Eve Hewson está sempre sendo descoberta.
A atriz irlandesa, cujos créditos remontam a 2008, começou a gerar burburinho em 2014, por sua atuação como uma jovem enfermeira reservada no drama de época The Knick, de Steven Soderbergh. Em 2021, sua performance como a esposa sinistra e emocionalmente instável na minissérie Por Trás de Seus Olhos, da Netflix, fez com que os fãs a parassem na rua.
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Isso voltou a acontecer com Mal de Família, o drama irlandês de humor sombrio. Lançado em 2022 na Apple TV+, a série virou um fenômeno em Dublin, cidade natal de Hewson, onde festas para assistir aos episódios em pubs a transformaram numa sensação local. E, no ano seguinte, ela foi o grande destaque de Sundance, quando o filme Flora and Son, no qual ela interpreta o papel principal, foi vendido para a Apple TV por um valor recorde de US$ 20 milhões.
Mas, um pouco porque os serviços de streaming aumentaram drasticamente o volume de conteúdo e atomizaram os hábitos de consumo, Hewson, 33 anos, não é um nome conhecido.
Isso pode mudar nos próximos meses. A atriz está estrelando, ao lado de Nicole Kidman e Liev Schreiber, a badalada adaptação de O Casal Perfeito, de Elin Hilderbrand, que acaba de estrear na Netflix. Ela também estará de volta para a segunda temporada de Mal de Família em 13 de novembro, retomando seu papel como Becka Garvey, a irmã mais jovem e mais rebelde. Hewson acabou de fazer uma participação no novo filme de Noah Baumbach, estrelado por George Clooney e Adam Sandler, e está prestes a começar um piloto de televisão de Alec Berg (Barry) ambientado no mundo das corridas de Fórmula 1.
Nepo baby
Hewson sempre teve uma relação complicada com a fama – o que é compreensível, já que seu pai é Bono, vocalista do U2 e ativista global. É fácil se sentir invisível quando seu pai atrai toda a atenção.
Considerada uma nepo baby antes mesmo de a expressão entrar na moda, Hewson há muito tempo desistiu de contestar que sua origem seria a razão de seu sucesso. Ela sabe que ter um pai famoso certamente ajudou. Seu primeiro trabalho como atriz veio de um tutor que ela teve quando estava na estrada com o U2, um aspirante a cineasta que a escalou para um curta-metragem. Ela adorou a experiência e não parou mais.
Hewson disse que nunca se preocupou com a maneira como seria percebida ao entrar numa carreira que – se fosse bem-sucedida – lhe traria fama e atenção.
“Eu ficava, tipo, vou fazer isso, estou obcecada com isso, simplesmente vai acontecer”, disse ela durante um almoço em Los Angeles, onde mora agora. “Eu meio que não consigo acreditar que consegui”.
Genuinamente engraçada nas conversas, Hewson demonstra uma facilidade de se relacionar que desmente a forma como ela descreve sua infância “entre estrelas do rock e supermodelos”. Quando criança, ela sempre se perguntava se as pessoas eram suas amigas porque gostavam dela ou porque gostavam de seu pai. (Ou porque gostavam de sua piscina, que em Dublin era quase tão exótica quanto as estrelas do rock).
Mas o lado positivo dessa incerteza é um senso de identidade mais forte.
“Não acredito na opinião das outras pessoas”, disse Hewson, vestida com uma saia de seda preta e uma camiseta preta com a frase “Toda mulher tem uma fantasia” estampada no peito. “Obviamente, isso me afeta, mas aprendi a confiar em mim mesma, na minha intuição e no meu gosto”.
Ainda assim, disse que, ao contrário de algumas de suas experiências de infância, agora ela consegue aceitar e apreciar as avaliações dos outros sobre sua atuação, sem questionar os motivos. Para ela, o que parece mais “real” é fingir ser outra pessoa.
“Quando as pessoas vêm para mim e dizem: ‘Você é a esposa maluca daquela série da Netflix’, eu penso: ‘Ah, você na verdade está reconhecendo a mim e ao meu trabalho’”, disse ela. “As pessoas provavelmente não fazem ideia da conexão ou nem se importam. É uma sensação legal”.
Em O Casal Perfeito, Hewson interpreta Amelia Sacks, tratadora de zoológico do Central Park que está prestes a se casar com alguém de uma família rica de Nantucket dominada pela matriarca, Greer Garrison Winbury (Kidman), uma autora de best-sellers obcecada em manter a imagem imaculada de sua família. Uma morte às vésperas do casamento ameaça destruir a fachada.
A personagem de Hewson é uma espécie de avatar do público, que fica alternadamente fascinada e horrorizada com o estilo de vida dos ricos e famosos. As excentricidades do privilégio são familiares para Hewson – o mais difícil foi lidar com a dor avassaladora que sua personagem enfrenta na série. Mesmo em meio a um elenco que também conta com Dakota Fanning e Jack Reynor, Hewson se destaca no papel de forasteira, especialmente porque sua personagem sente emoções muito maiores do que qualquer outra pessoa.
“Felizmente, não vivenciei uma morte tão próxima a mim”, disse ela. “Foi difícil pensar em como seria essa sensação. Será que estou em negação? Será que estou completamente mergulhada no luto? Senti que minha personagem tinha muito peso e era o ritmo emocional da história. Isso foi o mais desafiador”.
Ela também teve de estar à altura de Kidman, cuja personagem considera a Amelia de Hewson inferior ao seu filho e uma ameaça à família.
“Eve se mantém firme”, disse Susanne Bier, diretora da série de seis episódios. “Não foi difícil para ela”. Bier acrescentou que escolheu Hewson porque queria que sua protagonista “normal” fosse interpretada por “um ser humano complexo e cheio de segredos”.
“Você olha para o rosto dela, você olha para os olhos dela”, disse Bier. “Você sabe que ela mostra só uma parte do que está pensando, não tudo”.
Hewson se sentiu muito mais vulnerável ao interpretar Becka em Mal de Família, que, segundo ela, é a personagem que mais se aproxima de sua personalidade. Mas ela teve de batalhar para conseguir o papel. A criadora da série, Sharon Horgan, disse que os executivos da Apple pediram outra audição, porque não tinham certeza de que a atriz conseguiria fazer comédia. Embora interpretar Becka envolvesse relembrar emoções nítidas e, muitas vezes, desagradáveis de sua infância – sentir-se como uma pessoa desastrada, incompreendida – uma coisa que ela estava confiante em demonstrar era sua habilidade cômica.
Hewson descobriu esse talento quando, aos 25 anos, estrelou ao lado de Andie MacDowell numa pequena comédia romântica chamada Paper Year (2018), escrita e dirigida por Rebecca Addelman.
“Eu fiquei, tipo, ‘Ah, sim, eu sou boa nisso’”, disse Hewson. “Preciso fazer mais dessas coisas”.
Horgan disse: “Ela consegue fazer qualquer coisa. Ela sabe partir seu coração e fazer você rir”.
Hewson pensa muito sobre as conexões simbióticas que teve com diretoras como Horgan e Bier. Além de Soderbergh, a quem também reverencia, ela tende a trabalhar com cineastas mulheres. Na sua lista de desejos também estão Greta Gerwig e Marielle Heller.
“É uma relação muito bizarra entre atriz e diretora – é quase como se você fosse uma bebê e estivesse sendo amamentada, tipo isso”, disse ela, rindo. “É uma confiança estranha que você tem que ter nessa pessoa que vai proteger você e alimentar você e dar tudo o que você precisa”.
Horgan, por exemplo, ficaria feliz em continuar trabalhando com Hewson. “Acho que ela vai ter uma carreira incrível”, disse Horgan.
“Ela sabe ser todo tipo de pessoa – uma adolescente e uma mulher adulta”, acrescentou ela. “O mais importante é que ela faz você sentir algo”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU