Comemoram-se na terça-feira, 13, os 120 anos de nascimento de um dos maiores diretores do cinema – o mestre do suspense Alfred Hitchcock. Em 1995, uma enquete feita com críticos e diretores de todo o mundo para festejar o centenário do cinema apontou-o como o maior e mais influente cineasta da história. Hitchcock elevou o medo à condição de uma das mais belas artes. Tornou-se mestre do suspense muitas vezes, senão sempre, suprimindo o mistério.
Vamos propor uma brincadeira. Aqui estão algumas das grandes cenas que ele criou, e você vai ter de escolher a melhor. Nossa votação está aberta!
O assassinato de Marion Crane/Janet Leigh na ducha em 'Psicose', de 1960
A cena não é só um brilhante exercício de corte e montagem. Também tem o aspecto emocional. Marion errou, roubando o dinheiro. Dá-se conta disso e resolve voltar atrás, assumindo a responsabilidade. O banho equivale ao seu desejo de purificação – a segunda chance que não virá. E além da imagem,tem a trilha de Bernard Herrmann, que torna a cena ainda mais assustadora.
No mesmo filme – Psicose – há outra grande cena. O detetive, Martin Balsam, entra na casa de Norman Bates/Anthony Perkins. Sobe a escada e a cena começa pelos pés dele, mas logo a câmera faz um movimento vertical para pegar o ângulo de cima. Uma porta se abre e, de novo, a morte a facadas, enquanto Balsam vai caindo, de costas. Conta a lenda que Hitchcock pediu a Saul Bass, notório autor de cenas de crédito, que planejasse os dois assassinatos, mas não ficou satisfeito e dirigiu as duas cenas com o brilho que o cinéfilo sabe.
O ataque do avião em 'Intriga Internacional', de 1959
Cary Grant é atraído para um local deserto, mas claro. Dia de sol, paisagem aberta. Um avião furmigador despeja veneno na plantação, mas de repente muda o curso e vem para cima de Grant, que corre na estrada.
'O Homem Que Sabia Demais', o remake de 1955
O filho de James Stewart e Doris Day foi sequestrado para forçar o casal a participar de um assassinato político. O clímax será durante concerto no Albert Hall, em Londres. Dois momentos para construir a tensão na mesma ceba. Doris canta Che Sera, para tentar localizar o filho e provocar a reação da criança. E a música avança, o crime será cometido quando os pratos baterem, para sufocar o tiro. A cena vai num crescendo. Música, partitura, o desespero de Doris. O momernto aproxima-se. O músico que toca os pratos, sem saber, é o assassino! E Doris, o que fará?
'Pacto Sinistro', de 1951
Robert Walker propõe a Farley Granger um duplo homicídio. Cada um cometerá um crime para o outro, mas de tal forma que não levantarão suspeitas e permanecerão impunes. Na verdade, são duas cenas no mesmo filme. Qual a melhor?
O assassinato no parque de diversões, visto pelas lentes dos óculos da vítima?
Ou a partida de tênis, quando a câmera reproduz o ângulo do público, olhando para cada jogador e seguindo o movimento da bola, menos um, que fica com o olhar fixo. Por quê?
'Suspeita', de 1941
Joan Fontaine suspeita que o marido, Cary Grant, está querendo matá-la. Ele sobe a escada com o copo de leite, que pode estar envenenado. Para aumentar o suspense infernal, Hitchcock colocou uma lâmpada dentro do copo. O brilho é quase insuportável. Mas será um brilho de morte?
'A Festa de Interlúdio'/'Notorious', de 1946
Para muitos críticos, é o melhor filme do mestre. Ingrid Bergman ama Cary Grant, mas termina aceitando tarefa do FBI. Instala-se na casa de Claude Rains e até aceita casar-se com ele para tentar provar que é espião nazista e o segredo da bomba atômica, o urânio, está escondido na adega da casa. Na tal festa, ações ocorrem em toda a casa, mas Ingrid e Grant encontram-se na adega e Rains está vindo para pegar mais vinho. Encontrará ele os amantes? E o casal encontrará o urânio escondido numa garrafa?
'Disque M para Matar', de 1954
Na adaptação da ópera de Frederick Knott, Ray Milland contrata profissional para matar sua mulher, mas Grace Kelly vira o jogo, matando seu quase assassino com uma tesoura. A grande angular que Hitchcock usa para filmar a tesoura distorce a imagem e cria um efeito alucinante em 3D. Mesmo com 2D, impreessiona e é considerada de mestre.
'Janela Indiscreta', de 1954
James Stewart faz fotógrafo que fica imobilizado em casa, devido a acidente, e descobre um crime ao bisbilhotar a vizinhança com sua teleobjetiva. Um homem matou a mulher, e matou o cachorro que sabia demais e poderia denunciá-lo. A cena em que a dona do cachorro desespera-se e os vizinhos vão para as janelas, menos o assassino, que permanece fumando seu charuto nas sombras, antecipa aquela em que Stewart envia a namorada à casa do criminoso, em busca de provas. Conseguirá ela? E conseguirá Stewart salvar-se quando Raymond Burr vai atrás dele, para matar?
'Um Corpo Que Cai', de 1958
Kim Novak cai duas vezes para a morte. O movimento combinado de travelling avante e para trás nos projeta nas sensações de Scottie, quando corre atrás de Madeleine e não consegue salvá-la. Na verdade, não conseguiria. É tudo um plano de assassinato, e ele está lá, com sua vertigem, para fornecer o álibi. A descoberta da real identidade de Judy/Madeleine cria a tragédia. Para muitos críticos, é o maior Hitchcock e o melhor filme do cinema. Mas será a melhor cena? Com a palavra, o público.