filme interpretada pela jovem Alyla Browne) é uma órfã tirada da Terra Verde, um oásis secreto em meio ao deserto, ainda na infância e levada para o mundo selvagem de Mad Max. Para sobreviver, ela se adapta aos diferentes homens que cruzam seu caminho e tentam domá-la.

Um deles é Dementus, um homem nascido para a guerra, cruel e poderoso, interpretado por Chris Hemsworth de forma assombrosamente boa (sim, ele sabe atuar mais do que mostra como Thor, nos filmes da Marvel).

Chris Hemsworth interpreta um caricato Dementus, o antagonista de Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

E Dementus é o grande rival de Furiosa neste filme. E uma jornada de sangue, tiros, velocidade e vingança, Furiosa e ele coexistirão em embates ferozes ao longo das quase três horas de produção.

Mas tal qual vemos em Estrada da Fúria, a protagonista não é chegada em muito papo. Muito se deve ao fato de, em certo momento, ela disfarçar o gênero para passar despercebida em meio aos domínios de Immortan Joe (aquele das esposas roubadas do filme Estrada da Fúria).

E faz parte da forma como Miller constrói a ação e a tensão. Nunca com palavras, sempre com expressões e explosões de carros.

Tom Hardy, por exemplo, tinha apenas 16 falas em Estrada da Fúria. Charlize Theron também. Anya, com suas 30 falas, aproveitou-se da limitação para uma arma poderosa, como uma espécie de John Wayne: transformou-se em uma caubói sisuda de um faroeste distópico no qual os cavalos são substituídos por máquinas velozes movidas a gasolina.

“Tive um pouco de medo, quando começamos a gravar”, admitiu Anya, ainda no México. “George [Miller] possuía uma ideia muito clara de como queria que ela se comunicasse com o rosto. Eu pensava: ‘Certo, estamos em Wasteland, qualquer tipo de emoção é uma fraqueza’. Eu só tive meus olhos para me comunicar. Mas precisei mergulhar e me arriscar. Não há pessoa melhor para fazer um filme de Mad Max do que George Miller.

Com olhos vibrantes, não havia pessoa melhor para ser esta jovem Furiosa do que Anya.

Na maior parte do tempo, você não ouvirá a voz de Anya Taylor-Joy, mas, ainda assim, a presença dela é uma força gravitacional ali na tela. Dona de um par de olhos hipnotizantes tal qual dos animes e mangás japoneses, a jovem atriz nascida em Miami, nos Estados Unidos, é magnética. Enigmática, também.

Com poucas falas, Anya Taylor-Joy intepreta Furiosa com o olhar Foto: Warner Bros. / Divulgação

Pouco importa que Anya apareça somente na metade do filme para o final, ou o fato de a personagem ter apenas 30 falas, em um total de 2 horas e 38 minutos de longa. Tudo gira em torno dela, a nova queridinha de Hollywood, uma estrela em crescimento, com algumas indicações em premiações importantes como Globo de Ouro, Emmy, Bafta, entre outros.

Anya dá o maior passo da carreira aqui: é a protagonista que dá nome ao novo filme de George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max, um dos melhores filmes de ação do ano, que estreia nesta quinta, 23. Como Furiosa, ela veste os sapatos de Charlize Theron, também intérprete de Furiosa, na continuação de nome Mad Max: Estrada da Fúria, lançado em 2015 e, no ano seguinte, vencedor de seis estatuetas do Oscar - todas em categorias técnicas.

Furiosa: Uma Saga Mad Max revela a origem da personagem de Theron responsável por realmente conduzir o longa de 2015 - Max, vivido por Tom Hardy, em teoria o protagonista, desaparece em cena apesar de estar sempre ali, como se levado por uma tempestade de areia.

Parecia lógico que Furiosa ganharia um filme próprio, mas Hollywood precisava estar na mesma página que George Miller, o icônico e veterano diretor australiano que, apesar do Oscar pelos pinguins dançantes de Happy Feet, tornou-se um verdadeiro mestre da ação com a franquia Mad Max, criada por ele em 1979.

Charlize Theron foi a Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria, filme de 2015 Foto: Jasin Boland/Warner Bros. Pictures via AP

Curiosamente, George Miller e Nico Lathouris haviam criado uma história em quadrinhos para narrar o passado de Furiosa ainda em 2015. O elenco do filme recebeu uma cópia desta história prévia como uma introdução à personagem que, na tela de cinema, surge roubando esposas abusadas pelo antagonista Immortan Joe e a tenta, incessantemente, reencontrar o Vale Verde, um oásis de plantas, frutas e água em meio a um mundo desértico e árido.

Quem era essa figura, a tal Furiosa? Por que os cabelos estavam raspados? O que aconteceu com o braço mutilado? As perguntas ganham respostas, enfim.

Miller brinca que criou os dois filmes juntos, mesmo que o roteiro de Furiosa tenha sido trabalhado ao longo dos anos. O sucesso do filme de 2015 - que custou US$ 160 milhões e faturou US$ 380 milhões - deu sinal verde para Miller criar a história de Furiosa nas telonas.

Mais ambicioso, violento, enérgico do que jamais visto na saga Mad Max, Furiosa é uma jornada de vingança dilacerante, que arde como grãos de areia nos olhos.

Uma estrela em ascensão

George Miller viu Anya Taylor-Joy pela primeira vez em Noite Passada em Soho, de 2021. A atriz vinha de uma elogiada atuação em A Bruxa (2015) e de O Gambito da Rainha (2020), uma série da Netflix na qual Anya interpretava uma órfã enxadrista prodígio.

Enxergou na personagem da atriz, Sandie, algo que ele queria para sua Furiosa: uma ferocidade inerente. Ligou para o colega e diretor Edgar Wright e pediu para se conectar com Anya.

Anya Taylor Joy sequer sabia andar de bicicleta e precisou aprender a pilotar motos para viver Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

Era pandemia de covid-19 e Anya trabalhava já em O Homem do Norte. Quando soube, por Wright, que falaria com Miller, arrepiou-se de excitação. A pedido de Miller, gravou três vezes uma cena do filme Rede de Intrigas, como teste para Furiosa. Enviou para ele, recebeu de volta com comentários, gravou mais versões. Ao descobrir que conseguiu o papel de Furiosa, Anya estava em Belfast, no País da Gales, e o máximo que pode fazer foi correr pelo apartamento onde morava durante as filmagens.

E, depois, se colocou a pensar no problema em que se enfiara. Apesar dos 25 anos na época (hoje ela tem 28 anos), Anya não sabia dirigir.

E, em Mad Max, não ser capaz de dirigir significa morte na certa.

Dirigir para sobreviver

Entre aquela ligação e a estreia de Furiosa, a reputação de Anya só cresceu em Hollywood. A atriz dublou Peach, a princesa da animação Super Mario Bros. O Filme e atuou no filme indie-estranho O Menu, que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Furiosa é uma espécie de O Poderoso Chefão 2 para George Miller, como ele admitiu à Rolling Stone dos Estados Unidos. Era o filme no qual, de alguma forma, veremos como o protagonista do longa anterior (de O Poderoso Chefão, o Don Corleone de Marlon Brando) se transformava para ser quem era. O mesmo veríamos de Furiosa.

Anya queria este papel.

Anya Taylor-Joy vive Furiosa em filme sobre uma jornada de vingança Foto: Warner Bros. Divulgação

Aprontou-se rapidamente a aprender a dirigir, tanto carros quanto motos. Mal sabia andar de bicicleta e, ao longo de um ano, foi capaz manejar uma motocicleta de 150 cilindradas e, depois, de 400 cilindradas de potência.

No volante, a primeira manobra que aprendeu foi um juicy lift 180 graus, que é partir com o carro em toda velocidade, virar o volante com o freio de mão puxado e fazer o carro dar um giro de 180 graus.

“Queria fazer o máximo de cenas em que me era permitido”, explicou Anya em uma entrevista coletiva realizada no México e online (em espanhol, porque ela viveu por anos na Argentina e fala espanhol com naturalidade e velocidade espantosas), para veículos de imprensa da América Latina, inclusive o Estadão. “Eu sequer possuía carteira de motorista. Juro que não tive tempo, estou sempre trabalhando. Mas posso dizer que minha introdução a esse universo foi um pouco diferente daquela do resto das pessoas.”

Definitivamente, nós, mortais, não aprendemos a dirigir para sobreviver no deserto das Wastelands. Será que deveríamos?

Uma heroína que fala pelas suas ações

O universo de Mad Max é, essencialmente, masculino. Pelo menos era, durante a trilogia original, protagonizada por Mel Gibson nos anos de 1979, 1981 e 1985. Furiosa, em Estrada da Fúria, surgiu para quebrar o padrão, em uma alusão à libertação feminina do século 21.

Ainda assim, é pouco. No universo distópico fascinante de Miller, o cheiro é de cueca, sovaco mal lavado e a sensação é do excesso de testosterona no ar.

Furiosa (no início do filme interpretada pela jovem Alyla Browne) é uma órfã tirada da Terra Verde, um oásis secreto em meio ao deserto, ainda na infância e levada para o mundo selvagem de Mad Max. Para sobreviver, ela se adapta aos diferentes homens que cruzam seu caminho e tentam domá-la.

Um deles é Dementus, um homem nascido para a guerra, cruel e poderoso, interpretado por Chris Hemsworth de forma assombrosamente boa (sim, ele sabe atuar mais do que mostra como Thor, nos filmes da Marvel).

Chris Hemsworth interpreta um caricato Dementus, o antagonista de Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

E Dementus é o grande rival de Furiosa neste filme. E uma jornada de sangue, tiros, velocidade e vingança, Furiosa e ele coexistirão em embates ferozes ao longo das quase três horas de produção.

Mas tal qual vemos em Estrada da Fúria, a protagonista não é chegada em muito papo. Muito se deve ao fato de, em certo momento, ela disfarçar o gênero para passar despercebida em meio aos domínios de Immortan Joe (aquele das esposas roubadas do filme Estrada da Fúria).

E faz parte da forma como Miller constrói a ação e a tensão. Nunca com palavras, sempre com expressões e explosões de carros.

Tom Hardy, por exemplo, tinha apenas 16 falas em Estrada da Fúria. Charlize Theron também. Anya, com suas 30 falas, aproveitou-se da limitação para uma arma poderosa, como uma espécie de John Wayne: transformou-se em uma caubói sisuda de um faroeste distópico no qual os cavalos são substituídos por máquinas velozes movidas a gasolina.

“Tive um pouco de medo, quando começamos a gravar”, admitiu Anya, ainda no México. “George [Miller] possuía uma ideia muito clara de como queria que ela se comunicasse com o rosto. Eu pensava: ‘Certo, estamos em Wasteland, qualquer tipo de emoção é uma fraqueza’. Eu só tive meus olhos para me comunicar. Mas precisei mergulhar e me arriscar. Não há pessoa melhor para fazer um filme de Mad Max do que George Miller.

Com olhos vibrantes, não havia pessoa melhor para ser esta jovem Furiosa do que Anya.

Na maior parte do tempo, você não ouvirá a voz de Anya Taylor-Joy, mas, ainda assim, a presença dela é uma força gravitacional ali na tela. Dona de um par de olhos hipnotizantes tal qual dos animes e mangás japoneses, a jovem atriz nascida em Miami, nos Estados Unidos, é magnética. Enigmática, também.

Com poucas falas, Anya Taylor-Joy intepreta Furiosa com o olhar Foto: Warner Bros. / Divulgação

Pouco importa que Anya apareça somente na metade do filme para o final, ou o fato de a personagem ter apenas 30 falas, em um total de 2 horas e 38 minutos de longa. Tudo gira em torno dela, a nova queridinha de Hollywood, uma estrela em crescimento, com algumas indicações em premiações importantes como Globo de Ouro, Emmy, Bafta, entre outros.

Anya dá o maior passo da carreira aqui: é a protagonista que dá nome ao novo filme de George Miller, Furiosa: Uma Saga Mad Max, um dos melhores filmes de ação do ano, que estreia nesta quinta, 23. Como Furiosa, ela veste os sapatos de Charlize Theron, também intérprete de Furiosa, na continuação de nome Mad Max: Estrada da Fúria, lançado em 2015 e, no ano seguinte, vencedor de seis estatuetas do Oscar - todas em categorias técnicas.

Furiosa: Uma Saga Mad Max revela a origem da personagem de Theron responsável por realmente conduzir o longa de 2015 - Max, vivido por Tom Hardy, em teoria o protagonista, desaparece em cena apesar de estar sempre ali, como se levado por uma tempestade de areia.

Parecia lógico que Furiosa ganharia um filme próprio, mas Hollywood precisava estar na mesma página que George Miller, o icônico e veterano diretor australiano que, apesar do Oscar pelos pinguins dançantes de Happy Feet, tornou-se um verdadeiro mestre da ação com a franquia Mad Max, criada por ele em 1979.

Charlize Theron foi a Furiosa em Mad Max: Estrada da Fúria, filme de 2015 Foto: Jasin Boland/Warner Bros. Pictures via AP

Curiosamente, George Miller e Nico Lathouris haviam criado uma história em quadrinhos para narrar o passado de Furiosa ainda em 2015. O elenco do filme recebeu uma cópia desta história prévia como uma introdução à personagem que, na tela de cinema, surge roubando esposas abusadas pelo antagonista Immortan Joe e a tenta, incessantemente, reencontrar o Vale Verde, um oásis de plantas, frutas e água em meio a um mundo desértico e árido.

Quem era essa figura, a tal Furiosa? Por que os cabelos estavam raspados? O que aconteceu com o braço mutilado? As perguntas ganham respostas, enfim.

Miller brinca que criou os dois filmes juntos, mesmo que o roteiro de Furiosa tenha sido trabalhado ao longo dos anos. O sucesso do filme de 2015 - que custou US$ 160 milhões e faturou US$ 380 milhões - deu sinal verde para Miller criar a história de Furiosa nas telonas.

Mais ambicioso, violento, enérgico do que jamais visto na saga Mad Max, Furiosa é uma jornada de vingança dilacerante, que arde como grãos de areia nos olhos.

Uma estrela em ascensão

George Miller viu Anya Taylor-Joy pela primeira vez em Noite Passada em Soho, de 2021. A atriz vinha de uma elogiada atuação em A Bruxa (2015) e de O Gambito da Rainha (2020), uma série da Netflix na qual Anya interpretava uma órfã enxadrista prodígio.

Enxergou na personagem da atriz, Sandie, algo que ele queria para sua Furiosa: uma ferocidade inerente. Ligou para o colega e diretor Edgar Wright e pediu para se conectar com Anya.

Anya Taylor Joy sequer sabia andar de bicicleta e precisou aprender a pilotar motos para viver Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

Era pandemia de covid-19 e Anya trabalhava já em O Homem do Norte. Quando soube, por Wright, que falaria com Miller, arrepiou-se de excitação. A pedido de Miller, gravou três vezes uma cena do filme Rede de Intrigas, como teste para Furiosa. Enviou para ele, recebeu de volta com comentários, gravou mais versões. Ao descobrir que conseguiu o papel de Furiosa, Anya estava em Belfast, no País da Gales, e o máximo que pode fazer foi correr pelo apartamento onde morava durante as filmagens.

E, depois, se colocou a pensar no problema em que se enfiara. Apesar dos 25 anos na época (hoje ela tem 28 anos), Anya não sabia dirigir.

E, em Mad Max, não ser capaz de dirigir significa morte na certa.

Dirigir para sobreviver

Entre aquela ligação e a estreia de Furiosa, a reputação de Anya só cresceu em Hollywood. A atriz dublou Peach, a princesa da animação Super Mario Bros. O Filme e atuou no filme indie-estranho O Menu, que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro.

Furiosa é uma espécie de O Poderoso Chefão 2 para George Miller, como ele admitiu à Rolling Stone dos Estados Unidos. Era o filme no qual, de alguma forma, veremos como o protagonista do longa anterior (de O Poderoso Chefão, o Don Corleone de Marlon Brando) se transformava para ser quem era. O mesmo veríamos de Furiosa.

Anya queria este papel.

Anya Taylor-Joy vive Furiosa em filme sobre uma jornada de vingança Foto: Warner Bros. Divulgação

Aprontou-se rapidamente a aprender a dirigir, tanto carros quanto motos. Mal sabia andar de bicicleta e, ao longo de um ano, foi capaz manejar uma motocicleta de 150 cilindradas e, depois, de 400 cilindradas de potência.

No volante, a primeira manobra que aprendeu foi um juicy lift 180 graus, que é partir com o carro em toda velocidade, virar o volante com o freio de mão puxado e fazer o carro dar um giro de 180 graus.

“Queria fazer o máximo de cenas em que me era permitido”, explicou Anya em uma entrevista coletiva realizada no México e online (em espanhol, porque ela viveu por anos na Argentina e fala espanhol com naturalidade e velocidade espantosas), para veículos de imprensa da América Latina, inclusive o Estadão. “Eu sequer possuía carteira de motorista. Juro que não tive tempo, estou sempre trabalhando. Mas posso dizer que minha introdução a esse universo foi um pouco diferente daquela do resto das pessoas.”

Definitivamente, nós, mortais, não aprendemos a dirigir para sobreviver no deserto das Wastelands. Será que deveríamos?

Uma heroína que fala pelas suas ações

O universo de Mad Max é, essencialmente, masculino. Pelo menos era, durante a trilogia original, protagonizada por Mel Gibson nos anos de 1979, 1981 e 1985. Furiosa, em Estrada da Fúria, surgiu para quebrar o padrão, em uma alusão à libertação feminina do século 21.

Ainda assim, é pouco. No universo distópico fascinante de Miller, o cheiro é de cueca, sovaco mal lavado e a sensação é do excesso de testosterona no ar.

Furiosa (no início do filme interpretada pela jovem Alyla Browne) é uma órfã tirada da Terra Verde, um oásis secreto em meio ao deserto, ainda na infância e levada para o mundo selvagem de Mad Max. Para sobreviver, ela se adapta aos diferentes homens que cruzam seu caminho e tentam domá-la.

Um deles é Dementus, um homem nascido para a guerra, cruel e poderoso, interpretado por Chris Hemsworth de forma assombrosamente boa (sim, ele sabe atuar mais do que mostra como Thor, nos filmes da Marvel).

Chris Hemsworth interpreta um caricato Dementus, o antagonista de Furiosa Foto: Warner Bros. / Divulgaç

E Dementus é o grande rival de Furiosa neste filme. E uma jornada de sangue, tiros, velocidade e vingança, Furiosa e ele coexistirão em embates ferozes ao longo das quase três horas de produção.

Mas tal qual vemos em Estrada da Fúria, a protagonista não é chegada em muito papo. Muito se deve ao fato de, em certo momento, ela disfarçar o gênero para passar despercebida em meio aos domínios de Immortan Joe (aquele das esposas roubadas do filme Estrada da Fúria).

E faz parte da forma como Miller constrói a ação e a tensão. Nunca com palavras, sempre com expressões e explosões de carros.

Tom Hardy, por exemplo, tinha apenas 16 falas em Estrada da Fúria. Charlize Theron também. Anya, com suas 30 falas, aproveitou-se da limitação para uma arma poderosa, como uma espécie de John Wayne: transformou-se em uma caubói sisuda de um faroeste distópico no qual os cavalos são substituídos por máquinas velozes movidas a gasolina.

“Tive um pouco de medo, quando começamos a gravar”, admitiu Anya, ainda no México. “George [Miller] possuía uma ideia muito clara de como queria que ela se comunicasse com o rosto. Eu pensava: ‘Certo, estamos em Wasteland, qualquer tipo de emoção é uma fraqueza’. Eu só tive meus olhos para me comunicar. Mas precisei mergulhar e me arriscar. Não há pessoa melhor para fazer um filme de Mad Max do que George Miller.

Com olhos vibrantes, não havia pessoa melhor para ser esta jovem Furiosa do que Anya.

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