Karim Aïnouz volta a Cannes pela 4ª vez com 'Marinheiro das Montanhas'


Filme selecionado para festival francês, que será presencial, foi inspirado na história de amor entre mãe brasileira e pai argelino do diretor

Por Luiz Carlos Merten

Karim Aïnouz ainda trabalha, remotamente, na finalização de seu longa Marinheiro das Montanhas, que integra a seleção oficial do Festival de Cannes de 2021, anunciada pelo delegado-geral Thierry Frémaux e pelo diretor-geral Pierre Lescure na coletiva realizada em Paris, no dia 3. “Já fizemos a marcação de luz e trabalhamos atualmente na mixagem de som”, ele disse ao Estadão numa entrevista por Zoom, na quinta, 10, de Berlim. “A cópia definitiva ficará pronta no dia 2 de julho e vou levá-la em mãos para Cannes, onde o festival começa dia 6.” 

Será o quarto filme de Karim em Cannes, e o terceiro na seleção oficial, que inclui os filmes da competição – os que concorrem à Palma de Ouro – e os da mostra Um Certain Regard. Em 2019, ele venceu esta última com A Vida Invisível. “Minha primeira vez em Cannes foi em 1995, integrando um ateliê de roteiro. Voltei em 1997 e foi uma experiência decisiva para mim. É tão difícil fazer cinema no Brasil, corremos tanto atrás de verbas que a sensação, muitas vezes, é de que aquilo que fazemos não tem importância. Em Cannes, pela primeira vez, e de forma definitiva, tomei consciência da relevância desse ofício.” 

Cena do filme 'O Marinheiro das Montanhas', de Karim Aïnouz Foto: MPM Film/Divulgação
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Foi o ano em que Wong Kar-wai apresentou Felizes Juntos/Happy Together, que tinha até Cucurrucucu Paloma, de Caetano Veloso, na trilha. A música voltaria num dos grandes filmes de Pedro Almodóvar, Fale com Ela, vencedor do Oscar de melhor roteiro original de 2003. Em 2002, foi a vez de Karim apresentar Madame Satã na mostra Um Certo Olhar. No retrospecto, ele admite que ainda não entendia nada da dinâmica do festival. “Pensei que o filme havia sido mal recebido, e só depois percebi que não.” De volta, venceu com A Vida Invisível na mesma mostra. Entre os dois, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores, com Abismo Prateado.

Alessandra Negrini como a mulher que é dispensada pelo companheiro, por telefone. Karim e as grandes canções românticas de ruptura – Detalhes, de Roberto Carlos, e Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. “Para Alessandra, no filme, não existe esse olho no olho para dizer ‘Não te amo mais’. Ela se desestrutura, mas para se reestruturar.” Karim terá direito agora a sessão especial em Cannes. O filme também é especialíssimo para ele. “Comecei a trabalhar no projeto uma semana depois de ganhar o prêmio por A Vida Invisível. Fui à Argélia para fazer um filme sobre meu pai, mas encontrei o país convulsionado por movimentos populares, com o povo na rua, e terminei fazendo Nardjes A.” Filmado com iPhone, o longa capta o movimento libertário de um povo que clama por transformação. 

Nardjes A. foi exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim de 2020. A Berlinale é a outra casa de Karim. Foi lá que ele mostrou Praia do Futuro na competição e recebeu o prêmio da Anistia Internacional por Aeroporto Central, sobre refugiados recolhidos ao aeroporto Tempelhof, construído pelos nazistas e depois desativado. São filmes, respectivamente, de 2014 e 2018. 

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Também em 2014, ele integrou o projeto coletivo de Wim Wenders, Catedrais da Cultura. O filme teve gala na Berlinale. Karim assina o episódio sobre o Beaubourg, o Centro Georges Pompidou. Era um de seus pontos de referências, quando morou em Paris.  “Retomei o filme sobre meu pai e fiz uma viagem de pesquisa, que deveria prosseguir com a filmagem, propriamente dita, no ano passado, mas que se tornou inviável por causa da pandemia.” O diretor tomou, então, uma decisão ousada. 

“Revisando o material pesquisado descobri que tinha cerca de 30% que poderia ser utilizado. Os restantes 70% foram coletados em fontes de pesquisa. Filmes domésticos, slides. Embora documentário, Marinheiro foi completamente escrito em parceria com Murilo Hauser, que já havia sido meu corroteirista em A Vida Invisível.” Inicialmente, o filme deveria chamar-se Argelino por Acaso, mas hoje Karim percebe o absurdo que teria sido. “É um filme em busca de minhas origens, que discute a identidade, não tem nada de acaso.” 

O cineasta brasileiro Karim Aïnouz Foto: Regis Duvignau/Reuters
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Para Karim, esse é um filme muito relacionado à memória de sua mãe. Nasceu ligado a uma viagem que sempre sonharam fazer. “É uma história de amor que me parece muito bonita, um amor revolucionário. Meu avô havia participado das guerras anticoloniais. Em 1961, o então presidente John F. Kennedy transformou a Argélia em aliado, muito provavelmente de olho no petróleo. No ano seguinte, meu pai conseguiu uma bolsa para estudar nos EUA. Minha mãe, uma cearense do litoral, da praia, encontrou-se com ele e viveram sua love story. Cuba fizera há pouco a revolução, havia um ardor de movimentos de esquerda no ar. O que fez meu pai, ao deixar os EUA? Foi para Cuba, antes de voltar à Argélia. Virou non grato.” 

De volta à casa, Karim diz que seu pai foi sequestrado pela Argélia. “Ninguém podia admitir que ele quisesse se casar com uma brasileira desconhecida. Meu pai construiu uma vida na Argélia. Casou-se com outra mulher. No Brasil, minha mãe foi guerreira, me criando como mãe solteira, numa época em que isso era malvisto.” Karim já contou essa história, em chave de ficção, em A Vida Invisível. Ele diz que sua mãe sempre sonhou em ir a Argélia, para que o filho conhecesse a terra de seu pai. Mas ela morreu em 2015, e Karim decidiu que deveria prosseguir com o projeto da viagem, em sua homenagem. 

No meio do caminho, não havia uma pedra, mas um filme. Aliás, dois. Ele fez A Vida Invisível Nardjes A. “Tomei um navio em Marselha e atravessei o Mediterrâneo. Era o caminho que minha mãe queria fazer. Meu pai lhe dizia que seria lindo chegar a Argel pelo mar. Era a melhor vista da cidade.” Não foi fácil conseguir o visto e chegar à região em que vive seu pai. “São montes de cumes nevados, uma paisagem que a gente não espera encontrar na Argélia, que tem o deserto.” O filme foi feito e, como já foi dito, ainda está em fase de finalização. Tem uma produtora francesa e a Videofilmes entra com a contrapartida brasileira – a Gullane vai distribuir. Walter Salles foi ao ponto ao comentar para Karim – “Você fez duas coisas muito fortes, uma história de amor revolucionário e um filme apaixonadamente anticolonial.”

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O autor admite que entrar na seleção de Cannes é sempre bom, e dessa vez mais ainda. “Quando fui a Cannes pela primeira vez, o mercado ainda não era tão forte. Hoje, cresceu demais, mas nesse ano o mercado será predominantemente digital, o que devolverá o festival à sua vocação primeira, celebrar a arte do cinema.” Diz que, sinceramente, não esperava ser selecionado. “É um filme muito pessoal, não digo que seja pequeno, porque sei da ambição que me moveu.” O filme que deveria ser sobre seu pai virou uma carta de amor para sua mãe. As mulheres e os gays atravessam o cinema do autor – Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro, A Vida Invisível, etc. 

A lista dos festivais abrange Veneza. No Lido, na Mostra Horizontes, ele apresentou, em 2006, O Céu de Suely, com Hermila Guedes, que havia escrito com a chancela da Berlinale. Três anos depois, voltou com o amigo Marcelo Gomes à mesma seção, considerada a mais inovadora da Mostra D’Arte Cinematografica. Ensaio poético, ficção documental, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo foi bem recebido. Agora é a vez de o repórter observar – Cannes estabeleceu, para 2021, uma seleção marcante, até para compensar o festival que não houve no ano passado, reduzido a uma mostra online que não obteve nem de longe a repercussão das outras edições. 

Berlim tem o frio e a neve, que limitam a badalação. Veneza ocorre no Lido, distante da Praça de São Marcos, guardada pelos leões que nomeiam seu prêmio principal. Cannes precisa do burburinho, do tapete vermelho, dos paetês. O festival preserva tanto seus rituais que a primeira vez de Karim deixou-lhe um travo amargo. “Não me deixaram entrar no Palais porque estava de sapato marrom, e ele devia ser preto, acompanhando a tênue de soirée.” A edição deste ano será presencial. O festival anuncia rígidos protocolos de segurança. Nesse quadro, a seleção de Marinheiro das Montanhas agrega polêmica ao festival. A França ainda lida muito mal com seu passado colonial. Tirando a estrutura romanesca de Indochina, de Régis Wargnier, com Catherine Deneuve – e o filme venceu o Oscar –, o tema costuma ser tabu. Em 2006, quando Rachid Bouchareb mostrou na seleção Indigènes/Dias de Glória, sobre soldados argelinos, considerados cidadãos de segunda categoria, mas que morreram pela França na 2ª Guerra, houve protestos de veteranos. A segurança foi redobrada devido a ameaças de bomba no Palais. Pode não ser o caso, considerando-se que se trata de uma história de amor, mas o tempero político, a questão colonial, promete uma bela discussão.

Karim Aïnouz ainda trabalha, remotamente, na finalização de seu longa Marinheiro das Montanhas, que integra a seleção oficial do Festival de Cannes de 2021, anunciada pelo delegado-geral Thierry Frémaux e pelo diretor-geral Pierre Lescure na coletiva realizada em Paris, no dia 3. “Já fizemos a marcação de luz e trabalhamos atualmente na mixagem de som”, ele disse ao Estadão numa entrevista por Zoom, na quinta, 10, de Berlim. “A cópia definitiva ficará pronta no dia 2 de julho e vou levá-la em mãos para Cannes, onde o festival começa dia 6.” 

Será o quarto filme de Karim em Cannes, e o terceiro na seleção oficial, que inclui os filmes da competição – os que concorrem à Palma de Ouro – e os da mostra Um Certain Regard. Em 2019, ele venceu esta última com A Vida Invisível. “Minha primeira vez em Cannes foi em 1995, integrando um ateliê de roteiro. Voltei em 1997 e foi uma experiência decisiva para mim. É tão difícil fazer cinema no Brasil, corremos tanto atrás de verbas que a sensação, muitas vezes, é de que aquilo que fazemos não tem importância. Em Cannes, pela primeira vez, e de forma definitiva, tomei consciência da relevância desse ofício.” 

Cena do filme 'O Marinheiro das Montanhas', de Karim Aïnouz Foto: MPM Film/Divulgação

Foi o ano em que Wong Kar-wai apresentou Felizes Juntos/Happy Together, que tinha até Cucurrucucu Paloma, de Caetano Veloso, na trilha. A música voltaria num dos grandes filmes de Pedro Almodóvar, Fale com Ela, vencedor do Oscar de melhor roteiro original de 2003. Em 2002, foi a vez de Karim apresentar Madame Satã na mostra Um Certo Olhar. No retrospecto, ele admite que ainda não entendia nada da dinâmica do festival. “Pensei que o filme havia sido mal recebido, e só depois percebi que não.” De volta, venceu com A Vida Invisível na mesma mostra. Entre os dois, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores, com Abismo Prateado.

Alessandra Negrini como a mulher que é dispensada pelo companheiro, por telefone. Karim e as grandes canções românticas de ruptura – Detalhes, de Roberto Carlos, e Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. “Para Alessandra, no filme, não existe esse olho no olho para dizer ‘Não te amo mais’. Ela se desestrutura, mas para se reestruturar.” Karim terá direito agora a sessão especial em Cannes. O filme também é especialíssimo para ele. “Comecei a trabalhar no projeto uma semana depois de ganhar o prêmio por A Vida Invisível. Fui à Argélia para fazer um filme sobre meu pai, mas encontrei o país convulsionado por movimentos populares, com o povo na rua, e terminei fazendo Nardjes A.” Filmado com iPhone, o longa capta o movimento libertário de um povo que clama por transformação. 

Nardjes A. foi exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim de 2020. A Berlinale é a outra casa de Karim. Foi lá que ele mostrou Praia do Futuro na competição e recebeu o prêmio da Anistia Internacional por Aeroporto Central, sobre refugiados recolhidos ao aeroporto Tempelhof, construído pelos nazistas e depois desativado. São filmes, respectivamente, de 2014 e 2018. 

Também em 2014, ele integrou o projeto coletivo de Wim Wenders, Catedrais da Cultura. O filme teve gala na Berlinale. Karim assina o episódio sobre o Beaubourg, o Centro Georges Pompidou. Era um de seus pontos de referências, quando morou em Paris.  “Retomei o filme sobre meu pai e fiz uma viagem de pesquisa, que deveria prosseguir com a filmagem, propriamente dita, no ano passado, mas que se tornou inviável por causa da pandemia.” O diretor tomou, então, uma decisão ousada. 

“Revisando o material pesquisado descobri que tinha cerca de 30% que poderia ser utilizado. Os restantes 70% foram coletados em fontes de pesquisa. Filmes domésticos, slides. Embora documentário, Marinheiro foi completamente escrito em parceria com Murilo Hauser, que já havia sido meu corroteirista em A Vida Invisível.” Inicialmente, o filme deveria chamar-se Argelino por Acaso, mas hoje Karim percebe o absurdo que teria sido. “É um filme em busca de minhas origens, que discute a identidade, não tem nada de acaso.” 

O cineasta brasileiro Karim Aïnouz Foto: Regis Duvignau/Reuters

Para Karim, esse é um filme muito relacionado à memória de sua mãe. Nasceu ligado a uma viagem que sempre sonharam fazer. “É uma história de amor que me parece muito bonita, um amor revolucionário. Meu avô havia participado das guerras anticoloniais. Em 1961, o então presidente John F. Kennedy transformou a Argélia em aliado, muito provavelmente de olho no petróleo. No ano seguinte, meu pai conseguiu uma bolsa para estudar nos EUA. Minha mãe, uma cearense do litoral, da praia, encontrou-se com ele e viveram sua love story. Cuba fizera há pouco a revolução, havia um ardor de movimentos de esquerda no ar. O que fez meu pai, ao deixar os EUA? Foi para Cuba, antes de voltar à Argélia. Virou non grato.” 

De volta à casa, Karim diz que seu pai foi sequestrado pela Argélia. “Ninguém podia admitir que ele quisesse se casar com uma brasileira desconhecida. Meu pai construiu uma vida na Argélia. Casou-se com outra mulher. No Brasil, minha mãe foi guerreira, me criando como mãe solteira, numa época em que isso era malvisto.” Karim já contou essa história, em chave de ficção, em A Vida Invisível. Ele diz que sua mãe sempre sonhou em ir a Argélia, para que o filho conhecesse a terra de seu pai. Mas ela morreu em 2015, e Karim decidiu que deveria prosseguir com o projeto da viagem, em sua homenagem. 

No meio do caminho, não havia uma pedra, mas um filme. Aliás, dois. Ele fez A Vida Invisível Nardjes A. “Tomei um navio em Marselha e atravessei o Mediterrâneo. Era o caminho que minha mãe queria fazer. Meu pai lhe dizia que seria lindo chegar a Argel pelo mar. Era a melhor vista da cidade.” Não foi fácil conseguir o visto e chegar à região em que vive seu pai. “São montes de cumes nevados, uma paisagem que a gente não espera encontrar na Argélia, que tem o deserto.” O filme foi feito e, como já foi dito, ainda está em fase de finalização. Tem uma produtora francesa e a Videofilmes entra com a contrapartida brasileira – a Gullane vai distribuir. Walter Salles foi ao ponto ao comentar para Karim – “Você fez duas coisas muito fortes, uma história de amor revolucionário e um filme apaixonadamente anticolonial.”

O autor admite que entrar na seleção de Cannes é sempre bom, e dessa vez mais ainda. “Quando fui a Cannes pela primeira vez, o mercado ainda não era tão forte. Hoje, cresceu demais, mas nesse ano o mercado será predominantemente digital, o que devolverá o festival à sua vocação primeira, celebrar a arte do cinema.” Diz que, sinceramente, não esperava ser selecionado. “É um filme muito pessoal, não digo que seja pequeno, porque sei da ambição que me moveu.” O filme que deveria ser sobre seu pai virou uma carta de amor para sua mãe. As mulheres e os gays atravessam o cinema do autor – Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro, A Vida Invisível, etc. 

A lista dos festivais abrange Veneza. No Lido, na Mostra Horizontes, ele apresentou, em 2006, O Céu de Suely, com Hermila Guedes, que havia escrito com a chancela da Berlinale. Três anos depois, voltou com o amigo Marcelo Gomes à mesma seção, considerada a mais inovadora da Mostra D’Arte Cinematografica. Ensaio poético, ficção documental, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo foi bem recebido. Agora é a vez de o repórter observar – Cannes estabeleceu, para 2021, uma seleção marcante, até para compensar o festival que não houve no ano passado, reduzido a uma mostra online que não obteve nem de longe a repercussão das outras edições. 

Berlim tem o frio e a neve, que limitam a badalação. Veneza ocorre no Lido, distante da Praça de São Marcos, guardada pelos leões que nomeiam seu prêmio principal. Cannes precisa do burburinho, do tapete vermelho, dos paetês. O festival preserva tanto seus rituais que a primeira vez de Karim deixou-lhe um travo amargo. “Não me deixaram entrar no Palais porque estava de sapato marrom, e ele devia ser preto, acompanhando a tênue de soirée.” A edição deste ano será presencial. O festival anuncia rígidos protocolos de segurança. Nesse quadro, a seleção de Marinheiro das Montanhas agrega polêmica ao festival. A França ainda lida muito mal com seu passado colonial. Tirando a estrutura romanesca de Indochina, de Régis Wargnier, com Catherine Deneuve – e o filme venceu o Oscar –, o tema costuma ser tabu. Em 2006, quando Rachid Bouchareb mostrou na seleção Indigènes/Dias de Glória, sobre soldados argelinos, considerados cidadãos de segunda categoria, mas que morreram pela França na 2ª Guerra, houve protestos de veteranos. A segurança foi redobrada devido a ameaças de bomba no Palais. Pode não ser o caso, considerando-se que se trata de uma história de amor, mas o tempero político, a questão colonial, promete uma bela discussão.

Karim Aïnouz ainda trabalha, remotamente, na finalização de seu longa Marinheiro das Montanhas, que integra a seleção oficial do Festival de Cannes de 2021, anunciada pelo delegado-geral Thierry Frémaux e pelo diretor-geral Pierre Lescure na coletiva realizada em Paris, no dia 3. “Já fizemos a marcação de luz e trabalhamos atualmente na mixagem de som”, ele disse ao Estadão numa entrevista por Zoom, na quinta, 10, de Berlim. “A cópia definitiva ficará pronta no dia 2 de julho e vou levá-la em mãos para Cannes, onde o festival começa dia 6.” 

Será o quarto filme de Karim em Cannes, e o terceiro na seleção oficial, que inclui os filmes da competição – os que concorrem à Palma de Ouro – e os da mostra Um Certain Regard. Em 2019, ele venceu esta última com A Vida Invisível. “Minha primeira vez em Cannes foi em 1995, integrando um ateliê de roteiro. Voltei em 1997 e foi uma experiência decisiva para mim. É tão difícil fazer cinema no Brasil, corremos tanto atrás de verbas que a sensação, muitas vezes, é de que aquilo que fazemos não tem importância. Em Cannes, pela primeira vez, e de forma definitiva, tomei consciência da relevância desse ofício.” 

Cena do filme 'O Marinheiro das Montanhas', de Karim Aïnouz Foto: MPM Film/Divulgação

Foi o ano em que Wong Kar-wai apresentou Felizes Juntos/Happy Together, que tinha até Cucurrucucu Paloma, de Caetano Veloso, na trilha. A música voltaria num dos grandes filmes de Pedro Almodóvar, Fale com Ela, vencedor do Oscar de melhor roteiro original de 2003. Em 2002, foi a vez de Karim apresentar Madame Satã na mostra Um Certo Olhar. No retrospecto, ele admite que ainda não entendia nada da dinâmica do festival. “Pensei que o filme havia sido mal recebido, e só depois percebi que não.” De volta, venceu com A Vida Invisível na mesma mostra. Entre os dois, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores, com Abismo Prateado.

Alessandra Negrini como a mulher que é dispensada pelo companheiro, por telefone. Karim e as grandes canções românticas de ruptura – Detalhes, de Roberto Carlos, e Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. “Para Alessandra, no filme, não existe esse olho no olho para dizer ‘Não te amo mais’. Ela se desestrutura, mas para se reestruturar.” Karim terá direito agora a sessão especial em Cannes. O filme também é especialíssimo para ele. “Comecei a trabalhar no projeto uma semana depois de ganhar o prêmio por A Vida Invisível. Fui à Argélia para fazer um filme sobre meu pai, mas encontrei o país convulsionado por movimentos populares, com o povo na rua, e terminei fazendo Nardjes A.” Filmado com iPhone, o longa capta o movimento libertário de um povo que clama por transformação. 

Nardjes A. foi exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim de 2020. A Berlinale é a outra casa de Karim. Foi lá que ele mostrou Praia do Futuro na competição e recebeu o prêmio da Anistia Internacional por Aeroporto Central, sobre refugiados recolhidos ao aeroporto Tempelhof, construído pelos nazistas e depois desativado. São filmes, respectivamente, de 2014 e 2018. 

Também em 2014, ele integrou o projeto coletivo de Wim Wenders, Catedrais da Cultura. O filme teve gala na Berlinale. Karim assina o episódio sobre o Beaubourg, o Centro Georges Pompidou. Era um de seus pontos de referências, quando morou em Paris.  “Retomei o filme sobre meu pai e fiz uma viagem de pesquisa, que deveria prosseguir com a filmagem, propriamente dita, no ano passado, mas que se tornou inviável por causa da pandemia.” O diretor tomou, então, uma decisão ousada. 

“Revisando o material pesquisado descobri que tinha cerca de 30% que poderia ser utilizado. Os restantes 70% foram coletados em fontes de pesquisa. Filmes domésticos, slides. Embora documentário, Marinheiro foi completamente escrito em parceria com Murilo Hauser, que já havia sido meu corroteirista em A Vida Invisível.” Inicialmente, o filme deveria chamar-se Argelino por Acaso, mas hoje Karim percebe o absurdo que teria sido. “É um filme em busca de minhas origens, que discute a identidade, não tem nada de acaso.” 

O cineasta brasileiro Karim Aïnouz Foto: Regis Duvignau/Reuters

Para Karim, esse é um filme muito relacionado à memória de sua mãe. Nasceu ligado a uma viagem que sempre sonharam fazer. “É uma história de amor que me parece muito bonita, um amor revolucionário. Meu avô havia participado das guerras anticoloniais. Em 1961, o então presidente John F. Kennedy transformou a Argélia em aliado, muito provavelmente de olho no petróleo. No ano seguinte, meu pai conseguiu uma bolsa para estudar nos EUA. Minha mãe, uma cearense do litoral, da praia, encontrou-se com ele e viveram sua love story. Cuba fizera há pouco a revolução, havia um ardor de movimentos de esquerda no ar. O que fez meu pai, ao deixar os EUA? Foi para Cuba, antes de voltar à Argélia. Virou non grato.” 

De volta à casa, Karim diz que seu pai foi sequestrado pela Argélia. “Ninguém podia admitir que ele quisesse se casar com uma brasileira desconhecida. Meu pai construiu uma vida na Argélia. Casou-se com outra mulher. No Brasil, minha mãe foi guerreira, me criando como mãe solteira, numa época em que isso era malvisto.” Karim já contou essa história, em chave de ficção, em A Vida Invisível. Ele diz que sua mãe sempre sonhou em ir a Argélia, para que o filho conhecesse a terra de seu pai. Mas ela morreu em 2015, e Karim decidiu que deveria prosseguir com o projeto da viagem, em sua homenagem. 

No meio do caminho, não havia uma pedra, mas um filme. Aliás, dois. Ele fez A Vida Invisível Nardjes A. “Tomei um navio em Marselha e atravessei o Mediterrâneo. Era o caminho que minha mãe queria fazer. Meu pai lhe dizia que seria lindo chegar a Argel pelo mar. Era a melhor vista da cidade.” Não foi fácil conseguir o visto e chegar à região em que vive seu pai. “São montes de cumes nevados, uma paisagem que a gente não espera encontrar na Argélia, que tem o deserto.” O filme foi feito e, como já foi dito, ainda está em fase de finalização. Tem uma produtora francesa e a Videofilmes entra com a contrapartida brasileira – a Gullane vai distribuir. Walter Salles foi ao ponto ao comentar para Karim – “Você fez duas coisas muito fortes, uma história de amor revolucionário e um filme apaixonadamente anticolonial.”

O autor admite que entrar na seleção de Cannes é sempre bom, e dessa vez mais ainda. “Quando fui a Cannes pela primeira vez, o mercado ainda não era tão forte. Hoje, cresceu demais, mas nesse ano o mercado será predominantemente digital, o que devolverá o festival à sua vocação primeira, celebrar a arte do cinema.” Diz que, sinceramente, não esperava ser selecionado. “É um filme muito pessoal, não digo que seja pequeno, porque sei da ambição que me moveu.” O filme que deveria ser sobre seu pai virou uma carta de amor para sua mãe. As mulheres e os gays atravessam o cinema do autor – Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro, A Vida Invisível, etc. 

A lista dos festivais abrange Veneza. No Lido, na Mostra Horizontes, ele apresentou, em 2006, O Céu de Suely, com Hermila Guedes, que havia escrito com a chancela da Berlinale. Três anos depois, voltou com o amigo Marcelo Gomes à mesma seção, considerada a mais inovadora da Mostra D’Arte Cinematografica. Ensaio poético, ficção documental, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo foi bem recebido. Agora é a vez de o repórter observar – Cannes estabeleceu, para 2021, uma seleção marcante, até para compensar o festival que não houve no ano passado, reduzido a uma mostra online que não obteve nem de longe a repercussão das outras edições. 

Berlim tem o frio e a neve, que limitam a badalação. Veneza ocorre no Lido, distante da Praça de São Marcos, guardada pelos leões que nomeiam seu prêmio principal. Cannes precisa do burburinho, do tapete vermelho, dos paetês. O festival preserva tanto seus rituais que a primeira vez de Karim deixou-lhe um travo amargo. “Não me deixaram entrar no Palais porque estava de sapato marrom, e ele devia ser preto, acompanhando a tênue de soirée.” A edição deste ano será presencial. O festival anuncia rígidos protocolos de segurança. Nesse quadro, a seleção de Marinheiro das Montanhas agrega polêmica ao festival. A França ainda lida muito mal com seu passado colonial. Tirando a estrutura romanesca de Indochina, de Régis Wargnier, com Catherine Deneuve – e o filme venceu o Oscar –, o tema costuma ser tabu. Em 2006, quando Rachid Bouchareb mostrou na seleção Indigènes/Dias de Glória, sobre soldados argelinos, considerados cidadãos de segunda categoria, mas que morreram pela França na 2ª Guerra, houve protestos de veteranos. A segurança foi redobrada devido a ameaças de bomba no Palais. Pode não ser o caso, considerando-se que se trata de uma história de amor, mas o tempero político, a questão colonial, promete uma bela discussão.

Karim Aïnouz ainda trabalha, remotamente, na finalização de seu longa Marinheiro das Montanhas, que integra a seleção oficial do Festival de Cannes de 2021, anunciada pelo delegado-geral Thierry Frémaux e pelo diretor-geral Pierre Lescure na coletiva realizada em Paris, no dia 3. “Já fizemos a marcação de luz e trabalhamos atualmente na mixagem de som”, ele disse ao Estadão numa entrevista por Zoom, na quinta, 10, de Berlim. “A cópia definitiva ficará pronta no dia 2 de julho e vou levá-la em mãos para Cannes, onde o festival começa dia 6.” 

Será o quarto filme de Karim em Cannes, e o terceiro na seleção oficial, que inclui os filmes da competição – os que concorrem à Palma de Ouro – e os da mostra Um Certain Regard. Em 2019, ele venceu esta última com A Vida Invisível. “Minha primeira vez em Cannes foi em 1995, integrando um ateliê de roteiro. Voltei em 1997 e foi uma experiência decisiva para mim. É tão difícil fazer cinema no Brasil, corremos tanto atrás de verbas que a sensação, muitas vezes, é de que aquilo que fazemos não tem importância. Em Cannes, pela primeira vez, e de forma definitiva, tomei consciência da relevância desse ofício.” 

Cena do filme 'O Marinheiro das Montanhas', de Karim Aïnouz Foto: MPM Film/Divulgação

Foi o ano em que Wong Kar-wai apresentou Felizes Juntos/Happy Together, que tinha até Cucurrucucu Paloma, de Caetano Veloso, na trilha. A música voltaria num dos grandes filmes de Pedro Almodóvar, Fale com Ela, vencedor do Oscar de melhor roteiro original de 2003. Em 2002, foi a vez de Karim apresentar Madame Satã na mostra Um Certo Olhar. No retrospecto, ele admite que ainda não entendia nada da dinâmica do festival. “Pensei que o filme havia sido mal recebido, e só depois percebi que não.” De volta, venceu com A Vida Invisível na mesma mostra. Entre os dois, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores, com Abismo Prateado.

Alessandra Negrini como a mulher que é dispensada pelo companheiro, por telefone. Karim e as grandes canções românticas de ruptura – Detalhes, de Roberto Carlos, e Olhos nos Olhos, de Chico Buarque. “Para Alessandra, no filme, não existe esse olho no olho para dizer ‘Não te amo mais’. Ela se desestrutura, mas para se reestruturar.” Karim terá direito agora a sessão especial em Cannes. O filme também é especialíssimo para ele. “Comecei a trabalhar no projeto uma semana depois de ganhar o prêmio por A Vida Invisível. Fui à Argélia para fazer um filme sobre meu pai, mas encontrei o país convulsionado por movimentos populares, com o povo na rua, e terminei fazendo Nardjes A.” Filmado com iPhone, o longa capta o movimento libertário de um povo que clama por transformação. 

Nardjes A. foi exibido na mostra Panorama do Festival de Berlim de 2020. A Berlinale é a outra casa de Karim. Foi lá que ele mostrou Praia do Futuro na competição e recebeu o prêmio da Anistia Internacional por Aeroporto Central, sobre refugiados recolhidos ao aeroporto Tempelhof, construído pelos nazistas e depois desativado. São filmes, respectivamente, de 2014 e 2018. 

Também em 2014, ele integrou o projeto coletivo de Wim Wenders, Catedrais da Cultura. O filme teve gala na Berlinale. Karim assina o episódio sobre o Beaubourg, o Centro Georges Pompidou. Era um de seus pontos de referências, quando morou em Paris.  “Retomei o filme sobre meu pai e fiz uma viagem de pesquisa, que deveria prosseguir com a filmagem, propriamente dita, no ano passado, mas que se tornou inviável por causa da pandemia.” O diretor tomou, então, uma decisão ousada. 

“Revisando o material pesquisado descobri que tinha cerca de 30% que poderia ser utilizado. Os restantes 70% foram coletados em fontes de pesquisa. Filmes domésticos, slides. Embora documentário, Marinheiro foi completamente escrito em parceria com Murilo Hauser, que já havia sido meu corroteirista em A Vida Invisível.” Inicialmente, o filme deveria chamar-se Argelino por Acaso, mas hoje Karim percebe o absurdo que teria sido. “É um filme em busca de minhas origens, que discute a identidade, não tem nada de acaso.” 

O cineasta brasileiro Karim Aïnouz Foto: Regis Duvignau/Reuters

Para Karim, esse é um filme muito relacionado à memória de sua mãe. Nasceu ligado a uma viagem que sempre sonharam fazer. “É uma história de amor que me parece muito bonita, um amor revolucionário. Meu avô havia participado das guerras anticoloniais. Em 1961, o então presidente John F. Kennedy transformou a Argélia em aliado, muito provavelmente de olho no petróleo. No ano seguinte, meu pai conseguiu uma bolsa para estudar nos EUA. Minha mãe, uma cearense do litoral, da praia, encontrou-se com ele e viveram sua love story. Cuba fizera há pouco a revolução, havia um ardor de movimentos de esquerda no ar. O que fez meu pai, ao deixar os EUA? Foi para Cuba, antes de voltar à Argélia. Virou non grato.” 

De volta à casa, Karim diz que seu pai foi sequestrado pela Argélia. “Ninguém podia admitir que ele quisesse se casar com uma brasileira desconhecida. Meu pai construiu uma vida na Argélia. Casou-se com outra mulher. No Brasil, minha mãe foi guerreira, me criando como mãe solteira, numa época em que isso era malvisto.” Karim já contou essa história, em chave de ficção, em A Vida Invisível. Ele diz que sua mãe sempre sonhou em ir a Argélia, para que o filho conhecesse a terra de seu pai. Mas ela morreu em 2015, e Karim decidiu que deveria prosseguir com o projeto da viagem, em sua homenagem. 

No meio do caminho, não havia uma pedra, mas um filme. Aliás, dois. Ele fez A Vida Invisível Nardjes A. “Tomei um navio em Marselha e atravessei o Mediterrâneo. Era o caminho que minha mãe queria fazer. Meu pai lhe dizia que seria lindo chegar a Argel pelo mar. Era a melhor vista da cidade.” Não foi fácil conseguir o visto e chegar à região em que vive seu pai. “São montes de cumes nevados, uma paisagem que a gente não espera encontrar na Argélia, que tem o deserto.” O filme foi feito e, como já foi dito, ainda está em fase de finalização. Tem uma produtora francesa e a Videofilmes entra com a contrapartida brasileira – a Gullane vai distribuir. Walter Salles foi ao ponto ao comentar para Karim – “Você fez duas coisas muito fortes, uma história de amor revolucionário e um filme apaixonadamente anticolonial.”

O autor admite que entrar na seleção de Cannes é sempre bom, e dessa vez mais ainda. “Quando fui a Cannes pela primeira vez, o mercado ainda não era tão forte. Hoje, cresceu demais, mas nesse ano o mercado será predominantemente digital, o que devolverá o festival à sua vocação primeira, celebrar a arte do cinema.” Diz que, sinceramente, não esperava ser selecionado. “É um filme muito pessoal, não digo que seja pequeno, porque sei da ambição que me moveu.” O filme que deveria ser sobre seu pai virou uma carta de amor para sua mãe. As mulheres e os gays atravessam o cinema do autor – Madame Satã, O Céu de Suely, Praia do Futuro, A Vida Invisível, etc. 

A lista dos festivais abrange Veneza. No Lido, na Mostra Horizontes, ele apresentou, em 2006, O Céu de Suely, com Hermila Guedes, que havia escrito com a chancela da Berlinale. Três anos depois, voltou com o amigo Marcelo Gomes à mesma seção, considerada a mais inovadora da Mostra D’Arte Cinematografica. Ensaio poético, ficção documental, Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te Amo foi bem recebido. Agora é a vez de o repórter observar – Cannes estabeleceu, para 2021, uma seleção marcante, até para compensar o festival que não houve no ano passado, reduzido a uma mostra online que não obteve nem de longe a repercussão das outras edições. 

Berlim tem o frio e a neve, que limitam a badalação. Veneza ocorre no Lido, distante da Praça de São Marcos, guardada pelos leões que nomeiam seu prêmio principal. Cannes precisa do burburinho, do tapete vermelho, dos paetês. O festival preserva tanto seus rituais que a primeira vez de Karim deixou-lhe um travo amargo. “Não me deixaram entrar no Palais porque estava de sapato marrom, e ele devia ser preto, acompanhando a tênue de soirée.” A edição deste ano será presencial. O festival anuncia rígidos protocolos de segurança. Nesse quadro, a seleção de Marinheiro das Montanhas agrega polêmica ao festival. A França ainda lida muito mal com seu passado colonial. Tirando a estrutura romanesca de Indochina, de Régis Wargnier, com Catherine Deneuve – e o filme venceu o Oscar –, o tema costuma ser tabu. Em 2006, quando Rachid Bouchareb mostrou na seleção Indigènes/Dias de Glória, sobre soldados argelinos, considerados cidadãos de segunda categoria, mas que morreram pela França na 2ª Guerra, houve protestos de veteranos. A segurança foi redobrada devido a ameaças de bomba no Palais. Pode não ser o caso, considerando-se que se trata de uma história de amor, mas o tempero político, a questão colonial, promete uma bela discussão.

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