João Barone, baterista e estudioso da 2ª Guerra, indica filme da Netflix sobre assassinos do nazismo


‘Homens comuns: assassinos do Holocausto’ mostra ‘cidadãos de bem’ - burocratas, taxistas, encanadores - que aceitaram virar matadores. ‘É preciso lembrar para nunca esquecer’, escreve músico dos Paralamas; leia análise

Por João Barone

Depois de já ter assistido e revisto inúmeros filmes, séries e documentários sobre a Segunda Guerra Mundial em suas muitas abordagens, é uma grata surpresa quando aparece uma nova produção com revelações sobre esse infindável tema. No caso, o recente documentário Homens comuns: assassinos do Holocausto, na Netflix, deixa essa impressão.

Depois da guerra, a temática do assassinato de milhões de judeus pelo regime nazista ficou muito presente na literatura, no cinema e na televisão, como na minissérie Holocausto (1978), estrelada por Meryl Streep, que causou enorme comoção mundial.

Passadas algumas décadas, Steven Spielberg foi mais além ao lançar nos cinemas A lista de Schindler, um mergulho no horror da máquina nazi de matar em toda sua monstruosidade como nunca antes retratado.

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Produção combate revisionismo histórico

A ideia insistentemente repetida pelas vítimas do antissemitismo, seus descendentes e testemunhas sobre não esquecer jamais o que aconteceu naquela época, segue ecoando nos tempos atuais, resistindo ao equivocado - e criminoso - revisionismo histórico de quem insiste em questionar o Holocausto e mantendo ligado o radar que detecta o crescimento do neonazismo pelo mundo.

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E é exatamente isso que o documentário transmite usando uma ótima narrativa - com reencenação histórica rigorosa e na medida do aceitável para um docudrama - pontuada pelos depoimentos de historiadores e pesquisadores, que explicam e justificam em retrospecto o conceito da banalização do mal postulado por Hannah Arendt no pós-guerra.

A notável filósofa alemã, que escapou da perseguição nazi, questionou como pessoas comuns, mas motivadas ideologicamente, participaram sem remorso do assassinato em escala industrial de milhões de inocentes. O que é tema do seu livro Eichmanm em Jerusalém (1963), obra decorrente do julgamento desse “burocrata genocida”, preso e levado até Israel, ocorrido em 1961. Julgado e condenado à morte, este oficial da SS deu rosto aos muitos protagonistas da banalidade do mal que agiram dentro da engrenagem nazista.

'Homens comuns: assassinos do Holocausto', disponível na Netflix, reencena acontecimentos do regime nazista com rigor histórico Foto: Broadview Pictures/Divulgação
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O papel dos ‘cidadãos de bem’

Recrutados para formar os grupos de extermínio enviados para os territórios invadidos pelos nazistas no leste europeu, estavam alemães que não serviram nas forças armadas regulares no front, ainda nos primeiros anos do conflito. Eram “cidadãos de bem” (sic), burocratas, taxistas, encanadores, escalados como força policial, receberam ordens para matar a sangue frio centenas de milhares de homens, mulheres e crianças no processo de “limpeza étnica” da cartilha nazista.

Os pesquisadores no documentário descobriram que muitos destes agentes se recusaram a participar dessa carnificina e, ao contrário do que se alegava sobre graves represálias para quem não “cumprisse ordens”, nada pesou sobre eles. O questionamento, então, aumenta ainda mais: como o massacre prosseguiu?

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Em contraponto, quem deu a noção real do que acontecia com os opositores do reich foi o diretor Terrence Malick em seu excelente filme Uma vida oculta (2020), a história verídica de um homem comum que se recusou a jurar fidelidade ao nazismo, sendo preso e passando por muitas agruras até ser condenado à morte nos dias finais da guerra, mesmo destino dos poucos que ergueram a voz contra aquela ideologia assassina.

A questão segue até hoje sobre esse dilema moral: o que levou essas pessoas a cometerem tamanha monstruosidade? Haveria cadeias e carrascos suficientes para impedir caso todos os alemães fossem contra aquela monstruosidade?

O jovem advogado Benjamin Ferencz em imagem do documentário 'Homens comuns: assassinos do Holocausto' (na Netflix) Foto: Broadview Pictures/Divulgação
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Um alerta constante

Quem faz presença marcante no docudrama é o jurista Benjamin Ferencz, que era um jovem advogado de acusação durante o tribunal de Nuremberg, com a missão de condenar os acusados de participar dos grupos de extermínio. Ferencz – que ajudou a criar o Tribunal Internacional de Haia no pós-guerra – não precisou filosofar muito sobre pessoas comuns cometendo monstruosidades. Repleto de provas contundentes encontradas em documentos enumerando as vítimas e até filmes dos massacres, mandou para a forca muitos operadores do genocídio nazista.

Homens comuns serve de alerta sobre os caminhos incertos da humanidade que segue relegando as lições do passado, enquanto assistimos aos atuais massacres e guerras em andamento pelo mundo. Aqui mesmo no Brasil, em 8 de janeiro último, vimos o que um coletivo de “cidadãos de bem” foi capaz de realizar quando devidamente insuflado.

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É surpreendente constatar como o mal coletivo pode aflorar da psique humana com trágicas consequências. É preciso vigília constante e “lembrar para nunca esquecer”.

Depois de já ter assistido e revisto inúmeros filmes, séries e documentários sobre a Segunda Guerra Mundial em suas muitas abordagens, é uma grata surpresa quando aparece uma nova produção com revelações sobre esse infindável tema. No caso, o recente documentário Homens comuns: assassinos do Holocausto, na Netflix, deixa essa impressão.

Depois da guerra, a temática do assassinato de milhões de judeus pelo regime nazista ficou muito presente na literatura, no cinema e na televisão, como na minissérie Holocausto (1978), estrelada por Meryl Streep, que causou enorme comoção mundial.

Passadas algumas décadas, Steven Spielberg foi mais além ao lançar nos cinemas A lista de Schindler, um mergulho no horror da máquina nazi de matar em toda sua monstruosidade como nunca antes retratado.

Produção combate revisionismo histórico

A ideia insistentemente repetida pelas vítimas do antissemitismo, seus descendentes e testemunhas sobre não esquecer jamais o que aconteceu naquela época, segue ecoando nos tempos atuais, resistindo ao equivocado - e criminoso - revisionismo histórico de quem insiste em questionar o Holocausto e mantendo ligado o radar que detecta o crescimento do neonazismo pelo mundo.

E é exatamente isso que o documentário transmite usando uma ótima narrativa - com reencenação histórica rigorosa e na medida do aceitável para um docudrama - pontuada pelos depoimentos de historiadores e pesquisadores, que explicam e justificam em retrospecto o conceito da banalização do mal postulado por Hannah Arendt no pós-guerra.

A notável filósofa alemã, que escapou da perseguição nazi, questionou como pessoas comuns, mas motivadas ideologicamente, participaram sem remorso do assassinato em escala industrial de milhões de inocentes. O que é tema do seu livro Eichmanm em Jerusalém (1963), obra decorrente do julgamento desse “burocrata genocida”, preso e levado até Israel, ocorrido em 1961. Julgado e condenado à morte, este oficial da SS deu rosto aos muitos protagonistas da banalidade do mal que agiram dentro da engrenagem nazista.

'Homens comuns: assassinos do Holocausto', disponível na Netflix, reencena acontecimentos do regime nazista com rigor histórico Foto: Broadview Pictures/Divulgação

O papel dos ‘cidadãos de bem’

Recrutados para formar os grupos de extermínio enviados para os territórios invadidos pelos nazistas no leste europeu, estavam alemães que não serviram nas forças armadas regulares no front, ainda nos primeiros anos do conflito. Eram “cidadãos de bem” (sic), burocratas, taxistas, encanadores, escalados como força policial, receberam ordens para matar a sangue frio centenas de milhares de homens, mulheres e crianças no processo de “limpeza étnica” da cartilha nazista.

Os pesquisadores no documentário descobriram que muitos destes agentes se recusaram a participar dessa carnificina e, ao contrário do que se alegava sobre graves represálias para quem não “cumprisse ordens”, nada pesou sobre eles. O questionamento, então, aumenta ainda mais: como o massacre prosseguiu?

Em contraponto, quem deu a noção real do que acontecia com os opositores do reich foi o diretor Terrence Malick em seu excelente filme Uma vida oculta (2020), a história verídica de um homem comum que se recusou a jurar fidelidade ao nazismo, sendo preso e passando por muitas agruras até ser condenado à morte nos dias finais da guerra, mesmo destino dos poucos que ergueram a voz contra aquela ideologia assassina.

A questão segue até hoje sobre esse dilema moral: o que levou essas pessoas a cometerem tamanha monstruosidade? Haveria cadeias e carrascos suficientes para impedir caso todos os alemães fossem contra aquela monstruosidade?

O jovem advogado Benjamin Ferencz em imagem do documentário 'Homens comuns: assassinos do Holocausto' (na Netflix) Foto: Broadview Pictures/Divulgação

Um alerta constante

Quem faz presença marcante no docudrama é o jurista Benjamin Ferencz, que era um jovem advogado de acusação durante o tribunal de Nuremberg, com a missão de condenar os acusados de participar dos grupos de extermínio. Ferencz – que ajudou a criar o Tribunal Internacional de Haia no pós-guerra – não precisou filosofar muito sobre pessoas comuns cometendo monstruosidades. Repleto de provas contundentes encontradas em documentos enumerando as vítimas e até filmes dos massacres, mandou para a forca muitos operadores do genocídio nazista.

Homens comuns serve de alerta sobre os caminhos incertos da humanidade que segue relegando as lições do passado, enquanto assistimos aos atuais massacres e guerras em andamento pelo mundo. Aqui mesmo no Brasil, em 8 de janeiro último, vimos o que um coletivo de “cidadãos de bem” foi capaz de realizar quando devidamente insuflado.

É surpreendente constatar como o mal coletivo pode aflorar da psique humana com trágicas consequências. É preciso vigília constante e “lembrar para nunca esquecer”.

Depois de já ter assistido e revisto inúmeros filmes, séries e documentários sobre a Segunda Guerra Mundial em suas muitas abordagens, é uma grata surpresa quando aparece uma nova produção com revelações sobre esse infindável tema. No caso, o recente documentário Homens comuns: assassinos do Holocausto, na Netflix, deixa essa impressão.

Depois da guerra, a temática do assassinato de milhões de judeus pelo regime nazista ficou muito presente na literatura, no cinema e na televisão, como na minissérie Holocausto (1978), estrelada por Meryl Streep, que causou enorme comoção mundial.

Passadas algumas décadas, Steven Spielberg foi mais além ao lançar nos cinemas A lista de Schindler, um mergulho no horror da máquina nazi de matar em toda sua monstruosidade como nunca antes retratado.

Produção combate revisionismo histórico

A ideia insistentemente repetida pelas vítimas do antissemitismo, seus descendentes e testemunhas sobre não esquecer jamais o que aconteceu naquela época, segue ecoando nos tempos atuais, resistindo ao equivocado - e criminoso - revisionismo histórico de quem insiste em questionar o Holocausto e mantendo ligado o radar que detecta o crescimento do neonazismo pelo mundo.

E é exatamente isso que o documentário transmite usando uma ótima narrativa - com reencenação histórica rigorosa e na medida do aceitável para um docudrama - pontuada pelos depoimentos de historiadores e pesquisadores, que explicam e justificam em retrospecto o conceito da banalização do mal postulado por Hannah Arendt no pós-guerra.

A notável filósofa alemã, que escapou da perseguição nazi, questionou como pessoas comuns, mas motivadas ideologicamente, participaram sem remorso do assassinato em escala industrial de milhões de inocentes. O que é tema do seu livro Eichmanm em Jerusalém (1963), obra decorrente do julgamento desse “burocrata genocida”, preso e levado até Israel, ocorrido em 1961. Julgado e condenado à morte, este oficial da SS deu rosto aos muitos protagonistas da banalidade do mal que agiram dentro da engrenagem nazista.

'Homens comuns: assassinos do Holocausto', disponível na Netflix, reencena acontecimentos do regime nazista com rigor histórico Foto: Broadview Pictures/Divulgação

O papel dos ‘cidadãos de bem’

Recrutados para formar os grupos de extermínio enviados para os territórios invadidos pelos nazistas no leste europeu, estavam alemães que não serviram nas forças armadas regulares no front, ainda nos primeiros anos do conflito. Eram “cidadãos de bem” (sic), burocratas, taxistas, encanadores, escalados como força policial, receberam ordens para matar a sangue frio centenas de milhares de homens, mulheres e crianças no processo de “limpeza étnica” da cartilha nazista.

Os pesquisadores no documentário descobriram que muitos destes agentes se recusaram a participar dessa carnificina e, ao contrário do que se alegava sobre graves represálias para quem não “cumprisse ordens”, nada pesou sobre eles. O questionamento, então, aumenta ainda mais: como o massacre prosseguiu?

Em contraponto, quem deu a noção real do que acontecia com os opositores do reich foi o diretor Terrence Malick em seu excelente filme Uma vida oculta (2020), a história verídica de um homem comum que se recusou a jurar fidelidade ao nazismo, sendo preso e passando por muitas agruras até ser condenado à morte nos dias finais da guerra, mesmo destino dos poucos que ergueram a voz contra aquela ideologia assassina.

A questão segue até hoje sobre esse dilema moral: o que levou essas pessoas a cometerem tamanha monstruosidade? Haveria cadeias e carrascos suficientes para impedir caso todos os alemães fossem contra aquela monstruosidade?

O jovem advogado Benjamin Ferencz em imagem do documentário 'Homens comuns: assassinos do Holocausto' (na Netflix) Foto: Broadview Pictures/Divulgação

Um alerta constante

Quem faz presença marcante no docudrama é o jurista Benjamin Ferencz, que era um jovem advogado de acusação durante o tribunal de Nuremberg, com a missão de condenar os acusados de participar dos grupos de extermínio. Ferencz – que ajudou a criar o Tribunal Internacional de Haia no pós-guerra – não precisou filosofar muito sobre pessoas comuns cometendo monstruosidades. Repleto de provas contundentes encontradas em documentos enumerando as vítimas e até filmes dos massacres, mandou para a forca muitos operadores do genocídio nazista.

Homens comuns serve de alerta sobre os caminhos incertos da humanidade que segue relegando as lições do passado, enquanto assistimos aos atuais massacres e guerras em andamento pelo mundo. Aqui mesmo no Brasil, em 8 de janeiro último, vimos o que um coletivo de “cidadãos de bem” foi capaz de realizar quando devidamente insuflado.

É surpreendente constatar como o mal coletivo pode aflorar da psique humana com trágicas consequências. É preciso vigília constante e “lembrar para nunca esquecer”.

Depois de já ter assistido e revisto inúmeros filmes, séries e documentários sobre a Segunda Guerra Mundial em suas muitas abordagens, é uma grata surpresa quando aparece uma nova produção com revelações sobre esse infindável tema. No caso, o recente documentário Homens comuns: assassinos do Holocausto, na Netflix, deixa essa impressão.

Depois da guerra, a temática do assassinato de milhões de judeus pelo regime nazista ficou muito presente na literatura, no cinema e na televisão, como na minissérie Holocausto (1978), estrelada por Meryl Streep, que causou enorme comoção mundial.

Passadas algumas décadas, Steven Spielberg foi mais além ao lançar nos cinemas A lista de Schindler, um mergulho no horror da máquina nazi de matar em toda sua monstruosidade como nunca antes retratado.

Produção combate revisionismo histórico

A ideia insistentemente repetida pelas vítimas do antissemitismo, seus descendentes e testemunhas sobre não esquecer jamais o que aconteceu naquela época, segue ecoando nos tempos atuais, resistindo ao equivocado - e criminoso - revisionismo histórico de quem insiste em questionar o Holocausto e mantendo ligado o radar que detecta o crescimento do neonazismo pelo mundo.

E é exatamente isso que o documentário transmite usando uma ótima narrativa - com reencenação histórica rigorosa e na medida do aceitável para um docudrama - pontuada pelos depoimentos de historiadores e pesquisadores, que explicam e justificam em retrospecto o conceito da banalização do mal postulado por Hannah Arendt no pós-guerra.

A notável filósofa alemã, que escapou da perseguição nazi, questionou como pessoas comuns, mas motivadas ideologicamente, participaram sem remorso do assassinato em escala industrial de milhões de inocentes. O que é tema do seu livro Eichmanm em Jerusalém (1963), obra decorrente do julgamento desse “burocrata genocida”, preso e levado até Israel, ocorrido em 1961. Julgado e condenado à morte, este oficial da SS deu rosto aos muitos protagonistas da banalidade do mal que agiram dentro da engrenagem nazista.

'Homens comuns: assassinos do Holocausto', disponível na Netflix, reencena acontecimentos do regime nazista com rigor histórico Foto: Broadview Pictures/Divulgação

O papel dos ‘cidadãos de bem’

Recrutados para formar os grupos de extermínio enviados para os territórios invadidos pelos nazistas no leste europeu, estavam alemães que não serviram nas forças armadas regulares no front, ainda nos primeiros anos do conflito. Eram “cidadãos de bem” (sic), burocratas, taxistas, encanadores, escalados como força policial, receberam ordens para matar a sangue frio centenas de milhares de homens, mulheres e crianças no processo de “limpeza étnica” da cartilha nazista.

Os pesquisadores no documentário descobriram que muitos destes agentes se recusaram a participar dessa carnificina e, ao contrário do que se alegava sobre graves represálias para quem não “cumprisse ordens”, nada pesou sobre eles. O questionamento, então, aumenta ainda mais: como o massacre prosseguiu?

Em contraponto, quem deu a noção real do que acontecia com os opositores do reich foi o diretor Terrence Malick em seu excelente filme Uma vida oculta (2020), a história verídica de um homem comum que se recusou a jurar fidelidade ao nazismo, sendo preso e passando por muitas agruras até ser condenado à morte nos dias finais da guerra, mesmo destino dos poucos que ergueram a voz contra aquela ideologia assassina.

A questão segue até hoje sobre esse dilema moral: o que levou essas pessoas a cometerem tamanha monstruosidade? Haveria cadeias e carrascos suficientes para impedir caso todos os alemães fossem contra aquela monstruosidade?

O jovem advogado Benjamin Ferencz em imagem do documentário 'Homens comuns: assassinos do Holocausto' (na Netflix) Foto: Broadview Pictures/Divulgação

Um alerta constante

Quem faz presença marcante no docudrama é o jurista Benjamin Ferencz, que era um jovem advogado de acusação durante o tribunal de Nuremberg, com a missão de condenar os acusados de participar dos grupos de extermínio. Ferencz – que ajudou a criar o Tribunal Internacional de Haia no pós-guerra – não precisou filosofar muito sobre pessoas comuns cometendo monstruosidades. Repleto de provas contundentes encontradas em documentos enumerando as vítimas e até filmes dos massacres, mandou para a forca muitos operadores do genocídio nazista.

Homens comuns serve de alerta sobre os caminhos incertos da humanidade que segue relegando as lições do passado, enquanto assistimos aos atuais massacres e guerras em andamento pelo mundo. Aqui mesmo no Brasil, em 8 de janeiro último, vimos o que um coletivo de “cidadãos de bem” foi capaz de realizar quando devidamente insuflado.

É surpreendente constatar como o mal coletivo pode aflorar da psique humana com trágicas consequências. É preciso vigília constante e “lembrar para nunca esquecer”.

Depois de já ter assistido e revisto inúmeros filmes, séries e documentários sobre a Segunda Guerra Mundial em suas muitas abordagens, é uma grata surpresa quando aparece uma nova produção com revelações sobre esse infindável tema. No caso, o recente documentário Homens comuns: assassinos do Holocausto, na Netflix, deixa essa impressão.

Depois da guerra, a temática do assassinato de milhões de judeus pelo regime nazista ficou muito presente na literatura, no cinema e na televisão, como na minissérie Holocausto (1978), estrelada por Meryl Streep, que causou enorme comoção mundial.

Passadas algumas décadas, Steven Spielberg foi mais além ao lançar nos cinemas A lista de Schindler, um mergulho no horror da máquina nazi de matar em toda sua monstruosidade como nunca antes retratado.

Produção combate revisionismo histórico

A ideia insistentemente repetida pelas vítimas do antissemitismo, seus descendentes e testemunhas sobre não esquecer jamais o que aconteceu naquela época, segue ecoando nos tempos atuais, resistindo ao equivocado - e criminoso - revisionismo histórico de quem insiste em questionar o Holocausto e mantendo ligado o radar que detecta o crescimento do neonazismo pelo mundo.

E é exatamente isso que o documentário transmite usando uma ótima narrativa - com reencenação histórica rigorosa e na medida do aceitável para um docudrama - pontuada pelos depoimentos de historiadores e pesquisadores, que explicam e justificam em retrospecto o conceito da banalização do mal postulado por Hannah Arendt no pós-guerra.

A notável filósofa alemã, que escapou da perseguição nazi, questionou como pessoas comuns, mas motivadas ideologicamente, participaram sem remorso do assassinato em escala industrial de milhões de inocentes. O que é tema do seu livro Eichmanm em Jerusalém (1963), obra decorrente do julgamento desse “burocrata genocida”, preso e levado até Israel, ocorrido em 1961. Julgado e condenado à morte, este oficial da SS deu rosto aos muitos protagonistas da banalidade do mal que agiram dentro da engrenagem nazista.

'Homens comuns: assassinos do Holocausto', disponível na Netflix, reencena acontecimentos do regime nazista com rigor histórico Foto: Broadview Pictures/Divulgação

O papel dos ‘cidadãos de bem’

Recrutados para formar os grupos de extermínio enviados para os territórios invadidos pelos nazistas no leste europeu, estavam alemães que não serviram nas forças armadas regulares no front, ainda nos primeiros anos do conflito. Eram “cidadãos de bem” (sic), burocratas, taxistas, encanadores, escalados como força policial, receberam ordens para matar a sangue frio centenas de milhares de homens, mulheres e crianças no processo de “limpeza étnica” da cartilha nazista.

Os pesquisadores no documentário descobriram que muitos destes agentes se recusaram a participar dessa carnificina e, ao contrário do que se alegava sobre graves represálias para quem não “cumprisse ordens”, nada pesou sobre eles. O questionamento, então, aumenta ainda mais: como o massacre prosseguiu?

Em contraponto, quem deu a noção real do que acontecia com os opositores do reich foi o diretor Terrence Malick em seu excelente filme Uma vida oculta (2020), a história verídica de um homem comum que se recusou a jurar fidelidade ao nazismo, sendo preso e passando por muitas agruras até ser condenado à morte nos dias finais da guerra, mesmo destino dos poucos que ergueram a voz contra aquela ideologia assassina.

A questão segue até hoje sobre esse dilema moral: o que levou essas pessoas a cometerem tamanha monstruosidade? Haveria cadeias e carrascos suficientes para impedir caso todos os alemães fossem contra aquela monstruosidade?

O jovem advogado Benjamin Ferencz em imagem do documentário 'Homens comuns: assassinos do Holocausto' (na Netflix) Foto: Broadview Pictures/Divulgação

Um alerta constante

Quem faz presença marcante no docudrama é o jurista Benjamin Ferencz, que era um jovem advogado de acusação durante o tribunal de Nuremberg, com a missão de condenar os acusados de participar dos grupos de extermínio. Ferencz – que ajudou a criar o Tribunal Internacional de Haia no pós-guerra – não precisou filosofar muito sobre pessoas comuns cometendo monstruosidades. Repleto de provas contundentes encontradas em documentos enumerando as vítimas e até filmes dos massacres, mandou para a forca muitos operadores do genocídio nazista.

Homens comuns serve de alerta sobre os caminhos incertos da humanidade que segue relegando as lições do passado, enquanto assistimos aos atuais massacres e guerras em andamento pelo mundo. Aqui mesmo no Brasil, em 8 de janeiro último, vimos o que um coletivo de “cidadãos de bem” foi capaz de realizar quando devidamente insuflado.

É surpreendente constatar como o mal coletivo pode aflorar da psique humana com trágicas consequências. É preciso vigília constante e “lembrar para nunca esquecer”.

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