Como o Festival de Cinema de Veneza se tornou uma ‘plataforma de lançamento do Oscar’


Quatro dos 10 últimos vencedores de melhor filme estrearam no evento italiano - que abre nesta quarta, 28, sua 81ª edição

Por A.J. Goldmann
Atualização:

Nos dias de hoje, a corrida para o Oscar começa em Veneza, na Itália. Dos últimos dez vencedores de melhor filme, quatro estrearam na lagoa, inclusive, mais recentemente, Nomadland - Sobreviver na América, de Chloé Zhao, em 2020. Esse filme também levou o principal prêmio do festival, o Leão de Ouro, tornando-se o segundo filme depois de A Forma da Água (2017), de Guillermo del Toro, a reivindicar esse feito duplo.

Trata-se de uma reviravolta notável para um festival de cinema, que este ano começa na quarta-feira e vai até 7 de setembro, cuja reputação internacional estava caindo no início dos anos 2000. Grande parte do crédito por essa reviravolta vai para o líder do festival, Alberto Barbera. Quando o atual mandato de Barbera como diretor artístico começou, em 2012, o festival estava com dificuldades para atrair filmes dos estúdios de Hollywood.

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“Era muito mais fácil ir a Toronto, gastar menos dinheiro e fazer uma promoção voltada para o mercado doméstico”, disse Barbera, referindo-se ao Festival Internacional de Cinema de Toronto, que é realizado no início de setembro. “Mas perder a presença dos estúdios de Hollywood foi um grande risco para Veneza”, continuou ele, acrescentando que temia um efeito em cadeia desastroso se os principais estúdios americanos dessem as costas ao seu festival.

Pessoas em frente ao Palazzo del Cinema em 27 de agosto de 2024, na véspera da cerimônia de abertura do 81º Festival de Cinema de Veneza, no Lido de Veneza.  Foto: Marco Bertorello/AFP

Barbera convenceu a Bienal de Veneza, que organiza o festival, a reformar as salas de exibição e as instalações, que não eram atualizadas havia décadas. Ele também viajava para Los Angeles duas vezes por ano para cortejar diretores de estúdios e empresas de cinema independentes.

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Em seu segundo verão no cargo, os esforços de Barbera renderam frutos quando o festival foi aberto com Gravidade, de Alfonso Cuarón, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney.

“A Warner Bros. não sabia se o filme seria um sucesso comercial”, disse Barbera. O longa recebeu ótimas críticas, arrecadou mais de US$ 700 milhões e rendeu a Cuarón o Oscar de melhor diretor. Era exatamente o que Barbera queria. Desde então, não se passou um ano sem que um grande candidato ao Oscar estreasse em seu festival, entre eles os sucessos de bilheteria La La Land (2016), Nasce uma Estrela (2018), Coringa (2019) e Duna (2021), bem como os sucessos independentes Spotlight (2015) e Tár (2022).

Um ano depois de Gravidade, o festival foi aberto com Birdman, de Alejandro G. Iñárritu, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2015.

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“Foi quando o festival realmente começou a virar uma plataforma de lançamento do Oscar”, disse Guy Lodge, crítico de cinema da revista Variety, em recente entrevista por telefone. De acordo com ele, Veneza, que precisava de “uma nova injeção de energia e uma nova identidade”, estava em posição privilegiada para se beneficiar de um abraço mútuo entre festivais de cinema e candidatos a prêmios – algo que, na época, era relativamente novo. (Ele observou que Oppenheimer, de 2023, foi o primeiro vencedor de melhor filme que não estreou em um festival norte-americano ou europeu desde Os Infiltrados, de 2006).

O diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, e a patrona Sveva Alviti no cais Excelsior nesta terça, 27, véspera da abertura do evento Foto: Gian Mattia D'Alberto/LaPresse via AP

“Acho que os distribuidores, os estrategistas de premiação e os publicitários começaram a perceber que tinham uma plataforma de lançamento muito aberta para seus candidatos ao Oscar, em um momento que não era muito cedo nem muito tarde, e que lhes daria tempo suficiente para causar impacto em Veneza e depois trabalhar nos meses seguintes, com a chegada do outono”, disse ele.

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Junto com os filmes de grandes estúdios, títulos menores também se beneficiaram da exibição e do título em Veneza. Lodge apontou Nomadland como um filme que provavelmente foi ajudado pelo troféu no festival. “Se esse filme tivesse sido lançado em Sundance, por exemplo, e fosse muito mais um filme do tipo Sundance, acho que talvez não tivesse chegado lá, pois Veneza realmente deu a ele uma espécie de verniz de prestígio”, disse ele.

A nova estatura do festival o tornou especialmente resiliente diante dos desafios recentes. O festival encontrou uma maneira segura de seguir em frente com sua 77ª edição em 2020, seis meses depois do começo da pandemia. No ano passado, o festival apresentou uma edição robusta apesar da greve da dos atores e roteiristas. A competição principal de 23 títulos incluiu trabalhos de Sofia Coppola, Ava DuVernay, Michael Mann e Yorgos Lanthimos, que ganhou o Leão de Ouro por seu filme surreal de terror e fantasia, Pobres Criaturas.

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“Nós nos comprometemos com uma data de lançamento no final do ano nos Estados Unidos antes de irmos a Veneza, na esperança de que as greves se resolvessem até lá”, disse Ed Guiney, um dos produtores do filme, em entrevista por telefone do set do novo filme de Lanthimos, Bugonia, nos arredores de Londres.

“Também funcionou muito bem para nós, porque conseguimos muita atenção para o filme em Veneza, porque ele ganhou o Leão de Ouro e foi bem avaliado, etc., etc., mesmo sem ninguém do elenco”, disse Guiney. “Isso deu um bom impulso ao filme e permitiu que ele chegasse ao ponto em que o elenco se juntou a nós para a estreia nos Estados Unidos”.

Emma Stone, vencedora do Oscar por 'Pobres Criaturas', filme que estreou no Festival de Cinema de Veneza. Foto: 20th Century Studios/Divulgação
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Pobres Criaturas foi o segundo longa-metragem consecutivo de Lanthimos a competir em Veneza depois de A Favorita (2018), que também foi coproduzido pela empresa de Guiney, a Element Pictures. Depois de conquistar o Leão de Ouro, Pobres Criaturas acabou ganhando quatro Oscars (de 11 indicações), entre eles o de melhor atriz para Emma Stone, uma das dezenas de estrelas que não passaram pelo tapete vermelho do festival por causa da greve.

“Tenho muito respeito pelos cineastas que não retiraram seus filmes do ar porque algumas das estrelas não puderam estar presentes”, disse Laura Poitras, que ganhou o Leão de Ouro em 2022 por seu documentário All the Beauty and the Bloodshed, e que fez parte do júri internacional do ano passado, em entrevista por telefone.

“Definitivamente, fomos solidários com os atores e roteiristas em greve”, disse Poitras. Embora a programação do festival não tenha sido muito afetada – Rivais, de Luca Guadagnino, foi o único grande título retirado do programa – Poitras afirmou que “o impacto da greve foi pesado”.

“Sentimos que os atores não puderam ser celebrados”, disse ela, destacando Stone, que estrelou e produziu Pobres Criaturas, e cuja ausência na estreia Poitras considerou “de partir o coração”.

Embora reconheça que o festival tenha se tornado um motor da temporada de premiações, Poitras disse que Veneza “também tem sido um lugar para inovação e belas produções cinematográficas”, elogiando dois filmes que também ganharam os prêmios principais em 2022: Saint Omer, de Alice Diop, e Sem Ursos, de Jafar Panahi.

Lodge disse que houve uma preocupação inicial de que a integridade do festival fosse comprometida pelo influxo de grandes produções de Hollywood. Mas, durante sua gestão, Barbera dissipou esse receio com uma “programação rigorosa e bastante aventureira de títulos menos conhecidos”, especialmente na programação principal da competição.

'Coringa: Delírio a Dois', com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, estreia no Festival de Veneza de 2024. Foto: Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures via AP

Embora a programação atual inclua alguns dos filmes mais estrelados deste ano, como Coringa: Delírio a Dois, com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, e The Room Next Door, de Pedro Almodóvar, estrelado por Tilda Swinton e Julianne Moore, Barbera ressalta com entusiasmo que mais da metade dos filmes da competição são de diretores novatos no festival. “Temos muitas surpresas”, disse ele.

Independentemente de quantos futuros indicados e vencedores do Oscar possam estrear no festival, Barbera disse que estava “particularmente satisfeito” com o programa deste ano, que foi montado a partir de mais de 4 mil inscrições.

“O objetivo de um festival”, disse Barbera, “é descobrir novos talentos, explorar os limites do cinema contemporâneo, com novas expressões e novas vozes”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Nos dias de hoje, a corrida para o Oscar começa em Veneza, na Itália. Dos últimos dez vencedores de melhor filme, quatro estrearam na lagoa, inclusive, mais recentemente, Nomadland - Sobreviver na América, de Chloé Zhao, em 2020. Esse filme também levou o principal prêmio do festival, o Leão de Ouro, tornando-se o segundo filme depois de A Forma da Água (2017), de Guillermo del Toro, a reivindicar esse feito duplo.

Trata-se de uma reviravolta notável para um festival de cinema, que este ano começa na quarta-feira e vai até 7 de setembro, cuja reputação internacional estava caindo no início dos anos 2000. Grande parte do crédito por essa reviravolta vai para o líder do festival, Alberto Barbera. Quando o atual mandato de Barbera como diretor artístico começou, em 2012, o festival estava com dificuldades para atrair filmes dos estúdios de Hollywood.

“Era muito mais fácil ir a Toronto, gastar menos dinheiro e fazer uma promoção voltada para o mercado doméstico”, disse Barbera, referindo-se ao Festival Internacional de Cinema de Toronto, que é realizado no início de setembro. “Mas perder a presença dos estúdios de Hollywood foi um grande risco para Veneza”, continuou ele, acrescentando que temia um efeito em cadeia desastroso se os principais estúdios americanos dessem as costas ao seu festival.

Pessoas em frente ao Palazzo del Cinema em 27 de agosto de 2024, na véspera da cerimônia de abertura do 81º Festival de Cinema de Veneza, no Lido de Veneza.  Foto: Marco Bertorello/AFP

Barbera convenceu a Bienal de Veneza, que organiza o festival, a reformar as salas de exibição e as instalações, que não eram atualizadas havia décadas. Ele também viajava para Los Angeles duas vezes por ano para cortejar diretores de estúdios e empresas de cinema independentes.

Em seu segundo verão no cargo, os esforços de Barbera renderam frutos quando o festival foi aberto com Gravidade, de Alfonso Cuarón, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney.

“A Warner Bros. não sabia se o filme seria um sucesso comercial”, disse Barbera. O longa recebeu ótimas críticas, arrecadou mais de US$ 700 milhões e rendeu a Cuarón o Oscar de melhor diretor. Era exatamente o que Barbera queria. Desde então, não se passou um ano sem que um grande candidato ao Oscar estreasse em seu festival, entre eles os sucessos de bilheteria La La Land (2016), Nasce uma Estrela (2018), Coringa (2019) e Duna (2021), bem como os sucessos independentes Spotlight (2015) e Tár (2022).

Um ano depois de Gravidade, o festival foi aberto com Birdman, de Alejandro G. Iñárritu, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2015.

“Foi quando o festival realmente começou a virar uma plataforma de lançamento do Oscar”, disse Guy Lodge, crítico de cinema da revista Variety, em recente entrevista por telefone. De acordo com ele, Veneza, que precisava de “uma nova injeção de energia e uma nova identidade”, estava em posição privilegiada para se beneficiar de um abraço mútuo entre festivais de cinema e candidatos a prêmios – algo que, na época, era relativamente novo. (Ele observou que Oppenheimer, de 2023, foi o primeiro vencedor de melhor filme que não estreou em um festival norte-americano ou europeu desde Os Infiltrados, de 2006).

O diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, e a patrona Sveva Alviti no cais Excelsior nesta terça, 27, véspera da abertura do evento Foto: Gian Mattia D'Alberto/LaPresse via AP

“Acho que os distribuidores, os estrategistas de premiação e os publicitários começaram a perceber que tinham uma plataforma de lançamento muito aberta para seus candidatos ao Oscar, em um momento que não era muito cedo nem muito tarde, e que lhes daria tempo suficiente para causar impacto em Veneza e depois trabalhar nos meses seguintes, com a chegada do outono”, disse ele.

Junto com os filmes de grandes estúdios, títulos menores também se beneficiaram da exibição e do título em Veneza. Lodge apontou Nomadland como um filme que provavelmente foi ajudado pelo troféu no festival. “Se esse filme tivesse sido lançado em Sundance, por exemplo, e fosse muito mais um filme do tipo Sundance, acho que talvez não tivesse chegado lá, pois Veneza realmente deu a ele uma espécie de verniz de prestígio”, disse ele.

A nova estatura do festival o tornou especialmente resiliente diante dos desafios recentes. O festival encontrou uma maneira segura de seguir em frente com sua 77ª edição em 2020, seis meses depois do começo da pandemia. No ano passado, o festival apresentou uma edição robusta apesar da greve da dos atores e roteiristas. A competição principal de 23 títulos incluiu trabalhos de Sofia Coppola, Ava DuVernay, Michael Mann e Yorgos Lanthimos, que ganhou o Leão de Ouro por seu filme surreal de terror e fantasia, Pobres Criaturas.

“Nós nos comprometemos com uma data de lançamento no final do ano nos Estados Unidos antes de irmos a Veneza, na esperança de que as greves se resolvessem até lá”, disse Ed Guiney, um dos produtores do filme, em entrevista por telefone do set do novo filme de Lanthimos, Bugonia, nos arredores de Londres.

“Também funcionou muito bem para nós, porque conseguimos muita atenção para o filme em Veneza, porque ele ganhou o Leão de Ouro e foi bem avaliado, etc., etc., mesmo sem ninguém do elenco”, disse Guiney. “Isso deu um bom impulso ao filme e permitiu que ele chegasse ao ponto em que o elenco se juntou a nós para a estreia nos Estados Unidos”.

Emma Stone, vencedora do Oscar por 'Pobres Criaturas', filme que estreou no Festival de Cinema de Veneza. Foto: 20th Century Studios/Divulgação

Pobres Criaturas foi o segundo longa-metragem consecutivo de Lanthimos a competir em Veneza depois de A Favorita (2018), que também foi coproduzido pela empresa de Guiney, a Element Pictures. Depois de conquistar o Leão de Ouro, Pobres Criaturas acabou ganhando quatro Oscars (de 11 indicações), entre eles o de melhor atriz para Emma Stone, uma das dezenas de estrelas que não passaram pelo tapete vermelho do festival por causa da greve.

“Tenho muito respeito pelos cineastas que não retiraram seus filmes do ar porque algumas das estrelas não puderam estar presentes”, disse Laura Poitras, que ganhou o Leão de Ouro em 2022 por seu documentário All the Beauty and the Bloodshed, e que fez parte do júri internacional do ano passado, em entrevista por telefone.

“Definitivamente, fomos solidários com os atores e roteiristas em greve”, disse Poitras. Embora a programação do festival não tenha sido muito afetada – Rivais, de Luca Guadagnino, foi o único grande título retirado do programa – Poitras afirmou que “o impacto da greve foi pesado”.

“Sentimos que os atores não puderam ser celebrados”, disse ela, destacando Stone, que estrelou e produziu Pobres Criaturas, e cuja ausência na estreia Poitras considerou “de partir o coração”.

Embora reconheça que o festival tenha se tornado um motor da temporada de premiações, Poitras disse que Veneza “também tem sido um lugar para inovação e belas produções cinematográficas”, elogiando dois filmes que também ganharam os prêmios principais em 2022: Saint Omer, de Alice Diop, e Sem Ursos, de Jafar Panahi.

Lodge disse que houve uma preocupação inicial de que a integridade do festival fosse comprometida pelo influxo de grandes produções de Hollywood. Mas, durante sua gestão, Barbera dissipou esse receio com uma “programação rigorosa e bastante aventureira de títulos menos conhecidos”, especialmente na programação principal da competição.

'Coringa: Delírio a Dois', com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, estreia no Festival de Veneza de 2024. Foto: Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures via AP

Embora a programação atual inclua alguns dos filmes mais estrelados deste ano, como Coringa: Delírio a Dois, com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, e The Room Next Door, de Pedro Almodóvar, estrelado por Tilda Swinton e Julianne Moore, Barbera ressalta com entusiasmo que mais da metade dos filmes da competição são de diretores novatos no festival. “Temos muitas surpresas”, disse ele.

Independentemente de quantos futuros indicados e vencedores do Oscar possam estrear no festival, Barbera disse que estava “particularmente satisfeito” com o programa deste ano, que foi montado a partir de mais de 4 mil inscrições.

“O objetivo de um festival”, disse Barbera, “é descobrir novos talentos, explorar os limites do cinema contemporâneo, com novas expressões e novas vozes”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Nos dias de hoje, a corrida para o Oscar começa em Veneza, na Itália. Dos últimos dez vencedores de melhor filme, quatro estrearam na lagoa, inclusive, mais recentemente, Nomadland - Sobreviver na América, de Chloé Zhao, em 2020. Esse filme também levou o principal prêmio do festival, o Leão de Ouro, tornando-se o segundo filme depois de A Forma da Água (2017), de Guillermo del Toro, a reivindicar esse feito duplo.

Trata-se de uma reviravolta notável para um festival de cinema, que este ano começa na quarta-feira e vai até 7 de setembro, cuja reputação internacional estava caindo no início dos anos 2000. Grande parte do crédito por essa reviravolta vai para o líder do festival, Alberto Barbera. Quando o atual mandato de Barbera como diretor artístico começou, em 2012, o festival estava com dificuldades para atrair filmes dos estúdios de Hollywood.

“Era muito mais fácil ir a Toronto, gastar menos dinheiro e fazer uma promoção voltada para o mercado doméstico”, disse Barbera, referindo-se ao Festival Internacional de Cinema de Toronto, que é realizado no início de setembro. “Mas perder a presença dos estúdios de Hollywood foi um grande risco para Veneza”, continuou ele, acrescentando que temia um efeito em cadeia desastroso se os principais estúdios americanos dessem as costas ao seu festival.

Pessoas em frente ao Palazzo del Cinema em 27 de agosto de 2024, na véspera da cerimônia de abertura do 81º Festival de Cinema de Veneza, no Lido de Veneza.  Foto: Marco Bertorello/AFP

Barbera convenceu a Bienal de Veneza, que organiza o festival, a reformar as salas de exibição e as instalações, que não eram atualizadas havia décadas. Ele também viajava para Los Angeles duas vezes por ano para cortejar diretores de estúdios e empresas de cinema independentes.

Em seu segundo verão no cargo, os esforços de Barbera renderam frutos quando o festival foi aberto com Gravidade, de Alfonso Cuarón, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney.

“A Warner Bros. não sabia se o filme seria um sucesso comercial”, disse Barbera. O longa recebeu ótimas críticas, arrecadou mais de US$ 700 milhões e rendeu a Cuarón o Oscar de melhor diretor. Era exatamente o que Barbera queria. Desde então, não se passou um ano sem que um grande candidato ao Oscar estreasse em seu festival, entre eles os sucessos de bilheteria La La Land (2016), Nasce uma Estrela (2018), Coringa (2019) e Duna (2021), bem como os sucessos independentes Spotlight (2015) e Tár (2022).

Um ano depois de Gravidade, o festival foi aberto com Birdman, de Alejandro G. Iñárritu, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2015.

“Foi quando o festival realmente começou a virar uma plataforma de lançamento do Oscar”, disse Guy Lodge, crítico de cinema da revista Variety, em recente entrevista por telefone. De acordo com ele, Veneza, que precisava de “uma nova injeção de energia e uma nova identidade”, estava em posição privilegiada para se beneficiar de um abraço mútuo entre festivais de cinema e candidatos a prêmios – algo que, na época, era relativamente novo. (Ele observou que Oppenheimer, de 2023, foi o primeiro vencedor de melhor filme que não estreou em um festival norte-americano ou europeu desde Os Infiltrados, de 2006).

O diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, e a patrona Sveva Alviti no cais Excelsior nesta terça, 27, véspera da abertura do evento Foto: Gian Mattia D'Alberto/LaPresse via AP

“Acho que os distribuidores, os estrategistas de premiação e os publicitários começaram a perceber que tinham uma plataforma de lançamento muito aberta para seus candidatos ao Oscar, em um momento que não era muito cedo nem muito tarde, e que lhes daria tempo suficiente para causar impacto em Veneza e depois trabalhar nos meses seguintes, com a chegada do outono”, disse ele.

Junto com os filmes de grandes estúdios, títulos menores também se beneficiaram da exibição e do título em Veneza. Lodge apontou Nomadland como um filme que provavelmente foi ajudado pelo troféu no festival. “Se esse filme tivesse sido lançado em Sundance, por exemplo, e fosse muito mais um filme do tipo Sundance, acho que talvez não tivesse chegado lá, pois Veneza realmente deu a ele uma espécie de verniz de prestígio”, disse ele.

A nova estatura do festival o tornou especialmente resiliente diante dos desafios recentes. O festival encontrou uma maneira segura de seguir em frente com sua 77ª edição em 2020, seis meses depois do começo da pandemia. No ano passado, o festival apresentou uma edição robusta apesar da greve da dos atores e roteiristas. A competição principal de 23 títulos incluiu trabalhos de Sofia Coppola, Ava DuVernay, Michael Mann e Yorgos Lanthimos, que ganhou o Leão de Ouro por seu filme surreal de terror e fantasia, Pobres Criaturas.

“Nós nos comprometemos com uma data de lançamento no final do ano nos Estados Unidos antes de irmos a Veneza, na esperança de que as greves se resolvessem até lá”, disse Ed Guiney, um dos produtores do filme, em entrevista por telefone do set do novo filme de Lanthimos, Bugonia, nos arredores de Londres.

“Também funcionou muito bem para nós, porque conseguimos muita atenção para o filme em Veneza, porque ele ganhou o Leão de Ouro e foi bem avaliado, etc., etc., mesmo sem ninguém do elenco”, disse Guiney. “Isso deu um bom impulso ao filme e permitiu que ele chegasse ao ponto em que o elenco se juntou a nós para a estreia nos Estados Unidos”.

Emma Stone, vencedora do Oscar por 'Pobres Criaturas', filme que estreou no Festival de Cinema de Veneza. Foto: 20th Century Studios/Divulgação

Pobres Criaturas foi o segundo longa-metragem consecutivo de Lanthimos a competir em Veneza depois de A Favorita (2018), que também foi coproduzido pela empresa de Guiney, a Element Pictures. Depois de conquistar o Leão de Ouro, Pobres Criaturas acabou ganhando quatro Oscars (de 11 indicações), entre eles o de melhor atriz para Emma Stone, uma das dezenas de estrelas que não passaram pelo tapete vermelho do festival por causa da greve.

“Tenho muito respeito pelos cineastas que não retiraram seus filmes do ar porque algumas das estrelas não puderam estar presentes”, disse Laura Poitras, que ganhou o Leão de Ouro em 2022 por seu documentário All the Beauty and the Bloodshed, e que fez parte do júri internacional do ano passado, em entrevista por telefone.

“Definitivamente, fomos solidários com os atores e roteiristas em greve”, disse Poitras. Embora a programação do festival não tenha sido muito afetada – Rivais, de Luca Guadagnino, foi o único grande título retirado do programa – Poitras afirmou que “o impacto da greve foi pesado”.

“Sentimos que os atores não puderam ser celebrados”, disse ela, destacando Stone, que estrelou e produziu Pobres Criaturas, e cuja ausência na estreia Poitras considerou “de partir o coração”.

Embora reconheça que o festival tenha se tornado um motor da temporada de premiações, Poitras disse que Veneza “também tem sido um lugar para inovação e belas produções cinematográficas”, elogiando dois filmes que também ganharam os prêmios principais em 2022: Saint Omer, de Alice Diop, e Sem Ursos, de Jafar Panahi.

Lodge disse que houve uma preocupação inicial de que a integridade do festival fosse comprometida pelo influxo de grandes produções de Hollywood. Mas, durante sua gestão, Barbera dissipou esse receio com uma “programação rigorosa e bastante aventureira de títulos menos conhecidos”, especialmente na programação principal da competição.

'Coringa: Delírio a Dois', com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, estreia no Festival de Veneza de 2024. Foto: Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures via AP

Embora a programação atual inclua alguns dos filmes mais estrelados deste ano, como Coringa: Delírio a Dois, com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, e The Room Next Door, de Pedro Almodóvar, estrelado por Tilda Swinton e Julianne Moore, Barbera ressalta com entusiasmo que mais da metade dos filmes da competição são de diretores novatos no festival. “Temos muitas surpresas”, disse ele.

Independentemente de quantos futuros indicados e vencedores do Oscar possam estrear no festival, Barbera disse que estava “particularmente satisfeito” com o programa deste ano, que foi montado a partir de mais de 4 mil inscrições.

“O objetivo de um festival”, disse Barbera, “é descobrir novos talentos, explorar os limites do cinema contemporâneo, com novas expressões e novas vozes”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Nos dias de hoje, a corrida para o Oscar começa em Veneza, na Itália. Dos últimos dez vencedores de melhor filme, quatro estrearam na lagoa, inclusive, mais recentemente, Nomadland - Sobreviver na América, de Chloé Zhao, em 2020. Esse filme também levou o principal prêmio do festival, o Leão de Ouro, tornando-se o segundo filme depois de A Forma da Água (2017), de Guillermo del Toro, a reivindicar esse feito duplo.

Trata-se de uma reviravolta notável para um festival de cinema, que este ano começa na quarta-feira e vai até 7 de setembro, cuja reputação internacional estava caindo no início dos anos 2000. Grande parte do crédito por essa reviravolta vai para o líder do festival, Alberto Barbera. Quando o atual mandato de Barbera como diretor artístico começou, em 2012, o festival estava com dificuldades para atrair filmes dos estúdios de Hollywood.

“Era muito mais fácil ir a Toronto, gastar menos dinheiro e fazer uma promoção voltada para o mercado doméstico”, disse Barbera, referindo-se ao Festival Internacional de Cinema de Toronto, que é realizado no início de setembro. “Mas perder a presença dos estúdios de Hollywood foi um grande risco para Veneza”, continuou ele, acrescentando que temia um efeito em cadeia desastroso se os principais estúdios americanos dessem as costas ao seu festival.

Pessoas em frente ao Palazzo del Cinema em 27 de agosto de 2024, na véspera da cerimônia de abertura do 81º Festival de Cinema de Veneza, no Lido de Veneza.  Foto: Marco Bertorello/AFP

Barbera convenceu a Bienal de Veneza, que organiza o festival, a reformar as salas de exibição e as instalações, que não eram atualizadas havia décadas. Ele também viajava para Los Angeles duas vezes por ano para cortejar diretores de estúdios e empresas de cinema independentes.

Em seu segundo verão no cargo, os esforços de Barbera renderam frutos quando o festival foi aberto com Gravidade, de Alfonso Cuarón, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney.

“A Warner Bros. não sabia se o filme seria um sucesso comercial”, disse Barbera. O longa recebeu ótimas críticas, arrecadou mais de US$ 700 milhões e rendeu a Cuarón o Oscar de melhor diretor. Era exatamente o que Barbera queria. Desde então, não se passou um ano sem que um grande candidato ao Oscar estreasse em seu festival, entre eles os sucessos de bilheteria La La Land (2016), Nasce uma Estrela (2018), Coringa (2019) e Duna (2021), bem como os sucessos independentes Spotlight (2015) e Tár (2022).

Um ano depois de Gravidade, o festival foi aberto com Birdman, de Alejandro G. Iñárritu, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2015.

“Foi quando o festival realmente começou a virar uma plataforma de lançamento do Oscar”, disse Guy Lodge, crítico de cinema da revista Variety, em recente entrevista por telefone. De acordo com ele, Veneza, que precisava de “uma nova injeção de energia e uma nova identidade”, estava em posição privilegiada para se beneficiar de um abraço mútuo entre festivais de cinema e candidatos a prêmios – algo que, na época, era relativamente novo. (Ele observou que Oppenheimer, de 2023, foi o primeiro vencedor de melhor filme que não estreou em um festival norte-americano ou europeu desde Os Infiltrados, de 2006).

O diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, e a patrona Sveva Alviti no cais Excelsior nesta terça, 27, véspera da abertura do evento Foto: Gian Mattia D'Alberto/LaPresse via AP

“Acho que os distribuidores, os estrategistas de premiação e os publicitários começaram a perceber que tinham uma plataforma de lançamento muito aberta para seus candidatos ao Oscar, em um momento que não era muito cedo nem muito tarde, e que lhes daria tempo suficiente para causar impacto em Veneza e depois trabalhar nos meses seguintes, com a chegada do outono”, disse ele.

Junto com os filmes de grandes estúdios, títulos menores também se beneficiaram da exibição e do título em Veneza. Lodge apontou Nomadland como um filme que provavelmente foi ajudado pelo troféu no festival. “Se esse filme tivesse sido lançado em Sundance, por exemplo, e fosse muito mais um filme do tipo Sundance, acho que talvez não tivesse chegado lá, pois Veneza realmente deu a ele uma espécie de verniz de prestígio”, disse ele.

A nova estatura do festival o tornou especialmente resiliente diante dos desafios recentes. O festival encontrou uma maneira segura de seguir em frente com sua 77ª edição em 2020, seis meses depois do começo da pandemia. No ano passado, o festival apresentou uma edição robusta apesar da greve da dos atores e roteiristas. A competição principal de 23 títulos incluiu trabalhos de Sofia Coppola, Ava DuVernay, Michael Mann e Yorgos Lanthimos, que ganhou o Leão de Ouro por seu filme surreal de terror e fantasia, Pobres Criaturas.

“Nós nos comprometemos com uma data de lançamento no final do ano nos Estados Unidos antes de irmos a Veneza, na esperança de que as greves se resolvessem até lá”, disse Ed Guiney, um dos produtores do filme, em entrevista por telefone do set do novo filme de Lanthimos, Bugonia, nos arredores de Londres.

“Também funcionou muito bem para nós, porque conseguimos muita atenção para o filme em Veneza, porque ele ganhou o Leão de Ouro e foi bem avaliado, etc., etc., mesmo sem ninguém do elenco”, disse Guiney. “Isso deu um bom impulso ao filme e permitiu que ele chegasse ao ponto em que o elenco se juntou a nós para a estreia nos Estados Unidos”.

Emma Stone, vencedora do Oscar por 'Pobres Criaturas', filme que estreou no Festival de Cinema de Veneza. Foto: 20th Century Studios/Divulgação

Pobres Criaturas foi o segundo longa-metragem consecutivo de Lanthimos a competir em Veneza depois de A Favorita (2018), que também foi coproduzido pela empresa de Guiney, a Element Pictures. Depois de conquistar o Leão de Ouro, Pobres Criaturas acabou ganhando quatro Oscars (de 11 indicações), entre eles o de melhor atriz para Emma Stone, uma das dezenas de estrelas que não passaram pelo tapete vermelho do festival por causa da greve.

“Tenho muito respeito pelos cineastas que não retiraram seus filmes do ar porque algumas das estrelas não puderam estar presentes”, disse Laura Poitras, que ganhou o Leão de Ouro em 2022 por seu documentário All the Beauty and the Bloodshed, e que fez parte do júri internacional do ano passado, em entrevista por telefone.

“Definitivamente, fomos solidários com os atores e roteiristas em greve”, disse Poitras. Embora a programação do festival não tenha sido muito afetada – Rivais, de Luca Guadagnino, foi o único grande título retirado do programa – Poitras afirmou que “o impacto da greve foi pesado”.

“Sentimos que os atores não puderam ser celebrados”, disse ela, destacando Stone, que estrelou e produziu Pobres Criaturas, e cuja ausência na estreia Poitras considerou “de partir o coração”.

Embora reconheça que o festival tenha se tornado um motor da temporada de premiações, Poitras disse que Veneza “também tem sido um lugar para inovação e belas produções cinematográficas”, elogiando dois filmes que também ganharam os prêmios principais em 2022: Saint Omer, de Alice Diop, e Sem Ursos, de Jafar Panahi.

Lodge disse que houve uma preocupação inicial de que a integridade do festival fosse comprometida pelo influxo de grandes produções de Hollywood. Mas, durante sua gestão, Barbera dissipou esse receio com uma “programação rigorosa e bastante aventureira de títulos menos conhecidos”, especialmente na programação principal da competição.

'Coringa: Delírio a Dois', com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, estreia no Festival de Veneza de 2024. Foto: Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures via AP

Embora a programação atual inclua alguns dos filmes mais estrelados deste ano, como Coringa: Delírio a Dois, com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, e The Room Next Door, de Pedro Almodóvar, estrelado por Tilda Swinton e Julianne Moore, Barbera ressalta com entusiasmo que mais da metade dos filmes da competição são de diretores novatos no festival. “Temos muitas surpresas”, disse ele.

Independentemente de quantos futuros indicados e vencedores do Oscar possam estrear no festival, Barbera disse que estava “particularmente satisfeito” com o programa deste ano, que foi montado a partir de mais de 4 mil inscrições.

“O objetivo de um festival”, disse Barbera, “é descobrir novos talentos, explorar os limites do cinema contemporâneo, com novas expressões e novas vozes”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Nos dias de hoje, a corrida para o Oscar começa em Veneza, na Itália. Dos últimos dez vencedores de melhor filme, quatro estrearam na lagoa, inclusive, mais recentemente, Nomadland - Sobreviver na América, de Chloé Zhao, em 2020. Esse filme também levou o principal prêmio do festival, o Leão de Ouro, tornando-se o segundo filme depois de A Forma da Água (2017), de Guillermo del Toro, a reivindicar esse feito duplo.

Trata-se de uma reviravolta notável para um festival de cinema, que este ano começa na quarta-feira e vai até 7 de setembro, cuja reputação internacional estava caindo no início dos anos 2000. Grande parte do crédito por essa reviravolta vai para o líder do festival, Alberto Barbera. Quando o atual mandato de Barbera como diretor artístico começou, em 2012, o festival estava com dificuldades para atrair filmes dos estúdios de Hollywood.

“Era muito mais fácil ir a Toronto, gastar menos dinheiro e fazer uma promoção voltada para o mercado doméstico”, disse Barbera, referindo-se ao Festival Internacional de Cinema de Toronto, que é realizado no início de setembro. “Mas perder a presença dos estúdios de Hollywood foi um grande risco para Veneza”, continuou ele, acrescentando que temia um efeito em cadeia desastroso se os principais estúdios americanos dessem as costas ao seu festival.

Pessoas em frente ao Palazzo del Cinema em 27 de agosto de 2024, na véspera da cerimônia de abertura do 81º Festival de Cinema de Veneza, no Lido de Veneza.  Foto: Marco Bertorello/AFP

Barbera convenceu a Bienal de Veneza, que organiza o festival, a reformar as salas de exibição e as instalações, que não eram atualizadas havia décadas. Ele também viajava para Los Angeles duas vezes por ano para cortejar diretores de estúdios e empresas de cinema independentes.

Em seu segundo verão no cargo, os esforços de Barbera renderam frutos quando o festival foi aberto com Gravidade, de Alfonso Cuarón, estrelado por Sandra Bullock e George Clooney.

“A Warner Bros. não sabia se o filme seria um sucesso comercial”, disse Barbera. O longa recebeu ótimas críticas, arrecadou mais de US$ 700 milhões e rendeu a Cuarón o Oscar de melhor diretor. Era exatamente o que Barbera queria. Desde então, não se passou um ano sem que um grande candidato ao Oscar estreasse em seu festival, entre eles os sucessos de bilheteria La La Land (2016), Nasce uma Estrela (2018), Coringa (2019) e Duna (2021), bem como os sucessos independentes Spotlight (2015) e Tár (2022).

Um ano depois de Gravidade, o festival foi aberto com Birdman, de Alejandro G. Iñárritu, que ganhou o Oscar de melhor filme em 2015.

“Foi quando o festival realmente começou a virar uma plataforma de lançamento do Oscar”, disse Guy Lodge, crítico de cinema da revista Variety, em recente entrevista por telefone. De acordo com ele, Veneza, que precisava de “uma nova injeção de energia e uma nova identidade”, estava em posição privilegiada para se beneficiar de um abraço mútuo entre festivais de cinema e candidatos a prêmios – algo que, na época, era relativamente novo. (Ele observou que Oppenheimer, de 2023, foi o primeiro vencedor de melhor filme que não estreou em um festival norte-americano ou europeu desde Os Infiltrados, de 2006).

O diretor do Festival de Veneza, Alberto Barbera, e a patrona Sveva Alviti no cais Excelsior nesta terça, 27, véspera da abertura do evento Foto: Gian Mattia D'Alberto/LaPresse via AP

“Acho que os distribuidores, os estrategistas de premiação e os publicitários começaram a perceber que tinham uma plataforma de lançamento muito aberta para seus candidatos ao Oscar, em um momento que não era muito cedo nem muito tarde, e que lhes daria tempo suficiente para causar impacto em Veneza e depois trabalhar nos meses seguintes, com a chegada do outono”, disse ele.

Junto com os filmes de grandes estúdios, títulos menores também se beneficiaram da exibição e do título em Veneza. Lodge apontou Nomadland como um filme que provavelmente foi ajudado pelo troféu no festival. “Se esse filme tivesse sido lançado em Sundance, por exemplo, e fosse muito mais um filme do tipo Sundance, acho que talvez não tivesse chegado lá, pois Veneza realmente deu a ele uma espécie de verniz de prestígio”, disse ele.

A nova estatura do festival o tornou especialmente resiliente diante dos desafios recentes. O festival encontrou uma maneira segura de seguir em frente com sua 77ª edição em 2020, seis meses depois do começo da pandemia. No ano passado, o festival apresentou uma edição robusta apesar da greve da dos atores e roteiristas. A competição principal de 23 títulos incluiu trabalhos de Sofia Coppola, Ava DuVernay, Michael Mann e Yorgos Lanthimos, que ganhou o Leão de Ouro por seu filme surreal de terror e fantasia, Pobres Criaturas.

“Nós nos comprometemos com uma data de lançamento no final do ano nos Estados Unidos antes de irmos a Veneza, na esperança de que as greves se resolvessem até lá”, disse Ed Guiney, um dos produtores do filme, em entrevista por telefone do set do novo filme de Lanthimos, Bugonia, nos arredores de Londres.

“Também funcionou muito bem para nós, porque conseguimos muita atenção para o filme em Veneza, porque ele ganhou o Leão de Ouro e foi bem avaliado, etc., etc., mesmo sem ninguém do elenco”, disse Guiney. “Isso deu um bom impulso ao filme e permitiu que ele chegasse ao ponto em que o elenco se juntou a nós para a estreia nos Estados Unidos”.

Emma Stone, vencedora do Oscar por 'Pobres Criaturas', filme que estreou no Festival de Cinema de Veneza. Foto: 20th Century Studios/Divulgação

Pobres Criaturas foi o segundo longa-metragem consecutivo de Lanthimos a competir em Veneza depois de A Favorita (2018), que também foi coproduzido pela empresa de Guiney, a Element Pictures. Depois de conquistar o Leão de Ouro, Pobres Criaturas acabou ganhando quatro Oscars (de 11 indicações), entre eles o de melhor atriz para Emma Stone, uma das dezenas de estrelas que não passaram pelo tapete vermelho do festival por causa da greve.

“Tenho muito respeito pelos cineastas que não retiraram seus filmes do ar porque algumas das estrelas não puderam estar presentes”, disse Laura Poitras, que ganhou o Leão de Ouro em 2022 por seu documentário All the Beauty and the Bloodshed, e que fez parte do júri internacional do ano passado, em entrevista por telefone.

“Definitivamente, fomos solidários com os atores e roteiristas em greve”, disse Poitras. Embora a programação do festival não tenha sido muito afetada – Rivais, de Luca Guadagnino, foi o único grande título retirado do programa – Poitras afirmou que “o impacto da greve foi pesado”.

“Sentimos que os atores não puderam ser celebrados”, disse ela, destacando Stone, que estrelou e produziu Pobres Criaturas, e cuja ausência na estreia Poitras considerou “de partir o coração”.

Embora reconheça que o festival tenha se tornado um motor da temporada de premiações, Poitras disse que Veneza “também tem sido um lugar para inovação e belas produções cinematográficas”, elogiando dois filmes que também ganharam os prêmios principais em 2022: Saint Omer, de Alice Diop, e Sem Ursos, de Jafar Panahi.

Lodge disse que houve uma preocupação inicial de que a integridade do festival fosse comprometida pelo influxo de grandes produções de Hollywood. Mas, durante sua gestão, Barbera dissipou esse receio com uma “programação rigorosa e bastante aventureira de títulos menos conhecidos”, especialmente na programação principal da competição.

'Coringa: Delírio a Dois', com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, estreia no Festival de Veneza de 2024. Foto: Niko Tavernise/Warner Bros. Pictures via AP

Embora a programação atual inclua alguns dos filmes mais estrelados deste ano, como Coringa: Delírio a Dois, com Joaquin Phoenix e Lady Gaga, e The Room Next Door, de Pedro Almodóvar, estrelado por Tilda Swinton e Julianne Moore, Barbera ressalta com entusiasmo que mais da metade dos filmes da competição são de diretores novatos no festival. “Temos muitas surpresas”, disse ele.

Independentemente de quantos futuros indicados e vencedores do Oscar possam estrear no festival, Barbera disse que estava “particularmente satisfeito” com o programa deste ano, que foi montado a partir de mais de 4 mil inscrições.

“O objetivo de um festival”, disse Barbera, “é descobrir novos talentos, explorar os limites do cinema contemporâneo, com novas expressões e novas vozes”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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