Diretor Walter Carvalho faz a travessia entre as classes sociais


Com 'Brincante', ele se inspira nas artes plásticas para reconstruir o universo onírico em um longa feito para o olhar

Por Luiz Carlos Merten

Walter Carvalho começou no cinema, influenciado pelo irmão, Vladimir Carvalho, pela via do documentário. Por isso mesmo, ele diz que suas ficções são impregnadas pelo documentário, mas, inversamente, todos os seus documentários têm um pouco de ficção. O caso de Brincante é exemplar. Para ele, o filme não deixa de ser um documentário sobre Antônio Nóbrega, sobre a tensão de sua musculatura que deixava o diretor louco. “Preciso captar isso”, ele dizia para si mesmo. Mas é uma ficção porque Carvalho está contando uma história – a de um artista que quer fazer a travessia das classes sociais e das gerações para abraçar seu povo.

Por isso mesmo, Walter Carvalho fica triste com algumas observações que lhe faz o repórter. O filme é muito bonito, muito bem produzido e realizado, mas as coreografias das cenas de dança – Nóbrega e sua trupe na cidade – parecem uma versão um tanto requentada de West Side Story/Amor Sublime Amor, de Robert Wise e Jerome Robbins, mais de 50 anos depois. “Todo filme assimila influências. Certamente não quisemos recriar aquele filme, mas ele está no seu imaginário e, por isso, você vê o nosso desse jeito”, reflete o diretor.

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A outra observação lhe parece mais penosa ainda. Nóbrega, quando dança, muitas vezes, coloca-se num plano de superioridade, acima das pessoas ao seu redor. Por exemplo, ele dança sobre paradas de ônibus, acima de tudo e todos. Não será isso uma idealização e até elitização do artista? Iria contra o trabalho do Nóbrega, que é todo ele uma pesquisa de raiz e um desejo de abraçar o ser humano. Num desses delírios megalômanos de diretor, queria filmá-lo no domo do Ibirapuera, mas não para elitizar. “Nóbrega é do povo, ele é povo. A ciranda que ele arma na Paulista, na parte aberta do Masp, é a prova”, diz o diretor.

Na sua carreira de cineasta, diretor de fotografia e fotógrafo – está lançando um livro que ilumina essa faceta do seu talento –, Walter Carvalho tem feito ficções como Cazuza e Budapeste, documentários como Moacir Arte Bruta e agora Brincante, que ele enquadra, um pouco a contragosto, nessa categoria. “É que tem muito de ficção”, esclarece. Todo o circo tem um componente artificial que Carvalho assume. “Meu cinema conecta-se com as artes plásticas, para mim, é um trem cinema, viajando entre formas de expressão.” E ele conta uma história. “Uma vez, estava filmando numa praça com outro diretor. A cena armada, um ciclista furou o bloqueio e avançou. O diretor ficou p... Para mim, foi a revelação de algo que já intuía. Aquele ciclista era a única coisa real na cena.”

Antes que Carvalho fizesse seu filme, outros diretores (Walter Salles, Cacá Diegues, Luiz Fernando Carvalho) já haviam conversado com Nóbrega. Walter Carvalho quer ir além dos olhos com seu Brincante. A noite é artificialmente estrelada, o carro do artista parece de brinquedo em muitas tomadas. Só que, mais do que música e dança para os olhos, Carvalho quis fazer um filme para o olhar. Toda a relação do artista com a velha, toda a vontade de Nóbrega, que ele assume, de contar uma história que mistura personagens de seus espetáculos. 

Walter Carvalho começou no cinema, influenciado pelo irmão, Vladimir Carvalho, pela via do documentário. Por isso mesmo, ele diz que suas ficções são impregnadas pelo documentário, mas, inversamente, todos os seus documentários têm um pouco de ficção. O caso de Brincante é exemplar. Para ele, o filme não deixa de ser um documentário sobre Antônio Nóbrega, sobre a tensão de sua musculatura que deixava o diretor louco. “Preciso captar isso”, ele dizia para si mesmo. Mas é uma ficção porque Carvalho está contando uma história – a de um artista que quer fazer a travessia das classes sociais e das gerações para abraçar seu povo.

Por isso mesmo, Walter Carvalho fica triste com algumas observações que lhe faz o repórter. O filme é muito bonito, muito bem produzido e realizado, mas as coreografias das cenas de dança – Nóbrega e sua trupe na cidade – parecem uma versão um tanto requentada de West Side Story/Amor Sublime Amor, de Robert Wise e Jerome Robbins, mais de 50 anos depois. “Todo filme assimila influências. Certamente não quisemos recriar aquele filme, mas ele está no seu imaginário e, por isso, você vê o nosso desse jeito”, reflete o diretor.

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A outra observação lhe parece mais penosa ainda. Nóbrega, quando dança, muitas vezes, coloca-se num plano de superioridade, acima das pessoas ao seu redor. Por exemplo, ele dança sobre paradas de ônibus, acima de tudo e todos. Não será isso uma idealização e até elitização do artista? Iria contra o trabalho do Nóbrega, que é todo ele uma pesquisa de raiz e um desejo de abraçar o ser humano. Num desses delírios megalômanos de diretor, queria filmá-lo no domo do Ibirapuera, mas não para elitizar. “Nóbrega é do povo, ele é povo. A ciranda que ele arma na Paulista, na parte aberta do Masp, é a prova”, diz o diretor.

Na sua carreira de cineasta, diretor de fotografia e fotógrafo – está lançando um livro que ilumina essa faceta do seu talento –, Walter Carvalho tem feito ficções como Cazuza e Budapeste, documentários como Moacir Arte Bruta e agora Brincante, que ele enquadra, um pouco a contragosto, nessa categoria. “É que tem muito de ficção”, esclarece. Todo o circo tem um componente artificial que Carvalho assume. “Meu cinema conecta-se com as artes plásticas, para mim, é um trem cinema, viajando entre formas de expressão.” E ele conta uma história. “Uma vez, estava filmando numa praça com outro diretor. A cena armada, um ciclista furou o bloqueio e avançou. O diretor ficou p... Para mim, foi a revelação de algo que já intuía. Aquele ciclista era a única coisa real na cena.”

Antes que Carvalho fizesse seu filme, outros diretores (Walter Salles, Cacá Diegues, Luiz Fernando Carvalho) já haviam conversado com Nóbrega. Walter Carvalho quer ir além dos olhos com seu Brincante. A noite é artificialmente estrelada, o carro do artista parece de brinquedo em muitas tomadas. Só que, mais do que música e dança para os olhos, Carvalho quis fazer um filme para o olhar. Toda a relação do artista com a velha, toda a vontade de Nóbrega, que ele assume, de contar uma história que mistura personagens de seus espetáculos. 

Walter Carvalho começou no cinema, influenciado pelo irmão, Vladimir Carvalho, pela via do documentário. Por isso mesmo, ele diz que suas ficções são impregnadas pelo documentário, mas, inversamente, todos os seus documentários têm um pouco de ficção. O caso de Brincante é exemplar. Para ele, o filme não deixa de ser um documentário sobre Antônio Nóbrega, sobre a tensão de sua musculatura que deixava o diretor louco. “Preciso captar isso”, ele dizia para si mesmo. Mas é uma ficção porque Carvalho está contando uma história – a de um artista que quer fazer a travessia das classes sociais e das gerações para abraçar seu povo.

Por isso mesmo, Walter Carvalho fica triste com algumas observações que lhe faz o repórter. O filme é muito bonito, muito bem produzido e realizado, mas as coreografias das cenas de dança – Nóbrega e sua trupe na cidade – parecem uma versão um tanto requentada de West Side Story/Amor Sublime Amor, de Robert Wise e Jerome Robbins, mais de 50 anos depois. “Todo filme assimila influências. Certamente não quisemos recriar aquele filme, mas ele está no seu imaginário e, por isso, você vê o nosso desse jeito”, reflete o diretor.

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A outra observação lhe parece mais penosa ainda. Nóbrega, quando dança, muitas vezes, coloca-se num plano de superioridade, acima das pessoas ao seu redor. Por exemplo, ele dança sobre paradas de ônibus, acima de tudo e todos. Não será isso uma idealização e até elitização do artista? Iria contra o trabalho do Nóbrega, que é todo ele uma pesquisa de raiz e um desejo de abraçar o ser humano. Num desses delírios megalômanos de diretor, queria filmá-lo no domo do Ibirapuera, mas não para elitizar. “Nóbrega é do povo, ele é povo. A ciranda que ele arma na Paulista, na parte aberta do Masp, é a prova”, diz o diretor.

Na sua carreira de cineasta, diretor de fotografia e fotógrafo – está lançando um livro que ilumina essa faceta do seu talento –, Walter Carvalho tem feito ficções como Cazuza e Budapeste, documentários como Moacir Arte Bruta e agora Brincante, que ele enquadra, um pouco a contragosto, nessa categoria. “É que tem muito de ficção”, esclarece. Todo o circo tem um componente artificial que Carvalho assume. “Meu cinema conecta-se com as artes plásticas, para mim, é um trem cinema, viajando entre formas de expressão.” E ele conta uma história. “Uma vez, estava filmando numa praça com outro diretor. A cena armada, um ciclista furou o bloqueio e avançou. O diretor ficou p... Para mim, foi a revelação de algo que já intuía. Aquele ciclista era a única coisa real na cena.”

Antes que Carvalho fizesse seu filme, outros diretores (Walter Salles, Cacá Diegues, Luiz Fernando Carvalho) já haviam conversado com Nóbrega. Walter Carvalho quer ir além dos olhos com seu Brincante. A noite é artificialmente estrelada, o carro do artista parece de brinquedo em muitas tomadas. Só que, mais do que música e dança para os olhos, Carvalho quis fazer um filme para o olhar. Toda a relação do artista com a velha, toda a vontade de Nóbrega, que ele assume, de contar uma história que mistura personagens de seus espetáculos. 

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