Há três anos, Jerry Lewis, aos 87 anos, quase matou de rir jornalistas de todo o mundo que participavam de uma coletiva em sua homenagem, no Festival de Cannes. O curioso é que ele estava em Cannes com um drama, Max Rose, de Daniel Noah, e sua coletiva – individual – antecedeu a do filme. Max Rose é um drama sombrio sobre um velho que, ao enterrar a mulher, descobre que a união de 65 anos talvez tenha sido construída sobre uma mentira.
Com um drama desses, seria até natural que Jerry Lewis falasse com os jornalistas aos prantos, mas ele estava hilário. Bancou o surdo, riu da atrofia muscular que emperrou a carreira e fez piada com o próprio isolamento – durante 18 anos esteve afastado do cinema, brigando para viabilizar um filme que ficou maldito, O Dia em Que o Palhaço Chorou. Naquele mesmo ano – 2013 –, fez uma participação em Até Que a Sorte nos Separe 2. Leandro Hassum ama Jerry Lewis. “É o cara mais engraçado do mundo”, disse certa vez ao repórter.
Os franceses concordam. O próprio fato de Cannes haver estendido o tapete vermelho para Jerry não foi por acaso. Nos EUA, ele era só um palhaço. O culto a seu gênio começou na França. Foi lá que Jerry Lewis adquiriu reconhecimento como autor. E nesta quarta-feira, 16, é festa para ele. Jerry faz 90 anos – 90! Nasceu Joseph Levitch em Newark, New Jersey, em 1926, filho de um ator de vaudeville de origem russa e de uma pianista de rádio. Aos 15, já dublava canções para efeitos cômicos. Aos 18, e após um brevíssimo período como ‘Joey’ Lewis, já era Jerry.
Formou dupla com Dean Martin. Começaram em casas de shows, passaram pelo rádio e pela TV até chegar ao cinema e a parceria acabou porque cada um se julgava o melhor. Ainda na fase com Martin, fizeram algumas comédias (Artistas e Modelos, Ou Vai ou Racha) com Frank Tashlin, que virou o mentor de Jerry. Em 1960, tornou-se diretor – O Mensageiro Trapalhão. O segundo filme já era obra de um artista conceitual, e talentosíssimo – O Terror das Mulheres.
Com O Professor Aloprado, de 1963, estabeleceu-se como psicanalista da América. Como ator e diretor, sempre gostou de se desdobrar em inúmeros personagens, fazendo rir de si mesmo. Seu humor é verbal e visual e ele gosta de revelar o cenário, desmontando o mecanismo do próprio gag em cena. Por conta disso, já foi chamado de maior humorista do cinema sonoro. Humorista, sim. Ator, também. Antes de Max Rose, já mostrara ser um grande intérprete de drama em O Rei da Comédia, de Martin Scorsese. Um artista desse tamanho não passa em branco. Ria com Jerry em O Bagunceiro Arrumadinho – de Tashlin. À 0h15, no Telecine Cult.