Está no ar a temporada de Sidney Magal. Na última sexta, 6, o infatigável colocou o 25º Festival do Rio para dançar na abertura da Première Brasil de 2023. Havia gente dançando dentro do Odeon, no final da sessão de O Meu Sangue Ferve por Você. Na sequência, aí sim, no pocket show realizado no lendário Teatro Rival, encravado na Cinelândia carioca, o público soltou-se enquanto Magal cantava seus hits.
Bem-humorado, perguntou se a pista lotada estava preparada para aprender a letra de uma nova música. E atacou com ‘mil braços para abraçar-te. Mil bocas para beijar-te’. O gran finale foi com... Sandra Rosa Madalena!
Mas nem sua presença no belo filme Tire 5 Cartas, com Lília Cabral, ajudou a aplacar a sina que tem sido a dos lançamentos das produções brasileiras. Os elogios de críticos não encontram respaldo no coração do público. A acolhida às produções nacionais não se transforma em bilheterias.
Na próxima quinta, 12, estreiam o filme da Xuxa, Uma Fada Veio de Visitar, e Meu Nome É Gal. Em novembro, será vez de Tia Virgínia e Mussum – O Filmis. E Magal?
O Meu Sangue Ferve por Você estreia só em março do ano que vem, mas, calma, antes disso o longa de Paulo Machline produzido por Joana Mariani terá sessão na Mostra, que começa no dia 19. No Domingo Musical do evento, dia 22, Magal fará o encerramento com um show na área externa na Cinemateca Brasileira.
O Brasil – o cinema brasileiro - está reverenciando nossos artistas. Gal, Mussum, Magal, o diretor Nelson Pereira dos Santos. Os três primeiros em ficções, Nelson, num doc que estreou em Cannes, em maio.
No final da sessão de O Meu Sangue Ferve por Você, abraçado, tocado pelos admiradores que não desgrudavam dele – todo mundo queria uma selfie –, Magal soprou no ouvido do repórter: “Uma homenagem é sempre gratificante, ainda mais quando é bem feita, como esse filme”.
Pouco antes do início da sessão, antes de subir ao palco do Odeon – o Teatro Municipal dos cinemas de rua do Rio –, sentado numa extremidade de uma fila das poltronas de centro, o diretor Paulo Machline também falou ao Estadão.
Machline é um veterano do Festival do Rio: “Todos os meus filmes passaram aqui”. Referia-se a Trinta, sobre Joãozinho Trinta, Natimorto, baseado no romance de Lourenço Mutarelli, O Filho Eterno, etc. Natimorto tinha aquele subtítulo “Um musical silencioso”. O que não falta em O Meu Sangue Ferve por Você são canções.
Depois de tantas galas no Rio, o coração do diretor ainda estava acelerado? “Parece que vai saltar do peito de tanta ansiedade. É muita coisa que passa pela cabeça. Estou aqui tentando processar”, revela. No final, Machline era só alegria com a reação dos espectadores.
Mas, claro, uma sessão em que o público mistura-se aos convidados, em presença de Magal, só poderia ser aplaudida em cena aberta, como se faz no teatro. A grande questão será o comportamento do público em março do ano que vem.
Magal é interpretado por Filipe Bragança, que incorpora o personagem. Filipe até canta! Está no elenco da novela das 6 da Globo, Elas por Elas. Sua parceira de cena é a deslumbrante Giovana Cordeiro, que também está na Globo, na novela das 7, Fuzuê.
Joana Mariani, a feliz produtora de O Meu Sangue Ferve por Você, já havia dito ao repórter: “O filme não é bem uma biografia do Magal. Faz um recorte. Na verdade, é uma linda história de amor”.
Quem segue Magal na vida, nas redes, talvez saiba. Nos anos 1970 ele estava no auge do sucesso. Foi a Salvador para um show e, na sequência, para entregar a faixa – a coroa? – à mais bela soteropolitana. Foi quando encontrou Magali. Filipe Bragança e Giovana Cordeiro têm química. Você sente a flechada de Cupido.
Mas a história de amor não rola facilmente. Tem o seu vilão, e é o empresário que acha que sabe o que é melhor para Magal, para sua carreira. Quem faz o papel é Caco Ciocler, que também está em outro filme na mostra competitiva da Première Brasil – As Polacas, de João Jardim, mas essa, como diria o grande Billy Wilder, é outra história. Caco, o empresário, terá de ser neutralizado.
Magal e Magali estão juntos desde 1979. Há 44 anos! Ele só fala dela como “o grande amor de minha vida”. No Rival, voltou ao tema do filme.
Sidney Magal
Magal fez questão de dizer que a apresentação no Teatro Rival não era um show. Também não era só uma canja. Acompanhado do genro tecladista, que, como brincou, “tem de andar na linha comigo e com minha filha”, e um casal de bailarinos, atacou de O Meu Sangue Ferve por Você, homenageou a Jovem Guarda – e o bailarino fez a coreografia de ‘Eu Sou Terrível’.
“Em toda a minha vida, amei só uma mulher, e ela tem três nomes”, declarou. Voltou à cena a bailarina, vestida de cigana, Sandra Rosa Madalena.
“Quero vê-la sorrir, quero vê-la cantar/Quero ver o seu corpo dançar sem parar”. O Magal autoirônico não se poupa. Diz que tem estado na mira da Lei Maria da Penha pela letra de uma música que nem cantava mais, mas que voltou numa novela e hoje são os fãs que pedem. Se Te Agarro com Outro Te Mato.
“Dizem que sou violento mas a rocha dura se destrói com o vento/Dizem que estou errado mas quem fala isso é quem nunca amou”. O público jovem do Rival, adepto dos relacionamentos fluidos – ninguém é de ninguém –, cantou e dançou a música sem ligar para a letra. Na maior euforia.
Na despedida, é a vez do repórter sussurrar no ouvido de Magal. Um palavrão. “Cara, tu é...”. A palavrinha que começa com F. Ele segue rindo, tocado, abraçado, adorado por seus fãs.