Na estréia norte-americana, na semana passada, Harry Potter e a Pedra Filosofal registrou a maior abertura da história do cinema. Titanic, Parque dos Dinossauros, Star Wars Episódio 1: todos os recordes foram pulverizados pela adaptação que Chris Columbus fez de J.K. Rowling. No Brasil, o filme estréia com quase 500 cópias. Nem se fosse o pior filme do mundo deixaria de faturar. Para todo lado que olhar, o público só encontrará Harry Potter. Some-se a isso o marketing e o sucesso dos livros... Sim, Harry Potter está chegando para faturar. Mas não é bom. As crianças vão adorar. Os adultos, pelo menos os adultos de uma certa faixa etária, nem tanto. Nada mais curioso do que ver Harry Potter com platéias infantis. As crianças sabem de cor o que vai ocorrer no minuto seguinte, antecipam diálogos e ficam frustradas quando a cena e a fala não seguem exatamente o livro. Foi necessário condensar, mas o essencial está no filme. O essencial, em termos. O vilão é mais forte no livro, qualquer leitor poderá confirmá-lo. E, para um filme sobre mágicos, falta justamente magia a Harry Potter. É instrutivo analisar o filme por esse ângulo. O cinema, considerando-se o 28 de dezembro de 1895 como a data do seu nascimento, tem pouco mais de um século. Até os anos 40, ainda coexistia com formas mais tradicionais de narração. A literatura, por exemplo. Se você era criança, via os filmes de capa e espada, de Tarzan e lia os livros de aventuras da Coleção Terramarear. A TV irrompeu em cena nos anos 50, mas foi a partir dos 60 que a linguagem do cinema, influenciada pela TV, começou a mudar. Os próprios livros para crianças mudaram. Só mais tarde, com a MTV, Hollywood chegou a essa sintaxe baseada na assimilação da imagem como um todo, do corte frenético, da torrente audiovisual. Essa fase coincide também com o apogeu dos efeitos especiais, que hoje ocupam a vitrine da produção de Hollywood e são o forte da maioria dos filmes, a tal ponto que muitas histórias parecem ter sido boladas apenas para amarrar os tais efeitos. Harry Potter é típico dessa tendência. Não é nem uma questão de nostalgia, mas o filme, com certeza, tem muitos efeitos especiais e pouquíssima magia. Não é preciso evocar o velho Robin Hood de Michael Curtiz e Errol Flynn, que hoje deve aborrecer o público da MTV, por sua narrativa ´lenta´, à base das fusões que Hollywood eliminou do seu glossário. Os filmes que o próprio diretor Columbus escreveu para a Amblin, empresa de Steven Spielberg, nos anos 80 - Gremlins, Os Goonies e o deslumbrante O Enigma da Pirâmide -, tinham mais magia. E Esqueceram de Mim, 1 e 2, eram mais cruéis, o que também tem seu atrativo. Harry Potter vai faturar, com certeza. Mas, pela magia, é melhor esperar por O Senhor dos Anéis, que Peter Jackson adaptou da saga cult de J.R. Tolkien. Nenhum filme pode ser avaliado pelo trailer, mas o de O Senhor dos Anéis promete uma magia que não adianta procurar em Harry Potter. O filme dura 152 minutos. Você se arrisca a sentir cada um deles.