São mulheres do Brasil. Comandam as estreias desta quinta, 26. Bárbara Paz, Djin Sganzerla, Marcélia Cartaxo. Bárbara ganhou a indicação da comissão formada pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer a uma vaga no Oscar. É a primeira vez que o Brasil seleciona um documentário, Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou. A comissão apostou duplamente no prestígio de Hector Babenco na indústria, e no prêmio que a própria Bárbara recebeu em Veneza, no ano passado, por seu filme.
Djin é a prova de que o DNA do cinema pode estar no sangue. Filha de duas expressões do cinema autoral e independente no Brasil – Rogério Sganzerla e Helena Ignez –, ela sempre sonhou se tornar diretora. Preparou-se para isso. No final de 2019, foi ao Japão e fez Mulher Oceano. Como se tira um filme da água? Em primeiro lugar é preciso ir fundo, e também ter um parceiro como André Guerreiro Lopes, que filma o mar como poucas vezes se viu. Djin diz que o filme é um mergulho no feminino. Ela própria faz a personagem Ana, uma escritora que vai ao Japão e encontra essas mergulhadoras. Sua ligação com elas se torna visceral, e a inunda.
“O filme é sobre o que não conseguimos identificar, nem racionalizar, e que permanece mistério.” Alegra-se quando o repórter diz que achou o filme misterioso e que o melhor é mesmo não banalizar com excesso de explicações. “Era isso mesmo que eu queria.” O maior elogio que ouviu veio de um amigo. “Ele me disse que (Yasujiro) Ozu considerava impossível filmar o mar, porque ele não pode ser controlado. Mas ele também disse que, se o Ozu tivesse visto o que o André faz no nosso filme iria mudar de ideia.” Djin sempre conviveu com o cinema em casa. Virou atriz e, com a mãe, desenvolveu todo um trabalho de produção na Mercúrio. Outros grandes diretores com quem trabalhou – Julio Bressane, Carlos Reichenbach – têm métodos diferenciados. “Tentei assimilar o que podia de cada um deles.” Também é um filme sobre o tempo. “Existe o chamado do mar, e há o meu tempo de mulher e artista. Busco o meu amadurecimento.” O tempo também é personagem de Pacarrete. O longa de Allan Deberton percorreu festivais do País e do exterior, e foi multipremiado. Quando se lançou ao projeto, Deberton estava arriscando, pois não sabia se a história teria universalidade. Nascido em Russas, no interior do Ceará, ele era um menino sensível cuja infância foi assombrada pela louca da cidade. “Ela defendia seu espaço. Não queria que as pessoas passassem na calçada. Aos poucos descobri que ela havia sido bailarina e professora de balé. Era uma mulher cultivada, mas num meio em que poucos tinham condições de entender e aceitar o que ela tinha para oferecer. Quando se tenta fazer arte em condições tão adversas, essas histórias ganham outros significados. Tinha de fazer Pacarrete, mas não foi fácil. Me endividei para conseguir finalizá-lo.” E Marcélia: “Quando Allan me enviou o roteiro me propôs essa Pacarrete como um desafio. Teria de dançar, e não sabia que começar no balé na minha idade seria tão difícil, tinha de aprender francês, mas, aos poucos fui entendendo e habitando essa mulher”. Há agora uma possibilidade de Marcélia dirigir um longa. “Espero que saia, mas a gente tem de ser forte para não desistir diante de tanta dificuldade.” Bárbara Paz que o diga. A gaúcha de Campo Bom teve uma trajetória ziguezagueante em São Paulo, onde chegou muito jovem. Fez teatro infantil, A Casa dos Artistas, foi capa da Playboy. As pessoas do próprio meio a olhavam com desconfiança. Encontrou Babenco num momento difícil da vida de ambos. Ele dizia: “Somos dois sobreviventes”. Com ele, Bárbara iniciou outra fase de reconhecimento. Colheu grandes sucessos no teatro adulto – Maggie the Cat, a Vênus de Visom. O estado de saúde de Babenco foi piorando e Bárbara, um pouco como Wim Wenders fizera com Nicholas Ray em Nick’s Movie, filmou sua agonia. Não com morbidez – com amor. Nasceu uma diretora avalizada pela Academia Brasileira de Cinema para tentar a indicação para o Oscar.
Outros destaques
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