Eu queria ser educada por Jane Fonda.
Havia uma chance razoável de entrarmos em uma briga no estilo Megyn Kelly, quanto eu avançasse em algum tema que ela não quisesse discutir. Mas eu estava pronta para correr o risco.
Queria Jane Fonda, uma Forrest Gump glamurosa que apareceu na linha de frente da cultura, do mundo fitness, da política e de Hollywood por mais de meio século, para me dar informações a respeito de tudo:
Dos Panteras Negras ao Green New Deal, de uma vida sexual lendária a nenhuma vida sexual, de cirurgia plástica a algemas de prisão de plástico, de Barbarella a Quentin Tarantino, de Richard Nixon a Donald Trump, de Marilyn Monroe ao TikTok, de más vibrações pelo apelido “Hanoi Jane” a bons vibradores.
E lá estava ela no Zoom, elegante com seu novo corte pixie e cabelo grisalho, falando de sua casa chique em Los Angeles.
“Fiquei grisalha no momento certo”, disse ela. “Eu não sabia que a covid-19 estava chegando. Cansei dos produtos químicos, do tempo e do dinheiro para manter esse tom particular de loiro, você sabe - já chega! E então eu conversei com os produtores de Grace and Frankie" - sua série na Netflix - “e eu disse, 'Eu quero ficar grisalha, mas isso significaria que Grace terá que ficar grisalha', e todos eles me apoiaram. ”
Aos 82 anos, ela ainda tem a mesma intensidade que a fez duas vezes vencedora do Oscar, uma ativista antiguerra e um símbolo sexual intergaláctico. E uma repetidora.
"Você sabe o que é um repetidor", disse ela, seus olhos azuis da cor do Pacífico me guiavam. “Os repetidores são as antenas que você vê no topo das montanhas.”
Ela continuou: “Eles não originam os sinais, mas os sinais do fundo do vale são captados e, em seguida, os repetidores os levam do vale e os espalham para um público muito mais amplo. Isso é o que as celebridades são. ”
Conversando com Ivanka Trump
Jane se considerava uma ambientalista antes deste ano, "mas eu realmente não tinha realmente me arriscado por isso", disse ela. Ela havia “pescado em alto mar com todos os homens importantes da minha vida, começando com meu pai”.
Ela sabia das tartarugas marinhas sendo estranguladas e dos ursos polares morrendo de fome. Ela usou moinhos de vento e energia solar, comprou um BMW elétrico, reciclou, cortou a carne vermelha e o plástico. (Mas ainda abre exceções às vezes para costelinhas de porco.) Ela coproduziu e estrelouSíndrome da China em 1979, sobre os perigos da energia nuclear.
Mas então, no último dia do trabalho, dirigindo até Big Sur para fazer uma caminhada com suas amigas Rosanna Arquette e Catherine Keener, ela começou a se interessar em fazer mais.
“Eu tremia dos pés à cabeça”, ela escreve em seu novo livro, What Can I Do? (O que posso fazer?, em tradução livre).
Inspirada por Greta Thunberg e pelo livro de Naomi Klein a respeito do Green New Deal, ela decidiu desenterrar seu saco de dormir, mudar para Washington por um ano e acampar em frente à Casa Branca para protestar contra a mudança climática. (Seu pai, Henry Fonda, fez “As vinhas da ira” sobre a seca e as tempestades de areia nos tempos da depressão americana.)
"Onde vou fazer cocô e fazer xixi?" ela imaginou. “Estou muito mais velha agora e tenho que me levantar durante a noite com mais frequência.”
Ela não queria ser descartada como "uma estrela envelhecida vindo de Hollywood". Mas então, como ela disse, "resolveu não ficar parada e fazer algo", comprou um casaco vermelho chique na Neiman's e se mudou para Washington.
Ela sentia que entendia Trump porque reconheceu nele o que pensava que poderia ser uma dinâmica semelhante à da educação de seu terceiro marido, Ted Turner.
“Eu pensei, ele foi traumatizado quando criança, como o Ted foi quando criança, portanto há certas coisas que eu entendo em relação a esse tipo de homem”, disse ela. “Então, eu pensei, OK, vou encontrar quatro das mulheres mais bonitas, sensuais, inteligentes e preocupadas com as mudanças climáticas que posso, e vamos lá, vamos nos ajoelhar, suplicar e implorar.”
Ela ligou para Pamela Anderson, “e ela estava pronta para isso”, disse Jane, que ainda estava pensando em quem mais poderia se juntar a elas - “talvez Sharon Stone”.
“Vamos dizer a ele o que precisa ser feito e como esta é uma crise importante e vamos dizer a ele que será o maior herói do mundo, esse tipo de coisa”, disse ela. “Eu realmente liguei para Jared, ou qualquer que seja o nome dele, e contei a ele minha ideia e ele disse: ‘Bem, Ivanka é a ambientalista da família’. Sim, claro. Então ela me ligou e eu disse a ela minha ideia e ela riu e nunca mais me telefonou. ”
Jane conseguiu o apoio de Annie Leonard, diretora-executiva do Greenpeace dos Estados Unidos, que disse que acampar era uma má ideia - “‘ Existem ratos por lá’”, Annie disse a ela - mas que havia outras maneiras de praticar a desobediência civil.
Jane tinha uma foto famosa de uma prisão em 1970 por acusações inventadas pela Casa Branca de Nixon. O presidente ficou zangado com os protestos da atriz contra a Guerra do Vietnã e resmungou em uma gravação: "O que há de errado com Jane Fonda?" E: "Ela é bonita, mas, cara, ela costuma estar no caminho errado."
Como Troy Garity, seu filho com Tom Hayden, brincou no tributo a atriz organizado pelo Instituto Americano do Filme em 2014: “Minha mãe nunca contratou uma babá para cuidar de mim. Era para isso que servia o FBI. ”
Por quatro meses, ela desempenhou seu papel de repetidora, tornando-se a estrela do Fire Drill Fridays, um protesto contra as mudanças climáticas organizado todas as sextas-feiras de janeiro deste ano em frente ao Capitol. Ela foi presa cinco vezes e verificou se as algemas pretas de plástico usadas pela polícia eram recicláveis.
A necessidade de desobediência civil
De volta a Los Angeles, Jane começou a se movimentar usando a internet e ficou surpresa com a reação das pessoas. “Continuamos crescendo”, disse ela em relação ao número de espectadores da série de vídeos no site da Fire Drill Fridays com o Greenpeace. “Eram 100.000, 300.000, 400.000, agora são 600.000.”
Ela tem convidados, entre eles Mary Trump, que ofereceu ideias a respeito da negação de mudança climática do presidente. E ela tem o novo livro, oferecendo muitas dicas úteis para os ecologicamente desafiados como: “Coma menos peixe!”
Suas prisões chamaram a atenção de Trump, que disse em um comício na Louisiana: “Eles prenderam Jane Fonda; nada muda."
"Ela sempre está com as algemas, cara", disse ele. “Ela está acenando para todos com as algemas. Não consigo acreditar.” Ele acrescentou: “A cada 25 anos eles a prendem”.
Ela riu quando toquei no assunto.
“Acredito que as más ações que Trump está cometendo são a linguagem dos traumatizados”, disse ela. “E você pode odiar as ações. Não odeie a pessoa porque ela ganha se nós a odiarmos. Nem mesmo dê tanta importância a ele.”
“Então, na verdade, eu tenho empatia por ele. Eu olho para essa pessoa e vejo uma criança assustada que é muito, muito perigosa porque tem as mãos em todos os botões.”
Como Trump se compara a Nixon?
"Oh, é muito mais perigoso", disse ela. “Eu nem acredito que estou dizendo isso. Nos anos 70, eu nem pensava nas coisas positivas em relação a Nixon. Mas houve a Lei do Ar Limpo e ele fez grandes coisas pelas nações tribais. Quero dizer, ele realmente fez algumas coisas muito boas e era inteligente e sabia fazer política externa. Portanto, não era tão perigoso como alguém que não tem absolutamente nenhum limite para o que está preparado para fazer para acabar com o país. ”
Embora tenha declarado seu apoio durante as primárias do partido Democrata a senadora Elizabeth Warren, ela está feliz com Kamala Harris e organizou uma arrecadação virtual de fundos com Lily Tomlin para Joe Biden.
“Meu ponto de vista é: olha, prefiro pressionar um moderado do que lutar contra um fascista”, disse ela. "Você pode pressioná-lo", acrescentou ela, referindo-se a Biden. “Ele já mudou muito quanto a questões climáticas.”
Ela continuou: “Temos que cortar as emissões de combustíveis fósseis pela metade até 2030 e isso vai ser difícil para ele e temos que forçá-los a fazer isso, fazer o que pudermos. É aqui que entra a desobediência civil. E eu serei uma das pessoas nas ruas assim que Grace and Frankie acabar. ”
Quando ela estava morando com o pai e saindo com os Panteras Negras, Henry Fonda disse a ela: "Se algum dia eu descobrir que você é comunista, serei o primeiro a denunciá-la". No início dos anos 80, ela adotou não oficialmente Mary Williams, filha de dois Panteras Negras que não podiam mais cuidar dela.
Ela observou que havia "um sentimento de amor" em relação aos protestos Black Lives Matter “que faltou com os Panteras nos anos 70”. Acho que uma das razões é porque as mulheres estão na liderança”. Ela disse que na época das agitações em Ferguson, Missouri, “um dia recebi pelo correio alguns panfletos a respeito de como se cuidar que foram feitos por organizadores dos protestos Black Lives Matter. E foi tipo, esse é um movimento que fala aos ativistas sobre o autocuidado? Isso é novidade."
Neste momento em que estamos fazendo uma reavaliação de algumas obras de arte clássicas, fiquei curiosa para ouvir o que ela pensa acerca do debate sobre E o Vento Levou, o filme tão querido por seu ex, Turner.
“Ted comprou a MGM para que ele pudesse ser proprietário de E o Vento Levou”, disse Jane. “Quero dizer, ele vive de segundo as regras de E o Vento Levou’ 'A terra é a única coisa que importa, Scarlett. A terra é a única coisa que dura! ' É por isso que ele possui 2 milhões de acres, por causa de Scarlett O’Hara.”
“Ele recitava muitas falas de E o Vento Levou. Ele estava obcecado por Scarlett O’Hara. Você conhece a pintura do filme, a grande pintura com Scarlett? Ele tinha uma. "
Era a verdadeira ou uma réplica?
“Bem, Rhett jogou uma bebida em uma e a destruiu”, disse ela. “Então era uma que não havia sido destruída. Era pré-destruída.”
Ela disse que o filme não deveria ser cancelado, mas “tem que ser contextualizado”.
Também está em debate a reputação de John Wayne, um bom amigo de seu pai, por causa de uma história horrível com comentários racistas.
“Pessoalmente, não acho que devemos cancelar John Wayne”, disse ela. “Mas muito mais importante é, o que vamos fazer com o sistema bancário, o redlining (negação sistemática de serviços a residentes de áreas específicas, geralmente mais pobre), as hipotecas, o policiamento, todas essas coisas que tornam impossível para os negros ascender na vida?”
TRADUÇÃO DE ROMINA CÁCIA