Cores de Wes Anderson: como cineasta virou trend no TikTok com seus tons pastel e cenas excêntricas


Diretor é destaque em Cannes com ‘Asteroid City’, longa com Tom Hanks e Scarlett Johansson. Ele é conhecido por cores pasteis, personagens excêntricos e simetria, que são imitados com humor no TikTok.

Por Sabrina Legramandi
Atualização:

Cores marcantes, personagens excêntricos, simetria. Quem já se deparou com um filme de Wes Anderson ou se aventurou no universo do TikTok, rede em que usuários replicam uma trend para copiá-lo, retratando seu cotidiano ou com paródias de filmes famosos, pode sentir que o cineasta aposta em uma estética própria em todos os seus filmes.

O cineasta americano de 54 anos é destaque no Festival de Cannes com Asteroid City, longa com Tom Hanks, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Tilda Swinton e Willem Dafoe. É a terceira vez que o diretor disputa a Palma de Ouro.

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Ele compareceu pela primeira vez ao evento em 2012, com o longa Moonrise Kingdom, e, depois, em 2021, com A Crônica Francesa. O cineasta é conhecido por longas como O Grande Hotel Budapeste, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2014, e Ilha dos Cachorros, filme pelo qual recebeu um Urso de Prata por melhor direção em 2018, também em Berlim.

Em Asteroid City, a “fórmula” do diretor continua lá: os takes milimetricamente calculados, os acontecimentos inesperados e, principalmente, as cores. Seus tons pasteis são quase tão importantes quanto a história em si.

A escolha do cineasta em fazer filmes com esta paleta que remete à nostalgia vai além do senso estético: é com as cores que Anderson consegue “manipular” os sentimentos do telespectador.

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“No cinema, determinadas cores podem sinalizar acontecimentos ou sinais”, diz Maristela Stoianov, pesquisadora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP). Ela e Mirella Gualtieri, também pesquisadora na Universidade, explicam que a questão é relacionada com uma “cultura das cores”.

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“As cores influenciam as emoções de modo muito profundo, pois é uma percepção inconsciente e aprendida ao longo da vida”, pontua Maristela.

Cores começaram a ser usadas no cinema antes dos filmes coloridos

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Wes Anderson durante as filmagens de 'Asteroid City'. Foto: Roger Do Minh/Pop. 87 Productions/Focus Features via AP

As cores são um recurso do cinema antes mesmo de poderem ser gravadas pelas antigas películas. Daniel Petry, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão na Escola de Comunicações e Artes (ECA), também da USP, conta que o recurso de pintar quadros começou a ser utilizado por volta de 1900.

Mesmo quando o filme era em preto e branco, as cores eram usadas para efeitos visuais. “A gente podia pintar as pessoas de forma colorida para tentar fazer com que uma parte do rosto ficasse mais escura ou que, quando iluminada com uma certa luz, aquilo aparecesse na câmera ou não”, explica Daniel.

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Segundo o professor, o uso começou a ficar “mais interessante e mais apelativo” nos últimos trinta anos. Até mesmo em filmes em que as cores não fazem parte dos recursos principais, como em Matrix, há uma lógica nas escolhas. Cenas que se passam “dentro da Matrix” são mais esverdeadas, enquanto as que acontecem “fora” são mais azuladas.

Porém, assim como Wes Anderson mostra, apenas usar cores marcantes não é o suficiente na hora de contar uma história. “A gente sempre trabalha com diversas informações, vindo não só do que está no quadro, mas também do que veio antes o que veio depois”, diz.

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O que cada cor significa no cinema?

Apesar de a composição de cenas nos filmes influenciar na hora de “decifrar” o significado de cada cor, há padrões que provocam determinada emoção ou percepção humana. “Algumas cenas específicas podem estar coloridas de certa forma que, inconscientemente, transmitem impressões de que algo vai acontecer”, afirma Maristela.

A pesquisadora e Mirella pontuam que, na hora de “decifrar” o significado de cada cena colorida, é preciso considerar a diferença entre saturação e temperatura. Cores quentes, como vermelho, laranja ou amarelo, dão a percepção de “aconchego, conforto e sensação de calor”. Cores frias, como azul, verde ou violeta, transmitem “impessoalidade, profissionalismo, distância ou relações mais duras”.

Tanto as frias quanto as quentes podem ser saturadas ou não, como explicam as pesquisadoras. Cores saturadas são mais marcantes e vibrantes. Elas trazem impacto e transmitem a sensação de “vibração, força e vida”, dizem.

Já as cores dessaturadas, ou pastéis, dão a sensação de “tranquilidade, lentidão ou calma”. É o caso de Wes Anderson, que, com ironia ou não, transmite esses sentimentos.

Wes Anderson continua fazendo uso das cores em 'Asteroid City'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/Universal Pictures Canada

O significado de cada cor, porém, passa até por uma questão cultural. Maristela cita como exemplo a forma como as cores brancas e pretas são tratadas no ocidente e no oriente. No Brasil, por exemplo, preto é sinal de luto, enquanto, na religião budista, a cor é sinal de boas energias e uma escolha para a virada de ano.

O poder das cores em provocar emoções humanas, conforme as pesquisadoras, passa por uma percepção “inconsciente e aprendida ao longo da vida”. “Uma vez que somos imersos em uma cultura de cores, vamos responder com sensações conforme essa cultura em que estamos inseridos”, diz Maristela.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Cores marcantes, personagens excêntricos, simetria. Quem já se deparou com um filme de Wes Anderson ou se aventurou no universo do TikTok, rede em que usuários replicam uma trend para copiá-lo, retratando seu cotidiano ou com paródias de filmes famosos, pode sentir que o cineasta aposta em uma estética própria em todos os seus filmes.

O cineasta americano de 54 anos é destaque no Festival de Cannes com Asteroid City, longa com Tom Hanks, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Tilda Swinton e Willem Dafoe. É a terceira vez que o diretor disputa a Palma de Ouro.

Ele compareceu pela primeira vez ao evento em 2012, com o longa Moonrise Kingdom, e, depois, em 2021, com A Crônica Francesa. O cineasta é conhecido por longas como O Grande Hotel Budapeste, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2014, e Ilha dos Cachorros, filme pelo qual recebeu um Urso de Prata por melhor direção em 2018, também em Berlim.

Em Asteroid City, a “fórmula” do diretor continua lá: os takes milimetricamente calculados, os acontecimentos inesperados e, principalmente, as cores. Seus tons pasteis são quase tão importantes quanto a história em si.

A escolha do cineasta em fazer filmes com esta paleta que remete à nostalgia vai além do senso estético: é com as cores que Anderson consegue “manipular” os sentimentos do telespectador.

“No cinema, determinadas cores podem sinalizar acontecimentos ou sinais”, diz Maristela Stoianov, pesquisadora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP). Ela e Mirella Gualtieri, também pesquisadora na Universidade, explicam que a questão é relacionada com uma “cultura das cores”.

“As cores influenciam as emoções de modo muito profundo, pois é uma percepção inconsciente e aprendida ao longo da vida”, pontua Maristela.

Cores começaram a ser usadas no cinema antes dos filmes coloridos

Wes Anderson durante as filmagens de 'Asteroid City'. Foto: Roger Do Minh/Pop. 87 Productions/Focus Features via AP

As cores são um recurso do cinema antes mesmo de poderem ser gravadas pelas antigas películas. Daniel Petry, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão na Escola de Comunicações e Artes (ECA), também da USP, conta que o recurso de pintar quadros começou a ser utilizado por volta de 1900.

Mesmo quando o filme era em preto e branco, as cores eram usadas para efeitos visuais. “A gente podia pintar as pessoas de forma colorida para tentar fazer com que uma parte do rosto ficasse mais escura ou que, quando iluminada com uma certa luz, aquilo aparecesse na câmera ou não”, explica Daniel.

Segundo o professor, o uso começou a ficar “mais interessante e mais apelativo” nos últimos trinta anos. Até mesmo em filmes em que as cores não fazem parte dos recursos principais, como em Matrix, há uma lógica nas escolhas. Cenas que se passam “dentro da Matrix” são mais esverdeadas, enquanto as que acontecem “fora” são mais azuladas.

Porém, assim como Wes Anderson mostra, apenas usar cores marcantes não é o suficiente na hora de contar uma história. “A gente sempre trabalha com diversas informações, vindo não só do que está no quadro, mas também do que veio antes o que veio depois”, diz.

O que cada cor significa no cinema?

Apesar de a composição de cenas nos filmes influenciar na hora de “decifrar” o significado de cada cor, há padrões que provocam determinada emoção ou percepção humana. “Algumas cenas específicas podem estar coloridas de certa forma que, inconscientemente, transmitem impressões de que algo vai acontecer”, afirma Maristela.

A pesquisadora e Mirella pontuam que, na hora de “decifrar” o significado de cada cena colorida, é preciso considerar a diferença entre saturação e temperatura. Cores quentes, como vermelho, laranja ou amarelo, dão a percepção de “aconchego, conforto e sensação de calor”. Cores frias, como azul, verde ou violeta, transmitem “impessoalidade, profissionalismo, distância ou relações mais duras”.

Tanto as frias quanto as quentes podem ser saturadas ou não, como explicam as pesquisadoras. Cores saturadas são mais marcantes e vibrantes. Elas trazem impacto e transmitem a sensação de “vibração, força e vida”, dizem.

Já as cores dessaturadas, ou pastéis, dão a sensação de “tranquilidade, lentidão ou calma”. É o caso de Wes Anderson, que, com ironia ou não, transmite esses sentimentos.

Wes Anderson continua fazendo uso das cores em 'Asteroid City'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/Universal Pictures Canada

O significado de cada cor, porém, passa até por uma questão cultural. Maristela cita como exemplo a forma como as cores brancas e pretas são tratadas no ocidente e no oriente. No Brasil, por exemplo, preto é sinal de luto, enquanto, na religião budista, a cor é sinal de boas energias e uma escolha para a virada de ano.

O poder das cores em provocar emoções humanas, conforme as pesquisadoras, passa por uma percepção “inconsciente e aprendida ao longo da vida”. “Uma vez que somos imersos em uma cultura de cores, vamos responder com sensações conforme essa cultura em que estamos inseridos”, diz Maristela.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Cores marcantes, personagens excêntricos, simetria. Quem já se deparou com um filme de Wes Anderson ou se aventurou no universo do TikTok, rede em que usuários replicam uma trend para copiá-lo, retratando seu cotidiano ou com paródias de filmes famosos, pode sentir que o cineasta aposta em uma estética própria em todos os seus filmes.

O cineasta americano de 54 anos é destaque no Festival de Cannes com Asteroid City, longa com Tom Hanks, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Tilda Swinton e Willem Dafoe. É a terceira vez que o diretor disputa a Palma de Ouro.

Ele compareceu pela primeira vez ao evento em 2012, com o longa Moonrise Kingdom, e, depois, em 2021, com A Crônica Francesa. O cineasta é conhecido por longas como O Grande Hotel Budapeste, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2014, e Ilha dos Cachorros, filme pelo qual recebeu um Urso de Prata por melhor direção em 2018, também em Berlim.

Em Asteroid City, a “fórmula” do diretor continua lá: os takes milimetricamente calculados, os acontecimentos inesperados e, principalmente, as cores. Seus tons pasteis são quase tão importantes quanto a história em si.

A escolha do cineasta em fazer filmes com esta paleta que remete à nostalgia vai além do senso estético: é com as cores que Anderson consegue “manipular” os sentimentos do telespectador.

“No cinema, determinadas cores podem sinalizar acontecimentos ou sinais”, diz Maristela Stoianov, pesquisadora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP). Ela e Mirella Gualtieri, também pesquisadora na Universidade, explicam que a questão é relacionada com uma “cultura das cores”.

“As cores influenciam as emoções de modo muito profundo, pois é uma percepção inconsciente e aprendida ao longo da vida”, pontua Maristela.

Cores começaram a ser usadas no cinema antes dos filmes coloridos

Wes Anderson durante as filmagens de 'Asteroid City'. Foto: Roger Do Minh/Pop. 87 Productions/Focus Features via AP

As cores são um recurso do cinema antes mesmo de poderem ser gravadas pelas antigas películas. Daniel Petry, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão na Escola de Comunicações e Artes (ECA), também da USP, conta que o recurso de pintar quadros começou a ser utilizado por volta de 1900.

Mesmo quando o filme era em preto e branco, as cores eram usadas para efeitos visuais. “A gente podia pintar as pessoas de forma colorida para tentar fazer com que uma parte do rosto ficasse mais escura ou que, quando iluminada com uma certa luz, aquilo aparecesse na câmera ou não”, explica Daniel.

Segundo o professor, o uso começou a ficar “mais interessante e mais apelativo” nos últimos trinta anos. Até mesmo em filmes em que as cores não fazem parte dos recursos principais, como em Matrix, há uma lógica nas escolhas. Cenas que se passam “dentro da Matrix” são mais esverdeadas, enquanto as que acontecem “fora” são mais azuladas.

Porém, assim como Wes Anderson mostra, apenas usar cores marcantes não é o suficiente na hora de contar uma história. “A gente sempre trabalha com diversas informações, vindo não só do que está no quadro, mas também do que veio antes o que veio depois”, diz.

O que cada cor significa no cinema?

Apesar de a composição de cenas nos filmes influenciar na hora de “decifrar” o significado de cada cor, há padrões que provocam determinada emoção ou percepção humana. “Algumas cenas específicas podem estar coloridas de certa forma que, inconscientemente, transmitem impressões de que algo vai acontecer”, afirma Maristela.

A pesquisadora e Mirella pontuam que, na hora de “decifrar” o significado de cada cena colorida, é preciso considerar a diferença entre saturação e temperatura. Cores quentes, como vermelho, laranja ou amarelo, dão a percepção de “aconchego, conforto e sensação de calor”. Cores frias, como azul, verde ou violeta, transmitem “impessoalidade, profissionalismo, distância ou relações mais duras”.

Tanto as frias quanto as quentes podem ser saturadas ou não, como explicam as pesquisadoras. Cores saturadas são mais marcantes e vibrantes. Elas trazem impacto e transmitem a sensação de “vibração, força e vida”, dizem.

Já as cores dessaturadas, ou pastéis, dão a sensação de “tranquilidade, lentidão ou calma”. É o caso de Wes Anderson, que, com ironia ou não, transmite esses sentimentos.

Wes Anderson continua fazendo uso das cores em 'Asteroid City'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/Universal Pictures Canada

O significado de cada cor, porém, passa até por uma questão cultural. Maristela cita como exemplo a forma como as cores brancas e pretas são tratadas no ocidente e no oriente. No Brasil, por exemplo, preto é sinal de luto, enquanto, na religião budista, a cor é sinal de boas energias e uma escolha para a virada de ano.

O poder das cores em provocar emoções humanas, conforme as pesquisadoras, passa por uma percepção “inconsciente e aprendida ao longo da vida”. “Uma vez que somos imersos em uma cultura de cores, vamos responder com sensações conforme essa cultura em que estamos inseridos”, diz Maristela.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Cores marcantes, personagens excêntricos, simetria. Quem já se deparou com um filme de Wes Anderson ou se aventurou no universo do TikTok, rede em que usuários replicam uma trend para copiá-lo, retratando seu cotidiano ou com paródias de filmes famosos, pode sentir que o cineasta aposta em uma estética própria em todos os seus filmes.

O cineasta americano de 54 anos é destaque no Festival de Cannes com Asteroid City, longa com Tom Hanks, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Tilda Swinton e Willem Dafoe. É a terceira vez que o diretor disputa a Palma de Ouro.

Ele compareceu pela primeira vez ao evento em 2012, com o longa Moonrise Kingdom, e, depois, em 2021, com A Crônica Francesa. O cineasta é conhecido por longas como O Grande Hotel Budapeste, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2014, e Ilha dos Cachorros, filme pelo qual recebeu um Urso de Prata por melhor direção em 2018, também em Berlim.

Em Asteroid City, a “fórmula” do diretor continua lá: os takes milimetricamente calculados, os acontecimentos inesperados e, principalmente, as cores. Seus tons pasteis são quase tão importantes quanto a história em si.

A escolha do cineasta em fazer filmes com esta paleta que remete à nostalgia vai além do senso estético: é com as cores que Anderson consegue “manipular” os sentimentos do telespectador.

“No cinema, determinadas cores podem sinalizar acontecimentos ou sinais”, diz Maristela Stoianov, pesquisadora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP). Ela e Mirella Gualtieri, também pesquisadora na Universidade, explicam que a questão é relacionada com uma “cultura das cores”.

“As cores influenciam as emoções de modo muito profundo, pois é uma percepção inconsciente e aprendida ao longo da vida”, pontua Maristela.

Cores começaram a ser usadas no cinema antes dos filmes coloridos

Wes Anderson durante as filmagens de 'Asteroid City'. Foto: Roger Do Minh/Pop. 87 Productions/Focus Features via AP

As cores são um recurso do cinema antes mesmo de poderem ser gravadas pelas antigas películas. Daniel Petry, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão na Escola de Comunicações e Artes (ECA), também da USP, conta que o recurso de pintar quadros começou a ser utilizado por volta de 1900.

Mesmo quando o filme era em preto e branco, as cores eram usadas para efeitos visuais. “A gente podia pintar as pessoas de forma colorida para tentar fazer com que uma parte do rosto ficasse mais escura ou que, quando iluminada com uma certa luz, aquilo aparecesse na câmera ou não”, explica Daniel.

Segundo o professor, o uso começou a ficar “mais interessante e mais apelativo” nos últimos trinta anos. Até mesmo em filmes em que as cores não fazem parte dos recursos principais, como em Matrix, há uma lógica nas escolhas. Cenas que se passam “dentro da Matrix” são mais esverdeadas, enquanto as que acontecem “fora” são mais azuladas.

Porém, assim como Wes Anderson mostra, apenas usar cores marcantes não é o suficiente na hora de contar uma história. “A gente sempre trabalha com diversas informações, vindo não só do que está no quadro, mas também do que veio antes o que veio depois”, diz.

O que cada cor significa no cinema?

Apesar de a composição de cenas nos filmes influenciar na hora de “decifrar” o significado de cada cor, há padrões que provocam determinada emoção ou percepção humana. “Algumas cenas específicas podem estar coloridas de certa forma que, inconscientemente, transmitem impressões de que algo vai acontecer”, afirma Maristela.

A pesquisadora e Mirella pontuam que, na hora de “decifrar” o significado de cada cena colorida, é preciso considerar a diferença entre saturação e temperatura. Cores quentes, como vermelho, laranja ou amarelo, dão a percepção de “aconchego, conforto e sensação de calor”. Cores frias, como azul, verde ou violeta, transmitem “impessoalidade, profissionalismo, distância ou relações mais duras”.

Tanto as frias quanto as quentes podem ser saturadas ou não, como explicam as pesquisadoras. Cores saturadas são mais marcantes e vibrantes. Elas trazem impacto e transmitem a sensação de “vibração, força e vida”, dizem.

Já as cores dessaturadas, ou pastéis, dão a sensação de “tranquilidade, lentidão ou calma”. É o caso de Wes Anderson, que, com ironia ou não, transmite esses sentimentos.

Wes Anderson continua fazendo uso das cores em 'Asteroid City'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/Universal Pictures Canada

O significado de cada cor, porém, passa até por uma questão cultural. Maristela cita como exemplo a forma como as cores brancas e pretas são tratadas no ocidente e no oriente. No Brasil, por exemplo, preto é sinal de luto, enquanto, na religião budista, a cor é sinal de boas energias e uma escolha para a virada de ano.

O poder das cores em provocar emoções humanas, conforme as pesquisadoras, passa por uma percepção “inconsciente e aprendida ao longo da vida”. “Uma vez que somos imersos em uma cultura de cores, vamos responder com sensações conforme essa cultura em que estamos inseridos”, diz Maristela.

*Estagiária sob supervisão de Charlise de Morais

Cores marcantes, personagens excêntricos, simetria. Quem já se deparou com um filme de Wes Anderson ou se aventurou no universo do TikTok, rede em que usuários replicam uma trend para copiá-lo, retratando seu cotidiano ou com paródias de filmes famosos, pode sentir que o cineasta aposta em uma estética própria em todos os seus filmes.

O cineasta americano de 54 anos é destaque no Festival de Cannes com Asteroid City, longa com Tom Hanks, Scarlett Johansson, Margot Robbie, Tilda Swinton e Willem Dafoe. É a terceira vez que o diretor disputa a Palma de Ouro.

Ele compareceu pela primeira vez ao evento em 2012, com o longa Moonrise Kingdom, e, depois, em 2021, com A Crônica Francesa. O cineasta é conhecido por longas como O Grande Hotel Budapeste, vencedor do Grande Prêmio do Júri no Festival de Berlim de 2014, e Ilha dos Cachorros, filme pelo qual recebeu um Urso de Prata por melhor direção em 2018, também em Berlim.

Em Asteroid City, a “fórmula” do diretor continua lá: os takes milimetricamente calculados, os acontecimentos inesperados e, principalmente, as cores. Seus tons pasteis são quase tão importantes quanto a história em si.

A escolha do cineasta em fazer filmes com esta paleta que remete à nostalgia vai além do senso estético: é com as cores que Anderson consegue “manipular” os sentimentos do telespectador.

“No cinema, determinadas cores podem sinalizar acontecimentos ou sinais”, diz Maristela Stoianov, pesquisadora do Instituto de Psicologia (IP) da Universidade de São Paulo (USP). Ela e Mirella Gualtieri, também pesquisadora na Universidade, explicam que a questão é relacionada com uma “cultura das cores”.

“As cores influenciam as emoções de modo muito profundo, pois é uma percepção inconsciente e aprendida ao longo da vida”, pontua Maristela.

Cores começaram a ser usadas no cinema antes dos filmes coloridos

Wes Anderson durante as filmagens de 'Asteroid City'. Foto: Roger Do Minh/Pop. 87 Productions/Focus Features via AP

As cores são um recurso do cinema antes mesmo de poderem ser gravadas pelas antigas películas. Daniel Petry, professor do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão na Escola de Comunicações e Artes (ECA), também da USP, conta que o recurso de pintar quadros começou a ser utilizado por volta de 1900.

Mesmo quando o filme era em preto e branco, as cores eram usadas para efeitos visuais. “A gente podia pintar as pessoas de forma colorida para tentar fazer com que uma parte do rosto ficasse mais escura ou que, quando iluminada com uma certa luz, aquilo aparecesse na câmera ou não”, explica Daniel.

Segundo o professor, o uso começou a ficar “mais interessante e mais apelativo” nos últimos trinta anos. Até mesmo em filmes em que as cores não fazem parte dos recursos principais, como em Matrix, há uma lógica nas escolhas. Cenas que se passam “dentro da Matrix” são mais esverdeadas, enquanto as que acontecem “fora” são mais azuladas.

Porém, assim como Wes Anderson mostra, apenas usar cores marcantes não é o suficiente na hora de contar uma história. “A gente sempre trabalha com diversas informações, vindo não só do que está no quadro, mas também do que veio antes o que veio depois”, diz.

O que cada cor significa no cinema?

Apesar de a composição de cenas nos filmes influenciar na hora de “decifrar” o significado de cada cor, há padrões que provocam determinada emoção ou percepção humana. “Algumas cenas específicas podem estar coloridas de certa forma que, inconscientemente, transmitem impressões de que algo vai acontecer”, afirma Maristela.

A pesquisadora e Mirella pontuam que, na hora de “decifrar” o significado de cada cena colorida, é preciso considerar a diferença entre saturação e temperatura. Cores quentes, como vermelho, laranja ou amarelo, dão a percepção de “aconchego, conforto e sensação de calor”. Cores frias, como azul, verde ou violeta, transmitem “impessoalidade, profissionalismo, distância ou relações mais duras”.

Tanto as frias quanto as quentes podem ser saturadas ou não, como explicam as pesquisadoras. Cores saturadas são mais marcantes e vibrantes. Elas trazem impacto e transmitem a sensação de “vibração, força e vida”, dizem.

Já as cores dessaturadas, ou pastéis, dão a sensação de “tranquilidade, lentidão ou calma”. É o caso de Wes Anderson, que, com ironia ou não, transmite esses sentimentos.

Wes Anderson continua fazendo uso das cores em 'Asteroid City'. Foto: Reprodução de vídeo/YouTube/Universal Pictures Canada

O significado de cada cor, porém, passa até por uma questão cultural. Maristela cita como exemplo a forma como as cores brancas e pretas são tratadas no ocidente e no oriente. No Brasil, por exemplo, preto é sinal de luto, enquanto, na religião budista, a cor é sinal de boas energias e uma escolha para a virada de ano.

O poder das cores em provocar emoções humanas, conforme as pesquisadoras, passa por uma percepção “inconsciente e aprendida ao longo da vida”. “Uma vez que somos imersos em uma cultura de cores, vamos responder com sensações conforme essa cultura em que estamos inseridos”, diz Maristela.

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