‘Dinheiro Fácil’ transforma em comédia a revolta dos pequenos investidores no surreal caso GameStop


Longa com Paul Dano, Pete Davidson e Seth Rogen relembra história em que pequenos investidores começaram a comprar ações de uma loja de jogos que estava pronta para fechar, supervalorizando o negócio

Por Michael O'Sullivan

WASHINGTON POST - A linha divisória não poderia ser mais clara entre as duas forças que se enfrentam em Dinheiro Fácil, uma divertida comédia documental baseada na história real tipo Davi contra Golias de pequenos investidores da GameStop que enfrentaram gestores predatórios de fundos de hedge na esperança de lucrar com o fim da varejista de videogames. De um lado estão os caras de Wall Street: Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management (Seth Rogen); Steve Cohen, da Point72 Ventures, proprietário do New York Mets (Vincent D’Onofrio); e Ken Griffin, da Citadel LLC (Nick Offerman). Todos eles são baseados em pessoas de verdade.

Seth Rogen (direita) é Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management, e Nick Offerman é Ken Griffin, da Citadel LLC, na comédia Dinheiro Fácil, inspirada no caso GameStop. Foto: Lacey Terrell/Sony Pictures

Prepare-se para vaias e aplausos - e risadas. Uma cena, baseada em fatos, mostra Steve com seu porco de estimação, Romeu, correndo solto dentro de casa enquanto ele cria estratégias com seus colegas de venda a descoberto: investidores que só terão lucro se a ação contra a qual estão apostando perder valor. E acontece que, no início dessa história, essa ação é da GameStop, a rede um tanto enferrujada de lojas de varejo de shopping centers que vende hardware e software de jogos novos e usados.

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O filme tem previsão de estreia no Brasil para o dia 2 de novembro de 2023.

Ambientado no meio da pandemia, o filme explica que as lojas GameStop conseguiram permanecer abertas quando todas as outras estavam fechadas porque foram classificadas como um negócio “essencial”. É só uma das muitas piadas do tipo ‘a-verdade-é-mais-estranha-que-a-ficção’ do roteiro de Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo, baseado no livro de não ficção The Antisocial Network, de Ben Mezrich.

Perfilado contra esses, digamos, porcos está um exército de homens e mulheres comuns, representados aqui por uma mãe solo e enfermeira em dificuldades (America Ferrera), uma estudante universitária afundada em dívidas de empréstimos estudantis (Talia Ryder) e sua namorada (Myha’la Herrold) e um vendedor empobrecido da GameStop (Anthony Ramos).

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Todos eles se tornam pequenos investidores, incentivados por Keith Gill (Paul Dano), guru do mercado de ações no YouTube que atendia pelo apelido online Roaring Kitty e que durante o dia trabalhava como analista financeiro. Keith e sua esposa (Shailene Woodley) são o típico sal da terra: moram numa casa alugada com um bebê recém-nascido e US$ 53 mil em economias no banco. (O filme apresenta cada personagem com detalhes sobre seu patrimônio líquido na tela).

Keith investe esse pé-de-meia nas ações da GameStop, argumentando que a empresa está subvalorizada - e porque, como ele diz ingenuamente, “eu gosto da ação”. Isso vira uma espécie de slogan. Sua legião de fãs online segue o exemplo, e o preço das ações da GameStop sobe à medida que mais pessoas as compram, apesar de o bom senso dizer que é um investimento ruim. “É literalmente a definição de um esquema de pirâmide”, diz a personagem de Herrold.

O filme contrapõe na superficialidade milionários e pessoas comuns na luta para deixar uma loja de jogos aberta. Foto: Claire Folger/Sony Pictures
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Ela não está errada, mas Dinheiro Fácil rapidamente se torna uma parábola moral em que esses peixes pequenos representam o poder das massas contra o 1% - pessoas ricas que são símbolos de um sistema fraudulento no qual ficam mais ricas trapaceando todos nós. Faz todo sentido o velho vídeo de Anthony Scaramucci se referindo ao caso GameStop como “a Revolução Francesa das finanças”. É só um dos vários trechos de notícias reais que o cineasta Craig Gillespie (Eu, Tonya) espalha ao longo do filme, nos lembrando: isso aconteceu de verdade.

Superficialidade

Mas, ao contrário do retrato empático e sarcástico de Tonya Harding em 2017, Dinheiro Fácil nunca chega a entrar em nenhum de seus personagens, nem mesmo tenta, apesar de uma cena em que Keith e sua família de classe média - seu irmão preguiçoso, Kevin, motorista do DoorDash (Pete Davidson); sua mãe, enfermeira aposentada (Kate Burton); e seu pai, caminhoneiro aposentado (Clancy Brown) - visitam o túmulo da recém-falecida irmã de Keith.

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Tudo isso é só uma oportunidade para sublinhar que os heróis do filme são pessoas comuns como você e eu, em oposição a Gabe, Steve e Ken, que são arquétipos superficiais da ganância e da maldade. Quando as ações da GameStop disparam, esse trio conspira com os proprietários do Robinhood (Sebastian Stan e Rushi Kota) - o aplicativo de negociação sem comissões que a maioria dos investidores da GameStop usa - para fechar a plataforma, junto com o subreddit WallStreetBets, onde Keith (conhecido por um nome de usuário impublicável) também divulgava suas escolhas de ações.

Não há nada de sutil em Dinheiro Fácil, nem deveria haver. O objetivo é despertar a indignação contra os bandidos e inspirar admiração pelos oprimidos. E apesar do roteiro apresentar uma série de jargões de termos financeiros, os contornos gerais da narrativa são bastante fáceis de acompanhar.

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Pena que não são muito fáceis de gostar. Dinheiro Fácil não tem nada da bravura ousada de A Grande Aposta (2015), a comédia baseada em fatos financeiros de Adam McKay, que interrompe sua narrativa complicada com uma cena em estilo infomercial de Margot Robbie explicando as hipotecas subprime e o conceito de shorting enquanto toma champanhe na banheira. Este filme só permite que os espectadores descubram as coisas por conta própria - ou não. Como uma fábula de punição financeira baseada em fatos reais, Dinheiro Fácil é bem engraçado. Mas não é especialmente inteligente. Ao contrário de seus protagonistas, não está interessado em dinheiro rápido, só em risada fácil.

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - A linha divisória não poderia ser mais clara entre as duas forças que se enfrentam em Dinheiro Fácil, uma divertida comédia documental baseada na história real tipo Davi contra Golias de pequenos investidores da GameStop que enfrentaram gestores predatórios de fundos de hedge na esperança de lucrar com o fim da varejista de videogames. De um lado estão os caras de Wall Street: Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management (Seth Rogen); Steve Cohen, da Point72 Ventures, proprietário do New York Mets (Vincent D’Onofrio); e Ken Griffin, da Citadel LLC (Nick Offerman). Todos eles são baseados em pessoas de verdade.

Seth Rogen (direita) é Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management, e Nick Offerman é Ken Griffin, da Citadel LLC, na comédia Dinheiro Fácil, inspirada no caso GameStop. Foto: Lacey Terrell/Sony Pictures

Prepare-se para vaias e aplausos - e risadas. Uma cena, baseada em fatos, mostra Steve com seu porco de estimação, Romeu, correndo solto dentro de casa enquanto ele cria estratégias com seus colegas de venda a descoberto: investidores que só terão lucro se a ação contra a qual estão apostando perder valor. E acontece que, no início dessa história, essa ação é da GameStop, a rede um tanto enferrujada de lojas de varejo de shopping centers que vende hardware e software de jogos novos e usados.

O filme tem previsão de estreia no Brasil para o dia 2 de novembro de 2023.

Ambientado no meio da pandemia, o filme explica que as lojas GameStop conseguiram permanecer abertas quando todas as outras estavam fechadas porque foram classificadas como um negócio “essencial”. É só uma das muitas piadas do tipo ‘a-verdade-é-mais-estranha-que-a-ficção’ do roteiro de Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo, baseado no livro de não ficção The Antisocial Network, de Ben Mezrich.

Perfilado contra esses, digamos, porcos está um exército de homens e mulheres comuns, representados aqui por uma mãe solo e enfermeira em dificuldades (America Ferrera), uma estudante universitária afundada em dívidas de empréstimos estudantis (Talia Ryder) e sua namorada (Myha’la Herrold) e um vendedor empobrecido da GameStop (Anthony Ramos).

Todos eles se tornam pequenos investidores, incentivados por Keith Gill (Paul Dano), guru do mercado de ações no YouTube que atendia pelo apelido online Roaring Kitty e que durante o dia trabalhava como analista financeiro. Keith e sua esposa (Shailene Woodley) são o típico sal da terra: moram numa casa alugada com um bebê recém-nascido e US$ 53 mil em economias no banco. (O filme apresenta cada personagem com detalhes sobre seu patrimônio líquido na tela).

Keith investe esse pé-de-meia nas ações da GameStop, argumentando que a empresa está subvalorizada - e porque, como ele diz ingenuamente, “eu gosto da ação”. Isso vira uma espécie de slogan. Sua legião de fãs online segue o exemplo, e o preço das ações da GameStop sobe à medida que mais pessoas as compram, apesar de o bom senso dizer que é um investimento ruim. “É literalmente a definição de um esquema de pirâmide”, diz a personagem de Herrold.

O filme contrapõe na superficialidade milionários e pessoas comuns na luta para deixar uma loja de jogos aberta. Foto: Claire Folger/Sony Pictures

Ela não está errada, mas Dinheiro Fácil rapidamente se torna uma parábola moral em que esses peixes pequenos representam o poder das massas contra o 1% - pessoas ricas que são símbolos de um sistema fraudulento no qual ficam mais ricas trapaceando todos nós. Faz todo sentido o velho vídeo de Anthony Scaramucci se referindo ao caso GameStop como “a Revolução Francesa das finanças”. É só um dos vários trechos de notícias reais que o cineasta Craig Gillespie (Eu, Tonya) espalha ao longo do filme, nos lembrando: isso aconteceu de verdade.

Superficialidade

Mas, ao contrário do retrato empático e sarcástico de Tonya Harding em 2017, Dinheiro Fácil nunca chega a entrar em nenhum de seus personagens, nem mesmo tenta, apesar de uma cena em que Keith e sua família de classe média - seu irmão preguiçoso, Kevin, motorista do DoorDash (Pete Davidson); sua mãe, enfermeira aposentada (Kate Burton); e seu pai, caminhoneiro aposentado (Clancy Brown) - visitam o túmulo da recém-falecida irmã de Keith.

Tudo isso é só uma oportunidade para sublinhar que os heróis do filme são pessoas comuns como você e eu, em oposição a Gabe, Steve e Ken, que são arquétipos superficiais da ganância e da maldade. Quando as ações da GameStop disparam, esse trio conspira com os proprietários do Robinhood (Sebastian Stan e Rushi Kota) - o aplicativo de negociação sem comissões que a maioria dos investidores da GameStop usa - para fechar a plataforma, junto com o subreddit WallStreetBets, onde Keith (conhecido por um nome de usuário impublicável) também divulgava suas escolhas de ações.

Não há nada de sutil em Dinheiro Fácil, nem deveria haver. O objetivo é despertar a indignação contra os bandidos e inspirar admiração pelos oprimidos. E apesar do roteiro apresentar uma série de jargões de termos financeiros, os contornos gerais da narrativa são bastante fáceis de acompanhar.

Pena que não são muito fáceis de gostar. Dinheiro Fácil não tem nada da bravura ousada de A Grande Aposta (2015), a comédia baseada em fatos financeiros de Adam McKay, que interrompe sua narrativa complicada com uma cena em estilo infomercial de Margot Robbie explicando as hipotecas subprime e o conceito de shorting enquanto toma champanhe na banheira. Este filme só permite que os espectadores descubram as coisas por conta própria - ou não. Como uma fábula de punição financeira baseada em fatos reais, Dinheiro Fácil é bem engraçado. Mas não é especialmente inteligente. Ao contrário de seus protagonistas, não está interessado em dinheiro rápido, só em risada fácil.

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - A linha divisória não poderia ser mais clara entre as duas forças que se enfrentam em Dinheiro Fácil, uma divertida comédia documental baseada na história real tipo Davi contra Golias de pequenos investidores da GameStop que enfrentaram gestores predatórios de fundos de hedge na esperança de lucrar com o fim da varejista de videogames. De um lado estão os caras de Wall Street: Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management (Seth Rogen); Steve Cohen, da Point72 Ventures, proprietário do New York Mets (Vincent D’Onofrio); e Ken Griffin, da Citadel LLC (Nick Offerman). Todos eles são baseados em pessoas de verdade.

Seth Rogen (direita) é Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management, e Nick Offerman é Ken Griffin, da Citadel LLC, na comédia Dinheiro Fácil, inspirada no caso GameStop. Foto: Lacey Terrell/Sony Pictures

Prepare-se para vaias e aplausos - e risadas. Uma cena, baseada em fatos, mostra Steve com seu porco de estimação, Romeu, correndo solto dentro de casa enquanto ele cria estratégias com seus colegas de venda a descoberto: investidores que só terão lucro se a ação contra a qual estão apostando perder valor. E acontece que, no início dessa história, essa ação é da GameStop, a rede um tanto enferrujada de lojas de varejo de shopping centers que vende hardware e software de jogos novos e usados.

O filme tem previsão de estreia no Brasil para o dia 2 de novembro de 2023.

Ambientado no meio da pandemia, o filme explica que as lojas GameStop conseguiram permanecer abertas quando todas as outras estavam fechadas porque foram classificadas como um negócio “essencial”. É só uma das muitas piadas do tipo ‘a-verdade-é-mais-estranha-que-a-ficção’ do roteiro de Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo, baseado no livro de não ficção The Antisocial Network, de Ben Mezrich.

Perfilado contra esses, digamos, porcos está um exército de homens e mulheres comuns, representados aqui por uma mãe solo e enfermeira em dificuldades (America Ferrera), uma estudante universitária afundada em dívidas de empréstimos estudantis (Talia Ryder) e sua namorada (Myha’la Herrold) e um vendedor empobrecido da GameStop (Anthony Ramos).

Todos eles se tornam pequenos investidores, incentivados por Keith Gill (Paul Dano), guru do mercado de ações no YouTube que atendia pelo apelido online Roaring Kitty e que durante o dia trabalhava como analista financeiro. Keith e sua esposa (Shailene Woodley) são o típico sal da terra: moram numa casa alugada com um bebê recém-nascido e US$ 53 mil em economias no banco. (O filme apresenta cada personagem com detalhes sobre seu patrimônio líquido na tela).

Keith investe esse pé-de-meia nas ações da GameStop, argumentando que a empresa está subvalorizada - e porque, como ele diz ingenuamente, “eu gosto da ação”. Isso vira uma espécie de slogan. Sua legião de fãs online segue o exemplo, e o preço das ações da GameStop sobe à medida que mais pessoas as compram, apesar de o bom senso dizer que é um investimento ruim. “É literalmente a definição de um esquema de pirâmide”, diz a personagem de Herrold.

O filme contrapõe na superficialidade milionários e pessoas comuns na luta para deixar uma loja de jogos aberta. Foto: Claire Folger/Sony Pictures

Ela não está errada, mas Dinheiro Fácil rapidamente se torna uma parábola moral em que esses peixes pequenos representam o poder das massas contra o 1% - pessoas ricas que são símbolos de um sistema fraudulento no qual ficam mais ricas trapaceando todos nós. Faz todo sentido o velho vídeo de Anthony Scaramucci se referindo ao caso GameStop como “a Revolução Francesa das finanças”. É só um dos vários trechos de notícias reais que o cineasta Craig Gillespie (Eu, Tonya) espalha ao longo do filme, nos lembrando: isso aconteceu de verdade.

Superficialidade

Mas, ao contrário do retrato empático e sarcástico de Tonya Harding em 2017, Dinheiro Fácil nunca chega a entrar em nenhum de seus personagens, nem mesmo tenta, apesar de uma cena em que Keith e sua família de classe média - seu irmão preguiçoso, Kevin, motorista do DoorDash (Pete Davidson); sua mãe, enfermeira aposentada (Kate Burton); e seu pai, caminhoneiro aposentado (Clancy Brown) - visitam o túmulo da recém-falecida irmã de Keith.

Tudo isso é só uma oportunidade para sublinhar que os heróis do filme são pessoas comuns como você e eu, em oposição a Gabe, Steve e Ken, que são arquétipos superficiais da ganância e da maldade. Quando as ações da GameStop disparam, esse trio conspira com os proprietários do Robinhood (Sebastian Stan e Rushi Kota) - o aplicativo de negociação sem comissões que a maioria dos investidores da GameStop usa - para fechar a plataforma, junto com o subreddit WallStreetBets, onde Keith (conhecido por um nome de usuário impublicável) também divulgava suas escolhas de ações.

Não há nada de sutil em Dinheiro Fácil, nem deveria haver. O objetivo é despertar a indignação contra os bandidos e inspirar admiração pelos oprimidos. E apesar do roteiro apresentar uma série de jargões de termos financeiros, os contornos gerais da narrativa são bastante fáceis de acompanhar.

Pena que não são muito fáceis de gostar. Dinheiro Fácil não tem nada da bravura ousada de A Grande Aposta (2015), a comédia baseada em fatos financeiros de Adam McKay, que interrompe sua narrativa complicada com uma cena em estilo infomercial de Margot Robbie explicando as hipotecas subprime e o conceito de shorting enquanto toma champanhe na banheira. Este filme só permite que os espectadores descubram as coisas por conta própria - ou não. Como uma fábula de punição financeira baseada em fatos reais, Dinheiro Fácil é bem engraçado. Mas não é especialmente inteligente. Ao contrário de seus protagonistas, não está interessado em dinheiro rápido, só em risada fácil.

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - A linha divisória não poderia ser mais clara entre as duas forças que se enfrentam em Dinheiro Fácil, uma divertida comédia documental baseada na história real tipo Davi contra Golias de pequenos investidores da GameStop que enfrentaram gestores predatórios de fundos de hedge na esperança de lucrar com o fim da varejista de videogames. De um lado estão os caras de Wall Street: Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management (Seth Rogen); Steve Cohen, da Point72 Ventures, proprietário do New York Mets (Vincent D’Onofrio); e Ken Griffin, da Citadel LLC (Nick Offerman). Todos eles são baseados em pessoas de verdade.

Seth Rogen (direita) é Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management, e Nick Offerman é Ken Griffin, da Citadel LLC, na comédia Dinheiro Fácil, inspirada no caso GameStop. Foto: Lacey Terrell/Sony Pictures

Prepare-se para vaias e aplausos - e risadas. Uma cena, baseada em fatos, mostra Steve com seu porco de estimação, Romeu, correndo solto dentro de casa enquanto ele cria estratégias com seus colegas de venda a descoberto: investidores que só terão lucro se a ação contra a qual estão apostando perder valor. E acontece que, no início dessa história, essa ação é da GameStop, a rede um tanto enferrujada de lojas de varejo de shopping centers que vende hardware e software de jogos novos e usados.

O filme tem previsão de estreia no Brasil para o dia 2 de novembro de 2023.

Ambientado no meio da pandemia, o filme explica que as lojas GameStop conseguiram permanecer abertas quando todas as outras estavam fechadas porque foram classificadas como um negócio “essencial”. É só uma das muitas piadas do tipo ‘a-verdade-é-mais-estranha-que-a-ficção’ do roteiro de Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo, baseado no livro de não ficção The Antisocial Network, de Ben Mezrich.

Perfilado contra esses, digamos, porcos está um exército de homens e mulheres comuns, representados aqui por uma mãe solo e enfermeira em dificuldades (America Ferrera), uma estudante universitária afundada em dívidas de empréstimos estudantis (Talia Ryder) e sua namorada (Myha’la Herrold) e um vendedor empobrecido da GameStop (Anthony Ramos).

Todos eles se tornam pequenos investidores, incentivados por Keith Gill (Paul Dano), guru do mercado de ações no YouTube que atendia pelo apelido online Roaring Kitty e que durante o dia trabalhava como analista financeiro. Keith e sua esposa (Shailene Woodley) são o típico sal da terra: moram numa casa alugada com um bebê recém-nascido e US$ 53 mil em economias no banco. (O filme apresenta cada personagem com detalhes sobre seu patrimônio líquido na tela).

Keith investe esse pé-de-meia nas ações da GameStop, argumentando que a empresa está subvalorizada - e porque, como ele diz ingenuamente, “eu gosto da ação”. Isso vira uma espécie de slogan. Sua legião de fãs online segue o exemplo, e o preço das ações da GameStop sobe à medida que mais pessoas as compram, apesar de o bom senso dizer que é um investimento ruim. “É literalmente a definição de um esquema de pirâmide”, diz a personagem de Herrold.

O filme contrapõe na superficialidade milionários e pessoas comuns na luta para deixar uma loja de jogos aberta. Foto: Claire Folger/Sony Pictures

Ela não está errada, mas Dinheiro Fácil rapidamente se torna uma parábola moral em que esses peixes pequenos representam o poder das massas contra o 1% - pessoas ricas que são símbolos de um sistema fraudulento no qual ficam mais ricas trapaceando todos nós. Faz todo sentido o velho vídeo de Anthony Scaramucci se referindo ao caso GameStop como “a Revolução Francesa das finanças”. É só um dos vários trechos de notícias reais que o cineasta Craig Gillespie (Eu, Tonya) espalha ao longo do filme, nos lembrando: isso aconteceu de verdade.

Superficialidade

Mas, ao contrário do retrato empático e sarcástico de Tonya Harding em 2017, Dinheiro Fácil nunca chega a entrar em nenhum de seus personagens, nem mesmo tenta, apesar de uma cena em que Keith e sua família de classe média - seu irmão preguiçoso, Kevin, motorista do DoorDash (Pete Davidson); sua mãe, enfermeira aposentada (Kate Burton); e seu pai, caminhoneiro aposentado (Clancy Brown) - visitam o túmulo da recém-falecida irmã de Keith.

Tudo isso é só uma oportunidade para sublinhar que os heróis do filme são pessoas comuns como você e eu, em oposição a Gabe, Steve e Ken, que são arquétipos superficiais da ganância e da maldade. Quando as ações da GameStop disparam, esse trio conspira com os proprietários do Robinhood (Sebastian Stan e Rushi Kota) - o aplicativo de negociação sem comissões que a maioria dos investidores da GameStop usa - para fechar a plataforma, junto com o subreddit WallStreetBets, onde Keith (conhecido por um nome de usuário impublicável) também divulgava suas escolhas de ações.

Não há nada de sutil em Dinheiro Fácil, nem deveria haver. O objetivo é despertar a indignação contra os bandidos e inspirar admiração pelos oprimidos. E apesar do roteiro apresentar uma série de jargões de termos financeiros, os contornos gerais da narrativa são bastante fáceis de acompanhar.

Pena que não são muito fáceis de gostar. Dinheiro Fácil não tem nada da bravura ousada de A Grande Aposta (2015), a comédia baseada em fatos financeiros de Adam McKay, que interrompe sua narrativa complicada com uma cena em estilo infomercial de Margot Robbie explicando as hipotecas subprime e o conceito de shorting enquanto toma champanhe na banheira. Este filme só permite que os espectadores descubram as coisas por conta própria - ou não. Como uma fábula de punição financeira baseada em fatos reais, Dinheiro Fácil é bem engraçado. Mas não é especialmente inteligente. Ao contrário de seus protagonistas, não está interessado em dinheiro rápido, só em risada fácil.

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

WASHINGTON POST - A linha divisória não poderia ser mais clara entre as duas forças que se enfrentam em Dinheiro Fácil, uma divertida comédia documental baseada na história real tipo Davi contra Golias de pequenos investidores da GameStop que enfrentaram gestores predatórios de fundos de hedge na esperança de lucrar com o fim da varejista de videogames. De um lado estão os caras de Wall Street: Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management (Seth Rogen); Steve Cohen, da Point72 Ventures, proprietário do New York Mets (Vincent D’Onofrio); e Ken Griffin, da Citadel LLC (Nick Offerman). Todos eles são baseados em pessoas de verdade.

Seth Rogen (direita) é Gabe Plotkin, da Melvin Capital Management, e Nick Offerman é Ken Griffin, da Citadel LLC, na comédia Dinheiro Fácil, inspirada no caso GameStop. Foto: Lacey Terrell/Sony Pictures

Prepare-se para vaias e aplausos - e risadas. Uma cena, baseada em fatos, mostra Steve com seu porco de estimação, Romeu, correndo solto dentro de casa enquanto ele cria estratégias com seus colegas de venda a descoberto: investidores que só terão lucro se a ação contra a qual estão apostando perder valor. E acontece que, no início dessa história, essa ação é da GameStop, a rede um tanto enferrujada de lojas de varejo de shopping centers que vende hardware e software de jogos novos e usados.

O filme tem previsão de estreia no Brasil para o dia 2 de novembro de 2023.

Ambientado no meio da pandemia, o filme explica que as lojas GameStop conseguiram permanecer abertas quando todas as outras estavam fechadas porque foram classificadas como um negócio “essencial”. É só uma das muitas piadas do tipo ‘a-verdade-é-mais-estranha-que-a-ficção’ do roteiro de Lauren Schuker Blum e Rebecca Angelo, baseado no livro de não ficção The Antisocial Network, de Ben Mezrich.

Perfilado contra esses, digamos, porcos está um exército de homens e mulheres comuns, representados aqui por uma mãe solo e enfermeira em dificuldades (America Ferrera), uma estudante universitária afundada em dívidas de empréstimos estudantis (Talia Ryder) e sua namorada (Myha’la Herrold) e um vendedor empobrecido da GameStop (Anthony Ramos).

Todos eles se tornam pequenos investidores, incentivados por Keith Gill (Paul Dano), guru do mercado de ações no YouTube que atendia pelo apelido online Roaring Kitty e que durante o dia trabalhava como analista financeiro. Keith e sua esposa (Shailene Woodley) são o típico sal da terra: moram numa casa alugada com um bebê recém-nascido e US$ 53 mil em economias no banco. (O filme apresenta cada personagem com detalhes sobre seu patrimônio líquido na tela).

Keith investe esse pé-de-meia nas ações da GameStop, argumentando que a empresa está subvalorizada - e porque, como ele diz ingenuamente, “eu gosto da ação”. Isso vira uma espécie de slogan. Sua legião de fãs online segue o exemplo, e o preço das ações da GameStop sobe à medida que mais pessoas as compram, apesar de o bom senso dizer que é um investimento ruim. “É literalmente a definição de um esquema de pirâmide”, diz a personagem de Herrold.

O filme contrapõe na superficialidade milionários e pessoas comuns na luta para deixar uma loja de jogos aberta. Foto: Claire Folger/Sony Pictures

Ela não está errada, mas Dinheiro Fácil rapidamente se torna uma parábola moral em que esses peixes pequenos representam o poder das massas contra o 1% - pessoas ricas que são símbolos de um sistema fraudulento no qual ficam mais ricas trapaceando todos nós. Faz todo sentido o velho vídeo de Anthony Scaramucci se referindo ao caso GameStop como “a Revolução Francesa das finanças”. É só um dos vários trechos de notícias reais que o cineasta Craig Gillespie (Eu, Tonya) espalha ao longo do filme, nos lembrando: isso aconteceu de verdade.

Superficialidade

Mas, ao contrário do retrato empático e sarcástico de Tonya Harding em 2017, Dinheiro Fácil nunca chega a entrar em nenhum de seus personagens, nem mesmo tenta, apesar de uma cena em que Keith e sua família de classe média - seu irmão preguiçoso, Kevin, motorista do DoorDash (Pete Davidson); sua mãe, enfermeira aposentada (Kate Burton); e seu pai, caminhoneiro aposentado (Clancy Brown) - visitam o túmulo da recém-falecida irmã de Keith.

Tudo isso é só uma oportunidade para sublinhar que os heróis do filme são pessoas comuns como você e eu, em oposição a Gabe, Steve e Ken, que são arquétipos superficiais da ganância e da maldade. Quando as ações da GameStop disparam, esse trio conspira com os proprietários do Robinhood (Sebastian Stan e Rushi Kota) - o aplicativo de negociação sem comissões que a maioria dos investidores da GameStop usa - para fechar a plataforma, junto com o subreddit WallStreetBets, onde Keith (conhecido por um nome de usuário impublicável) também divulgava suas escolhas de ações.

Não há nada de sutil em Dinheiro Fácil, nem deveria haver. O objetivo é despertar a indignação contra os bandidos e inspirar admiração pelos oprimidos. E apesar do roteiro apresentar uma série de jargões de termos financeiros, os contornos gerais da narrativa são bastante fáceis de acompanhar.

Pena que não são muito fáceis de gostar. Dinheiro Fácil não tem nada da bravura ousada de A Grande Aposta (2015), a comédia baseada em fatos financeiros de Adam McKay, que interrompe sua narrativa complicada com uma cena em estilo infomercial de Margot Robbie explicando as hipotecas subprime e o conceito de shorting enquanto toma champanhe na banheira. Este filme só permite que os espectadores descubram as coisas por conta própria - ou não. Como uma fábula de punição financeira baseada em fatos reais, Dinheiro Fácil é bem engraçado. Mas não é especialmente inteligente. Ao contrário de seus protagonistas, não está interessado em dinheiro rápido, só em risada fácil.

TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

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