‘Flashdance’: filme que foi sensação nos anos 1980 faz 40 anos


Músicas como ‘What a Feeling’ e ‘Maniac’ embalaram cenas icônicas da história do cinema; relembre

Por Brian Seibert
Atualização:

No clímax de um strip-tease, a jovem arqueia as costas numa cadeira e puxa uma corda. Uma cascata de água encharca seu corpo flexionado.

De collant e polainas, a mesma mulher se estica e corre no lugar, os cabelos molhados lançam umidade enquanto ela balança e gira a cabeça.

Ainda de malha e polaina, ela enfrenta um painel de juízes numa audição – pula, levanta os braços, gira e dá cambalhota.

continua após a publicidade

Esses e outros momentos do filme Flashdance (1983) ainda circulam na memória cultural, amados, ridicularizados e reconhecidos até mesmo por quem nunca viu o filme. Na segunda-feira, em homenagem ao seu 40º aniversário, os nova-iorquinos terão a rara chance de assisti-lo na tela grande, como parte da seleção de encerramento do Dance on Camera Festival deste ano no Lincoln Center.

“Muitas pessoas o guardam num lugar especial”, disse Michael Trusnovec, curador do festival, observando como o estilo do filme permeou os estúdios de dança de Long Island, onde ele cresceu. Ele também apontou como Flashdance afetou a moda: os moletons com o decote cortado para cair do ombro. E enfatizou como dançarinos, como aqueles inspirados pela breve aparição de B-boys, gravitaram para o filme, pensando: “É isso que eu quero fazer. Eu quero ser isso”.

continua após a publicidade

Além da dança, muito do poder de permanência do filme vem da trilha sonora, especialmente Maniac, de Michael Sembello, e What a Feeling, de Giorgio Moroder, cantada por Irene Cara. As músicas embalam sequências que são essencialmente videoclipes, que é como essas cenas se tornaram onipresentes na MTV – e por que ainda circulam online. A voz de Cara conecta Flashdance a Fame, o filme de 1980 com sua música-título de sucesso, assim como a atriz coadjuvante Cynthia Rhodes o conecta a Dirty Dancing, de 1987. É um nó de filmes de dança dos anos 80.

Há algum carinho pelo enredo também. Situada em Pittsburgh, é uma história de seguir seus sonhos e um conto de Cinderela. Alex – Jennifer Beals no papel que fez dela uma estrela – é soldadora durante o dia e dança numa boate burlesca à noite (ocasionando não apenas o famoso número encharcado de água, mas também um surto de maquiagem Kabuki em meio a luzes estroboscópicas). Seu sonho é ser aceita num prestigioso conservatório de dança. No final, ela entra no conservatório e ainda pega o mocinho, seu chefe na siderúrgica.

continua após a publicidade

Ao longo dos anos, o filme também adquiriu uma espécie de notoriedade, porque Beals fez muito pouco da dança de Alex. A maioria foi executada por uma dançarina francesa, Marine Jahan. E, na cena culminante da audição, houve outros dublês: a ginasta Sharon Shapiro para o mergulho e rolamento; e, para o backspin, o B-boy Richard Colon, de 16 anos, mais conhecido como Crazy Legs.

Inicialmente, disse Colon em entrevista, ele fora contratado para ensinar os outros dublês – um dia antes das filmagens. Não era tempo suficiente, então o diretor, Adrian Lyne, pediu que ele mesmo fizesse o backspin, de collant e peruca, depois de raspar as pernas e o bigode recém-crescido.

continua após a publicidade

“Eu era um porto-riquenho arrogante do Bronx, com todo aquele machismo”, disse Colon. “Botei a mão na cara de Lyne e esfreguei os dedos, tipo, ‘Você vai ter que pagar’”.

E eles pagaram bem, disse Colon. Nas décadas seguintes, os cheques residuais “definitivamente foram úteis”, acrescentou, assim como sua piada sobre ser o primeiro hip-hop a se vestir de mulher.

Colon era conhecido dos cineastas porque já estava no filme. Ele e alguns outros membros do grupo pioneiro de B-boy Rock Steady Crew aparecem em outra cena, quando Alex os descobre dançando com um boombox no meio da rua.

continua após a publicidade

Ao som do hino It’s Just Begun, de Jimmy Castor Bunch, Normski faz a dança do robô, Ken Swift e Crazy Legs dão piruetas e Mr. Freeze segura um guarda-chuva enquanto faz o backslide, pouco antes de Michael Jackson transformar esse velho movimento no famoso moonwalk. Essa sequência de um minuto teve um impacto descomunal.

“É impossível superestimar o significado de Flashdance na história do break”, disse Joseph Schloss, autor de Foundation: B-boys, B-girls and Hip-Hop Culture in New York. “Aquela cena praticamente sozinha gerou a invasão do mainstream”.

continua após a publicidade

Alguns integrantes do Rock Steady a princípio hesitaram em participar do filme. “Nós não ensaiávamos com outros grupos”, disse Colon, “porque tudo era uma questão de elemento surpresa”. Marc Lemberger, mais conhecido como Mr. Freeze, disse que temia que outros dançarinos “mordessem nossos passos” – ou seja, os roubassem.

Após o lançamento do filme, o grupo “virou uma celebridade instantânea no gueto”, disse Colon. “Tinha muito amor e muito ciúme”. Eles participaram do programa de David Letterman e de Beat Street, um dos poucos filmes sobre break lançados no ano seguinte. Flashdance também está conectado a essa parte dos anos 80.

O interesse de Hollywood foi uma moda passageira, mas o break sobreviveu. Durante décadas, disse Colon, ele conheceu pessoas que assistiam a Flashdance só para ver aquela cena, pessoas que se identificavam com a dança, muitas delas longe do Bronx.

“Quando você fala com pessoas em diferentes cenas de dança hip-hop do mundo todo”, disse Schloss, “quase inevitavelmente elas dizem: ‘Bem, a primeira vez que vimos isso foi em Flashdance’”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

No clímax de um strip-tease, a jovem arqueia as costas numa cadeira e puxa uma corda. Uma cascata de água encharca seu corpo flexionado.

De collant e polainas, a mesma mulher se estica e corre no lugar, os cabelos molhados lançam umidade enquanto ela balança e gira a cabeça.

Ainda de malha e polaina, ela enfrenta um painel de juízes numa audição – pula, levanta os braços, gira e dá cambalhota.

Esses e outros momentos do filme Flashdance (1983) ainda circulam na memória cultural, amados, ridicularizados e reconhecidos até mesmo por quem nunca viu o filme. Na segunda-feira, em homenagem ao seu 40º aniversário, os nova-iorquinos terão a rara chance de assisti-lo na tela grande, como parte da seleção de encerramento do Dance on Camera Festival deste ano no Lincoln Center.

“Muitas pessoas o guardam num lugar especial”, disse Michael Trusnovec, curador do festival, observando como o estilo do filme permeou os estúdios de dança de Long Island, onde ele cresceu. Ele também apontou como Flashdance afetou a moda: os moletons com o decote cortado para cair do ombro. E enfatizou como dançarinos, como aqueles inspirados pela breve aparição de B-boys, gravitaram para o filme, pensando: “É isso que eu quero fazer. Eu quero ser isso”.

Além da dança, muito do poder de permanência do filme vem da trilha sonora, especialmente Maniac, de Michael Sembello, e What a Feeling, de Giorgio Moroder, cantada por Irene Cara. As músicas embalam sequências que são essencialmente videoclipes, que é como essas cenas se tornaram onipresentes na MTV – e por que ainda circulam online. A voz de Cara conecta Flashdance a Fame, o filme de 1980 com sua música-título de sucesso, assim como a atriz coadjuvante Cynthia Rhodes o conecta a Dirty Dancing, de 1987. É um nó de filmes de dança dos anos 80.

Há algum carinho pelo enredo também. Situada em Pittsburgh, é uma história de seguir seus sonhos e um conto de Cinderela. Alex – Jennifer Beals no papel que fez dela uma estrela – é soldadora durante o dia e dança numa boate burlesca à noite (ocasionando não apenas o famoso número encharcado de água, mas também um surto de maquiagem Kabuki em meio a luzes estroboscópicas). Seu sonho é ser aceita num prestigioso conservatório de dança. No final, ela entra no conservatório e ainda pega o mocinho, seu chefe na siderúrgica.

Ao longo dos anos, o filme também adquiriu uma espécie de notoriedade, porque Beals fez muito pouco da dança de Alex. A maioria foi executada por uma dançarina francesa, Marine Jahan. E, na cena culminante da audição, houve outros dublês: a ginasta Sharon Shapiro para o mergulho e rolamento; e, para o backspin, o B-boy Richard Colon, de 16 anos, mais conhecido como Crazy Legs.

Inicialmente, disse Colon em entrevista, ele fora contratado para ensinar os outros dublês – um dia antes das filmagens. Não era tempo suficiente, então o diretor, Adrian Lyne, pediu que ele mesmo fizesse o backspin, de collant e peruca, depois de raspar as pernas e o bigode recém-crescido.

“Eu era um porto-riquenho arrogante do Bronx, com todo aquele machismo”, disse Colon. “Botei a mão na cara de Lyne e esfreguei os dedos, tipo, ‘Você vai ter que pagar’”.

E eles pagaram bem, disse Colon. Nas décadas seguintes, os cheques residuais “definitivamente foram úteis”, acrescentou, assim como sua piada sobre ser o primeiro hip-hop a se vestir de mulher.

Colon era conhecido dos cineastas porque já estava no filme. Ele e alguns outros membros do grupo pioneiro de B-boy Rock Steady Crew aparecem em outra cena, quando Alex os descobre dançando com um boombox no meio da rua.

Ao som do hino It’s Just Begun, de Jimmy Castor Bunch, Normski faz a dança do robô, Ken Swift e Crazy Legs dão piruetas e Mr. Freeze segura um guarda-chuva enquanto faz o backslide, pouco antes de Michael Jackson transformar esse velho movimento no famoso moonwalk. Essa sequência de um minuto teve um impacto descomunal.

“É impossível superestimar o significado de Flashdance na história do break”, disse Joseph Schloss, autor de Foundation: B-boys, B-girls and Hip-Hop Culture in New York. “Aquela cena praticamente sozinha gerou a invasão do mainstream”.

Alguns integrantes do Rock Steady a princípio hesitaram em participar do filme. “Nós não ensaiávamos com outros grupos”, disse Colon, “porque tudo era uma questão de elemento surpresa”. Marc Lemberger, mais conhecido como Mr. Freeze, disse que temia que outros dançarinos “mordessem nossos passos” – ou seja, os roubassem.

Após o lançamento do filme, o grupo “virou uma celebridade instantânea no gueto”, disse Colon. “Tinha muito amor e muito ciúme”. Eles participaram do programa de David Letterman e de Beat Street, um dos poucos filmes sobre break lançados no ano seguinte. Flashdance também está conectado a essa parte dos anos 80.

O interesse de Hollywood foi uma moda passageira, mas o break sobreviveu. Durante décadas, disse Colon, ele conheceu pessoas que assistiam a Flashdance só para ver aquela cena, pessoas que se identificavam com a dança, muitas delas longe do Bronx.

“Quando você fala com pessoas em diferentes cenas de dança hip-hop do mundo todo”, disse Schloss, “quase inevitavelmente elas dizem: ‘Bem, a primeira vez que vimos isso foi em Flashdance’”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

No clímax de um strip-tease, a jovem arqueia as costas numa cadeira e puxa uma corda. Uma cascata de água encharca seu corpo flexionado.

De collant e polainas, a mesma mulher se estica e corre no lugar, os cabelos molhados lançam umidade enquanto ela balança e gira a cabeça.

Ainda de malha e polaina, ela enfrenta um painel de juízes numa audição – pula, levanta os braços, gira e dá cambalhota.

Esses e outros momentos do filme Flashdance (1983) ainda circulam na memória cultural, amados, ridicularizados e reconhecidos até mesmo por quem nunca viu o filme. Na segunda-feira, em homenagem ao seu 40º aniversário, os nova-iorquinos terão a rara chance de assisti-lo na tela grande, como parte da seleção de encerramento do Dance on Camera Festival deste ano no Lincoln Center.

“Muitas pessoas o guardam num lugar especial”, disse Michael Trusnovec, curador do festival, observando como o estilo do filme permeou os estúdios de dança de Long Island, onde ele cresceu. Ele também apontou como Flashdance afetou a moda: os moletons com o decote cortado para cair do ombro. E enfatizou como dançarinos, como aqueles inspirados pela breve aparição de B-boys, gravitaram para o filme, pensando: “É isso que eu quero fazer. Eu quero ser isso”.

Além da dança, muito do poder de permanência do filme vem da trilha sonora, especialmente Maniac, de Michael Sembello, e What a Feeling, de Giorgio Moroder, cantada por Irene Cara. As músicas embalam sequências que são essencialmente videoclipes, que é como essas cenas se tornaram onipresentes na MTV – e por que ainda circulam online. A voz de Cara conecta Flashdance a Fame, o filme de 1980 com sua música-título de sucesso, assim como a atriz coadjuvante Cynthia Rhodes o conecta a Dirty Dancing, de 1987. É um nó de filmes de dança dos anos 80.

Há algum carinho pelo enredo também. Situada em Pittsburgh, é uma história de seguir seus sonhos e um conto de Cinderela. Alex – Jennifer Beals no papel que fez dela uma estrela – é soldadora durante o dia e dança numa boate burlesca à noite (ocasionando não apenas o famoso número encharcado de água, mas também um surto de maquiagem Kabuki em meio a luzes estroboscópicas). Seu sonho é ser aceita num prestigioso conservatório de dança. No final, ela entra no conservatório e ainda pega o mocinho, seu chefe na siderúrgica.

Ao longo dos anos, o filme também adquiriu uma espécie de notoriedade, porque Beals fez muito pouco da dança de Alex. A maioria foi executada por uma dançarina francesa, Marine Jahan. E, na cena culminante da audição, houve outros dublês: a ginasta Sharon Shapiro para o mergulho e rolamento; e, para o backspin, o B-boy Richard Colon, de 16 anos, mais conhecido como Crazy Legs.

Inicialmente, disse Colon em entrevista, ele fora contratado para ensinar os outros dublês – um dia antes das filmagens. Não era tempo suficiente, então o diretor, Adrian Lyne, pediu que ele mesmo fizesse o backspin, de collant e peruca, depois de raspar as pernas e o bigode recém-crescido.

“Eu era um porto-riquenho arrogante do Bronx, com todo aquele machismo”, disse Colon. “Botei a mão na cara de Lyne e esfreguei os dedos, tipo, ‘Você vai ter que pagar’”.

E eles pagaram bem, disse Colon. Nas décadas seguintes, os cheques residuais “definitivamente foram úteis”, acrescentou, assim como sua piada sobre ser o primeiro hip-hop a se vestir de mulher.

Colon era conhecido dos cineastas porque já estava no filme. Ele e alguns outros membros do grupo pioneiro de B-boy Rock Steady Crew aparecem em outra cena, quando Alex os descobre dançando com um boombox no meio da rua.

Ao som do hino It’s Just Begun, de Jimmy Castor Bunch, Normski faz a dança do robô, Ken Swift e Crazy Legs dão piruetas e Mr. Freeze segura um guarda-chuva enquanto faz o backslide, pouco antes de Michael Jackson transformar esse velho movimento no famoso moonwalk. Essa sequência de um minuto teve um impacto descomunal.

“É impossível superestimar o significado de Flashdance na história do break”, disse Joseph Schloss, autor de Foundation: B-boys, B-girls and Hip-Hop Culture in New York. “Aquela cena praticamente sozinha gerou a invasão do mainstream”.

Alguns integrantes do Rock Steady a princípio hesitaram em participar do filme. “Nós não ensaiávamos com outros grupos”, disse Colon, “porque tudo era uma questão de elemento surpresa”. Marc Lemberger, mais conhecido como Mr. Freeze, disse que temia que outros dançarinos “mordessem nossos passos” – ou seja, os roubassem.

Após o lançamento do filme, o grupo “virou uma celebridade instantânea no gueto”, disse Colon. “Tinha muito amor e muito ciúme”. Eles participaram do programa de David Letterman e de Beat Street, um dos poucos filmes sobre break lançados no ano seguinte. Flashdance também está conectado a essa parte dos anos 80.

O interesse de Hollywood foi uma moda passageira, mas o break sobreviveu. Durante décadas, disse Colon, ele conheceu pessoas que assistiam a Flashdance só para ver aquela cena, pessoas que se identificavam com a dança, muitas delas longe do Bronx.

“Quando você fala com pessoas em diferentes cenas de dança hip-hop do mundo todo”, disse Schloss, “quase inevitavelmente elas dizem: ‘Bem, a primeira vez que vimos isso foi em Flashdance’”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

No clímax de um strip-tease, a jovem arqueia as costas numa cadeira e puxa uma corda. Uma cascata de água encharca seu corpo flexionado.

De collant e polainas, a mesma mulher se estica e corre no lugar, os cabelos molhados lançam umidade enquanto ela balança e gira a cabeça.

Ainda de malha e polaina, ela enfrenta um painel de juízes numa audição – pula, levanta os braços, gira e dá cambalhota.

Esses e outros momentos do filme Flashdance (1983) ainda circulam na memória cultural, amados, ridicularizados e reconhecidos até mesmo por quem nunca viu o filme. Na segunda-feira, em homenagem ao seu 40º aniversário, os nova-iorquinos terão a rara chance de assisti-lo na tela grande, como parte da seleção de encerramento do Dance on Camera Festival deste ano no Lincoln Center.

“Muitas pessoas o guardam num lugar especial”, disse Michael Trusnovec, curador do festival, observando como o estilo do filme permeou os estúdios de dança de Long Island, onde ele cresceu. Ele também apontou como Flashdance afetou a moda: os moletons com o decote cortado para cair do ombro. E enfatizou como dançarinos, como aqueles inspirados pela breve aparição de B-boys, gravitaram para o filme, pensando: “É isso que eu quero fazer. Eu quero ser isso”.

Além da dança, muito do poder de permanência do filme vem da trilha sonora, especialmente Maniac, de Michael Sembello, e What a Feeling, de Giorgio Moroder, cantada por Irene Cara. As músicas embalam sequências que são essencialmente videoclipes, que é como essas cenas se tornaram onipresentes na MTV – e por que ainda circulam online. A voz de Cara conecta Flashdance a Fame, o filme de 1980 com sua música-título de sucesso, assim como a atriz coadjuvante Cynthia Rhodes o conecta a Dirty Dancing, de 1987. É um nó de filmes de dança dos anos 80.

Há algum carinho pelo enredo também. Situada em Pittsburgh, é uma história de seguir seus sonhos e um conto de Cinderela. Alex – Jennifer Beals no papel que fez dela uma estrela – é soldadora durante o dia e dança numa boate burlesca à noite (ocasionando não apenas o famoso número encharcado de água, mas também um surto de maquiagem Kabuki em meio a luzes estroboscópicas). Seu sonho é ser aceita num prestigioso conservatório de dança. No final, ela entra no conservatório e ainda pega o mocinho, seu chefe na siderúrgica.

Ao longo dos anos, o filme também adquiriu uma espécie de notoriedade, porque Beals fez muito pouco da dança de Alex. A maioria foi executada por uma dançarina francesa, Marine Jahan. E, na cena culminante da audição, houve outros dublês: a ginasta Sharon Shapiro para o mergulho e rolamento; e, para o backspin, o B-boy Richard Colon, de 16 anos, mais conhecido como Crazy Legs.

Inicialmente, disse Colon em entrevista, ele fora contratado para ensinar os outros dublês – um dia antes das filmagens. Não era tempo suficiente, então o diretor, Adrian Lyne, pediu que ele mesmo fizesse o backspin, de collant e peruca, depois de raspar as pernas e o bigode recém-crescido.

“Eu era um porto-riquenho arrogante do Bronx, com todo aquele machismo”, disse Colon. “Botei a mão na cara de Lyne e esfreguei os dedos, tipo, ‘Você vai ter que pagar’”.

E eles pagaram bem, disse Colon. Nas décadas seguintes, os cheques residuais “definitivamente foram úteis”, acrescentou, assim como sua piada sobre ser o primeiro hip-hop a se vestir de mulher.

Colon era conhecido dos cineastas porque já estava no filme. Ele e alguns outros membros do grupo pioneiro de B-boy Rock Steady Crew aparecem em outra cena, quando Alex os descobre dançando com um boombox no meio da rua.

Ao som do hino It’s Just Begun, de Jimmy Castor Bunch, Normski faz a dança do robô, Ken Swift e Crazy Legs dão piruetas e Mr. Freeze segura um guarda-chuva enquanto faz o backslide, pouco antes de Michael Jackson transformar esse velho movimento no famoso moonwalk. Essa sequência de um minuto teve um impacto descomunal.

“É impossível superestimar o significado de Flashdance na história do break”, disse Joseph Schloss, autor de Foundation: B-boys, B-girls and Hip-Hop Culture in New York. “Aquela cena praticamente sozinha gerou a invasão do mainstream”.

Alguns integrantes do Rock Steady a princípio hesitaram em participar do filme. “Nós não ensaiávamos com outros grupos”, disse Colon, “porque tudo era uma questão de elemento surpresa”. Marc Lemberger, mais conhecido como Mr. Freeze, disse que temia que outros dançarinos “mordessem nossos passos” – ou seja, os roubassem.

Após o lançamento do filme, o grupo “virou uma celebridade instantânea no gueto”, disse Colon. “Tinha muito amor e muito ciúme”. Eles participaram do programa de David Letterman e de Beat Street, um dos poucos filmes sobre break lançados no ano seguinte. Flashdance também está conectado a essa parte dos anos 80.

O interesse de Hollywood foi uma moda passageira, mas o break sobreviveu. Durante décadas, disse Colon, ele conheceu pessoas que assistiam a Flashdance só para ver aquela cena, pessoas que se identificavam com a dança, muitas delas longe do Bronx.

“Quando você fala com pessoas em diferentes cenas de dança hip-hop do mundo todo”, disse Schloss, “quase inevitavelmente elas dizem: ‘Bem, a primeira vez que vimos isso foi em Flashdance’”. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Tudo Sobre

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.