Discretamente e quase sem divulgação, o filme Ficção Americana, do diretor estreante Cord Jefferson, chegou ao Amazon Prime Video na última terça-feira, 27. O longa está indicado a cinco categorias no Oscar 2024, que ocorre no dia 10 de março.
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A partir de uma sátira inteligente com tons de drama e romance, o filme, baseado no livro Erasure, publicado em 2001 pelo escritor Percival Everett, busca expor o racismo e a hipocrisia do mercado editorial americano e, em certo ponto, até mesmo da indústria cinematográfica hollywoodiana.
A trama segue Thelonious “Monk” Ellison (Jeffrey Wright), um professor universitário e escritor negro cujos livros são reconhecidos no meio, mas não populares com o público geral. Tentando vender seu novo título, Monk é rejeitado por diversas editoras que consideram que seu trabalho “não tem relação com a experiência afro-americana”.
Ao mesmo tempo, ele vê a novata Sintara Golden (Issa Rae) lotando palestras e vendendo milhares de exemplares com um livro que, pelo que pouco que leu, Monk considera raso e cheio de estereótipos sobre o que é ser negro nos Estados Unidos. Ele entende: o mercado literário não quer histórias complexas e multifacetadas de autores negros, e sim tramas sobre o sofrimento da comunidade.
Além disso, Monk vive um drama familiar. Tem uma relação complicada com os irmãos, Lisa (Tracee Ellis Ross, que tem pouco tempo de tela, mas já consegue causar impacto) e Cliff (Sterling K. Brown, que faz uma das melhores atuações da carreira), e precisa cuidar da mãe, que dá sinais de Alzheimer.
Irritado e precisando de dinheiro, ele resolve escrever um livro cheio daqueles estereótipos que o mercado acha que descrevem a experiência afro-americana - pais ausentes, morte, pobreza, tráfico de drogas - e o envia para seu editor.
O que nenhum deles esperava é que uma editora oferecesse um adiantamento enorme e que o livro se tornasse um best-seller instantâneo. Monk cria um pseudônimo de um criminoso fugitivo e até uma oferta para transformar a obra em filme aparece. A partir daí, o que era para ser uma piada irônica vira uma bola de neve - vale guardar o melhor para o espectador se surpreender.
Atuações e indicações ao Oscar
Jeffrey Wright, mais conhecido pela série Westworld e papéis secundários em The Batman, Jogos Vorazes e na franquia 007 - faz um belo trabalho de atuação como Monk, o que lhe rendeu sua primeira indicação ao Oscar.
Apesar de ser um dos destaques deste ano, o ator não é um dos favoritos. Das premiações que servem de “termômetro” para a estatueta, ele só recebeu o Spirit Awards, que premia filmes independentes. Cillian Murphy, de Oppenheimer, ganhou o SAG Awards, o Bafta e o Globo de Ouro em filme de drama. Já Paul Giamatti, de Os Rejeitados, ficou com o Critics Choice e com o Globo de Ouro em musical ou comédia.
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Situação parecida vive Sterling K. Brown, que recebeu uma indicação de melhor ator coadjuvante por sua atuação como o irmão de Monk, que está deprimido após sua mulher descobrir que ele a traía com um homem. No entanto, Robert Downey Jr., de Oppenheimer, é favorito absoluto na categoria.
Ficção Americana também concorre à categoria de melhor filme. Se vencer, será uma surpresa, mas o longa não deve ser descartado. Como pontuou o The New York Times, a produção ganhou o People’s Choice Award do Festival Internacional de Cinema de Toronto e todos os filmes que venceram o prêmio na última década foram indicados a melhor longa, sendo que três deles - 12 Anos de Escravidão (2013), Green Book: O Guia (2018) e Nomadland (2020) - levaram a estatueta.
As maiores chances de vitória são nas categorias de melhor trilha sonora e, principalmente, melhor roteiro adaptado, apesar de também enfrentar grandes concorrentes, como Barbie, Oppenheimer e Pobres Criaturas.