Opinião|‘É Assim que Acaba’, com Blake Lively, aborda grandes questões, mas acaba virando novela


Longa tenta equilibrar a realidade da violência doméstica com uma comédia romântica e um filme de empoderamento feminino. Mas não dá muito certo

Por Mark Kennedy - AP
Atualização:

Lily Bloom e Ryle Kincaid não se conhecem numa situação muito romântica. Ele se anuncia chutando com raiva uma cadeira de um restaurante rooftop em Boston. Ela está lá em cima tentando lidar com a morte de seu pai abusivo. Eles falam sobre cerejas, violência armada e flertam. Tem algo estranho no ar. Mas também tem muita atração.

Assim começa a irregular adaptação cinematográfica do best-seller homônimo de Colleen Hoover, de 2016. O longa estrelado por Blake Lively tenta equilibrar a realidade da violência doméstica com uma comédia romântica e um filme de empoderamento feminino. Mas não dá muito certo.

Blake Lively e Justin Baldoni em 'É Assim que Acaba' Foto: Sony Pictures
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O filme passa perto demais do melodrama, com suicídio, pessoas sem moradia, traumas geracionais, assassinato de crianças, gravidez indesejada e amor nunca esquecido - tudo mencionado, mas não desenvolvido. Ambientada em Boston, a história não chega a se inspirar na atmosfera da cidade.

O filme se centra na Lily de Lively, dona de uma loja de flores que se vê no meio de um complicado triângulo amoroso entre o neurocirurgião bonitão Ryle - Justin Baldoni, que também dirige - e seu namoradinho de escola bonitão, Atlas, interpretado com a fofura de um cachorrinho de estimação por Brandon Sklenar.

Sentimos alguns sinais de alerta em torno de Ryle, mas eles só ficam evidentes quando os vemos todos juntos, o que leva, literalmente, anos. Mérito dos cineastas por não terem simplificado a identificação de um possível agressor.

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O aspecto mais poderoso de É Assim que Acaba são os efeitos da violência doméstica e como eles desestabilizam as pessoas que a testemunham ou sobrevivem a ela. Isso poderia ter sido mais reforçado ou destacado. (Os créditos finais direcionam os espectadores para o grupo de combate à violência doméstica No More).

Baldoni equilibra perfeitamente a ameaça e a sedução, operando na zona entre o assertivo e o psicótico. E sua direção é boa, capaz de enxugar as cenas e mover a trama com elegância, embora tenha uma queda por montagens musicais.

Lively está muito bem aqui, aproximando-se perigosamente da Manic Pixie Dream Girl com seus arranjos florais e seu amor pelo chique romântico, mas cresce no final. Ela usa anéis e flores demais, mas também consegue impressionar com um vestido decotado.

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O roteiro de Christy Hall tem algumas passagens terríveis - “Esse cara passa por cima das mulheres como se elas fossem doces”, diz alguém em determinado momento - mas contorna bem os pontos esquisitos do livro, como fazer do funeral do pai de Lily um flashback, em vez de uma festa estranha.

O problema é que É Assim que Acaba não termina rápido o bastante - as mais de duas horas se arrastam - com tangentes e edição ruim, como cortes repentinos que deixam os espectadores sem saber muito bem o que está acontecendo.

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E depois ficamos com muitas perguntas. Por exemplo: como a personagem de Lively foi parar no rooftop daquele prédio de luxo? E qual é a da melhor amiga de Lily - Jenny Slate, claramente roubando o filme - que usa vestidos Valentino e tem uma bolsa que custa mais do que um carro popular? Ela com certeza não precisa de emprego nenhum, mas trabalha na floricultura mesmo assim?

E que relação estranha é aquela com a Carhartt? Fique de olho no logotipo que aparece e desaparece de jaquetas e macacões, aparentemente tentando apresentar as pessoas que vestem a marca como gente da classe trabalhadora, quando na verdade não são.

Acho que a adoração do filme pela riqueza e pelo luxo - de carros Mercedes a apartamentos de milhões de dólares e reservas para jantares sofisticados - é uma tentativa de mostrar que a violência doméstica não se limita a fábricas e bares que ficam com a TV ligada no futebol.

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O mais engraçado é que Lily claramente tem um tipo predileto: seus dois amantes são caras morenos e sarados que gostam de camisetas pretas e justas, deixam a barba por fazer e têm verdadeira adoração por ela. Quando eles brigam - e eles brigam mesmo - é bem difícil dizer quem é quem.

A trilha sonora explosiva - com Dawn Chorus, de Thom Yorke, Love the Hell Out of You, de Lewis Capaldi, e I Don’t, de Brittany Howard - tem a presença inegável da melhor amiga de Lively, Taylor Swift, que emprestou sua My Tears Ricochet.

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Quando Lily e Ryle finalmente ficam pela primeira vez, ela o adverte: “Não deixe que eu me arrependa disso”. Ela vai se arrepender, claro. E algumas outras pessoas que fazem parte desse filme também vão.

É Assim que Acaba, lançamento da Sony Pictures que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 8, tem classificação indicativa de 13 anos por “violência doméstica, conteúdo sexual e linguagem forte”. Duração: 130 minutos. Uma estrela e meia de quatro estrelas. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Lily Bloom e Ryle Kincaid não se conhecem numa situação muito romântica. Ele se anuncia chutando com raiva uma cadeira de um restaurante rooftop em Boston. Ela está lá em cima tentando lidar com a morte de seu pai abusivo. Eles falam sobre cerejas, violência armada e flertam. Tem algo estranho no ar. Mas também tem muita atração.

Assim começa a irregular adaptação cinematográfica do best-seller homônimo de Colleen Hoover, de 2016. O longa estrelado por Blake Lively tenta equilibrar a realidade da violência doméstica com uma comédia romântica e um filme de empoderamento feminino. Mas não dá muito certo.

Blake Lively e Justin Baldoni em 'É Assim que Acaba' Foto: Sony Pictures

O filme passa perto demais do melodrama, com suicídio, pessoas sem moradia, traumas geracionais, assassinato de crianças, gravidez indesejada e amor nunca esquecido - tudo mencionado, mas não desenvolvido. Ambientada em Boston, a história não chega a se inspirar na atmosfera da cidade.

O filme se centra na Lily de Lively, dona de uma loja de flores que se vê no meio de um complicado triângulo amoroso entre o neurocirurgião bonitão Ryle - Justin Baldoni, que também dirige - e seu namoradinho de escola bonitão, Atlas, interpretado com a fofura de um cachorrinho de estimação por Brandon Sklenar.

Sentimos alguns sinais de alerta em torno de Ryle, mas eles só ficam evidentes quando os vemos todos juntos, o que leva, literalmente, anos. Mérito dos cineastas por não terem simplificado a identificação de um possível agressor.

O aspecto mais poderoso de É Assim que Acaba são os efeitos da violência doméstica e como eles desestabilizam as pessoas que a testemunham ou sobrevivem a ela. Isso poderia ter sido mais reforçado ou destacado. (Os créditos finais direcionam os espectadores para o grupo de combate à violência doméstica No More).

Baldoni equilibra perfeitamente a ameaça e a sedução, operando na zona entre o assertivo e o psicótico. E sua direção é boa, capaz de enxugar as cenas e mover a trama com elegância, embora tenha uma queda por montagens musicais.

Lively está muito bem aqui, aproximando-se perigosamente da Manic Pixie Dream Girl com seus arranjos florais e seu amor pelo chique romântico, mas cresce no final. Ela usa anéis e flores demais, mas também consegue impressionar com um vestido decotado.

O roteiro de Christy Hall tem algumas passagens terríveis - “Esse cara passa por cima das mulheres como se elas fossem doces”, diz alguém em determinado momento - mas contorna bem os pontos esquisitos do livro, como fazer do funeral do pai de Lily um flashback, em vez de uma festa estranha.

O problema é que É Assim que Acaba não termina rápido o bastante - as mais de duas horas se arrastam - com tangentes e edição ruim, como cortes repentinos que deixam os espectadores sem saber muito bem o que está acontecendo.

E depois ficamos com muitas perguntas. Por exemplo: como a personagem de Lively foi parar no rooftop daquele prédio de luxo? E qual é a da melhor amiga de Lily - Jenny Slate, claramente roubando o filme - que usa vestidos Valentino e tem uma bolsa que custa mais do que um carro popular? Ela com certeza não precisa de emprego nenhum, mas trabalha na floricultura mesmo assim?

E que relação estranha é aquela com a Carhartt? Fique de olho no logotipo que aparece e desaparece de jaquetas e macacões, aparentemente tentando apresentar as pessoas que vestem a marca como gente da classe trabalhadora, quando na verdade não são.

Acho que a adoração do filme pela riqueza e pelo luxo - de carros Mercedes a apartamentos de milhões de dólares e reservas para jantares sofisticados - é uma tentativa de mostrar que a violência doméstica não se limita a fábricas e bares que ficam com a TV ligada no futebol.

O mais engraçado é que Lily claramente tem um tipo predileto: seus dois amantes são caras morenos e sarados que gostam de camisetas pretas e justas, deixam a barba por fazer e têm verdadeira adoração por ela. Quando eles brigam - e eles brigam mesmo - é bem difícil dizer quem é quem.

A trilha sonora explosiva - com Dawn Chorus, de Thom Yorke, Love the Hell Out of You, de Lewis Capaldi, e I Don’t, de Brittany Howard - tem a presença inegável da melhor amiga de Lively, Taylor Swift, que emprestou sua My Tears Ricochet.

Quando Lily e Ryle finalmente ficam pela primeira vez, ela o adverte: “Não deixe que eu me arrependa disso”. Ela vai se arrepender, claro. E algumas outras pessoas que fazem parte desse filme também vão.

É Assim que Acaba, lançamento da Sony Pictures que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 8, tem classificação indicativa de 13 anos por “violência doméstica, conteúdo sexual e linguagem forte”. Duração: 130 minutos. Uma estrela e meia de quatro estrelas. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Lily Bloom e Ryle Kincaid não se conhecem numa situação muito romântica. Ele se anuncia chutando com raiva uma cadeira de um restaurante rooftop em Boston. Ela está lá em cima tentando lidar com a morte de seu pai abusivo. Eles falam sobre cerejas, violência armada e flertam. Tem algo estranho no ar. Mas também tem muita atração.

Assim começa a irregular adaptação cinematográfica do best-seller homônimo de Colleen Hoover, de 2016. O longa estrelado por Blake Lively tenta equilibrar a realidade da violência doméstica com uma comédia romântica e um filme de empoderamento feminino. Mas não dá muito certo.

Blake Lively e Justin Baldoni em 'É Assim que Acaba' Foto: Sony Pictures

O filme passa perto demais do melodrama, com suicídio, pessoas sem moradia, traumas geracionais, assassinato de crianças, gravidez indesejada e amor nunca esquecido - tudo mencionado, mas não desenvolvido. Ambientada em Boston, a história não chega a se inspirar na atmosfera da cidade.

O filme se centra na Lily de Lively, dona de uma loja de flores que se vê no meio de um complicado triângulo amoroso entre o neurocirurgião bonitão Ryle - Justin Baldoni, que também dirige - e seu namoradinho de escola bonitão, Atlas, interpretado com a fofura de um cachorrinho de estimação por Brandon Sklenar.

Sentimos alguns sinais de alerta em torno de Ryle, mas eles só ficam evidentes quando os vemos todos juntos, o que leva, literalmente, anos. Mérito dos cineastas por não terem simplificado a identificação de um possível agressor.

O aspecto mais poderoso de É Assim que Acaba são os efeitos da violência doméstica e como eles desestabilizam as pessoas que a testemunham ou sobrevivem a ela. Isso poderia ter sido mais reforçado ou destacado. (Os créditos finais direcionam os espectadores para o grupo de combate à violência doméstica No More).

Baldoni equilibra perfeitamente a ameaça e a sedução, operando na zona entre o assertivo e o psicótico. E sua direção é boa, capaz de enxugar as cenas e mover a trama com elegância, embora tenha uma queda por montagens musicais.

Lively está muito bem aqui, aproximando-se perigosamente da Manic Pixie Dream Girl com seus arranjos florais e seu amor pelo chique romântico, mas cresce no final. Ela usa anéis e flores demais, mas também consegue impressionar com um vestido decotado.

O roteiro de Christy Hall tem algumas passagens terríveis - “Esse cara passa por cima das mulheres como se elas fossem doces”, diz alguém em determinado momento - mas contorna bem os pontos esquisitos do livro, como fazer do funeral do pai de Lily um flashback, em vez de uma festa estranha.

O problema é que É Assim que Acaba não termina rápido o bastante - as mais de duas horas se arrastam - com tangentes e edição ruim, como cortes repentinos que deixam os espectadores sem saber muito bem o que está acontecendo.

E depois ficamos com muitas perguntas. Por exemplo: como a personagem de Lively foi parar no rooftop daquele prédio de luxo? E qual é a da melhor amiga de Lily - Jenny Slate, claramente roubando o filme - que usa vestidos Valentino e tem uma bolsa que custa mais do que um carro popular? Ela com certeza não precisa de emprego nenhum, mas trabalha na floricultura mesmo assim?

E que relação estranha é aquela com a Carhartt? Fique de olho no logotipo que aparece e desaparece de jaquetas e macacões, aparentemente tentando apresentar as pessoas que vestem a marca como gente da classe trabalhadora, quando na verdade não são.

Acho que a adoração do filme pela riqueza e pelo luxo - de carros Mercedes a apartamentos de milhões de dólares e reservas para jantares sofisticados - é uma tentativa de mostrar que a violência doméstica não se limita a fábricas e bares que ficam com a TV ligada no futebol.

O mais engraçado é que Lily claramente tem um tipo predileto: seus dois amantes são caras morenos e sarados que gostam de camisetas pretas e justas, deixam a barba por fazer e têm verdadeira adoração por ela. Quando eles brigam - e eles brigam mesmo - é bem difícil dizer quem é quem.

A trilha sonora explosiva - com Dawn Chorus, de Thom Yorke, Love the Hell Out of You, de Lewis Capaldi, e I Don’t, de Brittany Howard - tem a presença inegável da melhor amiga de Lively, Taylor Swift, que emprestou sua My Tears Ricochet.

Quando Lily e Ryle finalmente ficam pela primeira vez, ela o adverte: “Não deixe que eu me arrependa disso”. Ela vai se arrepender, claro. E algumas outras pessoas que fazem parte desse filme também vão.

É Assim que Acaba, lançamento da Sony Pictures que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira, 8, tem classificação indicativa de 13 anos por “violência doméstica, conteúdo sexual e linguagem forte”. Duração: 130 minutos. Uma estrela e meia de quatro estrelas. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Opinião por Mark Kennedy - AP

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