Crítico da revista 'Teorema' seduz com as belas qualidades de seu longa 'Nós Duas Descendo a Escada'


Longa é assumidamente um filme de crítico

Por Luiz Carlos Merten

Filho de crítico – Enéas de Souza, que assina o texto sobre Limite, de Mário Peixoto, no livro Os 100 Melhores Filmes Brasileiros (leia acima) –, Fabiano de Souza é crítico, professor e cineasta. Com o pai, compartilha textos na revista Teorema. E foi adiante de Enéas, ao virar diretor. Há 50 e tantos anos, os críticos da nouvelle vague fizeram essa passagem – François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer. Fabiano de Souza é cria desses caras. Romântico, desconfia do romantismo, como Truffaut. Cinéfilo, destila preferências e referências, como Godard. E como Rohmer desenvolve um modelo de cinema barato, feito com equipe reduzida – tanto atores como técnicos.

Todo esse parágrafo é para apresentar Fabiano de Souza para quem não viu A Última Estrada da Praia em 2011 ou não conhece seus textos da Teorema. Fabiano dirige Duas Descendo a Escada, que estreou na quinta, 8. Mesmo com risco de simplificação, o filme tem uma pegada de Azul É a Cor Mais Quente. Seria – é – A Vida de Adèle gaúcho. Narra uma história de amor entre mulheres, Adri e Mona. A primeira é uma jovem com a cabeça cheia de sonhos. Projeta-os na persona forte da segunda. A partir daí, o fantasma de Adri é a solidão – o estar longe de Mona. Fabiano de Souza não é Abedallatif Kechiche, Miriã Possani não é Adèle Axarchopoulos, Carina Dias não é Léa Seydoux. O filme é brasileiro, e gaúcho. Não tem a França e sua cultura por trás. O sul-coreano Hong Sang-soo é a prova de que se pode fazer cinema francês, no embalo da nova onda, na distante Ásia. Por que não no Rio Grande do Sul?

Talvez, se alguém quiser buscar o defeito de Duas Descendo a Escada, seja o fato de ser, tão assumidamente, um filme de crítico. Isso o transforma num biscoito fino, como eram os filmes de Rohmer, como são os de Sang-soo. Kechiche é mais visceral, põe na tela sua condição de autor magrebino – e todo mundo sabe como os descendentes de africanos tendem a ser excluídos na França que convive mal com seu passado colonial. Tem gente que diz, meio brincando meio verdade, que o Rio Grande é outro país encravado no Brasil. No Rio Grande historicamente positivista, a França sempre foi uma espécie de farol, como sabem os leitores de Erico Verissimo e sua saga monumental, O Tempo e o Vento.

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Existem ecos de Godard, citações de Carlos Reichenbach e até de Michael Curtiz – o clássico romântico Casablanca. Distante do cinema experimental celebrado na Mostra de Tiradentes, se Fabiano dialoga com a produção brasileira recente é com um filme que foi feito simultaneamente com o dele, Amores Urbanos, de Vera Egito, e portanto não se pode dizer que um copiou o outro. É um cinema contemporâneo, urbano. O título? Tem a ver com Marcel Duchamps, Nu Descendo a Escada, clássico modernista (uma contradição em termos) que capta o movimento por meio de formas abstratas. Fabiano de Souza não deixa de estar construindo, em Porto Alegre, uma nova vanguarda do cinema brasileiro. 

Filho de crítico – Enéas de Souza, que assina o texto sobre Limite, de Mário Peixoto, no livro Os 100 Melhores Filmes Brasileiros (leia acima) –, Fabiano de Souza é crítico, professor e cineasta. Com o pai, compartilha textos na revista Teorema. E foi adiante de Enéas, ao virar diretor. Há 50 e tantos anos, os críticos da nouvelle vague fizeram essa passagem – François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer. Fabiano de Souza é cria desses caras. Romântico, desconfia do romantismo, como Truffaut. Cinéfilo, destila preferências e referências, como Godard. E como Rohmer desenvolve um modelo de cinema barato, feito com equipe reduzida – tanto atores como técnicos.

Todo esse parágrafo é para apresentar Fabiano de Souza para quem não viu A Última Estrada da Praia em 2011 ou não conhece seus textos da Teorema. Fabiano dirige Duas Descendo a Escada, que estreou na quinta, 8. Mesmo com risco de simplificação, o filme tem uma pegada de Azul É a Cor Mais Quente. Seria – é – A Vida de Adèle gaúcho. Narra uma história de amor entre mulheres, Adri e Mona. A primeira é uma jovem com a cabeça cheia de sonhos. Projeta-os na persona forte da segunda. A partir daí, o fantasma de Adri é a solidão – o estar longe de Mona. Fabiano de Souza não é Abedallatif Kechiche, Miriã Possani não é Adèle Axarchopoulos, Carina Dias não é Léa Seydoux. O filme é brasileiro, e gaúcho. Não tem a França e sua cultura por trás. O sul-coreano Hong Sang-soo é a prova de que se pode fazer cinema francês, no embalo da nova onda, na distante Ásia. Por que não no Rio Grande do Sul?

Talvez, se alguém quiser buscar o defeito de Duas Descendo a Escada, seja o fato de ser, tão assumidamente, um filme de crítico. Isso o transforma num biscoito fino, como eram os filmes de Rohmer, como são os de Sang-soo. Kechiche é mais visceral, põe na tela sua condição de autor magrebino – e todo mundo sabe como os descendentes de africanos tendem a ser excluídos na França que convive mal com seu passado colonial. Tem gente que diz, meio brincando meio verdade, que o Rio Grande é outro país encravado no Brasil. No Rio Grande historicamente positivista, a França sempre foi uma espécie de farol, como sabem os leitores de Erico Verissimo e sua saga monumental, O Tempo e o Vento.

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Existem ecos de Godard, citações de Carlos Reichenbach e até de Michael Curtiz – o clássico romântico Casablanca. Distante do cinema experimental celebrado na Mostra de Tiradentes, se Fabiano dialoga com a produção brasileira recente é com um filme que foi feito simultaneamente com o dele, Amores Urbanos, de Vera Egito, e portanto não se pode dizer que um copiou o outro. É um cinema contemporâneo, urbano. O título? Tem a ver com Marcel Duchamps, Nu Descendo a Escada, clássico modernista (uma contradição em termos) que capta o movimento por meio de formas abstratas. Fabiano de Souza não deixa de estar construindo, em Porto Alegre, uma nova vanguarda do cinema brasileiro. 

Filho de crítico – Enéas de Souza, que assina o texto sobre Limite, de Mário Peixoto, no livro Os 100 Melhores Filmes Brasileiros (leia acima) –, Fabiano de Souza é crítico, professor e cineasta. Com o pai, compartilha textos na revista Teorema. E foi adiante de Enéas, ao virar diretor. Há 50 e tantos anos, os críticos da nouvelle vague fizeram essa passagem – François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer. Fabiano de Souza é cria desses caras. Romântico, desconfia do romantismo, como Truffaut. Cinéfilo, destila preferências e referências, como Godard. E como Rohmer desenvolve um modelo de cinema barato, feito com equipe reduzida – tanto atores como técnicos.

Todo esse parágrafo é para apresentar Fabiano de Souza para quem não viu A Última Estrada da Praia em 2011 ou não conhece seus textos da Teorema. Fabiano dirige Duas Descendo a Escada, que estreou na quinta, 8. Mesmo com risco de simplificação, o filme tem uma pegada de Azul É a Cor Mais Quente. Seria – é – A Vida de Adèle gaúcho. Narra uma história de amor entre mulheres, Adri e Mona. A primeira é uma jovem com a cabeça cheia de sonhos. Projeta-os na persona forte da segunda. A partir daí, o fantasma de Adri é a solidão – o estar longe de Mona. Fabiano de Souza não é Abedallatif Kechiche, Miriã Possani não é Adèle Axarchopoulos, Carina Dias não é Léa Seydoux. O filme é brasileiro, e gaúcho. Não tem a França e sua cultura por trás. O sul-coreano Hong Sang-soo é a prova de que se pode fazer cinema francês, no embalo da nova onda, na distante Ásia. Por que não no Rio Grande do Sul?

Talvez, se alguém quiser buscar o defeito de Duas Descendo a Escada, seja o fato de ser, tão assumidamente, um filme de crítico. Isso o transforma num biscoito fino, como eram os filmes de Rohmer, como são os de Sang-soo. Kechiche é mais visceral, põe na tela sua condição de autor magrebino – e todo mundo sabe como os descendentes de africanos tendem a ser excluídos na França que convive mal com seu passado colonial. Tem gente que diz, meio brincando meio verdade, que o Rio Grande é outro país encravado no Brasil. No Rio Grande historicamente positivista, a França sempre foi uma espécie de farol, como sabem os leitores de Erico Verissimo e sua saga monumental, O Tempo e o Vento.

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Existem ecos de Godard, citações de Carlos Reichenbach e até de Michael Curtiz – o clássico romântico Casablanca. Distante do cinema experimental celebrado na Mostra de Tiradentes, se Fabiano dialoga com a produção brasileira recente é com um filme que foi feito simultaneamente com o dele, Amores Urbanos, de Vera Egito, e portanto não se pode dizer que um copiou o outro. É um cinema contemporâneo, urbano. O título? Tem a ver com Marcel Duchamps, Nu Descendo a Escada, clássico modernista (uma contradição em termos) que capta o movimento por meio de formas abstratas. Fabiano de Souza não deixa de estar construindo, em Porto Alegre, uma nova vanguarda do cinema brasileiro. 

Filho de crítico – Enéas de Souza, que assina o texto sobre Limite, de Mário Peixoto, no livro Os 100 Melhores Filmes Brasileiros (leia acima) –, Fabiano de Souza é crítico, professor e cineasta. Com o pai, compartilha textos na revista Teorema. E foi adiante de Enéas, ao virar diretor. Há 50 e tantos anos, os críticos da nouvelle vague fizeram essa passagem – François Truffaut, Jean-Luc Godard, Eric Rohmer. Fabiano de Souza é cria desses caras. Romântico, desconfia do romantismo, como Truffaut. Cinéfilo, destila preferências e referências, como Godard. E como Rohmer desenvolve um modelo de cinema barato, feito com equipe reduzida – tanto atores como técnicos.

Todo esse parágrafo é para apresentar Fabiano de Souza para quem não viu A Última Estrada da Praia em 2011 ou não conhece seus textos da Teorema. Fabiano dirige Duas Descendo a Escada, que estreou na quinta, 8. Mesmo com risco de simplificação, o filme tem uma pegada de Azul É a Cor Mais Quente. Seria – é – A Vida de Adèle gaúcho. Narra uma história de amor entre mulheres, Adri e Mona. A primeira é uma jovem com a cabeça cheia de sonhos. Projeta-os na persona forte da segunda. A partir daí, o fantasma de Adri é a solidão – o estar longe de Mona. Fabiano de Souza não é Abedallatif Kechiche, Miriã Possani não é Adèle Axarchopoulos, Carina Dias não é Léa Seydoux. O filme é brasileiro, e gaúcho. Não tem a França e sua cultura por trás. O sul-coreano Hong Sang-soo é a prova de que se pode fazer cinema francês, no embalo da nova onda, na distante Ásia. Por que não no Rio Grande do Sul?

Talvez, se alguém quiser buscar o defeito de Duas Descendo a Escada, seja o fato de ser, tão assumidamente, um filme de crítico. Isso o transforma num biscoito fino, como eram os filmes de Rohmer, como são os de Sang-soo. Kechiche é mais visceral, põe na tela sua condição de autor magrebino – e todo mundo sabe como os descendentes de africanos tendem a ser excluídos na França que convive mal com seu passado colonial. Tem gente que diz, meio brincando meio verdade, que o Rio Grande é outro país encravado no Brasil. No Rio Grande historicamente positivista, a França sempre foi uma espécie de farol, como sabem os leitores de Erico Verissimo e sua saga monumental, O Tempo e o Vento.

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Existem ecos de Godard, citações de Carlos Reichenbach e até de Michael Curtiz – o clássico romântico Casablanca. Distante do cinema experimental celebrado na Mostra de Tiradentes, se Fabiano dialoga com a produção brasileira recente é com um filme que foi feito simultaneamente com o dele, Amores Urbanos, de Vera Egito, e portanto não se pode dizer que um copiou o outro. É um cinema contemporâneo, urbano. O título? Tem a ver com Marcel Duchamps, Nu Descendo a Escada, clássico modernista (uma contradição em termos) que capta o movimento por meio de formas abstratas. Fabiano de Souza não deixa de estar construindo, em Porto Alegre, uma nova vanguarda do cinema brasileiro. 

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