Comoção nacional: público liga morte de Paulo Gustavo à falta de vacinas


Levantamento identificou aumento brusco do sentimento de tristeza e diminuição de confiança no governo nas redes sociais, ponto de desabafo em tempos de pandemia

Por Adriana Moreira e Camila Tuchlinski

O Brasil acordou mais triste com a morte prematura do ator Paulo Gustavo, aos 42 anos, em razão da covid-19, nesta terça-feira (4). Não é força de expressão: de acordo com levantamento feito pela empresa de análise de dados Ap Exata, em parceria com o Banco ModalMais, o sentimento de tristeza no Twitter cresceu 10 pontos porcentuais entre terça e quarta-feira, de 33% para 43%. O levantamento utiliza inteligência artificial para identificar as variações comportamentais na rede social em 145 cidades brasileiras, desde o início do atual governo. 

Paulo Gustavo como Dona Hermínia: 'O Brasil inteiro conhece muitos Paulos que se foram', diz o psicanalista Leonardo Goldberg Foto: Marco Antonio Teixeira/Migdal Filmes

O levantamento mostrou uma peculiaridade: as menções negativas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, chegaram a 78% (na terça-feira, era de 67%) e culpam o governo federal pela morte do ator em razão da demora na distribuição das vacinas. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da Ap Exata, Inteligência em Comunicação Digital, explica que variações bruscas como essa já haviam sido notadas durante quedas de ministros, mas foi a primeira vez que a causa foi a morte de um ator. “As pessoas fizeram essa conexão entre a política do governo e a morte do ator. Os internautas responsabilizam o presidente pela morte de uma pessoa de 42 anos de uma doença para a qual existe vacina.”

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O cantor Caetano Veloso, por exemplo, fez um post em homenagem a Paulo Gustavo, lamentando a vulnerabilidade do País durante a pandemia. “É significativo que a notícia de sua morte chegue no dia em que se abre a CPI da covid no Senado Federal”, escreveu.

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A psicóloga Juliana Guimarães, especialista em luto, explica que este sentimento existe pela relevância do ator. “É muito comum as pessoas falarem: ‘Nossa, não o conhecia pessoalmente, mas estou sofrendo como se fosse alguém da família’. E, simbolicamente, é. São histórias que ele contou, filmes que participou, coisas que falou e que tocam nossas vidas direta e verdadeiramente.”

“Eu gostava tanto dele! Parece que se foi um membro da família. Quando vi na TV, não deu pra conter as lágrimas”, declara a auxiliar administrativa Adriana Pelege. 

O psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia pela USP e autor do livro Das Tumbas às Redes Sociais, avalia que esse luto desfaz toda a fragmentação social do País e torna a dor coletiva. “O Brasil inteiro conhece os muitos Paulos que se foram: a mãezona Dona Hermínia, o malandro Valdomiro, o descontraído Aníbal. Perdemos, além de um sujeito com o qual era fácil de se admirar e se identificar, que era pai, mãe, amante, amado, que abrigava sua família visivelmente pela via do amor, um pedaço de nossas pequenas histórias, do riso que produz intimidade entre o ator e o público e dos compartilhamentos gerados por isso”, ressalta.

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O fato de muita gente buscar justificativas para a morte diante da covid-19, como comorbidades ou idade avançada, parece não fazer sentido. Antes de contrair o vírus, Paulo Gustavo estava sadio, aos 42 anos. “Quando a morte se apresenta através de um desastre e, portanto, a admitimos como um ‘acidente’ de percurso, a primeira coisa que a população faz é uma equação que calcula diferenças entre o falecido e nós mesmos: comorbidades, probabilidades, descuidos. Quando um sujeito novo, saudável, produtivo e alegre se vai, isso desmonta toda nossa equação e emite um alerta: há um incontrolável da pandemia que coloca todos em risco e nossa única opção é acolher os alertas da ciência diante disso”, considera Leonardo Goldberg.

É esse o sentimento refletido no levantamento da AP Exata. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da empresa de Inteligência em Comunicação Digital, explica que o presidente teve uma queda de popularidade por um período, por causa da percepção da inflação alta dos alimentos e de que os valores do auxílio emergencial não foram sucificientes. Mas vinha recuperando uma parte de seus 30% de apoio pela forte atuação de seus apoiadores, culminando com as manifestações do fim de semana. Com a morte de Paulo Gustavo, no entanto, houve uma queda brusca também na confiança em relação ao governo (de 24% na terça para 14% na quarta). Segundo Mariana, o sistema de inteligência artificial consegue detectar essas mudanças de humor nos internautas em tempo real. 

De acordo com o levantamento, as sucessivas recusas de compra de vacinas foram recordadas nas redes. Internautas repetiram que o governo recusou imunizantes por 11 vezes diferentes e que Paulo Gustavo e outros brasileiros continuam morrendo diariamente de uma doença na qual já existe uma forma de conter o contágio. Hashtags como #ForaBolsonaro e #BolsonaroGenocida tiveram um crescimento expressivo e entraram entre os tópicos mais comentados do Twitter. Menções com ofensas ao presidente também aumentaram, motivados principalmente por posts do influenciador Felipe Neto e do escritor Paulo Coelho, que responsabilizaram diretamente o governo pela morte do ator e de outros brasileiros vítimas da covid-19 por falta de vacinas. 

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A comoção entre os brasileiros não começou com a morte do ator, e sim no instante em que Paulo Gustavo deu entrada na UTI por causa da covid-19, em março. Ele intubado, recebeu o auxílio de um pulmão artificial e, a cada boletim médico otimista que era divulgado, a esperança surgia. Não foram poucas as ações nas redes sociais que pediam orações por sua recuperação. O mesmo ocorreu após a morte do artista. “Devido ao distanciamento social, os ritos fúnebres presenciais são evitados, as homenagens e toda escrita para e sobre os mortos pode confortar os vivos através do compartilhamento de lembranças e afetos”, explica Leonardo Goldberg.

Para tentar aliviar a dor dos brasileiros, a psicóloga Juliana Guimarães enfatiza que é preciso acolher os sentimentos e dar voz às emoções: “Use as redes de apoio possíveis nesse momento. O luto coletivo também traz uma sensação de pertencimento. Não estamos sozinhos. Pode chorar, sentir raiva, cansaço, tudo o que uma experiência de dor nos traz”.

O humorista Fabio Porchat resumiu, em seu post, um pouco do sentimento que acometeu o Brasil com a morte de Paulo Gustavo. “Hoje, a vida perdeu um pouco da graça. O Brasil perde um pedaço precioso seu”, escreveu.

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Obras assistenciais

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Além de fazer o Brasil rir, Paulo Gustavo também fazia caridade – sem colocar seus atos nos holofotes. O Padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com moradores de rua, postou que o humorista doou R$ 600 mil para a construção de uma unidade de oncologia para as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Além dessa doação, o ator fez outras à instituição, totalizando R$ 1,5 milhão. 

O Brasil acordou mais triste com a morte prematura do ator Paulo Gustavo, aos 42 anos, em razão da covid-19, nesta terça-feira (4). Não é força de expressão: de acordo com levantamento feito pela empresa de análise de dados Ap Exata, em parceria com o Banco ModalMais, o sentimento de tristeza no Twitter cresceu 10 pontos porcentuais entre terça e quarta-feira, de 33% para 43%. O levantamento utiliza inteligência artificial para identificar as variações comportamentais na rede social em 145 cidades brasileiras, desde o início do atual governo. 

Paulo Gustavo como Dona Hermínia: 'O Brasil inteiro conhece muitos Paulos que se foram', diz o psicanalista Leonardo Goldberg Foto: Marco Antonio Teixeira/Migdal Filmes

O levantamento mostrou uma peculiaridade: as menções negativas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, chegaram a 78% (na terça-feira, era de 67%) e culpam o governo federal pela morte do ator em razão da demora na distribuição das vacinas. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da Ap Exata, Inteligência em Comunicação Digital, explica que variações bruscas como essa já haviam sido notadas durante quedas de ministros, mas foi a primeira vez que a causa foi a morte de um ator. “As pessoas fizeram essa conexão entre a política do governo e a morte do ator. Os internautas responsabilizam o presidente pela morte de uma pessoa de 42 anos de uma doença para a qual existe vacina.”

O cantor Caetano Veloso, por exemplo, fez um post em homenagem a Paulo Gustavo, lamentando a vulnerabilidade do País durante a pandemia. “É significativo que a notícia de sua morte chegue no dia em que se abre a CPI da covid no Senado Federal”, escreveu.

A psicóloga Juliana Guimarães, especialista em luto, explica que este sentimento existe pela relevância do ator. “É muito comum as pessoas falarem: ‘Nossa, não o conhecia pessoalmente, mas estou sofrendo como se fosse alguém da família’. E, simbolicamente, é. São histórias que ele contou, filmes que participou, coisas que falou e que tocam nossas vidas direta e verdadeiramente.”

“Eu gostava tanto dele! Parece que se foi um membro da família. Quando vi na TV, não deu pra conter as lágrimas”, declara a auxiliar administrativa Adriana Pelege. 

O psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia pela USP e autor do livro Das Tumbas às Redes Sociais, avalia que esse luto desfaz toda a fragmentação social do País e torna a dor coletiva. “O Brasil inteiro conhece os muitos Paulos que se foram: a mãezona Dona Hermínia, o malandro Valdomiro, o descontraído Aníbal. Perdemos, além de um sujeito com o qual era fácil de se admirar e se identificar, que era pai, mãe, amante, amado, que abrigava sua família visivelmente pela via do amor, um pedaço de nossas pequenas histórias, do riso que produz intimidade entre o ator e o público e dos compartilhamentos gerados por isso”, ressalta.

O fato de muita gente buscar justificativas para a morte diante da covid-19, como comorbidades ou idade avançada, parece não fazer sentido. Antes de contrair o vírus, Paulo Gustavo estava sadio, aos 42 anos. “Quando a morte se apresenta através de um desastre e, portanto, a admitimos como um ‘acidente’ de percurso, a primeira coisa que a população faz é uma equação que calcula diferenças entre o falecido e nós mesmos: comorbidades, probabilidades, descuidos. Quando um sujeito novo, saudável, produtivo e alegre se vai, isso desmonta toda nossa equação e emite um alerta: há um incontrolável da pandemia que coloca todos em risco e nossa única opção é acolher os alertas da ciência diante disso”, considera Leonardo Goldberg.

É esse o sentimento refletido no levantamento da AP Exata. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da empresa de Inteligência em Comunicação Digital, explica que o presidente teve uma queda de popularidade por um período, por causa da percepção da inflação alta dos alimentos e de que os valores do auxílio emergencial não foram sucificientes. Mas vinha recuperando uma parte de seus 30% de apoio pela forte atuação de seus apoiadores, culminando com as manifestações do fim de semana. Com a morte de Paulo Gustavo, no entanto, houve uma queda brusca também na confiança em relação ao governo (de 24% na terça para 14% na quarta). Segundo Mariana, o sistema de inteligência artificial consegue detectar essas mudanças de humor nos internautas em tempo real. 

De acordo com o levantamento, as sucessivas recusas de compra de vacinas foram recordadas nas redes. Internautas repetiram que o governo recusou imunizantes por 11 vezes diferentes e que Paulo Gustavo e outros brasileiros continuam morrendo diariamente de uma doença na qual já existe uma forma de conter o contágio. Hashtags como #ForaBolsonaro e #BolsonaroGenocida tiveram um crescimento expressivo e entraram entre os tópicos mais comentados do Twitter. Menções com ofensas ao presidente também aumentaram, motivados principalmente por posts do influenciador Felipe Neto e do escritor Paulo Coelho, que responsabilizaram diretamente o governo pela morte do ator e de outros brasileiros vítimas da covid-19 por falta de vacinas. 

A comoção entre os brasileiros não começou com a morte do ator, e sim no instante em que Paulo Gustavo deu entrada na UTI por causa da covid-19, em março. Ele intubado, recebeu o auxílio de um pulmão artificial e, a cada boletim médico otimista que era divulgado, a esperança surgia. Não foram poucas as ações nas redes sociais que pediam orações por sua recuperação. O mesmo ocorreu após a morte do artista. “Devido ao distanciamento social, os ritos fúnebres presenciais são evitados, as homenagens e toda escrita para e sobre os mortos pode confortar os vivos através do compartilhamento de lembranças e afetos”, explica Leonardo Goldberg.

Para tentar aliviar a dor dos brasileiros, a psicóloga Juliana Guimarães enfatiza que é preciso acolher os sentimentos e dar voz às emoções: “Use as redes de apoio possíveis nesse momento. O luto coletivo também traz uma sensação de pertencimento. Não estamos sozinhos. Pode chorar, sentir raiva, cansaço, tudo o que uma experiência de dor nos traz”.

O humorista Fabio Porchat resumiu, em seu post, um pouco do sentimento que acometeu o Brasil com a morte de Paulo Gustavo. “Hoje, a vida perdeu um pouco da graça. O Brasil perde um pedaço precioso seu”, escreveu.

Obras assistenciais

Além de fazer o Brasil rir, Paulo Gustavo também fazia caridade – sem colocar seus atos nos holofotes. O Padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com moradores de rua, postou que o humorista doou R$ 600 mil para a construção de uma unidade de oncologia para as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Além dessa doação, o ator fez outras à instituição, totalizando R$ 1,5 milhão. 

O Brasil acordou mais triste com a morte prematura do ator Paulo Gustavo, aos 42 anos, em razão da covid-19, nesta terça-feira (4). Não é força de expressão: de acordo com levantamento feito pela empresa de análise de dados Ap Exata, em parceria com o Banco ModalMais, o sentimento de tristeza no Twitter cresceu 10 pontos porcentuais entre terça e quarta-feira, de 33% para 43%. O levantamento utiliza inteligência artificial para identificar as variações comportamentais na rede social em 145 cidades brasileiras, desde o início do atual governo. 

Paulo Gustavo como Dona Hermínia: 'O Brasil inteiro conhece muitos Paulos que se foram', diz o psicanalista Leonardo Goldberg Foto: Marco Antonio Teixeira/Migdal Filmes

O levantamento mostrou uma peculiaridade: as menções negativas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, chegaram a 78% (na terça-feira, era de 67%) e culpam o governo federal pela morte do ator em razão da demora na distribuição das vacinas. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da Ap Exata, Inteligência em Comunicação Digital, explica que variações bruscas como essa já haviam sido notadas durante quedas de ministros, mas foi a primeira vez que a causa foi a morte de um ator. “As pessoas fizeram essa conexão entre a política do governo e a morte do ator. Os internautas responsabilizam o presidente pela morte de uma pessoa de 42 anos de uma doença para a qual existe vacina.”

O cantor Caetano Veloso, por exemplo, fez um post em homenagem a Paulo Gustavo, lamentando a vulnerabilidade do País durante a pandemia. “É significativo que a notícia de sua morte chegue no dia em que se abre a CPI da covid no Senado Federal”, escreveu.

A psicóloga Juliana Guimarães, especialista em luto, explica que este sentimento existe pela relevância do ator. “É muito comum as pessoas falarem: ‘Nossa, não o conhecia pessoalmente, mas estou sofrendo como se fosse alguém da família’. E, simbolicamente, é. São histórias que ele contou, filmes que participou, coisas que falou e que tocam nossas vidas direta e verdadeiramente.”

“Eu gostava tanto dele! Parece que se foi um membro da família. Quando vi na TV, não deu pra conter as lágrimas”, declara a auxiliar administrativa Adriana Pelege. 

O psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia pela USP e autor do livro Das Tumbas às Redes Sociais, avalia que esse luto desfaz toda a fragmentação social do País e torna a dor coletiva. “O Brasil inteiro conhece os muitos Paulos que se foram: a mãezona Dona Hermínia, o malandro Valdomiro, o descontraído Aníbal. Perdemos, além de um sujeito com o qual era fácil de se admirar e se identificar, que era pai, mãe, amante, amado, que abrigava sua família visivelmente pela via do amor, um pedaço de nossas pequenas histórias, do riso que produz intimidade entre o ator e o público e dos compartilhamentos gerados por isso”, ressalta.

O fato de muita gente buscar justificativas para a morte diante da covid-19, como comorbidades ou idade avançada, parece não fazer sentido. Antes de contrair o vírus, Paulo Gustavo estava sadio, aos 42 anos. “Quando a morte se apresenta através de um desastre e, portanto, a admitimos como um ‘acidente’ de percurso, a primeira coisa que a população faz é uma equação que calcula diferenças entre o falecido e nós mesmos: comorbidades, probabilidades, descuidos. Quando um sujeito novo, saudável, produtivo e alegre se vai, isso desmonta toda nossa equação e emite um alerta: há um incontrolável da pandemia que coloca todos em risco e nossa única opção é acolher os alertas da ciência diante disso”, considera Leonardo Goldberg.

É esse o sentimento refletido no levantamento da AP Exata. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da empresa de Inteligência em Comunicação Digital, explica que o presidente teve uma queda de popularidade por um período, por causa da percepção da inflação alta dos alimentos e de que os valores do auxílio emergencial não foram sucificientes. Mas vinha recuperando uma parte de seus 30% de apoio pela forte atuação de seus apoiadores, culminando com as manifestações do fim de semana. Com a morte de Paulo Gustavo, no entanto, houve uma queda brusca também na confiança em relação ao governo (de 24% na terça para 14% na quarta). Segundo Mariana, o sistema de inteligência artificial consegue detectar essas mudanças de humor nos internautas em tempo real. 

De acordo com o levantamento, as sucessivas recusas de compra de vacinas foram recordadas nas redes. Internautas repetiram que o governo recusou imunizantes por 11 vezes diferentes e que Paulo Gustavo e outros brasileiros continuam morrendo diariamente de uma doença na qual já existe uma forma de conter o contágio. Hashtags como #ForaBolsonaro e #BolsonaroGenocida tiveram um crescimento expressivo e entraram entre os tópicos mais comentados do Twitter. Menções com ofensas ao presidente também aumentaram, motivados principalmente por posts do influenciador Felipe Neto e do escritor Paulo Coelho, que responsabilizaram diretamente o governo pela morte do ator e de outros brasileiros vítimas da covid-19 por falta de vacinas. 

A comoção entre os brasileiros não começou com a morte do ator, e sim no instante em que Paulo Gustavo deu entrada na UTI por causa da covid-19, em março. Ele intubado, recebeu o auxílio de um pulmão artificial e, a cada boletim médico otimista que era divulgado, a esperança surgia. Não foram poucas as ações nas redes sociais que pediam orações por sua recuperação. O mesmo ocorreu após a morte do artista. “Devido ao distanciamento social, os ritos fúnebres presenciais são evitados, as homenagens e toda escrita para e sobre os mortos pode confortar os vivos através do compartilhamento de lembranças e afetos”, explica Leonardo Goldberg.

Para tentar aliviar a dor dos brasileiros, a psicóloga Juliana Guimarães enfatiza que é preciso acolher os sentimentos e dar voz às emoções: “Use as redes de apoio possíveis nesse momento. O luto coletivo também traz uma sensação de pertencimento. Não estamos sozinhos. Pode chorar, sentir raiva, cansaço, tudo o que uma experiência de dor nos traz”.

O humorista Fabio Porchat resumiu, em seu post, um pouco do sentimento que acometeu o Brasil com a morte de Paulo Gustavo. “Hoje, a vida perdeu um pouco da graça. O Brasil perde um pedaço precioso seu”, escreveu.

Obras assistenciais

Além de fazer o Brasil rir, Paulo Gustavo também fazia caridade – sem colocar seus atos nos holofotes. O Padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com moradores de rua, postou que o humorista doou R$ 600 mil para a construção de uma unidade de oncologia para as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Além dessa doação, o ator fez outras à instituição, totalizando R$ 1,5 milhão. 

O Brasil acordou mais triste com a morte prematura do ator Paulo Gustavo, aos 42 anos, em razão da covid-19, nesta terça-feira (4). Não é força de expressão: de acordo com levantamento feito pela empresa de análise de dados Ap Exata, em parceria com o Banco ModalMais, o sentimento de tristeza no Twitter cresceu 10 pontos porcentuais entre terça e quarta-feira, de 33% para 43%. O levantamento utiliza inteligência artificial para identificar as variações comportamentais na rede social em 145 cidades brasileiras, desde o início do atual governo. 

Paulo Gustavo como Dona Hermínia: 'O Brasil inteiro conhece muitos Paulos que se foram', diz o psicanalista Leonardo Goldberg Foto: Marco Antonio Teixeira/Migdal Filmes

O levantamento mostrou uma peculiaridade: as menções negativas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, chegaram a 78% (na terça-feira, era de 67%) e culpam o governo federal pela morte do ator em razão da demora na distribuição das vacinas. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da Ap Exata, Inteligência em Comunicação Digital, explica que variações bruscas como essa já haviam sido notadas durante quedas de ministros, mas foi a primeira vez que a causa foi a morte de um ator. “As pessoas fizeram essa conexão entre a política do governo e a morte do ator. Os internautas responsabilizam o presidente pela morte de uma pessoa de 42 anos de uma doença para a qual existe vacina.”

O cantor Caetano Veloso, por exemplo, fez um post em homenagem a Paulo Gustavo, lamentando a vulnerabilidade do País durante a pandemia. “É significativo que a notícia de sua morte chegue no dia em que se abre a CPI da covid no Senado Federal”, escreveu.

A psicóloga Juliana Guimarães, especialista em luto, explica que este sentimento existe pela relevância do ator. “É muito comum as pessoas falarem: ‘Nossa, não o conhecia pessoalmente, mas estou sofrendo como se fosse alguém da família’. E, simbolicamente, é. São histórias que ele contou, filmes que participou, coisas que falou e que tocam nossas vidas direta e verdadeiramente.”

“Eu gostava tanto dele! Parece que se foi um membro da família. Quando vi na TV, não deu pra conter as lágrimas”, declara a auxiliar administrativa Adriana Pelege. 

O psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia pela USP e autor do livro Das Tumbas às Redes Sociais, avalia que esse luto desfaz toda a fragmentação social do País e torna a dor coletiva. “O Brasil inteiro conhece os muitos Paulos que se foram: a mãezona Dona Hermínia, o malandro Valdomiro, o descontraído Aníbal. Perdemos, além de um sujeito com o qual era fácil de se admirar e se identificar, que era pai, mãe, amante, amado, que abrigava sua família visivelmente pela via do amor, um pedaço de nossas pequenas histórias, do riso que produz intimidade entre o ator e o público e dos compartilhamentos gerados por isso”, ressalta.

O fato de muita gente buscar justificativas para a morte diante da covid-19, como comorbidades ou idade avançada, parece não fazer sentido. Antes de contrair o vírus, Paulo Gustavo estava sadio, aos 42 anos. “Quando a morte se apresenta através de um desastre e, portanto, a admitimos como um ‘acidente’ de percurso, a primeira coisa que a população faz é uma equação que calcula diferenças entre o falecido e nós mesmos: comorbidades, probabilidades, descuidos. Quando um sujeito novo, saudável, produtivo e alegre se vai, isso desmonta toda nossa equação e emite um alerta: há um incontrolável da pandemia que coloca todos em risco e nossa única opção é acolher os alertas da ciência diante disso”, considera Leonardo Goldberg.

É esse o sentimento refletido no levantamento da AP Exata. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da empresa de Inteligência em Comunicação Digital, explica que o presidente teve uma queda de popularidade por um período, por causa da percepção da inflação alta dos alimentos e de que os valores do auxílio emergencial não foram sucificientes. Mas vinha recuperando uma parte de seus 30% de apoio pela forte atuação de seus apoiadores, culminando com as manifestações do fim de semana. Com a morte de Paulo Gustavo, no entanto, houve uma queda brusca também na confiança em relação ao governo (de 24% na terça para 14% na quarta). Segundo Mariana, o sistema de inteligência artificial consegue detectar essas mudanças de humor nos internautas em tempo real. 

De acordo com o levantamento, as sucessivas recusas de compra de vacinas foram recordadas nas redes. Internautas repetiram que o governo recusou imunizantes por 11 vezes diferentes e que Paulo Gustavo e outros brasileiros continuam morrendo diariamente de uma doença na qual já existe uma forma de conter o contágio. Hashtags como #ForaBolsonaro e #BolsonaroGenocida tiveram um crescimento expressivo e entraram entre os tópicos mais comentados do Twitter. Menções com ofensas ao presidente também aumentaram, motivados principalmente por posts do influenciador Felipe Neto e do escritor Paulo Coelho, que responsabilizaram diretamente o governo pela morte do ator e de outros brasileiros vítimas da covid-19 por falta de vacinas. 

A comoção entre os brasileiros não começou com a morte do ator, e sim no instante em que Paulo Gustavo deu entrada na UTI por causa da covid-19, em março. Ele intubado, recebeu o auxílio de um pulmão artificial e, a cada boletim médico otimista que era divulgado, a esperança surgia. Não foram poucas as ações nas redes sociais que pediam orações por sua recuperação. O mesmo ocorreu após a morte do artista. “Devido ao distanciamento social, os ritos fúnebres presenciais são evitados, as homenagens e toda escrita para e sobre os mortos pode confortar os vivos através do compartilhamento de lembranças e afetos”, explica Leonardo Goldberg.

Para tentar aliviar a dor dos brasileiros, a psicóloga Juliana Guimarães enfatiza que é preciso acolher os sentimentos e dar voz às emoções: “Use as redes de apoio possíveis nesse momento. O luto coletivo também traz uma sensação de pertencimento. Não estamos sozinhos. Pode chorar, sentir raiva, cansaço, tudo o que uma experiência de dor nos traz”.

O humorista Fabio Porchat resumiu, em seu post, um pouco do sentimento que acometeu o Brasil com a morte de Paulo Gustavo. “Hoje, a vida perdeu um pouco da graça. O Brasil perde um pedaço precioso seu”, escreveu.

Obras assistenciais

Além de fazer o Brasil rir, Paulo Gustavo também fazia caridade – sem colocar seus atos nos holofotes. O Padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com moradores de rua, postou que o humorista doou R$ 600 mil para a construção de uma unidade de oncologia para as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Além dessa doação, o ator fez outras à instituição, totalizando R$ 1,5 milhão. 

O Brasil acordou mais triste com a morte prematura do ator Paulo Gustavo, aos 42 anos, em razão da covid-19, nesta terça-feira (4). Não é força de expressão: de acordo com levantamento feito pela empresa de análise de dados Ap Exata, em parceria com o Banco ModalMais, o sentimento de tristeza no Twitter cresceu 10 pontos porcentuais entre terça e quarta-feira, de 33% para 43%. O levantamento utiliza inteligência artificial para identificar as variações comportamentais na rede social em 145 cidades brasileiras, desde o início do atual governo. 

Paulo Gustavo como Dona Hermínia: 'O Brasil inteiro conhece muitos Paulos que se foram', diz o psicanalista Leonardo Goldberg Foto: Marco Antonio Teixeira/Migdal Filmes

O levantamento mostrou uma peculiaridade: as menções negativas ao presidente da República, Jair Bolsonaro, chegaram a 78% (na terça-feira, era de 67%) e culpam o governo federal pela morte do ator em razão da demora na distribuição das vacinas. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da Ap Exata, Inteligência em Comunicação Digital, explica que variações bruscas como essa já haviam sido notadas durante quedas de ministros, mas foi a primeira vez que a causa foi a morte de um ator. “As pessoas fizeram essa conexão entre a política do governo e a morte do ator. Os internautas responsabilizam o presidente pela morte de uma pessoa de 42 anos de uma doença para a qual existe vacina.”

O cantor Caetano Veloso, por exemplo, fez um post em homenagem a Paulo Gustavo, lamentando a vulnerabilidade do País durante a pandemia. “É significativo que a notícia de sua morte chegue no dia em que se abre a CPI da covid no Senado Federal”, escreveu.

A psicóloga Juliana Guimarães, especialista em luto, explica que este sentimento existe pela relevância do ator. “É muito comum as pessoas falarem: ‘Nossa, não o conhecia pessoalmente, mas estou sofrendo como se fosse alguém da família’. E, simbolicamente, é. São histórias que ele contou, filmes que participou, coisas que falou e que tocam nossas vidas direta e verdadeiramente.”

“Eu gostava tanto dele! Parece que se foi um membro da família. Quando vi na TV, não deu pra conter as lágrimas”, declara a auxiliar administrativa Adriana Pelege. 

O psicanalista Leonardo Goldberg, doutor em Psicologia pela USP e autor do livro Das Tumbas às Redes Sociais, avalia que esse luto desfaz toda a fragmentação social do País e torna a dor coletiva. “O Brasil inteiro conhece os muitos Paulos que se foram: a mãezona Dona Hermínia, o malandro Valdomiro, o descontraído Aníbal. Perdemos, além de um sujeito com o qual era fácil de se admirar e se identificar, que era pai, mãe, amante, amado, que abrigava sua família visivelmente pela via do amor, um pedaço de nossas pequenas histórias, do riso que produz intimidade entre o ator e o público e dos compartilhamentos gerados por isso”, ressalta.

O fato de muita gente buscar justificativas para a morte diante da covid-19, como comorbidades ou idade avançada, parece não fazer sentido. Antes de contrair o vírus, Paulo Gustavo estava sadio, aos 42 anos. “Quando a morte se apresenta através de um desastre e, portanto, a admitimos como um ‘acidente’ de percurso, a primeira coisa que a população faz é uma equação que calcula diferenças entre o falecido e nós mesmos: comorbidades, probabilidades, descuidos. Quando um sujeito novo, saudável, produtivo e alegre se vai, isso desmonta toda nossa equação e emite um alerta: há um incontrolável da pandemia que coloca todos em risco e nossa única opção é acolher os alertas da ciência diante disso”, considera Leonardo Goldberg.

É esse o sentimento refletido no levantamento da AP Exata. Mariana Pereira Ceolin, sócia-diretora da empresa de Inteligência em Comunicação Digital, explica que o presidente teve uma queda de popularidade por um período, por causa da percepção da inflação alta dos alimentos e de que os valores do auxílio emergencial não foram sucificientes. Mas vinha recuperando uma parte de seus 30% de apoio pela forte atuação de seus apoiadores, culminando com as manifestações do fim de semana. Com a morte de Paulo Gustavo, no entanto, houve uma queda brusca também na confiança em relação ao governo (de 24% na terça para 14% na quarta). Segundo Mariana, o sistema de inteligência artificial consegue detectar essas mudanças de humor nos internautas em tempo real. 

De acordo com o levantamento, as sucessivas recusas de compra de vacinas foram recordadas nas redes. Internautas repetiram que o governo recusou imunizantes por 11 vezes diferentes e que Paulo Gustavo e outros brasileiros continuam morrendo diariamente de uma doença na qual já existe uma forma de conter o contágio. Hashtags como #ForaBolsonaro e #BolsonaroGenocida tiveram um crescimento expressivo e entraram entre os tópicos mais comentados do Twitter. Menções com ofensas ao presidente também aumentaram, motivados principalmente por posts do influenciador Felipe Neto e do escritor Paulo Coelho, que responsabilizaram diretamente o governo pela morte do ator e de outros brasileiros vítimas da covid-19 por falta de vacinas. 

A comoção entre os brasileiros não começou com a morte do ator, e sim no instante em que Paulo Gustavo deu entrada na UTI por causa da covid-19, em março. Ele intubado, recebeu o auxílio de um pulmão artificial e, a cada boletim médico otimista que era divulgado, a esperança surgia. Não foram poucas as ações nas redes sociais que pediam orações por sua recuperação. O mesmo ocorreu após a morte do artista. “Devido ao distanciamento social, os ritos fúnebres presenciais são evitados, as homenagens e toda escrita para e sobre os mortos pode confortar os vivos através do compartilhamento de lembranças e afetos”, explica Leonardo Goldberg.

Para tentar aliviar a dor dos brasileiros, a psicóloga Juliana Guimarães enfatiza que é preciso acolher os sentimentos e dar voz às emoções: “Use as redes de apoio possíveis nesse momento. O luto coletivo também traz uma sensação de pertencimento. Não estamos sozinhos. Pode chorar, sentir raiva, cansaço, tudo o que uma experiência de dor nos traz”.

O humorista Fabio Porchat resumiu, em seu post, um pouco do sentimento que acometeu o Brasil com a morte de Paulo Gustavo. “Hoje, a vida perdeu um pouco da graça. O Brasil perde um pedaço precioso seu”, escreveu.

Obras assistenciais

Além de fazer o Brasil rir, Paulo Gustavo também fazia caridade – sem colocar seus atos nos holofotes. O Padre Júlio Lancellotti, conhecido por seu trabalho com moradores de rua, postou que o humorista doou R$ 600 mil para a construção de uma unidade de oncologia para as Obras Sociais Irmã Dulce (Osid). Além dessa doação, o ator fez outras à instituição, totalizando R$ 1,5 milhão. 

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