Crítica: documentário ‘Clube da Esquina’ consegue traduzir a gênese do movimento ao focar na música


Filme de Ana Rieper reúne músicos para alcançar a origem do som do grupo liderado por Milton Nascimento e Lô Borges

Por Danilo Casaletti
Atualização:

Na escadaria do Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, o músico e compositor Lô Borges, 71 anos, relembra dois fatos vividos no prédio em que ele morava com a numerosa família comandada pelos patriarcas Seu Salomão e dona Maricota: um impertinente menino que insistia em lhe contar que Papai Noel não existia - o que destruía sua ingenuidade - e a primeira vez que ouviu o som diferente do violão de um novo e jovem vizinho - o que alimentava sua imaginação.

Exibido nesta segunda-feira, 23, na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina, da diretora Ana Rieper, caminha, ao longo de 80 minutos, pelo sonho e pelo som dos integrantes de um movimento que, para usar uma expressão mineira, trouxe um ‘trem doido’ para dentro da música brasileira. O longa ainda não tem data para entrar no circuito comercial, mas terá mais uma sessão na Mostra no sábado, dia 28.

Lô Borges, um dos clubistas Foto: Flávio Charchar
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A história do Clube da Esquina já foi contada e recontada por diversas vezes ao longo de mais de 50 anos - o primeiro álbum é de 1972 - , em livros e desde o lançamento do álbum que leva o nome de Milton Nascimento e Lô Borges na capa - eleito recentemente como melhor da música brasileira de todos os tempos por um júri de especialistas convocado pelo site Discoteca Básica.

Diante disso, o documentário de Ana Rieper poderia se transformar em um amontoado de cenas de arquivo, versões discordantes, palpites exógenos ou seguir pelo atalho menos sedutor da mera historiografia. Não. Ana pegou o caminho sinuoso da música produzida pelo Clube e desembarcou em uma acolhedora estação chamada sonho.

Da cena inicial, de Lô na escadaria do Edifício Levy, o filme vai dar em um encontro entre os irmãos Borges - Lô, Márcio (um dos principais letristas do Clube), Telo e Marilton. Juntos, eles tocam e cantam Para Lennon e McCartney, música com melodia de Lô e Márcio e poesia de Fernando Brant.

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A capa do lendário disco 'Clube da Esquina', lançado em 1972 

Embora Para Lennon e McCartney não faça parte do álbum Clube da Esquina, a cena mostra o que ocorria cada vez que a cabeça de um dos clubistas começava a criar. Comportamento que, segundo os depoimentos colhidos pelo documentário, se repetiu no estúdio, durante a gravação do disco. Todo mundo era livre para tocar e tirar seu som. A música do Clube floresceu na liberdade.

Beto Guedes detesta jazz. Milton Nascimento adora. O baterista Robertinho Silva aprendeu a tocar em terreiros de umbanda e candomblé. O Clube tem música africana, então. O baixista Novelli gosta de música clássica. O rock progressivo fez a cabeça de Wagner Tiso.

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Soma-se a esse caldeirão sonoro o cinema e a política - Márcio foi líder estudantil e a mesma canção que ele escreveu que o já banalizado verso ‘os sonhos não envelhecem’ traz também ‘em meio a tantos gases lacrimogênios’. Como seres políticos, não estavam de costas para a América Latina.

Os mineiros - Milton é carioca, mas adotou e foi adotado por Minas - não deixavam de lado ainda a religiosidade do estado, o barulho do trem e das rodas dos carros de boi na estrada de terra. O solo em Trem Azul, revela o guitarrista Toninho Horta, vem da viola caipira.

O documentário avança justamente em revelações (sempre sonoras) que, expostas, se mostram até mesmo óbvias, mas que jamais foram exploradas. Ponto para Ana Rieper por ter a sensibilidade de chegar aos rincões do Clube.

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O cantor e compositor Milton Nascimento durante show em São Paulo, , 1971, época em que o 'Clube da Esquina' começou a ser gravado Foto: Acervo/ Estadão

Entre os pontos dissonantes do documentário, embora, obviamente, seja impossível abarcar tudo que cerca o Clube fez e representa, está a não citação da famosa casa de Marazul, em Niterói, no Rio de Janeiro, local onde Milton e Lô se internaram para criar muitas das canções do álbum. A residência está para o Clube o que as Dunas da Gal significou para o Tropicalismo: um oásis de liberdade, embora mais íntima, algo apenas entre Lô e Milton.

Milton, aliás, está sempre presente nos papos. Um ser agregador que bancou o nome do jovem e desconhecido Lô na capa do álbum lançado em 1972. Porém, cada vez mais recluso ou blindado nos últimos anos, mesmo antes da aposentadoria, o compositor não participou de nenhum encontro organizado para o filme.

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Alaíde Costa, única voz feminina do primeiro álbum do Clube da Esquina na versão do samba Me Deixa Em Paz, também não é citada.

O documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina dá ainda uma pequena amostra do que pode vir quando pesquisadores, documentaristas e especialistas em música se debruçarem com o mesmo afinco em Clube da Esquina 2, álbum lançado em 1978, que, infortunadamente, ficou à sombra do primeiro volume.

Na escadaria do Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, o músico e compositor Lô Borges, 71 anos, relembra dois fatos vividos no prédio em que ele morava com a numerosa família comandada pelos patriarcas Seu Salomão e dona Maricota: um impertinente menino que insistia em lhe contar que Papai Noel não existia - o que destruía sua ingenuidade - e a primeira vez que ouviu o som diferente do violão de um novo e jovem vizinho - o que alimentava sua imaginação.

Exibido nesta segunda-feira, 23, na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina, da diretora Ana Rieper, caminha, ao longo de 80 minutos, pelo sonho e pelo som dos integrantes de um movimento que, para usar uma expressão mineira, trouxe um ‘trem doido’ para dentro da música brasileira. O longa ainda não tem data para entrar no circuito comercial, mas terá mais uma sessão na Mostra no sábado, dia 28.

Lô Borges, um dos clubistas Foto: Flávio Charchar

A história do Clube da Esquina já foi contada e recontada por diversas vezes ao longo de mais de 50 anos - o primeiro álbum é de 1972 - , em livros e desde o lançamento do álbum que leva o nome de Milton Nascimento e Lô Borges na capa - eleito recentemente como melhor da música brasileira de todos os tempos por um júri de especialistas convocado pelo site Discoteca Básica.

Diante disso, o documentário de Ana Rieper poderia se transformar em um amontoado de cenas de arquivo, versões discordantes, palpites exógenos ou seguir pelo atalho menos sedutor da mera historiografia. Não. Ana pegou o caminho sinuoso da música produzida pelo Clube e desembarcou em uma acolhedora estação chamada sonho.

Da cena inicial, de Lô na escadaria do Edifício Levy, o filme vai dar em um encontro entre os irmãos Borges - Lô, Márcio (um dos principais letristas do Clube), Telo e Marilton. Juntos, eles tocam e cantam Para Lennon e McCartney, música com melodia de Lô e Márcio e poesia de Fernando Brant.

A capa do lendário disco 'Clube da Esquina', lançado em 1972 

Embora Para Lennon e McCartney não faça parte do álbum Clube da Esquina, a cena mostra o que ocorria cada vez que a cabeça de um dos clubistas começava a criar. Comportamento que, segundo os depoimentos colhidos pelo documentário, se repetiu no estúdio, durante a gravação do disco. Todo mundo era livre para tocar e tirar seu som. A música do Clube floresceu na liberdade.

Beto Guedes detesta jazz. Milton Nascimento adora. O baterista Robertinho Silva aprendeu a tocar em terreiros de umbanda e candomblé. O Clube tem música africana, então. O baixista Novelli gosta de música clássica. O rock progressivo fez a cabeça de Wagner Tiso.

Soma-se a esse caldeirão sonoro o cinema e a política - Márcio foi líder estudantil e a mesma canção que ele escreveu que o já banalizado verso ‘os sonhos não envelhecem’ traz também ‘em meio a tantos gases lacrimogênios’. Como seres políticos, não estavam de costas para a América Latina.

Os mineiros - Milton é carioca, mas adotou e foi adotado por Minas - não deixavam de lado ainda a religiosidade do estado, o barulho do trem e das rodas dos carros de boi na estrada de terra. O solo em Trem Azul, revela o guitarrista Toninho Horta, vem da viola caipira.

O documentário avança justamente em revelações (sempre sonoras) que, expostas, se mostram até mesmo óbvias, mas que jamais foram exploradas. Ponto para Ana Rieper por ter a sensibilidade de chegar aos rincões do Clube.

O cantor e compositor Milton Nascimento durante show em São Paulo, , 1971, época em que o 'Clube da Esquina' começou a ser gravado Foto: Acervo/ Estadão

Entre os pontos dissonantes do documentário, embora, obviamente, seja impossível abarcar tudo que cerca o Clube fez e representa, está a não citação da famosa casa de Marazul, em Niterói, no Rio de Janeiro, local onde Milton e Lô se internaram para criar muitas das canções do álbum. A residência está para o Clube o que as Dunas da Gal significou para o Tropicalismo: um oásis de liberdade, embora mais íntima, algo apenas entre Lô e Milton.

Milton, aliás, está sempre presente nos papos. Um ser agregador que bancou o nome do jovem e desconhecido Lô na capa do álbum lançado em 1972. Porém, cada vez mais recluso ou blindado nos últimos anos, mesmo antes da aposentadoria, o compositor não participou de nenhum encontro organizado para o filme.

Alaíde Costa, única voz feminina do primeiro álbum do Clube da Esquina na versão do samba Me Deixa Em Paz, também não é citada.

O documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina dá ainda uma pequena amostra do que pode vir quando pesquisadores, documentaristas e especialistas em música se debruçarem com o mesmo afinco em Clube da Esquina 2, álbum lançado em 1978, que, infortunadamente, ficou à sombra do primeiro volume.

Na escadaria do Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, o músico e compositor Lô Borges, 71 anos, relembra dois fatos vividos no prédio em que ele morava com a numerosa família comandada pelos patriarcas Seu Salomão e dona Maricota: um impertinente menino que insistia em lhe contar que Papai Noel não existia - o que destruía sua ingenuidade - e a primeira vez que ouviu o som diferente do violão de um novo e jovem vizinho - o que alimentava sua imaginação.

Exibido nesta segunda-feira, 23, na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina, da diretora Ana Rieper, caminha, ao longo de 80 minutos, pelo sonho e pelo som dos integrantes de um movimento que, para usar uma expressão mineira, trouxe um ‘trem doido’ para dentro da música brasileira. O longa ainda não tem data para entrar no circuito comercial, mas terá mais uma sessão na Mostra no sábado, dia 28.

Lô Borges, um dos clubistas Foto: Flávio Charchar

A história do Clube da Esquina já foi contada e recontada por diversas vezes ao longo de mais de 50 anos - o primeiro álbum é de 1972 - , em livros e desde o lançamento do álbum que leva o nome de Milton Nascimento e Lô Borges na capa - eleito recentemente como melhor da música brasileira de todos os tempos por um júri de especialistas convocado pelo site Discoteca Básica.

Diante disso, o documentário de Ana Rieper poderia se transformar em um amontoado de cenas de arquivo, versões discordantes, palpites exógenos ou seguir pelo atalho menos sedutor da mera historiografia. Não. Ana pegou o caminho sinuoso da música produzida pelo Clube e desembarcou em uma acolhedora estação chamada sonho.

Da cena inicial, de Lô na escadaria do Edifício Levy, o filme vai dar em um encontro entre os irmãos Borges - Lô, Márcio (um dos principais letristas do Clube), Telo e Marilton. Juntos, eles tocam e cantam Para Lennon e McCartney, música com melodia de Lô e Márcio e poesia de Fernando Brant.

A capa do lendário disco 'Clube da Esquina', lançado em 1972 

Embora Para Lennon e McCartney não faça parte do álbum Clube da Esquina, a cena mostra o que ocorria cada vez que a cabeça de um dos clubistas começava a criar. Comportamento que, segundo os depoimentos colhidos pelo documentário, se repetiu no estúdio, durante a gravação do disco. Todo mundo era livre para tocar e tirar seu som. A música do Clube floresceu na liberdade.

Beto Guedes detesta jazz. Milton Nascimento adora. O baterista Robertinho Silva aprendeu a tocar em terreiros de umbanda e candomblé. O Clube tem música africana, então. O baixista Novelli gosta de música clássica. O rock progressivo fez a cabeça de Wagner Tiso.

Soma-se a esse caldeirão sonoro o cinema e a política - Márcio foi líder estudantil e a mesma canção que ele escreveu que o já banalizado verso ‘os sonhos não envelhecem’ traz também ‘em meio a tantos gases lacrimogênios’. Como seres políticos, não estavam de costas para a América Latina.

Os mineiros - Milton é carioca, mas adotou e foi adotado por Minas - não deixavam de lado ainda a religiosidade do estado, o barulho do trem e das rodas dos carros de boi na estrada de terra. O solo em Trem Azul, revela o guitarrista Toninho Horta, vem da viola caipira.

O documentário avança justamente em revelações (sempre sonoras) que, expostas, se mostram até mesmo óbvias, mas que jamais foram exploradas. Ponto para Ana Rieper por ter a sensibilidade de chegar aos rincões do Clube.

O cantor e compositor Milton Nascimento durante show em São Paulo, , 1971, época em que o 'Clube da Esquina' começou a ser gravado Foto: Acervo/ Estadão

Entre os pontos dissonantes do documentário, embora, obviamente, seja impossível abarcar tudo que cerca o Clube fez e representa, está a não citação da famosa casa de Marazul, em Niterói, no Rio de Janeiro, local onde Milton e Lô se internaram para criar muitas das canções do álbum. A residência está para o Clube o que as Dunas da Gal significou para o Tropicalismo: um oásis de liberdade, embora mais íntima, algo apenas entre Lô e Milton.

Milton, aliás, está sempre presente nos papos. Um ser agregador que bancou o nome do jovem e desconhecido Lô na capa do álbum lançado em 1972. Porém, cada vez mais recluso ou blindado nos últimos anos, mesmo antes da aposentadoria, o compositor não participou de nenhum encontro organizado para o filme.

Alaíde Costa, única voz feminina do primeiro álbum do Clube da Esquina na versão do samba Me Deixa Em Paz, também não é citada.

O documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina dá ainda uma pequena amostra do que pode vir quando pesquisadores, documentaristas e especialistas em música se debruçarem com o mesmo afinco em Clube da Esquina 2, álbum lançado em 1978, que, infortunadamente, ficou à sombra do primeiro volume.

Na escadaria do Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, o músico e compositor Lô Borges, 71 anos, relembra dois fatos vividos no prédio em que ele morava com a numerosa família comandada pelos patriarcas Seu Salomão e dona Maricota: um impertinente menino que insistia em lhe contar que Papai Noel não existia - o que destruía sua ingenuidade - e a primeira vez que ouviu o som diferente do violão de um novo e jovem vizinho - o que alimentava sua imaginação.

Exibido nesta segunda-feira, 23, na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina, da diretora Ana Rieper, caminha, ao longo de 80 minutos, pelo sonho e pelo som dos integrantes de um movimento que, para usar uma expressão mineira, trouxe um ‘trem doido’ para dentro da música brasileira. O longa ainda não tem data para entrar no circuito comercial, mas terá mais uma sessão na Mostra no sábado, dia 28.

Lô Borges, um dos clubistas Foto: Flávio Charchar

A história do Clube da Esquina já foi contada e recontada por diversas vezes ao longo de mais de 50 anos - o primeiro álbum é de 1972 - , em livros e desde o lançamento do álbum que leva o nome de Milton Nascimento e Lô Borges na capa - eleito recentemente como melhor da música brasileira de todos os tempos por um júri de especialistas convocado pelo site Discoteca Básica.

Diante disso, o documentário de Ana Rieper poderia se transformar em um amontoado de cenas de arquivo, versões discordantes, palpites exógenos ou seguir pelo atalho menos sedutor da mera historiografia. Não. Ana pegou o caminho sinuoso da música produzida pelo Clube e desembarcou em uma acolhedora estação chamada sonho.

Da cena inicial, de Lô na escadaria do Edifício Levy, o filme vai dar em um encontro entre os irmãos Borges - Lô, Márcio (um dos principais letristas do Clube), Telo e Marilton. Juntos, eles tocam e cantam Para Lennon e McCartney, música com melodia de Lô e Márcio e poesia de Fernando Brant.

A capa do lendário disco 'Clube da Esquina', lançado em 1972 

Embora Para Lennon e McCartney não faça parte do álbum Clube da Esquina, a cena mostra o que ocorria cada vez que a cabeça de um dos clubistas começava a criar. Comportamento que, segundo os depoimentos colhidos pelo documentário, se repetiu no estúdio, durante a gravação do disco. Todo mundo era livre para tocar e tirar seu som. A música do Clube floresceu na liberdade.

Beto Guedes detesta jazz. Milton Nascimento adora. O baterista Robertinho Silva aprendeu a tocar em terreiros de umbanda e candomblé. O Clube tem música africana, então. O baixista Novelli gosta de música clássica. O rock progressivo fez a cabeça de Wagner Tiso.

Soma-se a esse caldeirão sonoro o cinema e a política - Márcio foi líder estudantil e a mesma canção que ele escreveu que o já banalizado verso ‘os sonhos não envelhecem’ traz também ‘em meio a tantos gases lacrimogênios’. Como seres políticos, não estavam de costas para a América Latina.

Os mineiros - Milton é carioca, mas adotou e foi adotado por Minas - não deixavam de lado ainda a religiosidade do estado, o barulho do trem e das rodas dos carros de boi na estrada de terra. O solo em Trem Azul, revela o guitarrista Toninho Horta, vem da viola caipira.

O documentário avança justamente em revelações (sempre sonoras) que, expostas, se mostram até mesmo óbvias, mas que jamais foram exploradas. Ponto para Ana Rieper por ter a sensibilidade de chegar aos rincões do Clube.

O cantor e compositor Milton Nascimento durante show em São Paulo, , 1971, época em que o 'Clube da Esquina' começou a ser gravado Foto: Acervo/ Estadão

Entre os pontos dissonantes do documentário, embora, obviamente, seja impossível abarcar tudo que cerca o Clube fez e representa, está a não citação da famosa casa de Marazul, em Niterói, no Rio de Janeiro, local onde Milton e Lô se internaram para criar muitas das canções do álbum. A residência está para o Clube o que as Dunas da Gal significou para o Tropicalismo: um oásis de liberdade, embora mais íntima, algo apenas entre Lô e Milton.

Milton, aliás, está sempre presente nos papos. Um ser agregador que bancou o nome do jovem e desconhecido Lô na capa do álbum lançado em 1972. Porém, cada vez mais recluso ou blindado nos últimos anos, mesmo antes da aposentadoria, o compositor não participou de nenhum encontro organizado para o filme.

Alaíde Costa, única voz feminina do primeiro álbum do Clube da Esquina na versão do samba Me Deixa Em Paz, também não é citada.

O documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina dá ainda uma pequena amostra do que pode vir quando pesquisadores, documentaristas e especialistas em música se debruçarem com o mesmo afinco em Clube da Esquina 2, álbum lançado em 1978, que, infortunadamente, ficou à sombra do primeiro volume.

Na escadaria do Edifício Levy, no centro de Belo Horizonte, o músico e compositor Lô Borges, 71 anos, relembra dois fatos vividos no prédio em que ele morava com a numerosa família comandada pelos patriarcas Seu Salomão e dona Maricota: um impertinente menino que insistia em lhe contar que Papai Noel não existia - o que destruía sua ingenuidade - e a primeira vez que ouviu o som diferente do violão de um novo e jovem vizinho - o que alimentava sua imaginação.

Exibido nesta segunda-feira, 23, na 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina, da diretora Ana Rieper, caminha, ao longo de 80 minutos, pelo sonho e pelo som dos integrantes de um movimento que, para usar uma expressão mineira, trouxe um ‘trem doido’ para dentro da música brasileira. O longa ainda não tem data para entrar no circuito comercial, mas terá mais uma sessão na Mostra no sábado, dia 28.

Lô Borges, um dos clubistas Foto: Flávio Charchar

A história do Clube da Esquina já foi contada e recontada por diversas vezes ao longo de mais de 50 anos - o primeiro álbum é de 1972 - , em livros e desde o lançamento do álbum que leva o nome de Milton Nascimento e Lô Borges na capa - eleito recentemente como melhor da música brasileira de todos os tempos por um júri de especialistas convocado pelo site Discoteca Básica.

Diante disso, o documentário de Ana Rieper poderia se transformar em um amontoado de cenas de arquivo, versões discordantes, palpites exógenos ou seguir pelo atalho menos sedutor da mera historiografia. Não. Ana pegou o caminho sinuoso da música produzida pelo Clube e desembarcou em uma acolhedora estação chamada sonho.

Da cena inicial, de Lô na escadaria do Edifício Levy, o filme vai dar em um encontro entre os irmãos Borges - Lô, Márcio (um dos principais letristas do Clube), Telo e Marilton. Juntos, eles tocam e cantam Para Lennon e McCartney, música com melodia de Lô e Márcio e poesia de Fernando Brant.

A capa do lendário disco 'Clube da Esquina', lançado em 1972 

Embora Para Lennon e McCartney não faça parte do álbum Clube da Esquina, a cena mostra o que ocorria cada vez que a cabeça de um dos clubistas começava a criar. Comportamento que, segundo os depoimentos colhidos pelo documentário, se repetiu no estúdio, durante a gravação do disco. Todo mundo era livre para tocar e tirar seu som. A música do Clube floresceu na liberdade.

Beto Guedes detesta jazz. Milton Nascimento adora. O baterista Robertinho Silva aprendeu a tocar em terreiros de umbanda e candomblé. O Clube tem música africana, então. O baixista Novelli gosta de música clássica. O rock progressivo fez a cabeça de Wagner Tiso.

Soma-se a esse caldeirão sonoro o cinema e a política - Márcio foi líder estudantil e a mesma canção que ele escreveu que o já banalizado verso ‘os sonhos não envelhecem’ traz também ‘em meio a tantos gases lacrimogênios’. Como seres políticos, não estavam de costas para a América Latina.

Os mineiros - Milton é carioca, mas adotou e foi adotado por Minas - não deixavam de lado ainda a religiosidade do estado, o barulho do trem e das rodas dos carros de boi na estrada de terra. O solo em Trem Azul, revela o guitarrista Toninho Horta, vem da viola caipira.

O documentário avança justamente em revelações (sempre sonoras) que, expostas, se mostram até mesmo óbvias, mas que jamais foram exploradas. Ponto para Ana Rieper por ter a sensibilidade de chegar aos rincões do Clube.

O cantor e compositor Milton Nascimento durante show em São Paulo, , 1971, época em que o 'Clube da Esquina' começou a ser gravado Foto: Acervo/ Estadão

Entre os pontos dissonantes do documentário, embora, obviamente, seja impossível abarcar tudo que cerca o Clube fez e representa, está a não citação da famosa casa de Marazul, em Niterói, no Rio de Janeiro, local onde Milton e Lô se internaram para criar muitas das canções do álbum. A residência está para o Clube o que as Dunas da Gal significou para o Tropicalismo: um oásis de liberdade, embora mais íntima, algo apenas entre Lô e Milton.

Milton, aliás, está sempre presente nos papos. Um ser agregador que bancou o nome do jovem e desconhecido Lô na capa do álbum lançado em 1972. Porém, cada vez mais recluso ou blindado nos últimos anos, mesmo antes da aposentadoria, o compositor não participou de nenhum encontro organizado para o filme.

Alaíde Costa, única voz feminina do primeiro álbum do Clube da Esquina na versão do samba Me Deixa Em Paz, também não é citada.

O documentário Nada Será Como Antes - A Música do Clube Da Esquina dá ainda uma pequena amostra do que pode vir quando pesquisadores, documentaristas e especialistas em música se debruçarem com o mesmo afinco em Clube da Esquina 2, álbum lançado em 1978, que, infortunadamente, ficou à sombra do primeiro volume.

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