Juliette Binoche: ‘Quero a força da arte, mas também silêncio para me ouvir’


Premiada no Festival de San Sebastián, por seus 40 anos de carreira, Juliette Binoche se emociona ao falar ao ‘Estadão’ sobre o filme ‘Le Lycéen’

Por Rodrigo Fonseca, Especial para o Estadão
Atualização:

Foi no dia 17 de maio de 1983, no Festival de Cannes, que o cinema viu Juliette Binoche pela primeira vez, no elenco de Liberty Belle, de Pascal Kané.

Era uma garota de 19 anos, filha de pais separados, cheia de curiosidade sobre a indústria audiovisual que a levaria, em 1985, a filmar com o primeiro dos muitos mitos da direção com quem trabalhou: Jean-Luc Godard. Realizaram Eu Vos Saúdo Maria (1985), filme que irritou o Vaticano ao propor a semiótica de Nossa Senhora, que fez a então jovem atriz entender que arte e polêmica andam juntas. Foi uma das histórias que contou no 70.º Festival de San Sebastián, na Espanha, que lhe concedeu o prêmio honorário, o troféu Donostia, e exibiu dois longas ainda inéditos estrelados por ela, ambos assinados por grifes autorais da França.

Cena de 'Avec Amour et Acharnement', filme de Claire Denis com Juliette Binoche e Vincent Lindon Foto: Curiosa Films
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“Eu me lembro de que, no teste para Eu Vos Saúdo Maria, Godard me fez recitar um poema enquanto penteava os cabelos”, lembrou a atriz, sem comentar o suicídio assistido do cineasta, no dia 13. “Filmando com ele, aprendi que, nesse trabalho, é preciso sempre estar preparada.”

Entre os filmes especiais de San Sebastián, ela aparece em um triângulo amoroso em Avec Amour et Acharnement, que deu à cineasta Claire Denis o prêmio de melhor direção na Berlinale, em fevereiro. Na seleção oficial, ela vive a mãe viúva de um rapaz que acaba de perder o pai em Le Lycéen, de Christophe Honoré, apontado como o favorito entre os 17 concorrentes à Concha de Ouro, a láurea mais disputada do evento espanhol, que termina neste sábado, 24. E bastou lembrar da filmagem da história baseada numa tragédia pessoal do realizador para Juliette começar a chorar, mesmo em uma entrevista internacional.

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“Fico comovida ao lembrar que ele confiou a mim a representação de sua mãe, o que faz sentir-me querida e me aquece, sobretudo em meio a um processo de direção cheio de leveza, sem autoridade. Christophe olha para aquela mulher e vê a mãe em meio à perda que viveu, quando jovem, e que está no cerne desse filme que discute o que é ser um adolescente neste mundo”, define Juliette, entre lágrimas, em conversa com o Estadão. “Sou uma pessoa sensível. Uma pessoa que gosta de movimento, que tem necessidade de conhecer todas as potências que a arte oferece, mas que também precisa de silêncio, para se ouvir.”

Aos 58 anos, Juliette – que ganhou o Oscar de melhor coadjuvante, em 1997, por O Paciente Inglês – já chorou publicamente outras vezes, não só pela forte emoção, mas tocada por conflitos políticos da produção cinematográfica. Ficou famosa a coletiva de Cannes, em 2010, quando a atriz, falando sobre Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami, caiu em prantos ao saber da prisão do diretor iraniano Jafar Panahi, detido pelo veto de seu governo à liberdade de expressão. Na época, ela não quis comentar sua reação. “Está tudo expresso ali, não precisa de legenda”, disse em uma entrevista, há 12 anos. Mas, hoje, ela fala da importância da legitimidade de seus sentimentos, mesmo numa vida pública.

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“Quando você chega a um evento como este, sabe que vão perguntar sobre a sua vida e, portanto, que precisa pensar bem nas palavras que vai dizer. Mas busco ser a mais verdadeira possível ao falar das minhas vivências. Quando lembro do que fizemos no filme do Christophe, Le Lycéen, a emoção me vem à cabeça – era um filme em que ainda estávamos vivendo sob as limitações impostas pela pandemia, usando máscaras no set”, lembra a atriz que, antes de San Sebastián, passou pelo Festival de Locarno, na Suíça, com o filme Paradise Highway, thriller americano em que vive uma caminhoneira. “Gosto de testar diferentes expressões na arte”, diz.

Embora fale com respeito sobre as mortes inerentes à covid-19, Juliette confessa seu mal-estar com algumas das medidas de proteção do confinamento. “Sempre usei máscara, não só por medo de me contaminar, mas em respeito às vidas ao meu lado. Porém, eu odiava aquilo. Assim como odiava ser proibida de ir até a praia, ver o mar, durante o lockdown. Era uma sensação parecida com a de quando fui ao Irã e tive de usar véu nos cabelos. Na minha primeira vez lá, eu entendia o simbolismo e aceitava. Mas, na segunda visita, fiquei incomodada ao pensar no que o véu representa para a condição feminina. Conversei com algumas mulheres sobre isso e foi duro”, admite a atriz, que será vista ainda como a estilista Coco Chanel na série The New Look, da Apple TV.

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“Sinto que a gente ainda não teve tempo de avaliar o que mudou no mundo com a pandemia. Acho que, em mim, a mudança principal foi o aumento de um senso ecológico, a vontade de brigar por uma nova educação ambiental. Comprei uma segunda casa, no campo, para poder me refugiar com meus filhos, caso a doença volte ou algo similar ocorra. Mas, apesar de tudo o que passamos no lockdown, aproveitei bem os dias de confinamento na medida do possível. Cuidei de minha mãe, tive tempo para aproveitar a companhia de meus filhos. Foram bons momentos.”

Presidente do júri do Festival de Berlim em 2019, Juliette não especula sobre resultados de San Sebastián. “Vivi os papéis que encarno com real intensidade”, explica a atriz. “A entrega é necessária para o público acreditar em você.”

Foi no dia 17 de maio de 1983, no Festival de Cannes, que o cinema viu Juliette Binoche pela primeira vez, no elenco de Liberty Belle, de Pascal Kané.

Era uma garota de 19 anos, filha de pais separados, cheia de curiosidade sobre a indústria audiovisual que a levaria, em 1985, a filmar com o primeiro dos muitos mitos da direção com quem trabalhou: Jean-Luc Godard. Realizaram Eu Vos Saúdo Maria (1985), filme que irritou o Vaticano ao propor a semiótica de Nossa Senhora, que fez a então jovem atriz entender que arte e polêmica andam juntas. Foi uma das histórias que contou no 70.º Festival de San Sebastián, na Espanha, que lhe concedeu o prêmio honorário, o troféu Donostia, e exibiu dois longas ainda inéditos estrelados por ela, ambos assinados por grifes autorais da França.

Cena de 'Avec Amour et Acharnement', filme de Claire Denis com Juliette Binoche e Vincent Lindon Foto: Curiosa Films

“Eu me lembro de que, no teste para Eu Vos Saúdo Maria, Godard me fez recitar um poema enquanto penteava os cabelos”, lembrou a atriz, sem comentar o suicídio assistido do cineasta, no dia 13. “Filmando com ele, aprendi que, nesse trabalho, é preciso sempre estar preparada.”

Entre os filmes especiais de San Sebastián, ela aparece em um triângulo amoroso em Avec Amour et Acharnement, que deu à cineasta Claire Denis o prêmio de melhor direção na Berlinale, em fevereiro. Na seleção oficial, ela vive a mãe viúva de um rapaz que acaba de perder o pai em Le Lycéen, de Christophe Honoré, apontado como o favorito entre os 17 concorrentes à Concha de Ouro, a láurea mais disputada do evento espanhol, que termina neste sábado, 24. E bastou lembrar da filmagem da história baseada numa tragédia pessoal do realizador para Juliette começar a chorar, mesmo em uma entrevista internacional.

“Fico comovida ao lembrar que ele confiou a mim a representação de sua mãe, o que faz sentir-me querida e me aquece, sobretudo em meio a um processo de direção cheio de leveza, sem autoridade. Christophe olha para aquela mulher e vê a mãe em meio à perda que viveu, quando jovem, e que está no cerne desse filme que discute o que é ser um adolescente neste mundo”, define Juliette, entre lágrimas, em conversa com o Estadão. “Sou uma pessoa sensível. Uma pessoa que gosta de movimento, que tem necessidade de conhecer todas as potências que a arte oferece, mas que também precisa de silêncio, para se ouvir.”

Aos 58 anos, Juliette – que ganhou o Oscar de melhor coadjuvante, em 1997, por O Paciente Inglês – já chorou publicamente outras vezes, não só pela forte emoção, mas tocada por conflitos políticos da produção cinematográfica. Ficou famosa a coletiva de Cannes, em 2010, quando a atriz, falando sobre Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami, caiu em prantos ao saber da prisão do diretor iraniano Jafar Panahi, detido pelo veto de seu governo à liberdade de expressão. Na época, ela não quis comentar sua reação. “Está tudo expresso ali, não precisa de legenda”, disse em uma entrevista, há 12 anos. Mas, hoje, ela fala da importância da legitimidade de seus sentimentos, mesmo numa vida pública.

“Quando você chega a um evento como este, sabe que vão perguntar sobre a sua vida e, portanto, que precisa pensar bem nas palavras que vai dizer. Mas busco ser a mais verdadeira possível ao falar das minhas vivências. Quando lembro do que fizemos no filme do Christophe, Le Lycéen, a emoção me vem à cabeça – era um filme em que ainda estávamos vivendo sob as limitações impostas pela pandemia, usando máscaras no set”, lembra a atriz que, antes de San Sebastián, passou pelo Festival de Locarno, na Suíça, com o filme Paradise Highway, thriller americano em que vive uma caminhoneira. “Gosto de testar diferentes expressões na arte”, diz.

Embora fale com respeito sobre as mortes inerentes à covid-19, Juliette confessa seu mal-estar com algumas das medidas de proteção do confinamento. “Sempre usei máscara, não só por medo de me contaminar, mas em respeito às vidas ao meu lado. Porém, eu odiava aquilo. Assim como odiava ser proibida de ir até a praia, ver o mar, durante o lockdown. Era uma sensação parecida com a de quando fui ao Irã e tive de usar véu nos cabelos. Na minha primeira vez lá, eu entendia o simbolismo e aceitava. Mas, na segunda visita, fiquei incomodada ao pensar no que o véu representa para a condição feminina. Conversei com algumas mulheres sobre isso e foi duro”, admite a atriz, que será vista ainda como a estilista Coco Chanel na série The New Look, da Apple TV.

“Sinto que a gente ainda não teve tempo de avaliar o que mudou no mundo com a pandemia. Acho que, em mim, a mudança principal foi o aumento de um senso ecológico, a vontade de brigar por uma nova educação ambiental. Comprei uma segunda casa, no campo, para poder me refugiar com meus filhos, caso a doença volte ou algo similar ocorra. Mas, apesar de tudo o que passamos no lockdown, aproveitei bem os dias de confinamento na medida do possível. Cuidei de minha mãe, tive tempo para aproveitar a companhia de meus filhos. Foram bons momentos.”

Presidente do júri do Festival de Berlim em 2019, Juliette não especula sobre resultados de San Sebastián. “Vivi os papéis que encarno com real intensidade”, explica a atriz. “A entrega é necessária para o público acreditar em você.”

Foi no dia 17 de maio de 1983, no Festival de Cannes, que o cinema viu Juliette Binoche pela primeira vez, no elenco de Liberty Belle, de Pascal Kané.

Era uma garota de 19 anos, filha de pais separados, cheia de curiosidade sobre a indústria audiovisual que a levaria, em 1985, a filmar com o primeiro dos muitos mitos da direção com quem trabalhou: Jean-Luc Godard. Realizaram Eu Vos Saúdo Maria (1985), filme que irritou o Vaticano ao propor a semiótica de Nossa Senhora, que fez a então jovem atriz entender que arte e polêmica andam juntas. Foi uma das histórias que contou no 70.º Festival de San Sebastián, na Espanha, que lhe concedeu o prêmio honorário, o troféu Donostia, e exibiu dois longas ainda inéditos estrelados por ela, ambos assinados por grifes autorais da França.

Cena de 'Avec Amour et Acharnement', filme de Claire Denis com Juliette Binoche e Vincent Lindon Foto: Curiosa Films

“Eu me lembro de que, no teste para Eu Vos Saúdo Maria, Godard me fez recitar um poema enquanto penteava os cabelos”, lembrou a atriz, sem comentar o suicídio assistido do cineasta, no dia 13. “Filmando com ele, aprendi que, nesse trabalho, é preciso sempre estar preparada.”

Entre os filmes especiais de San Sebastián, ela aparece em um triângulo amoroso em Avec Amour et Acharnement, que deu à cineasta Claire Denis o prêmio de melhor direção na Berlinale, em fevereiro. Na seleção oficial, ela vive a mãe viúva de um rapaz que acaba de perder o pai em Le Lycéen, de Christophe Honoré, apontado como o favorito entre os 17 concorrentes à Concha de Ouro, a láurea mais disputada do evento espanhol, que termina neste sábado, 24. E bastou lembrar da filmagem da história baseada numa tragédia pessoal do realizador para Juliette começar a chorar, mesmo em uma entrevista internacional.

“Fico comovida ao lembrar que ele confiou a mim a representação de sua mãe, o que faz sentir-me querida e me aquece, sobretudo em meio a um processo de direção cheio de leveza, sem autoridade. Christophe olha para aquela mulher e vê a mãe em meio à perda que viveu, quando jovem, e que está no cerne desse filme que discute o que é ser um adolescente neste mundo”, define Juliette, entre lágrimas, em conversa com o Estadão. “Sou uma pessoa sensível. Uma pessoa que gosta de movimento, que tem necessidade de conhecer todas as potências que a arte oferece, mas que também precisa de silêncio, para se ouvir.”

Aos 58 anos, Juliette – que ganhou o Oscar de melhor coadjuvante, em 1997, por O Paciente Inglês – já chorou publicamente outras vezes, não só pela forte emoção, mas tocada por conflitos políticos da produção cinematográfica. Ficou famosa a coletiva de Cannes, em 2010, quando a atriz, falando sobre Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami, caiu em prantos ao saber da prisão do diretor iraniano Jafar Panahi, detido pelo veto de seu governo à liberdade de expressão. Na época, ela não quis comentar sua reação. “Está tudo expresso ali, não precisa de legenda”, disse em uma entrevista, há 12 anos. Mas, hoje, ela fala da importância da legitimidade de seus sentimentos, mesmo numa vida pública.

“Quando você chega a um evento como este, sabe que vão perguntar sobre a sua vida e, portanto, que precisa pensar bem nas palavras que vai dizer. Mas busco ser a mais verdadeira possível ao falar das minhas vivências. Quando lembro do que fizemos no filme do Christophe, Le Lycéen, a emoção me vem à cabeça – era um filme em que ainda estávamos vivendo sob as limitações impostas pela pandemia, usando máscaras no set”, lembra a atriz que, antes de San Sebastián, passou pelo Festival de Locarno, na Suíça, com o filme Paradise Highway, thriller americano em que vive uma caminhoneira. “Gosto de testar diferentes expressões na arte”, diz.

Embora fale com respeito sobre as mortes inerentes à covid-19, Juliette confessa seu mal-estar com algumas das medidas de proteção do confinamento. “Sempre usei máscara, não só por medo de me contaminar, mas em respeito às vidas ao meu lado. Porém, eu odiava aquilo. Assim como odiava ser proibida de ir até a praia, ver o mar, durante o lockdown. Era uma sensação parecida com a de quando fui ao Irã e tive de usar véu nos cabelos. Na minha primeira vez lá, eu entendia o simbolismo e aceitava. Mas, na segunda visita, fiquei incomodada ao pensar no que o véu representa para a condição feminina. Conversei com algumas mulheres sobre isso e foi duro”, admite a atriz, que será vista ainda como a estilista Coco Chanel na série The New Look, da Apple TV.

“Sinto que a gente ainda não teve tempo de avaliar o que mudou no mundo com a pandemia. Acho que, em mim, a mudança principal foi o aumento de um senso ecológico, a vontade de brigar por uma nova educação ambiental. Comprei uma segunda casa, no campo, para poder me refugiar com meus filhos, caso a doença volte ou algo similar ocorra. Mas, apesar de tudo o que passamos no lockdown, aproveitei bem os dias de confinamento na medida do possível. Cuidei de minha mãe, tive tempo para aproveitar a companhia de meus filhos. Foram bons momentos.”

Presidente do júri do Festival de Berlim em 2019, Juliette não especula sobre resultados de San Sebastián. “Vivi os papéis que encarno com real intensidade”, explica a atriz. “A entrega é necessária para o público acreditar em você.”

Foi no dia 17 de maio de 1983, no Festival de Cannes, que o cinema viu Juliette Binoche pela primeira vez, no elenco de Liberty Belle, de Pascal Kané.

Era uma garota de 19 anos, filha de pais separados, cheia de curiosidade sobre a indústria audiovisual que a levaria, em 1985, a filmar com o primeiro dos muitos mitos da direção com quem trabalhou: Jean-Luc Godard. Realizaram Eu Vos Saúdo Maria (1985), filme que irritou o Vaticano ao propor a semiótica de Nossa Senhora, que fez a então jovem atriz entender que arte e polêmica andam juntas. Foi uma das histórias que contou no 70.º Festival de San Sebastián, na Espanha, que lhe concedeu o prêmio honorário, o troféu Donostia, e exibiu dois longas ainda inéditos estrelados por ela, ambos assinados por grifes autorais da França.

Cena de 'Avec Amour et Acharnement', filme de Claire Denis com Juliette Binoche e Vincent Lindon Foto: Curiosa Films

“Eu me lembro de que, no teste para Eu Vos Saúdo Maria, Godard me fez recitar um poema enquanto penteava os cabelos”, lembrou a atriz, sem comentar o suicídio assistido do cineasta, no dia 13. “Filmando com ele, aprendi que, nesse trabalho, é preciso sempre estar preparada.”

Entre os filmes especiais de San Sebastián, ela aparece em um triângulo amoroso em Avec Amour et Acharnement, que deu à cineasta Claire Denis o prêmio de melhor direção na Berlinale, em fevereiro. Na seleção oficial, ela vive a mãe viúva de um rapaz que acaba de perder o pai em Le Lycéen, de Christophe Honoré, apontado como o favorito entre os 17 concorrentes à Concha de Ouro, a láurea mais disputada do evento espanhol, que termina neste sábado, 24. E bastou lembrar da filmagem da história baseada numa tragédia pessoal do realizador para Juliette começar a chorar, mesmo em uma entrevista internacional.

“Fico comovida ao lembrar que ele confiou a mim a representação de sua mãe, o que faz sentir-me querida e me aquece, sobretudo em meio a um processo de direção cheio de leveza, sem autoridade. Christophe olha para aquela mulher e vê a mãe em meio à perda que viveu, quando jovem, e que está no cerne desse filme que discute o que é ser um adolescente neste mundo”, define Juliette, entre lágrimas, em conversa com o Estadão. “Sou uma pessoa sensível. Uma pessoa que gosta de movimento, que tem necessidade de conhecer todas as potências que a arte oferece, mas que também precisa de silêncio, para se ouvir.”

Aos 58 anos, Juliette – que ganhou o Oscar de melhor coadjuvante, em 1997, por O Paciente Inglês – já chorou publicamente outras vezes, não só pela forte emoção, mas tocada por conflitos políticos da produção cinematográfica. Ficou famosa a coletiva de Cannes, em 2010, quando a atriz, falando sobre Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami, caiu em prantos ao saber da prisão do diretor iraniano Jafar Panahi, detido pelo veto de seu governo à liberdade de expressão. Na época, ela não quis comentar sua reação. “Está tudo expresso ali, não precisa de legenda”, disse em uma entrevista, há 12 anos. Mas, hoje, ela fala da importância da legitimidade de seus sentimentos, mesmo numa vida pública.

“Quando você chega a um evento como este, sabe que vão perguntar sobre a sua vida e, portanto, que precisa pensar bem nas palavras que vai dizer. Mas busco ser a mais verdadeira possível ao falar das minhas vivências. Quando lembro do que fizemos no filme do Christophe, Le Lycéen, a emoção me vem à cabeça – era um filme em que ainda estávamos vivendo sob as limitações impostas pela pandemia, usando máscaras no set”, lembra a atriz que, antes de San Sebastián, passou pelo Festival de Locarno, na Suíça, com o filme Paradise Highway, thriller americano em que vive uma caminhoneira. “Gosto de testar diferentes expressões na arte”, diz.

Embora fale com respeito sobre as mortes inerentes à covid-19, Juliette confessa seu mal-estar com algumas das medidas de proteção do confinamento. “Sempre usei máscara, não só por medo de me contaminar, mas em respeito às vidas ao meu lado. Porém, eu odiava aquilo. Assim como odiava ser proibida de ir até a praia, ver o mar, durante o lockdown. Era uma sensação parecida com a de quando fui ao Irã e tive de usar véu nos cabelos. Na minha primeira vez lá, eu entendia o simbolismo e aceitava. Mas, na segunda visita, fiquei incomodada ao pensar no que o véu representa para a condição feminina. Conversei com algumas mulheres sobre isso e foi duro”, admite a atriz, que será vista ainda como a estilista Coco Chanel na série The New Look, da Apple TV.

“Sinto que a gente ainda não teve tempo de avaliar o que mudou no mundo com a pandemia. Acho que, em mim, a mudança principal foi o aumento de um senso ecológico, a vontade de brigar por uma nova educação ambiental. Comprei uma segunda casa, no campo, para poder me refugiar com meus filhos, caso a doença volte ou algo similar ocorra. Mas, apesar de tudo o que passamos no lockdown, aproveitei bem os dias de confinamento na medida do possível. Cuidei de minha mãe, tive tempo para aproveitar a companhia de meus filhos. Foram bons momentos.”

Presidente do júri do Festival de Berlim em 2019, Juliette não especula sobre resultados de San Sebastián. “Vivi os papéis que encarno com real intensidade”, explica a atriz. “A entrega é necessária para o público acreditar em você.”

Foi no dia 17 de maio de 1983, no Festival de Cannes, que o cinema viu Juliette Binoche pela primeira vez, no elenco de Liberty Belle, de Pascal Kané.

Era uma garota de 19 anos, filha de pais separados, cheia de curiosidade sobre a indústria audiovisual que a levaria, em 1985, a filmar com o primeiro dos muitos mitos da direção com quem trabalhou: Jean-Luc Godard. Realizaram Eu Vos Saúdo Maria (1985), filme que irritou o Vaticano ao propor a semiótica de Nossa Senhora, que fez a então jovem atriz entender que arte e polêmica andam juntas. Foi uma das histórias que contou no 70.º Festival de San Sebastián, na Espanha, que lhe concedeu o prêmio honorário, o troféu Donostia, e exibiu dois longas ainda inéditos estrelados por ela, ambos assinados por grifes autorais da França.

Cena de 'Avec Amour et Acharnement', filme de Claire Denis com Juliette Binoche e Vincent Lindon Foto: Curiosa Films

“Eu me lembro de que, no teste para Eu Vos Saúdo Maria, Godard me fez recitar um poema enquanto penteava os cabelos”, lembrou a atriz, sem comentar o suicídio assistido do cineasta, no dia 13. “Filmando com ele, aprendi que, nesse trabalho, é preciso sempre estar preparada.”

Entre os filmes especiais de San Sebastián, ela aparece em um triângulo amoroso em Avec Amour et Acharnement, que deu à cineasta Claire Denis o prêmio de melhor direção na Berlinale, em fevereiro. Na seleção oficial, ela vive a mãe viúva de um rapaz que acaba de perder o pai em Le Lycéen, de Christophe Honoré, apontado como o favorito entre os 17 concorrentes à Concha de Ouro, a láurea mais disputada do evento espanhol, que termina neste sábado, 24. E bastou lembrar da filmagem da história baseada numa tragédia pessoal do realizador para Juliette começar a chorar, mesmo em uma entrevista internacional.

“Fico comovida ao lembrar que ele confiou a mim a representação de sua mãe, o que faz sentir-me querida e me aquece, sobretudo em meio a um processo de direção cheio de leveza, sem autoridade. Christophe olha para aquela mulher e vê a mãe em meio à perda que viveu, quando jovem, e que está no cerne desse filme que discute o que é ser um adolescente neste mundo”, define Juliette, entre lágrimas, em conversa com o Estadão. “Sou uma pessoa sensível. Uma pessoa que gosta de movimento, que tem necessidade de conhecer todas as potências que a arte oferece, mas que também precisa de silêncio, para se ouvir.”

Aos 58 anos, Juliette – que ganhou o Oscar de melhor coadjuvante, em 1997, por O Paciente Inglês – já chorou publicamente outras vezes, não só pela forte emoção, mas tocada por conflitos políticos da produção cinematográfica. Ficou famosa a coletiva de Cannes, em 2010, quando a atriz, falando sobre Cópia Fiel, de Abbas Kiarostami, caiu em prantos ao saber da prisão do diretor iraniano Jafar Panahi, detido pelo veto de seu governo à liberdade de expressão. Na época, ela não quis comentar sua reação. “Está tudo expresso ali, não precisa de legenda”, disse em uma entrevista, há 12 anos. Mas, hoje, ela fala da importância da legitimidade de seus sentimentos, mesmo numa vida pública.

“Quando você chega a um evento como este, sabe que vão perguntar sobre a sua vida e, portanto, que precisa pensar bem nas palavras que vai dizer. Mas busco ser a mais verdadeira possível ao falar das minhas vivências. Quando lembro do que fizemos no filme do Christophe, Le Lycéen, a emoção me vem à cabeça – era um filme em que ainda estávamos vivendo sob as limitações impostas pela pandemia, usando máscaras no set”, lembra a atriz que, antes de San Sebastián, passou pelo Festival de Locarno, na Suíça, com o filme Paradise Highway, thriller americano em que vive uma caminhoneira. “Gosto de testar diferentes expressões na arte”, diz.

Embora fale com respeito sobre as mortes inerentes à covid-19, Juliette confessa seu mal-estar com algumas das medidas de proteção do confinamento. “Sempre usei máscara, não só por medo de me contaminar, mas em respeito às vidas ao meu lado. Porém, eu odiava aquilo. Assim como odiava ser proibida de ir até a praia, ver o mar, durante o lockdown. Era uma sensação parecida com a de quando fui ao Irã e tive de usar véu nos cabelos. Na minha primeira vez lá, eu entendia o simbolismo e aceitava. Mas, na segunda visita, fiquei incomodada ao pensar no que o véu representa para a condição feminina. Conversei com algumas mulheres sobre isso e foi duro”, admite a atriz, que será vista ainda como a estilista Coco Chanel na série The New Look, da Apple TV.

“Sinto que a gente ainda não teve tempo de avaliar o que mudou no mundo com a pandemia. Acho que, em mim, a mudança principal foi o aumento de um senso ecológico, a vontade de brigar por uma nova educação ambiental. Comprei uma segunda casa, no campo, para poder me refugiar com meus filhos, caso a doença volte ou algo similar ocorra. Mas, apesar de tudo o que passamos no lockdown, aproveitei bem os dias de confinamento na medida do possível. Cuidei de minha mãe, tive tempo para aproveitar a companhia de meus filhos. Foram bons momentos.”

Presidente do júri do Festival de Berlim em 2019, Juliette não especula sobre resultados de San Sebastián. “Vivi os papéis que encarno com real intensidade”, explica a atriz. “A entrega é necessária para o público acreditar em você.”

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