Filme de Lúcia Murat mostra soldado que procura família de presa torturada na ditadura: ‘Diálogo’


‘O Mensageiro’ é inspirado na história da própria diretora e acompanha uma jovem presa numa fortaleza militar durante a ditadura e de um soldado que, diante da tortura, decide levar uma mensagem para a família dela

Por Matheus Mans

A cineasta Lúcia Murat estava pensando no que fazer, no meio da pandemia, quando veio uma vontade: voltar a falar sobre os anos da ditadura no Brasil, compreendendo também o que o País vivia naqueles idos de 2020. Foi assim que nasceu a ideia de O Mensageiro, filme produzido com baixo orçamento e que chegou aos cinemas na quinta, 15.

A trama, com ecos de outros longas de Murat, acompanha Vera (Valentina Herszage), jovem presa numa fortaleza militar durante a ditadura, em 1969, e que conhece um soldado, Armando (Shi Menegat), que, diante da tortura, decide levar uma mensagem para a família dela. Assim, ele estabelece uma relação afetiva com Maria, mãe de Vera, e o filme traz um ponto importante para ser discutido mesmo 60 anos depois: a importância do diálogo.

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“Achei que era importante que essa história pudesse ser tratada naquele momento em que vivíamos uma polarização muito grande”, diz ela. Ao Estadão, ela relembra que viveu essa mesma experiência de Vera: a cineasta estava presa e sendo torturada no Departamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) quando um soldado decidiu, por conta própria, levar um bilhete escondido à família de Lúcia.

“Isso foi importante para a minha família, já que eu era considerada desaparecida”, diz. “Juntando tudo nesse momento de polarização, você tem que se perguntar o que vai ser da nossa vida, o que vai ser desse futuro de uma sociedade dividida. Mesmo tendo passado o horror que vivemos durante a pandemia, com um governo que negava a ditadura, isso continua acontecendo por aí. Precisamos lembrar disso. É um filme sobre memória.”

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Perdão sem esquecer

Nessa dinâmica inusitada, alguns pontos e questionamentos surgem em O Mensageiro. Para começo de conversa, há um olhar atento – e com acidez – sobre quem é Armando. É um homem que parece ter um lampejo de bondade e que trabalha para um sistema perverso. Lúcia prefere olhar pela ótica de alguém que está rompendo com as massas militares.

Valentina Herszage (Vera) e Shi Menegat (Armando) em ‘O Mensageiro’, de Lúcia Murat. Foto: Taiga Filmes/Divulgação
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“O Brasil teve uma particularidade de que alguns centros de tortura eram dentro de quartéis. Ou seja, você tinha ali pessoas que não estavam diretamente ligadas ao sistema de tortura. Eram soldados servindo”, explica ela. “É interessante entender quando você tem um corpo que rompe com isso, você tem um momento revolucionário de ruptura. É muito mais até do que qualquer discurso que você possa fazer contra aquilo. Você está acabando com a proposta original, que é a proposta da massificação. É algo muito importante, até hoje.”

Já em um dos momentos mais fortes do filme, O Mensageiro recorre a Hannah Arendt e debate: como perdoar uma figura como Armando? Como Vera lida com um homem que faz parte do sistema que a tortura, mas que também ajuda na comunicação com a família?

A personagem de Vera, já envelhecida, lembra que é preciso perdoar sem esquecer. É diálogo acima de tudo. “Não tem ninguém dizendo que não existem culpados, que não existiram torturadores, que não deveriam ter sido julgados. Mas existe um conjunto de pessoas que você precisa lidar com elas. Precisamos conversar”, diz Lúcia. “Você precisa trabalhar com aquela massa, cúmplice de alguma maneira, e ter diálogo. Isso é importante.”

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'O Mensageiro', filme de Lúcia Murat, chegou aos cinemas em 15 de agosto. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

Lúcia Murat ressalta que falar sobre ditadura é sempre ressignificar algo. É sempre colocar o que aconteceu décadas atrás em uma nova perspectiva – esteja ela se repetindo, se aproximando ou se afastando. “Os filmes sobre ditadura estão preocupados em falar sobre família. O meu, o novo do Walter Salles”, afirma Lúcia, citando Ainda Estou Aqui, que vai estrear no Festival de Cinema de Veneza, a ser aberto dia 28. “O horror da violência não é só sobre a vítima; se espalha na sociedade, até dentro da família. É a ruptura de diálogo. E aí vem perdão, memória. É o que precisamos pensar e discutir hoje.”

A cineasta Lúcia Murat estava pensando no que fazer, no meio da pandemia, quando veio uma vontade: voltar a falar sobre os anos da ditadura no Brasil, compreendendo também o que o País vivia naqueles idos de 2020. Foi assim que nasceu a ideia de O Mensageiro, filme produzido com baixo orçamento e que chegou aos cinemas na quinta, 15.

A trama, com ecos de outros longas de Murat, acompanha Vera (Valentina Herszage), jovem presa numa fortaleza militar durante a ditadura, em 1969, e que conhece um soldado, Armando (Shi Menegat), que, diante da tortura, decide levar uma mensagem para a família dela. Assim, ele estabelece uma relação afetiva com Maria, mãe de Vera, e o filme traz um ponto importante para ser discutido mesmo 60 anos depois: a importância do diálogo.

“Achei que era importante que essa história pudesse ser tratada naquele momento em que vivíamos uma polarização muito grande”, diz ela. Ao Estadão, ela relembra que viveu essa mesma experiência de Vera: a cineasta estava presa e sendo torturada no Departamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) quando um soldado decidiu, por conta própria, levar um bilhete escondido à família de Lúcia.

“Isso foi importante para a minha família, já que eu era considerada desaparecida”, diz. “Juntando tudo nesse momento de polarização, você tem que se perguntar o que vai ser da nossa vida, o que vai ser desse futuro de uma sociedade dividida. Mesmo tendo passado o horror que vivemos durante a pandemia, com um governo que negava a ditadura, isso continua acontecendo por aí. Precisamos lembrar disso. É um filme sobre memória.”

Perdão sem esquecer

Nessa dinâmica inusitada, alguns pontos e questionamentos surgem em O Mensageiro. Para começo de conversa, há um olhar atento – e com acidez – sobre quem é Armando. É um homem que parece ter um lampejo de bondade e que trabalha para um sistema perverso. Lúcia prefere olhar pela ótica de alguém que está rompendo com as massas militares.

Valentina Herszage (Vera) e Shi Menegat (Armando) em ‘O Mensageiro’, de Lúcia Murat. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

“O Brasil teve uma particularidade de que alguns centros de tortura eram dentro de quartéis. Ou seja, você tinha ali pessoas que não estavam diretamente ligadas ao sistema de tortura. Eram soldados servindo”, explica ela. “É interessante entender quando você tem um corpo que rompe com isso, você tem um momento revolucionário de ruptura. É muito mais até do que qualquer discurso que você possa fazer contra aquilo. Você está acabando com a proposta original, que é a proposta da massificação. É algo muito importante, até hoje.”

Já em um dos momentos mais fortes do filme, O Mensageiro recorre a Hannah Arendt e debate: como perdoar uma figura como Armando? Como Vera lida com um homem que faz parte do sistema que a tortura, mas que também ajuda na comunicação com a família?

A personagem de Vera, já envelhecida, lembra que é preciso perdoar sem esquecer. É diálogo acima de tudo. “Não tem ninguém dizendo que não existem culpados, que não existiram torturadores, que não deveriam ter sido julgados. Mas existe um conjunto de pessoas que você precisa lidar com elas. Precisamos conversar”, diz Lúcia. “Você precisa trabalhar com aquela massa, cúmplice de alguma maneira, e ter diálogo. Isso é importante.”

'O Mensageiro', filme de Lúcia Murat, chegou aos cinemas em 15 de agosto. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

Lúcia Murat ressalta que falar sobre ditadura é sempre ressignificar algo. É sempre colocar o que aconteceu décadas atrás em uma nova perspectiva – esteja ela se repetindo, se aproximando ou se afastando. “Os filmes sobre ditadura estão preocupados em falar sobre família. O meu, o novo do Walter Salles”, afirma Lúcia, citando Ainda Estou Aqui, que vai estrear no Festival de Cinema de Veneza, a ser aberto dia 28. “O horror da violência não é só sobre a vítima; se espalha na sociedade, até dentro da família. É a ruptura de diálogo. E aí vem perdão, memória. É o que precisamos pensar e discutir hoje.”

A cineasta Lúcia Murat estava pensando no que fazer, no meio da pandemia, quando veio uma vontade: voltar a falar sobre os anos da ditadura no Brasil, compreendendo também o que o País vivia naqueles idos de 2020. Foi assim que nasceu a ideia de O Mensageiro, filme produzido com baixo orçamento e que chegou aos cinemas na quinta, 15.

A trama, com ecos de outros longas de Murat, acompanha Vera (Valentina Herszage), jovem presa numa fortaleza militar durante a ditadura, em 1969, e que conhece um soldado, Armando (Shi Menegat), que, diante da tortura, decide levar uma mensagem para a família dela. Assim, ele estabelece uma relação afetiva com Maria, mãe de Vera, e o filme traz um ponto importante para ser discutido mesmo 60 anos depois: a importância do diálogo.

“Achei que era importante que essa história pudesse ser tratada naquele momento em que vivíamos uma polarização muito grande”, diz ela. Ao Estadão, ela relembra que viveu essa mesma experiência de Vera: a cineasta estava presa e sendo torturada no Departamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) quando um soldado decidiu, por conta própria, levar um bilhete escondido à família de Lúcia.

“Isso foi importante para a minha família, já que eu era considerada desaparecida”, diz. “Juntando tudo nesse momento de polarização, você tem que se perguntar o que vai ser da nossa vida, o que vai ser desse futuro de uma sociedade dividida. Mesmo tendo passado o horror que vivemos durante a pandemia, com um governo que negava a ditadura, isso continua acontecendo por aí. Precisamos lembrar disso. É um filme sobre memória.”

Perdão sem esquecer

Nessa dinâmica inusitada, alguns pontos e questionamentos surgem em O Mensageiro. Para começo de conversa, há um olhar atento – e com acidez – sobre quem é Armando. É um homem que parece ter um lampejo de bondade e que trabalha para um sistema perverso. Lúcia prefere olhar pela ótica de alguém que está rompendo com as massas militares.

Valentina Herszage (Vera) e Shi Menegat (Armando) em ‘O Mensageiro’, de Lúcia Murat. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

“O Brasil teve uma particularidade de que alguns centros de tortura eram dentro de quartéis. Ou seja, você tinha ali pessoas que não estavam diretamente ligadas ao sistema de tortura. Eram soldados servindo”, explica ela. “É interessante entender quando você tem um corpo que rompe com isso, você tem um momento revolucionário de ruptura. É muito mais até do que qualquer discurso que você possa fazer contra aquilo. Você está acabando com a proposta original, que é a proposta da massificação. É algo muito importante, até hoje.”

Já em um dos momentos mais fortes do filme, O Mensageiro recorre a Hannah Arendt e debate: como perdoar uma figura como Armando? Como Vera lida com um homem que faz parte do sistema que a tortura, mas que também ajuda na comunicação com a família?

A personagem de Vera, já envelhecida, lembra que é preciso perdoar sem esquecer. É diálogo acima de tudo. “Não tem ninguém dizendo que não existem culpados, que não existiram torturadores, que não deveriam ter sido julgados. Mas existe um conjunto de pessoas que você precisa lidar com elas. Precisamos conversar”, diz Lúcia. “Você precisa trabalhar com aquela massa, cúmplice de alguma maneira, e ter diálogo. Isso é importante.”

'O Mensageiro', filme de Lúcia Murat, chegou aos cinemas em 15 de agosto. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

Lúcia Murat ressalta que falar sobre ditadura é sempre ressignificar algo. É sempre colocar o que aconteceu décadas atrás em uma nova perspectiva – esteja ela se repetindo, se aproximando ou se afastando. “Os filmes sobre ditadura estão preocupados em falar sobre família. O meu, o novo do Walter Salles”, afirma Lúcia, citando Ainda Estou Aqui, que vai estrear no Festival de Cinema de Veneza, a ser aberto dia 28. “O horror da violência não é só sobre a vítima; se espalha na sociedade, até dentro da família. É a ruptura de diálogo. E aí vem perdão, memória. É o que precisamos pensar e discutir hoje.”

A cineasta Lúcia Murat estava pensando no que fazer, no meio da pandemia, quando veio uma vontade: voltar a falar sobre os anos da ditadura no Brasil, compreendendo também o que o País vivia naqueles idos de 2020. Foi assim que nasceu a ideia de O Mensageiro, filme produzido com baixo orçamento e que chegou aos cinemas na quinta, 15.

A trama, com ecos de outros longas de Murat, acompanha Vera (Valentina Herszage), jovem presa numa fortaleza militar durante a ditadura, em 1969, e que conhece um soldado, Armando (Shi Menegat), que, diante da tortura, decide levar uma mensagem para a família dela. Assim, ele estabelece uma relação afetiva com Maria, mãe de Vera, e o filme traz um ponto importante para ser discutido mesmo 60 anos depois: a importância do diálogo.

“Achei que era importante que essa história pudesse ser tratada naquele momento em que vivíamos uma polarização muito grande”, diz ela. Ao Estadão, ela relembra que viveu essa mesma experiência de Vera: a cineasta estava presa e sendo torturada no Departamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna (DOI-CODI) quando um soldado decidiu, por conta própria, levar um bilhete escondido à família de Lúcia.

“Isso foi importante para a minha família, já que eu era considerada desaparecida”, diz. “Juntando tudo nesse momento de polarização, você tem que se perguntar o que vai ser da nossa vida, o que vai ser desse futuro de uma sociedade dividida. Mesmo tendo passado o horror que vivemos durante a pandemia, com um governo que negava a ditadura, isso continua acontecendo por aí. Precisamos lembrar disso. É um filme sobre memória.”

Perdão sem esquecer

Nessa dinâmica inusitada, alguns pontos e questionamentos surgem em O Mensageiro. Para começo de conversa, há um olhar atento – e com acidez – sobre quem é Armando. É um homem que parece ter um lampejo de bondade e que trabalha para um sistema perverso. Lúcia prefere olhar pela ótica de alguém que está rompendo com as massas militares.

Valentina Herszage (Vera) e Shi Menegat (Armando) em ‘O Mensageiro’, de Lúcia Murat. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

“O Brasil teve uma particularidade de que alguns centros de tortura eram dentro de quartéis. Ou seja, você tinha ali pessoas que não estavam diretamente ligadas ao sistema de tortura. Eram soldados servindo”, explica ela. “É interessante entender quando você tem um corpo que rompe com isso, você tem um momento revolucionário de ruptura. É muito mais até do que qualquer discurso que você possa fazer contra aquilo. Você está acabando com a proposta original, que é a proposta da massificação. É algo muito importante, até hoje.”

Já em um dos momentos mais fortes do filme, O Mensageiro recorre a Hannah Arendt e debate: como perdoar uma figura como Armando? Como Vera lida com um homem que faz parte do sistema que a tortura, mas que também ajuda na comunicação com a família?

A personagem de Vera, já envelhecida, lembra que é preciso perdoar sem esquecer. É diálogo acima de tudo. “Não tem ninguém dizendo que não existem culpados, que não existiram torturadores, que não deveriam ter sido julgados. Mas existe um conjunto de pessoas que você precisa lidar com elas. Precisamos conversar”, diz Lúcia. “Você precisa trabalhar com aquela massa, cúmplice de alguma maneira, e ter diálogo. Isso é importante.”

'O Mensageiro', filme de Lúcia Murat, chegou aos cinemas em 15 de agosto. Foto: Taiga Filmes/Divulgação

Lúcia Murat ressalta que falar sobre ditadura é sempre ressignificar algo. É sempre colocar o que aconteceu décadas atrás em uma nova perspectiva – esteja ela se repetindo, se aproximando ou se afastando. “Os filmes sobre ditadura estão preocupados em falar sobre família. O meu, o novo do Walter Salles”, afirma Lúcia, citando Ainda Estou Aqui, que vai estrear no Festival de Cinema de Veneza, a ser aberto dia 28. “O horror da violência não é só sobre a vítima; se espalha na sociedade, até dentro da família. É a ruptura de diálogo. E aí vem perdão, memória. É o que precisamos pensar e discutir hoje.”

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