"Iris", cerimônia de adeus de uma escritora


Filme do diretor Richard Eyre conta a vida da romancista e filósofa Iris Murdoch, mas são raros os momentos de emoção genuína

Por Agencia Estado

Iris foi feito para descrever uma comovente cerimônia de adeus. O filme, dirigido por Richard Eyre, relembra a vida da filósofa e escritora Iris Murdoch, extraordinária e brilhante em seu tempo, que morreu desmemoriada em 1999, vítima do mal de Alzheimer. Na juventude, Iris é interpretada por Kate Winslet; na velhice, por Judi Dench. Duas grandes atrizes - trunfo que conta muito no resultado final. Quase o tempo todo Eyre usa o recurso da montagem paralela. Salta continuamente no tempo. Vai da juventude de Iris à sua maturidade - no princípio uma velhice sadia, vivida ao lado do marido, John Bayley. Iris escreve, está tentando terminar um romance, mas nota que a memória começa a lhe pregar peças. Mais: que sua relação com as palavras parece mudar. Palavras aplicam-se a coisas e a objetos e também relacionam-se entre si. Um escritor vive da sua capacidade de articulá-las de forma vigorosa e original. Iris não é mais capaz de fazê-lo. Sofre de Alzheimer, a doença é progressiva e no princípio ela sabe disso. O filme é a história dessa falência, contraposta ao vigor da juventude. Há aí também o contraste entre as personalidades de Iris e Bayley. Era ela a parte forte. Bayley (na juventude, Hugh Bonneville, e na velhice Jim Broadbent) era um jovem tímido, desajeitado e virgem quando conheceu Iris, mulher moderna, avançada e, digamos, aberta a experiências. O desequilíbrio entre personalidades - pelo menos o filme insinua isso - responde pelo fascínio de Bayley pela mulher. Depois da morte de Iris, Bayley homenageou-a em dois livros: Iris: A Memoir e Elegy for Iris. Os textos são as fontes para Eyre. Esse filme delicado seria melhor se fosse mais enxuto. Eyre tinha dois violinos nas mãos, Judi e Kate, e se deixou seduzir pela facilidade aqui e ali. Como ambas respondem muito bem a nuances emocionais, o trabalho corre o risco de deslizar para o melodrama em alguns momentos. E isso de fato acontece no final. Ao longo da história, consegue se manter em nível de razoável contenção. Mas o fundamental passa meio batido: o que significa a tragédia da perda das palavras para uma escritora? É como se o diretor olhasse sempre esse problema do exterior e não conseguisse penetrar nesse drama íntimo da artista. De fora, Iris vai se tornado apenas uma velhinha frágil que não sabe direito o que foi fazer no supermercado e termina se esquecendo da existência de pessoas com as quais conviveu a vida toda. O patético da situação recebe sempre o reforço da evocação da juventude e sua plenitude. Uma emoção construída pelo contraste. Enfim, o filme trabalha mesmo é com isso, a perda da juventude, da saúde, a aproximação da morte, o curso de uma doença impiedosa. Apesar do belo trabalho de atrizes, são raros os momentos de emoção genuína. Um deles: quando Judi se reencontra com uma amiga, com quem tivera um affair, e ambas ouvem a canção francesa Que Reste-t-il de nos Amours?, de Charles Trenet, sob o olhar de Bayley. Há aí toda uma vida que se esvai, e o resto dessa vida ressurge e brilha por instantes no rosto de Judi, para se apagar em seguida. Iris poderia ser inteiro feito desse material, desse tipo de iluminação sensível, mas é preciso dizer que estes momentos são exceções e não a regra no filme dirigido por Eyre. Mas esse trabalho digno não cede ao apelo lacrimogêneo banal que se poderia esperar de um cinema mais apelativo. Não é o caso. Eyre sofre menos com o apelo comercial das lágrimas que com o peso do cinema britânico, cuja tendência ao academicismo não pode ser subestimada. É um cinema que em geral trabalha com excelentes textos (e às vezes com o melhor deles, Shakespeare), ótimos atores, cuidado na reconstituição de época, etc., mas não atinge o resultado que se poderia esperar. Culpa da direção quadrada, convencional, sem ousadia. Um cinema que, com as exceções de praxe, se contenta com o empate; por medo de ir ao ataque e tomar um gol pelas costas, prefere ficar no zero a zero. Não compromete nem acrescenta. Serviço Iris (Iris). Drama. Direção de Richard Eyre. EUA-R.Unido/2001. Duração: 91 minutos. 12 anos.

Iris foi feito para descrever uma comovente cerimônia de adeus. O filme, dirigido por Richard Eyre, relembra a vida da filósofa e escritora Iris Murdoch, extraordinária e brilhante em seu tempo, que morreu desmemoriada em 1999, vítima do mal de Alzheimer. Na juventude, Iris é interpretada por Kate Winslet; na velhice, por Judi Dench. Duas grandes atrizes - trunfo que conta muito no resultado final. Quase o tempo todo Eyre usa o recurso da montagem paralela. Salta continuamente no tempo. Vai da juventude de Iris à sua maturidade - no princípio uma velhice sadia, vivida ao lado do marido, John Bayley. Iris escreve, está tentando terminar um romance, mas nota que a memória começa a lhe pregar peças. Mais: que sua relação com as palavras parece mudar. Palavras aplicam-se a coisas e a objetos e também relacionam-se entre si. Um escritor vive da sua capacidade de articulá-las de forma vigorosa e original. Iris não é mais capaz de fazê-lo. Sofre de Alzheimer, a doença é progressiva e no princípio ela sabe disso. O filme é a história dessa falência, contraposta ao vigor da juventude. Há aí também o contraste entre as personalidades de Iris e Bayley. Era ela a parte forte. Bayley (na juventude, Hugh Bonneville, e na velhice Jim Broadbent) era um jovem tímido, desajeitado e virgem quando conheceu Iris, mulher moderna, avançada e, digamos, aberta a experiências. O desequilíbrio entre personalidades - pelo menos o filme insinua isso - responde pelo fascínio de Bayley pela mulher. Depois da morte de Iris, Bayley homenageou-a em dois livros: Iris: A Memoir e Elegy for Iris. Os textos são as fontes para Eyre. Esse filme delicado seria melhor se fosse mais enxuto. Eyre tinha dois violinos nas mãos, Judi e Kate, e se deixou seduzir pela facilidade aqui e ali. Como ambas respondem muito bem a nuances emocionais, o trabalho corre o risco de deslizar para o melodrama em alguns momentos. E isso de fato acontece no final. Ao longo da história, consegue se manter em nível de razoável contenção. Mas o fundamental passa meio batido: o que significa a tragédia da perda das palavras para uma escritora? É como se o diretor olhasse sempre esse problema do exterior e não conseguisse penetrar nesse drama íntimo da artista. De fora, Iris vai se tornado apenas uma velhinha frágil que não sabe direito o que foi fazer no supermercado e termina se esquecendo da existência de pessoas com as quais conviveu a vida toda. O patético da situação recebe sempre o reforço da evocação da juventude e sua plenitude. Uma emoção construída pelo contraste. Enfim, o filme trabalha mesmo é com isso, a perda da juventude, da saúde, a aproximação da morte, o curso de uma doença impiedosa. Apesar do belo trabalho de atrizes, são raros os momentos de emoção genuína. Um deles: quando Judi se reencontra com uma amiga, com quem tivera um affair, e ambas ouvem a canção francesa Que Reste-t-il de nos Amours?, de Charles Trenet, sob o olhar de Bayley. Há aí toda uma vida que se esvai, e o resto dessa vida ressurge e brilha por instantes no rosto de Judi, para se apagar em seguida. Iris poderia ser inteiro feito desse material, desse tipo de iluminação sensível, mas é preciso dizer que estes momentos são exceções e não a regra no filme dirigido por Eyre. Mas esse trabalho digno não cede ao apelo lacrimogêneo banal que se poderia esperar de um cinema mais apelativo. Não é o caso. Eyre sofre menos com o apelo comercial das lágrimas que com o peso do cinema britânico, cuja tendência ao academicismo não pode ser subestimada. É um cinema que em geral trabalha com excelentes textos (e às vezes com o melhor deles, Shakespeare), ótimos atores, cuidado na reconstituição de época, etc., mas não atinge o resultado que se poderia esperar. Culpa da direção quadrada, convencional, sem ousadia. Um cinema que, com as exceções de praxe, se contenta com o empate; por medo de ir ao ataque e tomar um gol pelas costas, prefere ficar no zero a zero. Não compromete nem acrescenta. Serviço Iris (Iris). Drama. Direção de Richard Eyre. EUA-R.Unido/2001. Duração: 91 minutos. 12 anos.

Iris foi feito para descrever uma comovente cerimônia de adeus. O filme, dirigido por Richard Eyre, relembra a vida da filósofa e escritora Iris Murdoch, extraordinária e brilhante em seu tempo, que morreu desmemoriada em 1999, vítima do mal de Alzheimer. Na juventude, Iris é interpretada por Kate Winslet; na velhice, por Judi Dench. Duas grandes atrizes - trunfo que conta muito no resultado final. Quase o tempo todo Eyre usa o recurso da montagem paralela. Salta continuamente no tempo. Vai da juventude de Iris à sua maturidade - no princípio uma velhice sadia, vivida ao lado do marido, John Bayley. Iris escreve, está tentando terminar um romance, mas nota que a memória começa a lhe pregar peças. Mais: que sua relação com as palavras parece mudar. Palavras aplicam-se a coisas e a objetos e também relacionam-se entre si. Um escritor vive da sua capacidade de articulá-las de forma vigorosa e original. Iris não é mais capaz de fazê-lo. Sofre de Alzheimer, a doença é progressiva e no princípio ela sabe disso. O filme é a história dessa falência, contraposta ao vigor da juventude. Há aí também o contraste entre as personalidades de Iris e Bayley. Era ela a parte forte. Bayley (na juventude, Hugh Bonneville, e na velhice Jim Broadbent) era um jovem tímido, desajeitado e virgem quando conheceu Iris, mulher moderna, avançada e, digamos, aberta a experiências. O desequilíbrio entre personalidades - pelo menos o filme insinua isso - responde pelo fascínio de Bayley pela mulher. Depois da morte de Iris, Bayley homenageou-a em dois livros: Iris: A Memoir e Elegy for Iris. Os textos são as fontes para Eyre. Esse filme delicado seria melhor se fosse mais enxuto. Eyre tinha dois violinos nas mãos, Judi e Kate, e se deixou seduzir pela facilidade aqui e ali. Como ambas respondem muito bem a nuances emocionais, o trabalho corre o risco de deslizar para o melodrama em alguns momentos. E isso de fato acontece no final. Ao longo da história, consegue se manter em nível de razoável contenção. Mas o fundamental passa meio batido: o que significa a tragédia da perda das palavras para uma escritora? É como se o diretor olhasse sempre esse problema do exterior e não conseguisse penetrar nesse drama íntimo da artista. De fora, Iris vai se tornado apenas uma velhinha frágil que não sabe direito o que foi fazer no supermercado e termina se esquecendo da existência de pessoas com as quais conviveu a vida toda. O patético da situação recebe sempre o reforço da evocação da juventude e sua plenitude. Uma emoção construída pelo contraste. Enfim, o filme trabalha mesmo é com isso, a perda da juventude, da saúde, a aproximação da morte, o curso de uma doença impiedosa. Apesar do belo trabalho de atrizes, são raros os momentos de emoção genuína. Um deles: quando Judi se reencontra com uma amiga, com quem tivera um affair, e ambas ouvem a canção francesa Que Reste-t-il de nos Amours?, de Charles Trenet, sob o olhar de Bayley. Há aí toda uma vida que se esvai, e o resto dessa vida ressurge e brilha por instantes no rosto de Judi, para se apagar em seguida. Iris poderia ser inteiro feito desse material, desse tipo de iluminação sensível, mas é preciso dizer que estes momentos são exceções e não a regra no filme dirigido por Eyre. Mas esse trabalho digno não cede ao apelo lacrimogêneo banal que se poderia esperar de um cinema mais apelativo. Não é o caso. Eyre sofre menos com o apelo comercial das lágrimas que com o peso do cinema britânico, cuja tendência ao academicismo não pode ser subestimada. É um cinema que em geral trabalha com excelentes textos (e às vezes com o melhor deles, Shakespeare), ótimos atores, cuidado na reconstituição de época, etc., mas não atinge o resultado que se poderia esperar. Culpa da direção quadrada, convencional, sem ousadia. Um cinema que, com as exceções de praxe, se contenta com o empate; por medo de ir ao ataque e tomar um gol pelas costas, prefere ficar no zero a zero. Não compromete nem acrescenta. Serviço Iris (Iris). Drama. Direção de Richard Eyre. EUA-R.Unido/2001. Duração: 91 minutos. 12 anos.

Iris foi feito para descrever uma comovente cerimônia de adeus. O filme, dirigido por Richard Eyre, relembra a vida da filósofa e escritora Iris Murdoch, extraordinária e brilhante em seu tempo, que morreu desmemoriada em 1999, vítima do mal de Alzheimer. Na juventude, Iris é interpretada por Kate Winslet; na velhice, por Judi Dench. Duas grandes atrizes - trunfo que conta muito no resultado final. Quase o tempo todo Eyre usa o recurso da montagem paralela. Salta continuamente no tempo. Vai da juventude de Iris à sua maturidade - no princípio uma velhice sadia, vivida ao lado do marido, John Bayley. Iris escreve, está tentando terminar um romance, mas nota que a memória começa a lhe pregar peças. Mais: que sua relação com as palavras parece mudar. Palavras aplicam-se a coisas e a objetos e também relacionam-se entre si. Um escritor vive da sua capacidade de articulá-las de forma vigorosa e original. Iris não é mais capaz de fazê-lo. Sofre de Alzheimer, a doença é progressiva e no princípio ela sabe disso. O filme é a história dessa falência, contraposta ao vigor da juventude. Há aí também o contraste entre as personalidades de Iris e Bayley. Era ela a parte forte. Bayley (na juventude, Hugh Bonneville, e na velhice Jim Broadbent) era um jovem tímido, desajeitado e virgem quando conheceu Iris, mulher moderna, avançada e, digamos, aberta a experiências. O desequilíbrio entre personalidades - pelo menos o filme insinua isso - responde pelo fascínio de Bayley pela mulher. Depois da morte de Iris, Bayley homenageou-a em dois livros: Iris: A Memoir e Elegy for Iris. Os textos são as fontes para Eyre. Esse filme delicado seria melhor se fosse mais enxuto. Eyre tinha dois violinos nas mãos, Judi e Kate, e se deixou seduzir pela facilidade aqui e ali. Como ambas respondem muito bem a nuances emocionais, o trabalho corre o risco de deslizar para o melodrama em alguns momentos. E isso de fato acontece no final. Ao longo da história, consegue se manter em nível de razoável contenção. Mas o fundamental passa meio batido: o que significa a tragédia da perda das palavras para uma escritora? É como se o diretor olhasse sempre esse problema do exterior e não conseguisse penetrar nesse drama íntimo da artista. De fora, Iris vai se tornado apenas uma velhinha frágil que não sabe direito o que foi fazer no supermercado e termina se esquecendo da existência de pessoas com as quais conviveu a vida toda. O patético da situação recebe sempre o reforço da evocação da juventude e sua plenitude. Uma emoção construída pelo contraste. Enfim, o filme trabalha mesmo é com isso, a perda da juventude, da saúde, a aproximação da morte, o curso de uma doença impiedosa. Apesar do belo trabalho de atrizes, são raros os momentos de emoção genuína. Um deles: quando Judi se reencontra com uma amiga, com quem tivera um affair, e ambas ouvem a canção francesa Que Reste-t-il de nos Amours?, de Charles Trenet, sob o olhar de Bayley. Há aí toda uma vida que se esvai, e o resto dessa vida ressurge e brilha por instantes no rosto de Judi, para se apagar em seguida. Iris poderia ser inteiro feito desse material, desse tipo de iluminação sensível, mas é preciso dizer que estes momentos são exceções e não a regra no filme dirigido por Eyre. Mas esse trabalho digno não cede ao apelo lacrimogêneo banal que se poderia esperar de um cinema mais apelativo. Não é o caso. Eyre sofre menos com o apelo comercial das lágrimas que com o peso do cinema britânico, cuja tendência ao academicismo não pode ser subestimada. É um cinema que em geral trabalha com excelentes textos (e às vezes com o melhor deles, Shakespeare), ótimos atores, cuidado na reconstituição de época, etc., mas não atinge o resultado que se poderia esperar. Culpa da direção quadrada, convencional, sem ousadia. Um cinema que, com as exceções de praxe, se contenta com o empate; por medo de ir ao ataque e tomar um gol pelas costas, prefere ficar no zero a zero. Não compromete nem acrescenta. Serviço Iris (Iris). Drama. Direção de Richard Eyre. EUA-R.Unido/2001. Duração: 91 minutos. 12 anos.

Iris foi feito para descrever uma comovente cerimônia de adeus. O filme, dirigido por Richard Eyre, relembra a vida da filósofa e escritora Iris Murdoch, extraordinária e brilhante em seu tempo, que morreu desmemoriada em 1999, vítima do mal de Alzheimer. Na juventude, Iris é interpretada por Kate Winslet; na velhice, por Judi Dench. Duas grandes atrizes - trunfo que conta muito no resultado final. Quase o tempo todo Eyre usa o recurso da montagem paralela. Salta continuamente no tempo. Vai da juventude de Iris à sua maturidade - no princípio uma velhice sadia, vivida ao lado do marido, John Bayley. Iris escreve, está tentando terminar um romance, mas nota que a memória começa a lhe pregar peças. Mais: que sua relação com as palavras parece mudar. Palavras aplicam-se a coisas e a objetos e também relacionam-se entre si. Um escritor vive da sua capacidade de articulá-las de forma vigorosa e original. Iris não é mais capaz de fazê-lo. Sofre de Alzheimer, a doença é progressiva e no princípio ela sabe disso. O filme é a história dessa falência, contraposta ao vigor da juventude. Há aí também o contraste entre as personalidades de Iris e Bayley. Era ela a parte forte. Bayley (na juventude, Hugh Bonneville, e na velhice Jim Broadbent) era um jovem tímido, desajeitado e virgem quando conheceu Iris, mulher moderna, avançada e, digamos, aberta a experiências. O desequilíbrio entre personalidades - pelo menos o filme insinua isso - responde pelo fascínio de Bayley pela mulher. Depois da morte de Iris, Bayley homenageou-a em dois livros: Iris: A Memoir e Elegy for Iris. Os textos são as fontes para Eyre. Esse filme delicado seria melhor se fosse mais enxuto. Eyre tinha dois violinos nas mãos, Judi e Kate, e se deixou seduzir pela facilidade aqui e ali. Como ambas respondem muito bem a nuances emocionais, o trabalho corre o risco de deslizar para o melodrama em alguns momentos. E isso de fato acontece no final. Ao longo da história, consegue se manter em nível de razoável contenção. Mas o fundamental passa meio batido: o que significa a tragédia da perda das palavras para uma escritora? É como se o diretor olhasse sempre esse problema do exterior e não conseguisse penetrar nesse drama íntimo da artista. De fora, Iris vai se tornado apenas uma velhinha frágil que não sabe direito o que foi fazer no supermercado e termina se esquecendo da existência de pessoas com as quais conviveu a vida toda. O patético da situação recebe sempre o reforço da evocação da juventude e sua plenitude. Uma emoção construída pelo contraste. Enfim, o filme trabalha mesmo é com isso, a perda da juventude, da saúde, a aproximação da morte, o curso de uma doença impiedosa. Apesar do belo trabalho de atrizes, são raros os momentos de emoção genuína. Um deles: quando Judi se reencontra com uma amiga, com quem tivera um affair, e ambas ouvem a canção francesa Que Reste-t-il de nos Amours?, de Charles Trenet, sob o olhar de Bayley. Há aí toda uma vida que se esvai, e o resto dessa vida ressurge e brilha por instantes no rosto de Judi, para se apagar em seguida. Iris poderia ser inteiro feito desse material, desse tipo de iluminação sensível, mas é preciso dizer que estes momentos são exceções e não a regra no filme dirigido por Eyre. Mas esse trabalho digno não cede ao apelo lacrimogêneo banal que se poderia esperar de um cinema mais apelativo. Não é o caso. Eyre sofre menos com o apelo comercial das lágrimas que com o peso do cinema britânico, cuja tendência ao academicismo não pode ser subestimada. É um cinema que em geral trabalha com excelentes textos (e às vezes com o melhor deles, Shakespeare), ótimos atores, cuidado na reconstituição de época, etc., mas não atinge o resultado que se poderia esperar. Culpa da direção quadrada, convencional, sem ousadia. Um cinema que, com as exceções de praxe, se contenta com o empate; por medo de ir ao ataque e tomar um gol pelas costas, prefere ficar no zero a zero. Não compromete nem acrescenta. Serviço Iris (Iris). Drama. Direção de Richard Eyre. EUA-R.Unido/2001. Duração: 91 minutos. 12 anos.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.