Os personagens de "Margin Call - O Dia Antes do Fim" falam, em boa parte do tempo, economês - o que, a priori, seria um grande problema para a compreensão do filme. Mesmo quando um empresário pede que lhe expliquem, como se ele fosse criança, o que é índice de volatilidade histórica, o conceito não fica muito claro. Mas nada disso é um problema no filme, pois o que importa é compreensível para qualquer pessoa: estamos diante de uma crise financeira. "Margin Call - O Dia Antes do Fim" faz um belo par com o documentário "Trabalho Interno", de Charles Ferguson, sobre a crise financeira que assolou os EUA em 2008. Aqui, um banco de investimentos é a metáfora para todo um país que está prestes a ruir. Uma morte anunciada e ignorada pelos altos escalões - cada vez mais ávidos por poder financeiro e econômico. Em seu primeiro filme, o diretor e roteirista J.C. Chandor demonstra vigor cinematográfico para lidar com um universo micro para falar de algo maior e bastante relevante. Os diálogos, em voz alta, são ditos em jargão, num exibicionismo sem tamanho que disfarça, mas não esconde a ganância. Mas é nos sussurros, naquilo que se diz ao pé do ouvido, que está deflagrada a crise. Como numa colmeia, a crise é descoberta pela casta mais baixa, verdadeiras abelhas operárias. Quando Eric Dale (Stanley Tucci) é demitido num corte que provoca uma grande queda nas ações do banco, ele deixa com seu protegido, Peter (Zachary Quinto), um mero analista, um pen drive. No dispositivo, estão informações sobre uma crise. Quando o rapaz a identifica, chama o seu superior, Will (Paul Bettany). Este, por sua vez, diante de uma implosão econômica no banco, chama o seu superior, Sam (Kevin Spacey). Como numa cascata, cada um dos superiores, que incluem ainda Demi Moore e Simon Baker, é incapaz de lidar com o que está diante de si, seja lá o que for. Afinal, para os leigos, nunca fica totalmente claro. Mas, certamente, percebe-se que é algo de proporções catastróficas que irá custar não apenas o emprego de toda aquela gente, mas fazer um grande estrago no mercado financeiro mundial e que perdurará por anos. A forma sutil que Chandor usa para mostrar a máxima hobbesiana de que "o homem é o lobo do homem" é que cada novo chefe que entra em cena é capaz de ser mais mesquinho, arrogante e ganancioso do que o anterior. Em outras palavras, não há vilões, senão a ganância do ser humano, preocupado em ganhar dinheiro apenas para si, nem que seja às custas de um colapso mundial. Enquanto mimetiza o que aconteceu em 2008, o filme traça um retrato psicológico de seus personagens que, em pouco mais de 24 horas, são esmagados pela pressão das engrenagens das quais são a força motora. Acompanhamos tudo com a incredulidade de Peter que, ao fim desse período, perderá sua inocência e, quem sabe, talvez até a alma. Quanto mais alta a posição do personagem na empresa, mais ignorante ele é dos mecanismos e da iminência da crise. Diante desta, aliás, pedem-se planos de contingência, procuram-se bodes expiatórios e algumas - não muitas - consciências ficam pesadas, embora o preço de várias delas seja facilmente negociado. Os personagens deste filme são a prova disso. (Alysson Oliveira, do Cineweb) * As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb