Eu Não Sou um Robô, curta-metragem holandês e belga de Victoria Warmerdam, recebeu o Oscar de 2025 em sua categoria. Em 2021, um curta-metragem de mesmo nome, dirigido pela brasileira Gabriela Lamas, concorreu no Festival de Gramado e ganhou os troféus de melhor fotografia e direção de arte, além do prêmio da crítica.
Numa rede social, Gabriela apontou outras semelhanças entre os dois filmes, além do título em comum. As duas protagonistas tentam fazer uma atualização em seus computadores e são impedidas pelo Captcha - aquela chatíssima barreira virtual, com imagens para serem identificadas, que aparece em alguns sites com a finalidade de distinguir humanos de robôs.
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No vídeo postado, a diretora do filme brasileiro fala de sua estranheza ao verificar as coincidências - de título e outras, segundo ela - entre as das obras. Não usa, porém, a palavra temível, no entanto esperada nesse tipo de denúncia - plágio.

Com bom humor e talvez algum sentido de ironia, não exclui a possibilidade de duas pessoas, neste vasto mundo, e separadas por um oceano, terem a mesma ideia ao mesmo tempo. No entanto, estranhando a coincidência, entrou em contato com a produtora holandesa. Gostaria de conversar com a diretora do outro Eu Não Sou um Robô para trocarem ideias sobre a tal semelhança entre as duas obras. Ou talvez gostasse de ouvir a admissão de que sua obra teria, em parte que fosse, inspirado sua homônima, agora oscarizada. Afinal, o Eu Não Sou Um Robô nacional, além de vencer em Gramado, participou de festivais internacionais.
Além do título em comum, os dois curtas partem de ideia de base semelhante. Confrontadas pela tecnologia, as duas personagens passam a duvidar de sua humanidade.
O desenvolvimento é divergente. No brasileiro, a protagonista (vivida pela própria diretora), conversa com uma mosca gigante em seu apartamento. Os diálogos são cada vez mais intrincados e mostram um fundo de humor e ironia.
No holandês, o tom predominante é o da angústia. A personagem, confrontada com a possibilidade de ser uma robô, vai descobrir algo inquietante sobre a natureza do seu relacionamento com o namorado.
No afã de fazerem o teste de sua humanidade, as personagens caminham para desfechos sacrificiais. Um dedo amputado no caso da brasileira; a prova dos noves do livre arbítrio fatal no da holandesa.
Esteticamente, parecem bem diferentes. Espaço fechado no curta brasileiro, mais aberto e visual clean no holandês. O brasileiro tem 16 minutos; o holandês ultrapassa os 22. Ambos são sintéticos, para o que se propõem.
Houve plágio? Coincidência? Confluência? Apenas captam o ar do tempo? Difícil dizer. Plágio é questão jurídica. Há toda uma legislação em torno do assunto, abrangendo diversas áreas, da música ao design industrial. Em música, por exemplo, exige-se que um determinado número de compassos seja exatamente igual para se determinar o plágio.
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O título igual não serve de critério porque é uma frase banal da internet. Além dos dois curtas, há uma série coreana de 2017 com o mesmo nome - I’m not a Robot. A ideia de fundo parece também se impor nesse nosso tempo de algoritmos e inteligência artificial, automatização da vida em que parecemos cada vez mais dirigidos por máquinas até nos tornarmos uma delas. Duvidamos da nossa humanidade - e não sem bons motivos. Essa angústia é o ar do tempo.
Já os desenvolvimentos das tramas são diferentes, embora possam, até certo ponto, convergir nos desfechos. Acho difícil provar que houve apropriação deliberada de uma obra por outra, mas advogados talvez tenham outra opinião.
Como os dois filmes estão disponíveis na internet, cabe aos espectadores assistirem a um e outro e tirarem suas próprias conclusões (assista abaixo). Há outro ponto em comum, e aqui vai a palavra do crítico: ambos são bons filmes.
Acusação de plágio em ‘Anora’
Há outro filme premiado na berlinda - desta vez trata-se de nada menos que do longa-metragem vencedor do Oscar 2025, Anora, de Sean Baker, também envolvido no imbróglio das semelhanças. Neste caso, a acusação é de plágio mesmo, sem meias palavras.
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A atriz Emily Warfield postou no Bluesky (rede alternativa ao X) que, depois de ter visto Anora, cansou-se de ficar quieta. A atriz estava envolvida no piloto de uma série, The Skill Set, de Alana Massey, sobre trabalho sexual, com a história de uma garota de programa chamada Annie, que se envolve com um membro da máfia russa.
A diretora teria trocado ideias com Sean Baker em 2016 “para solicitar sua opinião”. Baker teria se apropriado de personagens, tema, cenário e do próprio tom da série, segundo Emily. O projeto não vingou por falta de financiamento, mas o piloto foi gravado.
Até agora Baker não veio a público para contestar as acusações ou dar explicações. Bloqueou o acesso à sua conta no X. O caso deve render ainda muitos capítulos.