AFP - Guerra Civil, que estreou no Festival SXSW na semana passada e chegará aos cinemas em abril, retrata um presidente de três mandatos - um além do permitido -, em Washington, lutando contra forças separatistas da Califórnia e Texas.
O filme acompanha jornalistas (vividos pela americana Kirsten Dunst e o brasileiro Wagner Moura) que percorrem uma nação destruída, onde o FBI foi dissolvido e drones das forças armadas lançam ataques contra os civis.
Nas primeiras críticas, a revista The Atlantic destacou que o filme tem uma “ressonância incômoda nestes tempos politicamente polarizados”. A Rolling Stone disse que “poderia ser acidentalmente confundido com o presente”.
Mas qual a possibilidade desse cenário?
Donald Trump foi criticado recentemente por fazer piada sobre ser “ditador” desde “o primeiro dia” se vencer as eleições e retornar à Casa Branca. O ex-presidente enfrenta acusações de conspirar para anular os resultados das eleições de 2020, quando perdeu para o democrata Joe Biden.
Biden, que busca a reeleição, acusou seu antecessor de abraçar a “violência política”.
Uma pesquisa do Public Religion Research Institute (PRRI) do ano passado revelou que 23% dos americanos concordam que “os verdadeiros patriotas podem recorrer à violência para salvar o país”.
As elites políticas e o Congresso estão mais divididos do que nunca, mas a polarização entre os cidadãos é “superdimensionada”, disse William Howell, professor de ciências políticas na Universidade de Chicago.
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As respostas às perguntas vagas nas pesquisas não refletem necessariamente a realidade sobre como as pessoas se comportarão, afirmou
“Não acredito que estejamos a um passo de uma guerra civil”, disse. “Horrível”. Já o autor Stephen Marche acredita que os “Estados Unidos são um estudo de caso de um país que caminha para uma guerra civil”, mas não como mostra o filme.
O livro de Marche, The Next Civil War: Dispatches from the American Future (A Próxima Guerra Civil: Despachos do Futuro Americano, em tradução livre), utiliza modelos de ciência política para sugerir cinco cenários que poderiam desencadear um conflito interno generalizado. Por exemplo, o enfrentamento de milícias antigovernamentais com as forças federais e o assassinato de um presidente.
A violência política “torna-se aceitável e, em certo sentido, inevitável, porque as pessoas não sentem que seu governo é legítimo e parece que, por isso, a violência é a única resposta”, afirmou Marche. “Eu diria que, de certa forma, isso já ocorreu nos Estados Unidos”.
No livro de Marche, o coronel aposentado do Exército Peter Mansoor afirma que um novo conflito “não seria como a primeira Guerra Civil, com exércitos manobrando no campo de batalha”.
“Acredito que seria uma batalha campal, de vizinho contra vizinho, baseada em crenças, cor da pele e religião. E seria horrível”. “Falhas e pressões”. No filme, o diretor Alex Garland alude de forma deliberada às origens concretas do conflito.
Garland afirma que a obra pretende ser “uma conversa” sobre polarização e populismo.
“Não precisamos que nos expliquem: sabemos exatamente porque pode ocorrer, sabemos exatamente quais são as falhas e pressões”, disse Garland na estreia no Texas na semana passada.
O “presidente de três mandatos” do filme parece invocar os temores de muitos americanos de que Trump, se reeleito, tente desprezar o prazo máximo de dois períodos presidenciais e queira buscar um terceiro.
“É difícil pensar o contrário, se considerarmos suas palavras, e acredito que nos equivocaríamos se não o fizéssemos”, disse Howell. Se chegar a este cenário, segundo Marche, falar em uma guerra civil poderá ser redundante. “Se houvesse um presidente com três mandatos, os Estados Unidos estariam acabados”, disse. “Não haveria mais Estados Unidos”.