Os boatos sobre o novo filme do Homem-Aranha correram soltos nos últimos meses. Alguns spoilers não foram contidos, como a volta de vilões do passado – Doutor Octopus (Alfred Molina), Duende Verde (Willem Dafoe), Homem-Areia (Thomas Haden Church), Electro (Jamie Foxx) e, quem sabe, Lagarto (Rhys Ifans), os três primeiros das versões dirigidas por Sam Raimi e protagonizadas por Tobey Maguire, os dois últimos, das adaptações de Marc Webb com Andrew Garfield.
Outros, como o retorno dos Peter Parkers anteriores e até a incorporação de personagens que apareceram fora do Universo Cinematográfico Marvel, serviram para atiçar ainda mais o apetite dos fãs. O diretor Jon Watts colocou fogo, chamando Homem-Aranha: Sem Volta para Casa de “Homem-Aranha: Ultimato”, uma brincadeira com a enormidade de Vingadores: Ultimato. O resultado: a pré-venda dos ingressos derrubou sites e, segundo o Ingresso.com, superou a de Ultimato.
O todo-poderoso dos Estúdios Marvel, Kevin Feige, tentou controlar as expectativas em entrevista à revista Empire. “Boatos são divertidos, porque alguns são verdadeiros, e muitos não são”, disse. “Mas queremos que as pessoas fiquem empolgadas pelo filme que têm, e não desapontadas pelo filme que não têm.”
Pois os fãs vão ficar aliviados de saber que os presentes que pediram de Natal foram entregues por Papai Noel na terceira aventura solo do herói, dirigida por Jon Watts e estrelada por Tom Holland, que estreia hoje. “É o melhor filme do Homem-Aranha que já fizemos. Não acho que os fãs estejam preparados para o que aprontamos. Sei que eu não estou pronto e que vai ser brutal”, disse Holland à revista Total Film.
Sem Volta para Casa entra com os dois pés no multiverso, que a bem da verdade já tinha sido introduzido na animação Homem-Aranha no Aranhaverso, de 2018, e na série Loki. Depois de ter sua identidade revelada para o mundo pelo herói de araque Mysterio (Jake Gyllenhaal), em uma das cenas extras de Homem Aranha: Longe de Casa (2019), a vida de Peter Parker vira um inferno. Sua namorada MJ (Zendaya) e seu melhor amigo Ned (Jacob Batalon) também sofrem as consequências. Por isso, o adolescente decide procurar o Doutor Estranho (Benedict Cumberbatch), pedindo um feitiço para o mundo se esquecer de que Peter Parker é o Homem-Aranha. “Peter sempre é otimista. Neste filme, não sabe o que fazer. É um aspecto do personagem que eu nunca tinha visto”, disse Holland à Total Film.
O feitiço dá errado, abrindo uma caixa de Pandora que traz outros universos do Homem-Aranha para o universo deste Homem-Aranha. O passeio nostálgico às produções anteriores vai causar comoção na plateia – não se assuste se ouvir gritos e palmas no meio da projeção. É uma delícia, afinal, ver Molina e Dafoe depois de 20 anos. Sobram piadas sobre essa colisão de mundos.
Mas, além das reuniões divertidas e das longas cenas de ação esperadas em um filme do UCM, o roteiro de Chris McKenna e Erik Sommers encontra espaço para drama de verdade. “Este filme não é divertido. É sombrio e triste e vai ser tocante”, disse Holland à Total Film.
Nas duas horas e meia de duração, há tempo ainda para uma discussão sobre o verdadeiro papel do super-herói, sobre a natureza do bem e do mal, sobre destino e escolhas. Os vilões de Sam Raimi e Marc Webb eram cientistas que se perdiam na busca pela inovação ou homens comuns azarados. E Peter Parker é sempre um bom garoto que quer fazer a coisa certa.
“Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades” é o lema ouvido por ele em todas as suas versões. Vale para o personagem Homem-Aranha e serve para o filme Homem-Aranha, que tem a missão de trazer de volta os espectadores aos cinemas, em meio a uma nova onda da covid-19 na Europa e outras partes do mundo. No Brasil, a expectativa é a de que o longa alcance os 8 milhões de espectadores apenas em dezembro, segundo o site Filme B. Nos Estados Unidos e Canadá, espera-se uma bilheteria de no mínimo US$ 130 milhões no fim de semana de estreia. Entregar exatamente o que os fãs querem é um tanto temeroso para o futuro do cinema. Que, neste caso, seja para o bem.