Há 40 anos morria o ator John Wayne, que encarnou o mito do macho americano


Com 1,92 m, físico atlético, foi campeão de futebol pela University of Southern California. Descobriu o cinema, ou o cinema descobriu-o, quando ainda era muito jovem

Por Luiz Carlos Merten

Completam-se nesta terça, 11 e junho, 40 anos da morte do lendário John Wayne - 11 de junho de 1979. 40 anos! É de perguntar-se se, tivesse ele conservado o nome de batismo - Marion Robert Morrison -, teria feito tanto sucesso. Como John Wayne, ficou muito mais viril, e por décadas encarnou o mito do macho norte-americano.

O westerner, o homem do Oeste. Com 1,92 m, físico atlético, foi campeão de futebol pela University of Southern California. Descobriu o cinema, ou o cinema descobriu-o, quando ainda era muito jovem. Chamou a atenção de um certo John Ford, que resolveu reservá-lo para o papel certo. Já como John Wayne, ele estreou The Big Trail, de Raoul Walsh, em 1930. Ford, irritado com a 'traição', ignorou-o por quase uma década, mas quando, finalmente, o convocou para seu elenco, foi para o emblemático papel de Ringo Kid em Stagecoach/No Tempo das Diligências, em 1939.

O ator John Wayne (1907-1979) Foto: Acervo Estadão
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Ford já havia recebido o primeiro Oscar - por O Delator, com Victor Sjostrom, em 1935. Era considerado um diretror de prestígio, mas foi no western que ele encontrou sua praia. Em Monument Valley, no Utah, uma reserva indígena, encontrou seu cenário favorito, e o converteu num solo sagrado do cinema. Ford era republicano, como Wayne, mas é de perguntar-se, também, se estariam apoiando o celerado Mr. Trump. Ford colocou-se contra o macarthismo, na célebre reunião organizada por Cecil B. DeMille para garantir o apoio de seus pares ao Comitê de Atividades Anti-americanas do Senado. Joseph L. Mankiewicz fez o relato que entrou para a história. Quando a classe parecia rachada, Ford levantou-se. Disse - 'My name is John Ford and I make westerns.' E foi contra, derrotando DeMille no voto.

Wayne também era republicano, mas, casado com a hispânica Pilar Pallete, amava o México e seu povo. É praticamente impossível imaginá-lo apoiando a construção de um muro para banir mexicanos. Por décadas, foi recordista de bilheterias. Além de Ford, tornou-se assíduo também no elenco de outros grandes diretores - Howard Hawks, Henry Hathaway. Com Otto Preminger, fez um só filme, mas foi dos maiores, A Primeira Vitória/In Harm's Way.

Reinou no western, no filme de guerra. Fez memoráveis filmes de aventuras. Fumante compulsivo, foi diagnosticado com câncer de pulmão em 1964. Teve de remover o pulmão esquerdo e quatro costelas. Tornou pública a doença, e virou ativista na campanha de exames preventivos. Cinco anos mais tarde, foi considerado curado, e ele morreu neste dia, há 40 anos - de outro tipo de câncer, no estômago -, não sem antes receber seu Oscar - pela primeira versão de Bravura Indômita/True Grit, de 1969. Em 2016, foi homenageado por Lady Gaga na quarta faixa de seu álbum Joanne, que leva o nome de John Wayne. Está sepultado no Pacific View Memorial Park, em Orange County, na Califórnia. Numa carreira extensa como a dele, é duro escolher os melhores filmes, mas lá vamos nós.

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No Tempo das Diligências, de John Ford, 1939

Os passageiros de uma diligência, no Velho Oeste, representam a sociedade da época, divididos em classes. Ringo Kid/Wayne e a prostituta Dallas/Claire Trevor são marginalizados e até hostilizados pelo grupo, mas na hora do perigo o que ressalta é a grandeza dos derrotados. O próprio Ford consdidera esse filme decisivo em sua carreira. Encontrou seu cenário, Monument Valley, e seu jeito de filmar westerns.

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A Pecadora/Seven Sinners, de Tay Garnett, 1940

John Wayne como marinheiro nos Mares do Sol envolve-se com a não menos mítica Marlene Dietrich, e ela, a perdida, o enfeitiça com seu canto (de sereia?).

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Sangue de Heroi/Fort Apache, de John Ford, 1947

No forte do título, o oficial Wayne entra em choque com o sanguinário Henry Fonda, exterminador de índios. A versão do mestre para o massacre de Little Big Horn não poupa o mito do General Custer.

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Rio Vermelho/Red River, de Howard Hawks, 1948

O encontro com Howard Hawks. Wayne - loiro - transporta gado e as dificuldades do percurso são acentuadas pelos embates entre Montgomey Clift e John Ireland, que vivem medindo suas pistolas. Freud explica.

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No Rastro da Bruxa Vermelha/Wake of the Red Witch, de Edward Ludwig, 1948

Wayne, de novo homem do mar, busca embarcação naufragada que contém tesouro. O lugar é guardado por um polvo gigantesco. Existe algo fantástico nesta mistura de aventura e romance em que o casal só consegue ser feliz na eternidade.

Iwo Jima - O Portal da Glória/Sands of Iwo Jima, de Allan Dwan, 1949

A história por trás da imagem heroica. Os soldados que resistiram, mantendo ereta a bandeira dos EUA na Guerra do Pacífico, no Monte Furibachi. Anos mais tarde, em 2006, Clint Eastwood deu sua versão do episódio em A Conquista da Honra.

Depois do Vendaval/The Quiet Man, de John Ford, 1952

O quarto e último western de direção de John Ford. Descendente de irlandeses, o cineasta cria uma Irlanda idílica, Innesfree, aonde vai se esconder o pugilista Wayne. O beijo em Maureen O'Hara, o casamento, a cama quebrada, o desentendimento por causa do dote e a memorável briga a socos com Victor LcLaglen. O filme tem fama, mas, então, por que até feministas históricas o defendem?

Rastros de Ódio/The Searchers, de John Ford, 1956

Um western genial e um dos maiores filmes de todos os tempos. Ford, o Homero do western, que adorava as epopeias de grupos, cria a tragédia de um solitário. O racista Ethan/Wayne busca a sobrinha raptada por índios e que vive com (e como) um deles. Quer matá-la, mas na hora H... O próprio Jean-Luc Godard considerava-se dividido. Odiava John Wayne, por seu apoio à Guerra do Vietnã - porque ele apoiou e até dirigiu Os Boinas Verdes/The Green Berets, em 1968 -, mas o amava quando o Duke (como era chamado) abria seus braços para acolher Natalie Wood, a sobrinha, Debbie.

Onde Começa o Inferno/Rio Bravo, de Howard Hawks, de 1959

O xerife John Wayne aceita a ajuda de um grupo heterogêrneo - o bêbado Dean Martin, o inexperiente RickyNelson, que canta a balada tema, o velho (e manco) Walter Brennan - para defender sua delegacia do bando selvagem que vem resgatar bandido preso. Como se não bastassem os perigos, ainda tem Angie Dickinson, como a garota de saloon Feathers, a tentar John Chance/Wayne.

Fúria no Alasca/North to Alaska, de Henry Hathaway, de 1960

Não propriamente um western, mas com todos os ingredientes do gênero, e muito humor - mais do que em qualquer filme de Ford, ou Hawks, que também era um ás da comédia. Durante a corrida do ouro, Wayne é cooptado pelo irmão, Stewart Granger, para buscar a noiva na cidade. Mas ela se casou e Big Sam/Wayne traz a prostituta Capucine, por quem se apaixona. A confusão está formada e termina numa grande briga no barro. Fabian canta o tema, uma delícia.

O Homem Que Matou o Facínora/The Man Who Shot Liberty Valance, de John Ford, 1961

Depois de erigir os mitos do western, mestre Ford deu-se conta de que a América estava mudando e fez esse filme crepuscular, desmistificador, que termina com a imagem de um velho chorando. Poucos exteriores, muita conversa, mas genial. O senador Ransom Stoddard/James Stewart chega à pequena cidade do Oeste, com a mulher, Vera Miles. Vêm (os dois) para enterrar o anônimo Tom Doniphom/Wayne. O senador fez carreira na política como o homem que matou o facínora Liberty Valance/Lee Marvin. Em flash-back, Ford conta quem, na verdade, matou, e por quê. Momento inesquecível - a aula de democracia. E a fala final do editor do jornal - 'Quando a lemnda suipera a realidade, a gente publica a lenda.' Print the legend...

A Primeira Vitória/In Harm's Way, de Otto Preminger, de 1965

A grande obra-prima pouco conhecida, ou mesmo desconhecida, de Hollywood, nos anos 1960. Preminger e o embate entre o indivíduo e as instituições. O militar John Wayne na Guerra do Pacífico. Fomos os sacrificados. No final, todo estropiado, Rockwell Torrey/Wayne - o homem é um rochedo moral - acorda no hospital e tem a seu lado a enfermeira Patricia Neal.

Bravura Indômita/True Grit, de Henry Hathaway, de 1969.

Wayne debocha do próprio mito, e como o xerife Rooster Cogburn cria um personagem bêbado balofo, caolho (usa uma venda) e mesquinho. Contratado pela garota Kim Darby para achar (e prender) os assassinos do pai dela, no limite ele se comporta como o heroi que Wayne sempre foi. Um western satírico, com a marca (humorada) do diretor Hathaway. Tem gente que prefere a versão dos irmãos Coen, com Jeff Bridges.

Os Cowboys/The Cowboys, de Mark Rydell, de 1972

Wayne, como o caubói veterano, transforma em homens um bando de meninos assustados durante transporte de gado no Velho Oeste, mas morre durante a travessia. Eles o enterram e, na volta, não conseguem encontrar a sepultura. A relva tomou conta de toda a pradaria. O homem integrou-se à paisagem. Nenhum epitáfio seria mais belo para o westerner que Wayne foi.

O Último Pistoleiro/The Shootist, de Don Siegel, de 1976

O opus final, verdadeiro canto fúnebre. O reencontro de Wayne e James Stewart, o primeioro como pistoleiro que está morrendo de câncer. E tudo é visto pelos olhos de um adolescente, o futuro diretor Ron Howard, que retomou as lições desse grande filme em seus melhores trabalhos - Rush e No Coração do Mar, ambos com Chris Hemsworth, o Thor.

Completam-se nesta terça, 11 e junho, 40 anos da morte do lendário John Wayne - 11 de junho de 1979. 40 anos! É de perguntar-se se, tivesse ele conservado o nome de batismo - Marion Robert Morrison -, teria feito tanto sucesso. Como John Wayne, ficou muito mais viril, e por décadas encarnou o mito do macho norte-americano.

O westerner, o homem do Oeste. Com 1,92 m, físico atlético, foi campeão de futebol pela University of Southern California. Descobriu o cinema, ou o cinema descobriu-o, quando ainda era muito jovem. Chamou a atenção de um certo John Ford, que resolveu reservá-lo para o papel certo. Já como John Wayne, ele estreou The Big Trail, de Raoul Walsh, em 1930. Ford, irritado com a 'traição', ignorou-o por quase uma década, mas quando, finalmente, o convocou para seu elenco, foi para o emblemático papel de Ringo Kid em Stagecoach/No Tempo das Diligências, em 1939.

O ator John Wayne (1907-1979) Foto: Acervo Estadão

Ford já havia recebido o primeiro Oscar - por O Delator, com Victor Sjostrom, em 1935. Era considerado um diretror de prestígio, mas foi no western que ele encontrou sua praia. Em Monument Valley, no Utah, uma reserva indígena, encontrou seu cenário favorito, e o converteu num solo sagrado do cinema. Ford era republicano, como Wayne, mas é de perguntar-se, também, se estariam apoiando o celerado Mr. Trump. Ford colocou-se contra o macarthismo, na célebre reunião organizada por Cecil B. DeMille para garantir o apoio de seus pares ao Comitê de Atividades Anti-americanas do Senado. Joseph L. Mankiewicz fez o relato que entrou para a história. Quando a classe parecia rachada, Ford levantou-se. Disse - 'My name is John Ford and I make westerns.' E foi contra, derrotando DeMille no voto.

Wayne também era republicano, mas, casado com a hispânica Pilar Pallete, amava o México e seu povo. É praticamente impossível imaginá-lo apoiando a construção de um muro para banir mexicanos. Por décadas, foi recordista de bilheterias. Além de Ford, tornou-se assíduo também no elenco de outros grandes diretores - Howard Hawks, Henry Hathaway. Com Otto Preminger, fez um só filme, mas foi dos maiores, A Primeira Vitória/In Harm's Way.

Reinou no western, no filme de guerra. Fez memoráveis filmes de aventuras. Fumante compulsivo, foi diagnosticado com câncer de pulmão em 1964. Teve de remover o pulmão esquerdo e quatro costelas. Tornou pública a doença, e virou ativista na campanha de exames preventivos. Cinco anos mais tarde, foi considerado curado, e ele morreu neste dia, há 40 anos - de outro tipo de câncer, no estômago -, não sem antes receber seu Oscar - pela primeira versão de Bravura Indômita/True Grit, de 1969. Em 2016, foi homenageado por Lady Gaga na quarta faixa de seu álbum Joanne, que leva o nome de John Wayne. Está sepultado no Pacific View Memorial Park, em Orange County, na Califórnia. Numa carreira extensa como a dele, é duro escolher os melhores filmes, mas lá vamos nós.

No Tempo das Diligências, de John Ford, 1939

Os passageiros de uma diligência, no Velho Oeste, representam a sociedade da época, divididos em classes. Ringo Kid/Wayne e a prostituta Dallas/Claire Trevor são marginalizados e até hostilizados pelo grupo, mas na hora do perigo o que ressalta é a grandeza dos derrotados. O próprio Ford consdidera esse filme decisivo em sua carreira. Encontrou seu cenário, Monument Valley, e seu jeito de filmar westerns.

A Pecadora/Seven Sinners, de Tay Garnett, 1940

John Wayne como marinheiro nos Mares do Sol envolve-se com a não menos mítica Marlene Dietrich, e ela, a perdida, o enfeitiça com seu canto (de sereia?).

Sangue de Heroi/Fort Apache, de John Ford, 1947

No forte do título, o oficial Wayne entra em choque com o sanguinário Henry Fonda, exterminador de índios. A versão do mestre para o massacre de Little Big Horn não poupa o mito do General Custer.

Rio Vermelho/Red River, de Howard Hawks, 1948

O encontro com Howard Hawks. Wayne - loiro - transporta gado e as dificuldades do percurso são acentuadas pelos embates entre Montgomey Clift e John Ireland, que vivem medindo suas pistolas. Freud explica.

No Rastro da Bruxa Vermelha/Wake of the Red Witch, de Edward Ludwig, 1948

Wayne, de novo homem do mar, busca embarcação naufragada que contém tesouro. O lugar é guardado por um polvo gigantesco. Existe algo fantástico nesta mistura de aventura e romance em que o casal só consegue ser feliz na eternidade.

Iwo Jima - O Portal da Glória/Sands of Iwo Jima, de Allan Dwan, 1949

A história por trás da imagem heroica. Os soldados que resistiram, mantendo ereta a bandeira dos EUA na Guerra do Pacífico, no Monte Furibachi. Anos mais tarde, em 2006, Clint Eastwood deu sua versão do episódio em A Conquista da Honra.

Depois do Vendaval/The Quiet Man, de John Ford, 1952

O quarto e último western de direção de John Ford. Descendente de irlandeses, o cineasta cria uma Irlanda idílica, Innesfree, aonde vai se esconder o pugilista Wayne. O beijo em Maureen O'Hara, o casamento, a cama quebrada, o desentendimento por causa do dote e a memorável briga a socos com Victor LcLaglen. O filme tem fama, mas, então, por que até feministas históricas o defendem?

Rastros de Ódio/The Searchers, de John Ford, 1956

Um western genial e um dos maiores filmes de todos os tempos. Ford, o Homero do western, que adorava as epopeias de grupos, cria a tragédia de um solitário. O racista Ethan/Wayne busca a sobrinha raptada por índios e que vive com (e como) um deles. Quer matá-la, mas na hora H... O próprio Jean-Luc Godard considerava-se dividido. Odiava John Wayne, por seu apoio à Guerra do Vietnã - porque ele apoiou e até dirigiu Os Boinas Verdes/The Green Berets, em 1968 -, mas o amava quando o Duke (como era chamado) abria seus braços para acolher Natalie Wood, a sobrinha, Debbie.

Onde Começa o Inferno/Rio Bravo, de Howard Hawks, de 1959

O xerife John Wayne aceita a ajuda de um grupo heterogêrneo - o bêbado Dean Martin, o inexperiente RickyNelson, que canta a balada tema, o velho (e manco) Walter Brennan - para defender sua delegacia do bando selvagem que vem resgatar bandido preso. Como se não bastassem os perigos, ainda tem Angie Dickinson, como a garota de saloon Feathers, a tentar John Chance/Wayne.

Fúria no Alasca/North to Alaska, de Henry Hathaway, de 1960

Não propriamente um western, mas com todos os ingredientes do gênero, e muito humor - mais do que em qualquer filme de Ford, ou Hawks, que também era um ás da comédia. Durante a corrida do ouro, Wayne é cooptado pelo irmão, Stewart Granger, para buscar a noiva na cidade. Mas ela se casou e Big Sam/Wayne traz a prostituta Capucine, por quem se apaixona. A confusão está formada e termina numa grande briga no barro. Fabian canta o tema, uma delícia.

O Homem Que Matou o Facínora/The Man Who Shot Liberty Valance, de John Ford, 1961

Depois de erigir os mitos do western, mestre Ford deu-se conta de que a América estava mudando e fez esse filme crepuscular, desmistificador, que termina com a imagem de um velho chorando. Poucos exteriores, muita conversa, mas genial. O senador Ransom Stoddard/James Stewart chega à pequena cidade do Oeste, com a mulher, Vera Miles. Vêm (os dois) para enterrar o anônimo Tom Doniphom/Wayne. O senador fez carreira na política como o homem que matou o facínora Liberty Valance/Lee Marvin. Em flash-back, Ford conta quem, na verdade, matou, e por quê. Momento inesquecível - a aula de democracia. E a fala final do editor do jornal - 'Quando a lemnda suipera a realidade, a gente publica a lenda.' Print the legend...

A Primeira Vitória/In Harm's Way, de Otto Preminger, de 1965

A grande obra-prima pouco conhecida, ou mesmo desconhecida, de Hollywood, nos anos 1960. Preminger e o embate entre o indivíduo e as instituições. O militar John Wayne na Guerra do Pacífico. Fomos os sacrificados. No final, todo estropiado, Rockwell Torrey/Wayne - o homem é um rochedo moral - acorda no hospital e tem a seu lado a enfermeira Patricia Neal.

Bravura Indômita/True Grit, de Henry Hathaway, de 1969.

Wayne debocha do próprio mito, e como o xerife Rooster Cogburn cria um personagem bêbado balofo, caolho (usa uma venda) e mesquinho. Contratado pela garota Kim Darby para achar (e prender) os assassinos do pai dela, no limite ele se comporta como o heroi que Wayne sempre foi. Um western satírico, com a marca (humorada) do diretor Hathaway. Tem gente que prefere a versão dos irmãos Coen, com Jeff Bridges.

Os Cowboys/The Cowboys, de Mark Rydell, de 1972

Wayne, como o caubói veterano, transforma em homens um bando de meninos assustados durante transporte de gado no Velho Oeste, mas morre durante a travessia. Eles o enterram e, na volta, não conseguem encontrar a sepultura. A relva tomou conta de toda a pradaria. O homem integrou-se à paisagem. Nenhum epitáfio seria mais belo para o westerner que Wayne foi.

O Último Pistoleiro/The Shootist, de Don Siegel, de 1976

O opus final, verdadeiro canto fúnebre. O reencontro de Wayne e James Stewart, o primeioro como pistoleiro que está morrendo de câncer. E tudo é visto pelos olhos de um adolescente, o futuro diretor Ron Howard, que retomou as lições desse grande filme em seus melhores trabalhos - Rush e No Coração do Mar, ambos com Chris Hemsworth, o Thor.

Completam-se nesta terça, 11 e junho, 40 anos da morte do lendário John Wayne - 11 de junho de 1979. 40 anos! É de perguntar-se se, tivesse ele conservado o nome de batismo - Marion Robert Morrison -, teria feito tanto sucesso. Como John Wayne, ficou muito mais viril, e por décadas encarnou o mito do macho norte-americano.

O westerner, o homem do Oeste. Com 1,92 m, físico atlético, foi campeão de futebol pela University of Southern California. Descobriu o cinema, ou o cinema descobriu-o, quando ainda era muito jovem. Chamou a atenção de um certo John Ford, que resolveu reservá-lo para o papel certo. Já como John Wayne, ele estreou The Big Trail, de Raoul Walsh, em 1930. Ford, irritado com a 'traição', ignorou-o por quase uma década, mas quando, finalmente, o convocou para seu elenco, foi para o emblemático papel de Ringo Kid em Stagecoach/No Tempo das Diligências, em 1939.

O ator John Wayne (1907-1979) Foto: Acervo Estadão

Ford já havia recebido o primeiro Oscar - por O Delator, com Victor Sjostrom, em 1935. Era considerado um diretror de prestígio, mas foi no western que ele encontrou sua praia. Em Monument Valley, no Utah, uma reserva indígena, encontrou seu cenário favorito, e o converteu num solo sagrado do cinema. Ford era republicano, como Wayne, mas é de perguntar-se, também, se estariam apoiando o celerado Mr. Trump. Ford colocou-se contra o macarthismo, na célebre reunião organizada por Cecil B. DeMille para garantir o apoio de seus pares ao Comitê de Atividades Anti-americanas do Senado. Joseph L. Mankiewicz fez o relato que entrou para a história. Quando a classe parecia rachada, Ford levantou-se. Disse - 'My name is John Ford and I make westerns.' E foi contra, derrotando DeMille no voto.

Wayne também era republicano, mas, casado com a hispânica Pilar Pallete, amava o México e seu povo. É praticamente impossível imaginá-lo apoiando a construção de um muro para banir mexicanos. Por décadas, foi recordista de bilheterias. Além de Ford, tornou-se assíduo também no elenco de outros grandes diretores - Howard Hawks, Henry Hathaway. Com Otto Preminger, fez um só filme, mas foi dos maiores, A Primeira Vitória/In Harm's Way.

Reinou no western, no filme de guerra. Fez memoráveis filmes de aventuras. Fumante compulsivo, foi diagnosticado com câncer de pulmão em 1964. Teve de remover o pulmão esquerdo e quatro costelas. Tornou pública a doença, e virou ativista na campanha de exames preventivos. Cinco anos mais tarde, foi considerado curado, e ele morreu neste dia, há 40 anos - de outro tipo de câncer, no estômago -, não sem antes receber seu Oscar - pela primeira versão de Bravura Indômita/True Grit, de 1969. Em 2016, foi homenageado por Lady Gaga na quarta faixa de seu álbum Joanne, que leva o nome de John Wayne. Está sepultado no Pacific View Memorial Park, em Orange County, na Califórnia. Numa carreira extensa como a dele, é duro escolher os melhores filmes, mas lá vamos nós.

No Tempo das Diligências, de John Ford, 1939

Os passageiros de uma diligência, no Velho Oeste, representam a sociedade da época, divididos em classes. Ringo Kid/Wayne e a prostituta Dallas/Claire Trevor são marginalizados e até hostilizados pelo grupo, mas na hora do perigo o que ressalta é a grandeza dos derrotados. O próprio Ford consdidera esse filme decisivo em sua carreira. Encontrou seu cenário, Monument Valley, e seu jeito de filmar westerns.

A Pecadora/Seven Sinners, de Tay Garnett, 1940

John Wayne como marinheiro nos Mares do Sol envolve-se com a não menos mítica Marlene Dietrich, e ela, a perdida, o enfeitiça com seu canto (de sereia?).

Sangue de Heroi/Fort Apache, de John Ford, 1947

No forte do título, o oficial Wayne entra em choque com o sanguinário Henry Fonda, exterminador de índios. A versão do mestre para o massacre de Little Big Horn não poupa o mito do General Custer.

Rio Vermelho/Red River, de Howard Hawks, 1948

O encontro com Howard Hawks. Wayne - loiro - transporta gado e as dificuldades do percurso são acentuadas pelos embates entre Montgomey Clift e John Ireland, que vivem medindo suas pistolas. Freud explica.

No Rastro da Bruxa Vermelha/Wake of the Red Witch, de Edward Ludwig, 1948

Wayne, de novo homem do mar, busca embarcação naufragada que contém tesouro. O lugar é guardado por um polvo gigantesco. Existe algo fantástico nesta mistura de aventura e romance em que o casal só consegue ser feliz na eternidade.

Iwo Jima - O Portal da Glória/Sands of Iwo Jima, de Allan Dwan, 1949

A história por trás da imagem heroica. Os soldados que resistiram, mantendo ereta a bandeira dos EUA na Guerra do Pacífico, no Monte Furibachi. Anos mais tarde, em 2006, Clint Eastwood deu sua versão do episódio em A Conquista da Honra.

Depois do Vendaval/The Quiet Man, de John Ford, 1952

O quarto e último western de direção de John Ford. Descendente de irlandeses, o cineasta cria uma Irlanda idílica, Innesfree, aonde vai se esconder o pugilista Wayne. O beijo em Maureen O'Hara, o casamento, a cama quebrada, o desentendimento por causa do dote e a memorável briga a socos com Victor LcLaglen. O filme tem fama, mas, então, por que até feministas históricas o defendem?

Rastros de Ódio/The Searchers, de John Ford, 1956

Um western genial e um dos maiores filmes de todos os tempos. Ford, o Homero do western, que adorava as epopeias de grupos, cria a tragédia de um solitário. O racista Ethan/Wayne busca a sobrinha raptada por índios e que vive com (e como) um deles. Quer matá-la, mas na hora H... O próprio Jean-Luc Godard considerava-se dividido. Odiava John Wayne, por seu apoio à Guerra do Vietnã - porque ele apoiou e até dirigiu Os Boinas Verdes/The Green Berets, em 1968 -, mas o amava quando o Duke (como era chamado) abria seus braços para acolher Natalie Wood, a sobrinha, Debbie.

Onde Começa o Inferno/Rio Bravo, de Howard Hawks, de 1959

O xerife John Wayne aceita a ajuda de um grupo heterogêrneo - o bêbado Dean Martin, o inexperiente RickyNelson, que canta a balada tema, o velho (e manco) Walter Brennan - para defender sua delegacia do bando selvagem que vem resgatar bandido preso. Como se não bastassem os perigos, ainda tem Angie Dickinson, como a garota de saloon Feathers, a tentar John Chance/Wayne.

Fúria no Alasca/North to Alaska, de Henry Hathaway, de 1960

Não propriamente um western, mas com todos os ingredientes do gênero, e muito humor - mais do que em qualquer filme de Ford, ou Hawks, que também era um ás da comédia. Durante a corrida do ouro, Wayne é cooptado pelo irmão, Stewart Granger, para buscar a noiva na cidade. Mas ela se casou e Big Sam/Wayne traz a prostituta Capucine, por quem se apaixona. A confusão está formada e termina numa grande briga no barro. Fabian canta o tema, uma delícia.

O Homem Que Matou o Facínora/The Man Who Shot Liberty Valance, de John Ford, 1961

Depois de erigir os mitos do western, mestre Ford deu-se conta de que a América estava mudando e fez esse filme crepuscular, desmistificador, que termina com a imagem de um velho chorando. Poucos exteriores, muita conversa, mas genial. O senador Ransom Stoddard/James Stewart chega à pequena cidade do Oeste, com a mulher, Vera Miles. Vêm (os dois) para enterrar o anônimo Tom Doniphom/Wayne. O senador fez carreira na política como o homem que matou o facínora Liberty Valance/Lee Marvin. Em flash-back, Ford conta quem, na verdade, matou, e por quê. Momento inesquecível - a aula de democracia. E a fala final do editor do jornal - 'Quando a lemnda suipera a realidade, a gente publica a lenda.' Print the legend...

A Primeira Vitória/In Harm's Way, de Otto Preminger, de 1965

A grande obra-prima pouco conhecida, ou mesmo desconhecida, de Hollywood, nos anos 1960. Preminger e o embate entre o indivíduo e as instituições. O militar John Wayne na Guerra do Pacífico. Fomos os sacrificados. No final, todo estropiado, Rockwell Torrey/Wayne - o homem é um rochedo moral - acorda no hospital e tem a seu lado a enfermeira Patricia Neal.

Bravura Indômita/True Grit, de Henry Hathaway, de 1969.

Wayne debocha do próprio mito, e como o xerife Rooster Cogburn cria um personagem bêbado balofo, caolho (usa uma venda) e mesquinho. Contratado pela garota Kim Darby para achar (e prender) os assassinos do pai dela, no limite ele se comporta como o heroi que Wayne sempre foi. Um western satírico, com a marca (humorada) do diretor Hathaway. Tem gente que prefere a versão dos irmãos Coen, com Jeff Bridges.

Os Cowboys/The Cowboys, de Mark Rydell, de 1972

Wayne, como o caubói veterano, transforma em homens um bando de meninos assustados durante transporte de gado no Velho Oeste, mas morre durante a travessia. Eles o enterram e, na volta, não conseguem encontrar a sepultura. A relva tomou conta de toda a pradaria. O homem integrou-se à paisagem. Nenhum epitáfio seria mais belo para o westerner que Wayne foi.

O Último Pistoleiro/The Shootist, de Don Siegel, de 1976

O opus final, verdadeiro canto fúnebre. O reencontro de Wayne e James Stewart, o primeioro como pistoleiro que está morrendo de câncer. E tudo é visto pelos olhos de um adolescente, o futuro diretor Ron Howard, que retomou as lições desse grande filme em seus melhores trabalhos - Rush e No Coração do Mar, ambos com Chris Hemsworth, o Thor.

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