Martin Scorsese tem sido duro ao bater na Marvel. Diz que os blockbusters de super-heróis são parques de diversões que não têm nada a ver com cinema. Scorsese está acima de qualquer suspeita quando, por meio da World Foundation, resgata não apenas os clássicos hollywoodianos, como obras raras do cinema mundial. Na sua Viagem pelo Cinema Norte-Americano, ele já destacava os ‘contrabandistas’, cineastas que, no interior das usinas de sonhos de Hollywood, faziam obra autoral. É pena que não consiga perceber que é o que fazem hoje muitos diretores que atuam na Marvel e DC. É o caso de Taika Waititi, cineasta neozelandês aclamado pelo seu Jojo Rabbit. Waititi havia feito Thor – Ragnarok e agora volta a acionar o universo dos deuses – e super-heróis – com outro Thor, Amor e Trovão. O que os Scorsese da vida ainda não captaram é que Waititi – assim como os Russo, James Gunn, Zack Snyder etc. – está usando essas sagas para formatar novas narrativas. Waititi mistura farsa, paródia, épico e até tragédia em Amor e Trovão. Mostra como Thor vira um bagaço após o rompimento com a Dra. Jane Foster, uma caricatura de si mesmo. Bêbado, barrigudo, encenando as próprias aventuras num teatro vagabundo, ele retoma a forma ao lutar, ao lado de Jane, contra um novo vilão matador de deuses.
Christian Bale é quem faz o papel, e virou essa figura sinistra – Gorr –, que ameaça o equilíbrio da galáxia ao perder a filha, na cena inicial. Torna-se vingativo e, ao se apossar da espada Necromonte, imbatível, ou quase. O próprio Thor vive uma crise. Jane está morrendo de câncer e, cada vez que usa o machado mítico, ele suga sua energia. A mensagem – blablablá – é que só o amor constrói. Waititi passa o filme inteiro brincando de super-herói para, no final, propor uma dimensão épica, trágica, à qual se segue outra euforia. O herói e sua nova aliada. Veja para saber quem é. Na fusão de gêneros, absurda, excessiva, mas também divertida, Waititi mostra que o que lhe interessa é o metacinema.
THOR: AMOR E TROVÃO
COTAÇÃO: BOM