Adriana L. Dutra realiza, nos EUA, o Festival do Cinema Brasileiro de Miami. O evento tem patrocínio do próprio governo da Flórida. Adriana mora no Brasil. Ela apresentou seu novo longa, Sociedade do Medo, na Première Brasil, do Festival do Rio. Sociedade do Medo está em cartaz nos cinemas, estreou no dia 20. Adriana tem sido a cobaia em torno da qual constrói seu cinema. Em 2008, querendo deixar de fumar, realizou o primeiro doc do que virou trilogia. Fumando Espero, sobre a indústria tabagista. Diante da aceleração da internet, que passou a mudar a relação das pessoas entre elas e com seu entorno, fez Quanto Tempo o Tempo Tem?, em 2015. E, agora, Sociedade do Medo.
“Queria entender o que se passa no mundo, e na cabeça das pessoas. Há um discurso de medo ao qual as pessoas estão sendo induzidas a responder com ódio. Queria entender como a paranoia está levando ao fortalecimento de uma mentalidade de extrema direita. É um fenômeno mundial que encontrou campo fértil no Brasil”, explica. Para entender como isso se deu - como se dá -, Adriana muniu-se da câmera e saiu fazendo o que gosta. Entrevistou pessoas - pensadores. Pensadoras. Para fugir ao formato das cabeças falantes, desenvolveu um recurso interessante.
Os entrevistados falam para a câmera no próprio ambiente. Avançam para o set que ela monta na casa, ou escritório, deles. Figuras como David Carroll, Jason Stanley, Francis Wolff. Entre os brasileiros, dão seu testemunho o padre Sílvio Lancelotti, Ailton Krenak e Ivana Bentes.
Krenak, líder indígena, ambientalista, poeta, escritor, filósofo e um grande etc., expõe diante da câmera suas ideias para adiar o fim do mundo. “Não vamos dar spoiler, mas desde que falei com ele sabia que iria utilizar o que diz como fecho.” O grande diferencial de Sociedade do Medo em relação aos documentários anteriores virou processo. “No meio da produção ocorreu a pandemia, com tudo o que teve/tem de restritivo. Resolvi incorporar à minha narrativa.”
É um filme forte, corajoso. Talvez vire a terceira parte do que agora Adriana pensa como tetralogia. “Meu próximo doc será para debater ciência e tecnologia. O homem-máquina, o homem-deus.” E lá se vai ela, daqui a pouco, colocar o pé na estrada, de novo.