Iñarritu critica a si mesmo em ‘Bardo’, seu filme mais pessoal


Após reações negativas na primeira exibição, diretor fez nova edição do longa, que foi reduzido em 22 minutos: ‘A dor é temporária, mas o filme é para sempre’

Por Lindsey Bahr
Atualização:

AP - Em 2016, Alejandro G. Iñarritu se viu andando em direção ao palco do Oscar para receber o prêmio de melhor ator pela segunda vez em dois anos. “Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo”, disse.

Com suas vitórias consecutivas por Birdman e O Regresso, ele se tornou um dos únicos três diretores - os outros são John Ford e Joseph L. Mankiewicz - a conseguir isso, e o primeiro desde 1950. Se há um auge na indústria cinematográfica, deve ser esse. Ele teve algumas coisas com as quais lutar, sobre ele, sua arte, sua família, seu país. Aqueles seis anos de introspecção lhe trariam de volta ao México para fazer seu primeiro longa no país desde a sua estreia, Amores Perros, em 2000.

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“Eu precisava encontrar um pouco de paz e ordem nas coisas que estavam se manifestando em mim emocionalmente”, afirmou Iñarritu em uma recente entrevista à Associated Press. “Gravar no México foi uma consequência do processo pelo qual eu passei. Não era o planejado”.

O resultado, Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, é uma jornada surreal ao subconsciente de um jornalista e cineasta de documentários, Silverio (Daniel Gimenez Cacho), que deixou a Cidade do México com sua família cerca de 20 anos atrás e chegou ao sucesso em Los Angeles. Ele tenta escrever um discurso para aceitar um prêmio importante na nação que adotou para si, e se encontra paralisado pelo peso de, bem, tudo, da história do México às ansiedades sobre sua aret.

O título evoca a vários significados de Bardo, tanto um limbo entre a morte e o renascimento, no budismo, quanto bardo, em espanhol, e o filme é um longo e sonhador relato sobre emoção, família, casa, identidade e criação de mitos. Estreou nos cinemas em um lançamento restrito na sexta-feira, 4, antes de chegar à Netflix em 16 de dezembro.

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“Essa é uma história sem uma história”, disse. “É uma construção muito diferente de tudo que eu já havia feito”.

Alejandro González Iñárritu em exibição do filme 'Bardo', no AFI Fest, em Los Angeles, em 3 de novembro de 2022. (AP Photo/Chris Pizzello) Foto: Chris Pizzello

Crítica sobre si mesmo

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Há muitos paralelos entre a vida de Iñarritu e a história de Silverio. Ele também deixou o México há 21 anos e chegou às alturas em Los Angeles. No filme, um ex-colega, um que ficou no México, critica o trabalho e a vida de Silverio e atinge a arrogância dos artistas. Iñarritu escreve sua própria crítica negativa sobre si mesmo e essa é apenas uma das muitas cenas densas em que podemos ver o cineasta dissecando ele próprio.

“Inclui alguns pensamentos que eu tenho comigo mesmo”, disse. “Eu posso ser mais duro comigo mesmo do que qualquer outra pessoa. Muito mais duro. Eu sei o que as pessoas pensam. E como [a esposa de Silverio] Lucia diz a Silverio no filme, ‘às vezes nos tornamos o que as pessoas pensam de nós”.

Foi um meta exercício humorístico, mas é importante para Iñarritu que as pessoas também vejam Bardo como ficção. Tem que ser. Autobiografias, para ele, são como mentiras e hipocrisia.

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“Eles alegam trazer verdade e fatos, mas verdade e fatos não existem”, diz. “Ficção é algo que nos ajuda a atingir uma mais alta verdade e revela o que a realidade está escondendo”.

Iñarritu gosta de dizer que fez Bardo com os olhos fechados, olhando em seu interior para encontrar um tipo superior de realidade ou verdade que é “infinita, caótica, contraditória e assustadora”.

O elenco também teve seus olhos fechados de alguma forma. Eles não puderam ler o roteiro antes de se juntarem ao projeto, mas em vez disso fizeram duradouros ensaios começando seis meses antes das filmagens. Quando as câmeras estavam rodando, eles se sentiram tão em casa em seus personagens e seus colegas atores que eles poderiam somente estar presentes.

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Para Ximena Lamadrid, que interpreta a filha crescida de Silverio, Camila, esse processo a permitiu se distanciar de pensar muito sobre o sonho de construção de um grande filme.

Cena de 'Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades', filme de Alejandro G. Iñárritu. Crédito: Netflix Foto: Netflix

“Eu não estava tipo, oh, somos partes deste grande sonho da consciência de Silverio”, disse Lamadrid, “eu realmente senti e continuo sentindo como se estivesse assistindo, como se meu personagem, nossos personagens, fossem baseados na verdade”.

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Sua personagem considera uma volta ao México, enquanto seu irmão mais novo, Lorenzo (Iker Sanchez Solano) questiona a visão romantizada de seu pai sobre o México e lhe diz que se sente mais em casa nos Estados Unidos.

“Quando começamos a ensaiar e começamos a nos conectar um com o outro, um monte de coisas bonitas surgiram. E aquelas foram ferramentas muito boas de se usar quando estávamos gravando”, disse Solano. “Os personagens têm algumas coisas específicas que na verdade foram surgindo em nossas vidas pessoais. Foi uma coincidência muito maluca”.

Muitos dos principais atores se viram se envolvendo e sendo afetados por diversos fios e temas. Uma cena, em que Silverio está conversando com seu pai morto, teve um grande impacto em Cacho. Ele perdeu seu pai há cerca de uma década, mas não havia pensado muito sobre ele até aquele momento.

“Nós estávamos gravando e a presença do meu pai subitamente estava lá”, disse Cacho. “Quando ele morreu, eu apenas esqueci sobre ele. Daquele dia até agora, venho tendo bonitas conversas com ele. Isso foi muito especial para mim”.

Bardo fez sua estreia mundial em competição no Festival de Veneza de 2022. Foi a primeira vez em que Iñarritu assistiu o filme com mais do que algumas pessoas. Milhares viram, e dezenas de críticas foram escritas. Mas, naquele momento, assistindo-o com 2 mil pessoas, Iñarritu tomou a sábia decisão de voltar atrás e reeditar o filme antes do lançamento nos cinemas e na Netflix.

“A dor é temporária, mas o filme é para sempre”, disse Iñarritu. “Eu sabia que estava lidando com uma situação, não um problema”.

O resultado final do filme será exibido nos cinemas e na Netflix em versão 22 minutos mais curta, com algumas cenas completamente cortadas, outras reduzidas ou substituídas e um foco mais direcionado à família de Silverio, que está oscilando entre dois países e duas identidades. E ele está feliz com isso, seja para ganhar um reconhecimento do Oscar ou não.

“Será interessante ver se esse filme pode tocar os corações de uma forma universal. Mas não há nada que nós possamos fazer”, disse Iñarritu. “Eu tenho um amigo que diz essa frase que eu gosto, que é: ‘baixas expectativas, alta serenidade’. E é assim que vamos passando por isso”.

AP - Em 2016, Alejandro G. Iñarritu se viu andando em direção ao palco do Oscar para receber o prêmio de melhor ator pela segunda vez em dois anos. “Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo”, disse.

Com suas vitórias consecutivas por Birdman e O Regresso, ele se tornou um dos únicos três diretores - os outros são John Ford e Joseph L. Mankiewicz - a conseguir isso, e o primeiro desde 1950. Se há um auge na indústria cinematográfica, deve ser esse. Ele teve algumas coisas com as quais lutar, sobre ele, sua arte, sua família, seu país. Aqueles seis anos de introspecção lhe trariam de volta ao México para fazer seu primeiro longa no país desde a sua estreia, Amores Perros, em 2000.

“Eu precisava encontrar um pouco de paz e ordem nas coisas que estavam se manifestando em mim emocionalmente”, afirmou Iñarritu em uma recente entrevista à Associated Press. “Gravar no México foi uma consequência do processo pelo qual eu passei. Não era o planejado”.

O resultado, Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, é uma jornada surreal ao subconsciente de um jornalista e cineasta de documentários, Silverio (Daniel Gimenez Cacho), que deixou a Cidade do México com sua família cerca de 20 anos atrás e chegou ao sucesso em Los Angeles. Ele tenta escrever um discurso para aceitar um prêmio importante na nação que adotou para si, e se encontra paralisado pelo peso de, bem, tudo, da história do México às ansiedades sobre sua aret.

O título evoca a vários significados de Bardo, tanto um limbo entre a morte e o renascimento, no budismo, quanto bardo, em espanhol, e o filme é um longo e sonhador relato sobre emoção, família, casa, identidade e criação de mitos. Estreou nos cinemas em um lançamento restrito na sexta-feira, 4, antes de chegar à Netflix em 16 de dezembro.

“Essa é uma história sem uma história”, disse. “É uma construção muito diferente de tudo que eu já havia feito”.

Alejandro González Iñárritu em exibição do filme 'Bardo', no AFI Fest, em Los Angeles, em 3 de novembro de 2022. (AP Photo/Chris Pizzello) Foto: Chris Pizzello

Crítica sobre si mesmo

Há muitos paralelos entre a vida de Iñarritu e a história de Silverio. Ele também deixou o México há 21 anos e chegou às alturas em Los Angeles. No filme, um ex-colega, um que ficou no México, critica o trabalho e a vida de Silverio e atinge a arrogância dos artistas. Iñarritu escreve sua própria crítica negativa sobre si mesmo e essa é apenas uma das muitas cenas densas em que podemos ver o cineasta dissecando ele próprio.

“Inclui alguns pensamentos que eu tenho comigo mesmo”, disse. “Eu posso ser mais duro comigo mesmo do que qualquer outra pessoa. Muito mais duro. Eu sei o que as pessoas pensam. E como [a esposa de Silverio] Lucia diz a Silverio no filme, ‘às vezes nos tornamos o que as pessoas pensam de nós”.

Foi um meta exercício humorístico, mas é importante para Iñarritu que as pessoas também vejam Bardo como ficção. Tem que ser. Autobiografias, para ele, são como mentiras e hipocrisia.

“Eles alegam trazer verdade e fatos, mas verdade e fatos não existem”, diz. “Ficção é algo que nos ajuda a atingir uma mais alta verdade e revela o que a realidade está escondendo”.

Iñarritu gosta de dizer que fez Bardo com os olhos fechados, olhando em seu interior para encontrar um tipo superior de realidade ou verdade que é “infinita, caótica, contraditória e assustadora”.

O elenco também teve seus olhos fechados de alguma forma. Eles não puderam ler o roteiro antes de se juntarem ao projeto, mas em vez disso fizeram duradouros ensaios começando seis meses antes das filmagens. Quando as câmeras estavam rodando, eles se sentiram tão em casa em seus personagens e seus colegas atores que eles poderiam somente estar presentes.

Para Ximena Lamadrid, que interpreta a filha crescida de Silverio, Camila, esse processo a permitiu se distanciar de pensar muito sobre o sonho de construção de um grande filme.

Cena de 'Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades', filme de Alejandro G. Iñárritu. Crédito: Netflix Foto: Netflix

“Eu não estava tipo, oh, somos partes deste grande sonho da consciência de Silverio”, disse Lamadrid, “eu realmente senti e continuo sentindo como se estivesse assistindo, como se meu personagem, nossos personagens, fossem baseados na verdade”.

Sua personagem considera uma volta ao México, enquanto seu irmão mais novo, Lorenzo (Iker Sanchez Solano) questiona a visão romantizada de seu pai sobre o México e lhe diz que se sente mais em casa nos Estados Unidos.

“Quando começamos a ensaiar e começamos a nos conectar um com o outro, um monte de coisas bonitas surgiram. E aquelas foram ferramentas muito boas de se usar quando estávamos gravando”, disse Solano. “Os personagens têm algumas coisas específicas que na verdade foram surgindo em nossas vidas pessoais. Foi uma coincidência muito maluca”.

Muitos dos principais atores se viram se envolvendo e sendo afetados por diversos fios e temas. Uma cena, em que Silverio está conversando com seu pai morto, teve um grande impacto em Cacho. Ele perdeu seu pai há cerca de uma década, mas não havia pensado muito sobre ele até aquele momento.

“Nós estávamos gravando e a presença do meu pai subitamente estava lá”, disse Cacho. “Quando ele morreu, eu apenas esqueci sobre ele. Daquele dia até agora, venho tendo bonitas conversas com ele. Isso foi muito especial para mim”.

Bardo fez sua estreia mundial em competição no Festival de Veneza de 2022. Foi a primeira vez em que Iñarritu assistiu o filme com mais do que algumas pessoas. Milhares viram, e dezenas de críticas foram escritas. Mas, naquele momento, assistindo-o com 2 mil pessoas, Iñarritu tomou a sábia decisão de voltar atrás e reeditar o filme antes do lançamento nos cinemas e na Netflix.

“A dor é temporária, mas o filme é para sempre”, disse Iñarritu. “Eu sabia que estava lidando com uma situação, não um problema”.

O resultado final do filme será exibido nos cinemas e na Netflix em versão 22 minutos mais curta, com algumas cenas completamente cortadas, outras reduzidas ou substituídas e um foco mais direcionado à família de Silverio, que está oscilando entre dois países e duas identidades. E ele está feliz com isso, seja para ganhar um reconhecimento do Oscar ou não.

“Será interessante ver se esse filme pode tocar os corações de uma forma universal. Mas não há nada que nós possamos fazer”, disse Iñarritu. “Eu tenho um amigo que diz essa frase que eu gosto, que é: ‘baixas expectativas, alta serenidade’. E é assim que vamos passando por isso”.

AP - Em 2016, Alejandro G. Iñarritu se viu andando em direção ao palco do Oscar para receber o prêmio de melhor ator pela segunda vez em dois anos. “Eu não consigo acreditar que isso está acontecendo”, disse.

Com suas vitórias consecutivas por Birdman e O Regresso, ele se tornou um dos únicos três diretores - os outros são John Ford e Joseph L. Mankiewicz - a conseguir isso, e o primeiro desde 1950. Se há um auge na indústria cinematográfica, deve ser esse. Ele teve algumas coisas com as quais lutar, sobre ele, sua arte, sua família, seu país. Aqueles seis anos de introspecção lhe trariam de volta ao México para fazer seu primeiro longa no país desde a sua estreia, Amores Perros, em 2000.

“Eu precisava encontrar um pouco de paz e ordem nas coisas que estavam se manifestando em mim emocionalmente”, afirmou Iñarritu em uma recente entrevista à Associated Press. “Gravar no México foi uma consequência do processo pelo qual eu passei. Não era o planejado”.

O resultado, Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades, é uma jornada surreal ao subconsciente de um jornalista e cineasta de documentários, Silverio (Daniel Gimenez Cacho), que deixou a Cidade do México com sua família cerca de 20 anos atrás e chegou ao sucesso em Los Angeles. Ele tenta escrever um discurso para aceitar um prêmio importante na nação que adotou para si, e se encontra paralisado pelo peso de, bem, tudo, da história do México às ansiedades sobre sua aret.

O título evoca a vários significados de Bardo, tanto um limbo entre a morte e o renascimento, no budismo, quanto bardo, em espanhol, e o filme é um longo e sonhador relato sobre emoção, família, casa, identidade e criação de mitos. Estreou nos cinemas em um lançamento restrito na sexta-feira, 4, antes de chegar à Netflix em 16 de dezembro.

“Essa é uma história sem uma história”, disse. “É uma construção muito diferente de tudo que eu já havia feito”.

Alejandro González Iñárritu em exibição do filme 'Bardo', no AFI Fest, em Los Angeles, em 3 de novembro de 2022. (AP Photo/Chris Pizzello) Foto: Chris Pizzello

Crítica sobre si mesmo

Há muitos paralelos entre a vida de Iñarritu e a história de Silverio. Ele também deixou o México há 21 anos e chegou às alturas em Los Angeles. No filme, um ex-colega, um que ficou no México, critica o trabalho e a vida de Silverio e atinge a arrogância dos artistas. Iñarritu escreve sua própria crítica negativa sobre si mesmo e essa é apenas uma das muitas cenas densas em que podemos ver o cineasta dissecando ele próprio.

“Inclui alguns pensamentos que eu tenho comigo mesmo”, disse. “Eu posso ser mais duro comigo mesmo do que qualquer outra pessoa. Muito mais duro. Eu sei o que as pessoas pensam. E como [a esposa de Silverio] Lucia diz a Silverio no filme, ‘às vezes nos tornamos o que as pessoas pensam de nós”.

Foi um meta exercício humorístico, mas é importante para Iñarritu que as pessoas também vejam Bardo como ficção. Tem que ser. Autobiografias, para ele, são como mentiras e hipocrisia.

“Eles alegam trazer verdade e fatos, mas verdade e fatos não existem”, diz. “Ficção é algo que nos ajuda a atingir uma mais alta verdade e revela o que a realidade está escondendo”.

Iñarritu gosta de dizer que fez Bardo com os olhos fechados, olhando em seu interior para encontrar um tipo superior de realidade ou verdade que é “infinita, caótica, contraditória e assustadora”.

O elenco também teve seus olhos fechados de alguma forma. Eles não puderam ler o roteiro antes de se juntarem ao projeto, mas em vez disso fizeram duradouros ensaios começando seis meses antes das filmagens. Quando as câmeras estavam rodando, eles se sentiram tão em casa em seus personagens e seus colegas atores que eles poderiam somente estar presentes.

Para Ximena Lamadrid, que interpreta a filha crescida de Silverio, Camila, esse processo a permitiu se distanciar de pensar muito sobre o sonho de construção de um grande filme.

Cena de 'Bardo, Falsa Crônica de Algumas Verdades', filme de Alejandro G. Iñárritu. Crédito: Netflix Foto: Netflix

“Eu não estava tipo, oh, somos partes deste grande sonho da consciência de Silverio”, disse Lamadrid, “eu realmente senti e continuo sentindo como se estivesse assistindo, como se meu personagem, nossos personagens, fossem baseados na verdade”.

Sua personagem considera uma volta ao México, enquanto seu irmão mais novo, Lorenzo (Iker Sanchez Solano) questiona a visão romantizada de seu pai sobre o México e lhe diz que se sente mais em casa nos Estados Unidos.

“Quando começamos a ensaiar e começamos a nos conectar um com o outro, um monte de coisas bonitas surgiram. E aquelas foram ferramentas muito boas de se usar quando estávamos gravando”, disse Solano. “Os personagens têm algumas coisas específicas que na verdade foram surgindo em nossas vidas pessoais. Foi uma coincidência muito maluca”.

Muitos dos principais atores se viram se envolvendo e sendo afetados por diversos fios e temas. Uma cena, em que Silverio está conversando com seu pai morto, teve um grande impacto em Cacho. Ele perdeu seu pai há cerca de uma década, mas não havia pensado muito sobre ele até aquele momento.

“Nós estávamos gravando e a presença do meu pai subitamente estava lá”, disse Cacho. “Quando ele morreu, eu apenas esqueci sobre ele. Daquele dia até agora, venho tendo bonitas conversas com ele. Isso foi muito especial para mim”.

Bardo fez sua estreia mundial em competição no Festival de Veneza de 2022. Foi a primeira vez em que Iñarritu assistiu o filme com mais do que algumas pessoas. Milhares viram, e dezenas de críticas foram escritas. Mas, naquele momento, assistindo-o com 2 mil pessoas, Iñarritu tomou a sábia decisão de voltar atrás e reeditar o filme antes do lançamento nos cinemas e na Netflix.

“A dor é temporária, mas o filme é para sempre”, disse Iñarritu. “Eu sabia que estava lidando com uma situação, não um problema”.

O resultado final do filme será exibido nos cinemas e na Netflix em versão 22 minutos mais curta, com algumas cenas completamente cortadas, outras reduzidas ou substituídas e um foco mais direcionado à família de Silverio, que está oscilando entre dois países e duas identidades. E ele está feliz com isso, seja para ganhar um reconhecimento do Oscar ou não.

“Será interessante ver se esse filme pode tocar os corações de uma forma universal. Mas não há nada que nós possamos fazer”, disse Iñarritu. “Eu tenho um amigo que diz essa frase que eu gosto, que é: ‘baixas expectativas, alta serenidade’. E é assim que vamos passando por isso”.

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