Ingmar Bergman tem seu universo cinematográfico revisitado em retrospectiva do CineSesc


A mostra Centenário Ingmar Bergman tem início nesta quarta-feira, 27, em São Paulo

Por Luiz Zanin Oricchio

Em Monika e o Desejo, filme que abre a mostra Centenário Ingmar Bergman nesta quarta, 20, às 20h30, no Cinesesc, há o plano que Godard considerava “o mais triste da história do cinema”. Nele, a protagonista olha diretamente para a câmera – quer dizer, para o espectador. Como a lhe pedir cumplicidade, ou compreensão, para tudo o que ele acabara de ver. 

+++ TUDO SOBRE: Ingmar Bergman

Assim é Ingmar Bergman, cujo centenário se completa no próximo dia 14 de julho e ganha comemoração antecipada nesta retrospectiva, que traz 10 longas em cópias restauradas em digital – isto é, novinhas em folha: autor seminal, mergulhador profundo da alma humana e influenciador de outros cineastas geniais. 

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Além de Monika e o Desejo (1953), estão na programação do Cinesesc O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), Através de um Espelho (1961), Luz de Inverno (1963), O Silêncio (1963), Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972), Sonata de Outono (1978) e Fanny e Alexander (1982).

Cena deMonika e o Desejo, de Ingmar Bergman Foto: AB Svensk Filndustri

Ou seja, uma panorâmica, estendida em quase três décadas, de um dos autores fundamentais do nosso tempo. Melhor dizendo, um dos mais importantes da história do cinema. Paralelamente à exibição dos filmes, haverá o curso O cinema de Ingmar Bergman, com aulas dias 3, 5 e 6/7 ministradas pelo crítico Sérgio Alpendre

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Cada um dos filmes dessa seleta mereceria um ensaio à parte. A começar, por Monika e o Desejo, obra de contundente modernidade. Como destaca o crítico Antoine de Baecque em seu livro Cinefilia: “É a primeira vez que um filme mostra tão abertamente uma mulher assumindo seu corpo, sua nudez, seus desejos, seu poder sobre os homens”.

Harriet Andersson, que faz a jovem Monika, de certa forma, supera Marilyn Monroe e Brigitte Bardot como protótipo da mulher moderna “dona do seu desejo”, uma trajetória de superação do machismo, ainda incompleta, mas já prefigurada na obra de Bergman. É, também, um excepcional filme sobre a juventude, ambientado num verão nórdico tão intenso quanto efêmero – da mesma forma como a mocidade. 

Assim como fez este filme de exceção sobre a juventude, Bergman assina outro, notável, sobre a velhice. Na outra ponta da vida, contraponto a Monika e o Desejo, está o comovente Morangos Silvestres com a viagem existencial do doutor Isak Borg (Victor Sjöström), catedrático de Medicina que cruza a Suécia em seu carro para receber um prêmio. 

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Acompanhado de sua nora (Ingrid Thulin), ele dá carona em seu carro a um grupo de jovens e as etapas da viagem o fazem recordar de sua mocidade, seus amores, seus conflitos, suas culpas. É um balanço de vida de um homem frio e egoísta, que se sente próximo da morte. Como outros trabalhos de Bergman, este parece simples, mas desce às complexidades e contradições da condição humana sem jamais banalizá-las. 

Cena deMonika e o Desejo, de Ingmar Bergman Foto: AB Svensk Filndustri

Dando um salto no tempo, é assim também com Fanny e Alexander, encantadora peça semiautobiográfica de maturidade, na época anunciada como último filme de Bergman (na verdade, ele faria outros, como Depois do Ensaio e Saraband). A infância aterrorizante, o escapismo pelo imaginário, a família como abrigo e ameaça, tudo culminando no elogio final ao teatro e a Strindberg, paixões de vida toda de Bergman

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Uma mostra resumida como esta coloca difícil questão: quando Bergman foi mais intenso em seu projeto de prospecção da alma humana? No agridoce Morangos Silvestres? No psicanalítico Persona? Na metafísica da morte de Gritos e Sussurros? Ou na chamada “trilogia do silêncio”, composta por Através de um Espelho, Luz de Inverno e O Silêncio? Difícil decidir. Talvez seja melhor considerá-las peças de um mosaico que expressam a trajetória de um artista no debate de suas questões principais. 

Persona e Gritos e Sussurros podem ser as obras mais radicais do ponto de vista da linguagem cinematográfica. No primeiro, em depurado preto e branco, a imagem confusional de uma paciente (Liv Ullmann) e sua enfermeira (Bibi Andersson). No segundo, em tons de branco e vermelho, o quarto da mulher que morre (Harriet Andersson), assistida por suas irmãs (Ingrid Thulin e Liv Ullman). 

Bergman é um mundo inteiro a ser explorado e revisitado. 

Em Monika e o Desejo, filme que abre a mostra Centenário Ingmar Bergman nesta quarta, 20, às 20h30, no Cinesesc, há o plano que Godard considerava “o mais triste da história do cinema”. Nele, a protagonista olha diretamente para a câmera – quer dizer, para o espectador. Como a lhe pedir cumplicidade, ou compreensão, para tudo o que ele acabara de ver. 

+++ TUDO SOBRE: Ingmar Bergman

Assim é Ingmar Bergman, cujo centenário se completa no próximo dia 14 de julho e ganha comemoração antecipada nesta retrospectiva, que traz 10 longas em cópias restauradas em digital – isto é, novinhas em folha: autor seminal, mergulhador profundo da alma humana e influenciador de outros cineastas geniais. 

Além de Monika e o Desejo (1953), estão na programação do Cinesesc O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), Através de um Espelho (1961), Luz de Inverno (1963), O Silêncio (1963), Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972), Sonata de Outono (1978) e Fanny e Alexander (1982).

Cena deMonika e o Desejo, de Ingmar Bergman Foto: AB Svensk Filndustri

Ou seja, uma panorâmica, estendida em quase três décadas, de um dos autores fundamentais do nosso tempo. Melhor dizendo, um dos mais importantes da história do cinema. Paralelamente à exibição dos filmes, haverá o curso O cinema de Ingmar Bergman, com aulas dias 3, 5 e 6/7 ministradas pelo crítico Sérgio Alpendre

Cada um dos filmes dessa seleta mereceria um ensaio à parte. A começar, por Monika e o Desejo, obra de contundente modernidade. Como destaca o crítico Antoine de Baecque em seu livro Cinefilia: “É a primeira vez que um filme mostra tão abertamente uma mulher assumindo seu corpo, sua nudez, seus desejos, seu poder sobre os homens”.

Harriet Andersson, que faz a jovem Monika, de certa forma, supera Marilyn Monroe e Brigitte Bardot como protótipo da mulher moderna “dona do seu desejo”, uma trajetória de superação do machismo, ainda incompleta, mas já prefigurada na obra de Bergman. É, também, um excepcional filme sobre a juventude, ambientado num verão nórdico tão intenso quanto efêmero – da mesma forma como a mocidade. 

Assim como fez este filme de exceção sobre a juventude, Bergman assina outro, notável, sobre a velhice. Na outra ponta da vida, contraponto a Monika e o Desejo, está o comovente Morangos Silvestres com a viagem existencial do doutor Isak Borg (Victor Sjöström), catedrático de Medicina que cruza a Suécia em seu carro para receber um prêmio. 

Acompanhado de sua nora (Ingrid Thulin), ele dá carona em seu carro a um grupo de jovens e as etapas da viagem o fazem recordar de sua mocidade, seus amores, seus conflitos, suas culpas. É um balanço de vida de um homem frio e egoísta, que se sente próximo da morte. Como outros trabalhos de Bergman, este parece simples, mas desce às complexidades e contradições da condição humana sem jamais banalizá-las. 

Cena deMonika e o Desejo, de Ingmar Bergman Foto: AB Svensk Filndustri

Dando um salto no tempo, é assim também com Fanny e Alexander, encantadora peça semiautobiográfica de maturidade, na época anunciada como último filme de Bergman (na verdade, ele faria outros, como Depois do Ensaio e Saraband). A infância aterrorizante, o escapismo pelo imaginário, a família como abrigo e ameaça, tudo culminando no elogio final ao teatro e a Strindberg, paixões de vida toda de Bergman

Uma mostra resumida como esta coloca difícil questão: quando Bergman foi mais intenso em seu projeto de prospecção da alma humana? No agridoce Morangos Silvestres? No psicanalítico Persona? Na metafísica da morte de Gritos e Sussurros? Ou na chamada “trilogia do silêncio”, composta por Através de um Espelho, Luz de Inverno e O Silêncio? Difícil decidir. Talvez seja melhor considerá-las peças de um mosaico que expressam a trajetória de um artista no debate de suas questões principais. 

Persona e Gritos e Sussurros podem ser as obras mais radicais do ponto de vista da linguagem cinematográfica. No primeiro, em depurado preto e branco, a imagem confusional de uma paciente (Liv Ullmann) e sua enfermeira (Bibi Andersson). No segundo, em tons de branco e vermelho, o quarto da mulher que morre (Harriet Andersson), assistida por suas irmãs (Ingrid Thulin e Liv Ullman). 

Bergman é um mundo inteiro a ser explorado e revisitado. 

Em Monika e o Desejo, filme que abre a mostra Centenário Ingmar Bergman nesta quarta, 20, às 20h30, no Cinesesc, há o plano que Godard considerava “o mais triste da história do cinema”. Nele, a protagonista olha diretamente para a câmera – quer dizer, para o espectador. Como a lhe pedir cumplicidade, ou compreensão, para tudo o que ele acabara de ver. 

+++ TUDO SOBRE: Ingmar Bergman

Assim é Ingmar Bergman, cujo centenário se completa no próximo dia 14 de julho e ganha comemoração antecipada nesta retrospectiva, que traz 10 longas em cópias restauradas em digital – isto é, novinhas em folha: autor seminal, mergulhador profundo da alma humana e influenciador de outros cineastas geniais. 

Além de Monika e o Desejo (1953), estão na programação do Cinesesc O Sétimo Selo (1957), Morangos Silvestres (1957), Através de um Espelho (1961), Luz de Inverno (1963), O Silêncio (1963), Persona (1966), Gritos e Sussurros (1972), Sonata de Outono (1978) e Fanny e Alexander (1982).

Cena deMonika e o Desejo, de Ingmar Bergman Foto: AB Svensk Filndustri

Ou seja, uma panorâmica, estendida em quase três décadas, de um dos autores fundamentais do nosso tempo. Melhor dizendo, um dos mais importantes da história do cinema. Paralelamente à exibição dos filmes, haverá o curso O cinema de Ingmar Bergman, com aulas dias 3, 5 e 6/7 ministradas pelo crítico Sérgio Alpendre

Cada um dos filmes dessa seleta mereceria um ensaio à parte. A começar, por Monika e o Desejo, obra de contundente modernidade. Como destaca o crítico Antoine de Baecque em seu livro Cinefilia: “É a primeira vez que um filme mostra tão abertamente uma mulher assumindo seu corpo, sua nudez, seus desejos, seu poder sobre os homens”.

Harriet Andersson, que faz a jovem Monika, de certa forma, supera Marilyn Monroe e Brigitte Bardot como protótipo da mulher moderna “dona do seu desejo”, uma trajetória de superação do machismo, ainda incompleta, mas já prefigurada na obra de Bergman. É, também, um excepcional filme sobre a juventude, ambientado num verão nórdico tão intenso quanto efêmero – da mesma forma como a mocidade. 

Assim como fez este filme de exceção sobre a juventude, Bergman assina outro, notável, sobre a velhice. Na outra ponta da vida, contraponto a Monika e o Desejo, está o comovente Morangos Silvestres com a viagem existencial do doutor Isak Borg (Victor Sjöström), catedrático de Medicina que cruza a Suécia em seu carro para receber um prêmio. 

Acompanhado de sua nora (Ingrid Thulin), ele dá carona em seu carro a um grupo de jovens e as etapas da viagem o fazem recordar de sua mocidade, seus amores, seus conflitos, suas culpas. É um balanço de vida de um homem frio e egoísta, que se sente próximo da morte. Como outros trabalhos de Bergman, este parece simples, mas desce às complexidades e contradições da condição humana sem jamais banalizá-las. 

Cena deMonika e o Desejo, de Ingmar Bergman Foto: AB Svensk Filndustri

Dando um salto no tempo, é assim também com Fanny e Alexander, encantadora peça semiautobiográfica de maturidade, na época anunciada como último filme de Bergman (na verdade, ele faria outros, como Depois do Ensaio e Saraband). A infância aterrorizante, o escapismo pelo imaginário, a família como abrigo e ameaça, tudo culminando no elogio final ao teatro e a Strindberg, paixões de vida toda de Bergman

Uma mostra resumida como esta coloca difícil questão: quando Bergman foi mais intenso em seu projeto de prospecção da alma humana? No agridoce Morangos Silvestres? No psicanalítico Persona? Na metafísica da morte de Gritos e Sussurros? Ou na chamada “trilogia do silêncio”, composta por Através de um Espelho, Luz de Inverno e O Silêncio? Difícil decidir. Talvez seja melhor considerá-las peças de um mosaico que expressam a trajetória de um artista no debate de suas questões principais. 

Persona e Gritos e Sussurros podem ser as obras mais radicais do ponto de vista da linguagem cinematográfica. No primeiro, em depurado preto e branco, a imagem confusional de uma paciente (Liv Ullmann) e sua enfermeira (Bibi Andersson). No segundo, em tons de branco e vermelho, o quarto da mulher que morre (Harriet Andersson), assistida por suas irmãs (Ingrid Thulin e Liv Ullman). 

Bergman é um mundo inteiro a ser explorado e revisitado. 

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