Invisible Children, um filme assinado por oito cineastas, entre eles a documentarista brasileira Kátia Lund, que foi também co-diretora do filme Cidade de Deus ao lado de Fernando Meirelles. Este filme coletivo foi promovido pelo Unicef e pelo World Food Program (WFP), foi apresentado hoje na mostra paralela do Festival de Cinema de Veneza. A obra coletiva traz como protagonistas, entre outros, alguns garotos armados, filhos de pais com Aids, refugiados de guerra, pequenos órfãos deficientes, e até mesmo alguns meninos de rua de São Paulo. Spike Lee, John Woo, Emir Kusturica, os irmãos John e Ridley Scott, a brasileira Katia Lund, o argelino Mahdi Charef e o italiano Stefano Veneruso levam às telas as várias histórias de uma infância perdida. O episódio brasileiro mostra como protagonistas dois meninos de rua que vivem em prédios ocupados do centro de São Paulo. "Nos últimos dez anos o abismo entre pobres e ricos aumentou, e com minha história quis falar sobre a criatividade, a energia e o humor dessas crianças, cujas qualidades não são suficientes para sobreviver contra a verdadeira antagonista, que é a cidade globalizada", declarou a cineasta brasileira Katia Lund. Já o diretor Spike Lee, diretor do episódio Jesus Children of America, afirma que escolheu contar a história desta "menina latino-americana, filha de dois dependentes de drogas, que descobre somente na escola que é soro-positiva, e não através dos pais. É algo que não vemos com muita freqüência no cinema". "As crianças sofrem em todo o mundo, mas podem ser muito cruéis às vezes: retratei as colegas de escola de Blanca como uma manada de lobos que a atacam logo que percebem sua fraqueza", acrescentou Lee. Escrito pelos irmãos do diretor, Cinque e Joie Lee, o filme tem como cenário o Brooklyn, onde os dois roteiristas se encontraram e conversaram com psicólogos e jovens soropositivos que freqüentam os grupos de terapia. Uma passagem pela China é feita por John Woo, que ambientou em Pequim o encontro entre duas solitárias meninas, uma rica mas pobre de afeto e uma órfã que vende rosas na rua. "Eu as via como minhas filhas, e no final das filmagens elas me chamavam de vovô. Escolhi garotas que passam ou passaram por essas experiências, a rica tem um Mercedes, uma bela casa, viaja de avião como seu personagem, e a pobre é filha de vendedores ambulantes que vivem na rua. Foram melhores atrizes do que as estrelas dos meus filmes de ação: sempre faziam o que eu pedia", contou Woo. O filme, cujos lucros serão direcionados a um fundo de cooperação italiana para o desenvolvimento co-administrado pelo Unicef e pelo WFP, já obteve um êxito: por causa do trecho africano do filme, dirigido pelo argelino Mahdi Charef, que tem como protagonista um garoto de 12 anos transformado num soldado, em Burkina Fasso foi construída uma escola que foi colocada à disposição das crianças. Blue Gipsy, dirigido por Emir Kusturica, tem como protagonista um garoto cigano que está às vésperas de ser solto de um centro de detenção de menores. "Desde garoto tinha uma mentalidade aberta, mas preciso dizer que meus sonhos que se tornaram realidade são maiores do que os imaginava quando criança. Com certeza a poesia de meus filmes vem dessa época", confessou Kusturica. "No mundo há países ricos como os Estados Unidos e pobres como a Somália, que representam extremos. Para todos os países que estão entre esses dois extremos, este filme pode despertar a consciência dos espectadores", afirmou o cineasta sérvio. Além da distribuição para os cinemas, prevista para começar em janeiro do próximo ano, a produção do filme está negociando com o Ministério da Educação da Itália para tentar exibi-lo em escolas.