Kéfera exorciza seu passado de bullying em filme


Atriz que em ‘Eu Sou Mais Eu’ viaja no tempo para aliviar dor da adolescência, também está na TV, na novela ‘Espelho da Vida’

Por Luiz Carlos Merten

Kéfera conversa com a reportagem do Estado de dentro do carro da produção, que a leva para o Projac, o complexo de estúdios da Rede Globo, na zona oeste do Rio. É quinta à tarde, Kéfera, de 26 anos, chegou de Fortaleza e pediu só uns minutos – “para passar uma água no corpo” – e aí brincou. “No carro, vou ser só sua.” Seu nome é trabalho. Novo filme – Eu Sou Mais Eu, que estreou na quinta, 24 –, novela. Conta que o ano passado foi decisivo para ela, mas, na verdade, as transformações começaram ainda em 2017.

Kéfera e João Cortês no filme 'Eu Sou Mais Eu' Foto: Damasco Filmes

“Queria muito fazer esse filme sobre o bullying que marcou minha adolescência, na escola. Mas aconteceu uma coisa curiosa. Ao vestir a peruca, voltando a ser como era, as pessoas ao redor começaram a me dizer que o meu cabelo era mais bonito cacheado. E eu comecei a me sentir melhor. Durante dez anos, fiz tudo a que tinha direito para ter cabelo liso. Era um sacrifício, e por quê?”

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Pode parecer pouca coisa, mas a mulher que tem milhões de seguidores foi a típica adolescente problema. “Estudei nove anos numa escola e era um inferno. Chorava todo dia, não queria mais estudar. As pessoas, os jovens, podem ser muito cruéis. Zoavam comigo por causa de tudo – cabelo, óculos, comportamento. Eu era a bizarra, a estranha e todo mundo tirava sarro. Reviver tudo isso para o filme foi uma viagem no tempo. Precisei voltar a ser quem eu era para reafirmar quem eu sou. Em janeiro do ano passado, voltei a usar meu cabelo cacheado e, durante todo o ano, nas redes sociais, dei minha cara a bater repudiando um candidato. Tomei muita porrada, mas estamos numa democracia e eu também quero o melhor para o meu país. Nossa, apanhei muito. Me disseram coisas horríveis. Estou ligada no que ocorre, mas agora estou focada em mim, no meu trabalho. Quanto ao Brasil, estamos torcendo.”

Mesmo tendo sofrido bullying numa fase difícil da vida, como é a adolescência, Kéfera Buchmann avalia que o ano passado não foi fácil. “O Brasil rachou na eleição, nunca vi um processo de tanto ódio. Atingiu famílias, separou amigos, uma polarização absurda.” Mas, para ela, foi bom. Sedimentou o processo de ‘eu sou mais eu’. O filme, claro, mas também, e principalmente, a própria Kéfera. A garota, que virou fenômeno midiático em seu canal do YouTube, já havia alcançado números estratosféricos – 1,85 milhão de espectadores – no longa É Fada! Solicitada pelo cinema, tentou algo diferente, a comédia romântica Gosto Se Discute e o (semi)autobiográfico Eu Sou Mais Eu. Admite estar ‘mordida’ pelo cinema. “Adoro fazer.” Empenhou-se tanto em Eu Sou Mais Eu que virou produtora associada.

“Participei de todas as etapas e, mesmo gravando (a novela), fui a pré-estreias em todo o Brasil. Nos últimos dias participei de sessões no Nordeste, a última em Fortaleza. Estou virada, dormindo pouco, mas vale a pena porque senti uma receptividade muito grande. Bullying é um tema universal, que mexe muito com as pessoas. E o filme fala de adolescência numa época específica – 2005 –, quando a própria tecnologia era outra, então os jovens de hoje e os de ontem, que agora são adultos, podem se identificar.”

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Kéfera faz Camila, uma pop star arrogante que tiraniza todo mundo ao redor. O filme abre-se com a gravação de um clipe e logo ela está hostilizando um jornalista, a quem não quer mais dar entrevista. “Peraí, Camila, sou eu, o Cabeça!” Hein? O amigo de escola, atrapalhado e zoado como ela. Você terá de ver o filme dirigido por Pedro Amorim para saber como Camila inicia uma louca viagem no tempo e volta à escola em que sofria humilhações atrozes (e diárias).

“A Camila adolescente sou eu e o filme retrata muito o processo que vivi, e sofri.” E o Cabeça? “Houve vários. O Cabeça do filme (João Côrtes) é uma súmula de vários amigos.” OK, a estrela é ela, mas como chegaram ao João, que se tornou conhecido pelos comerciais de uma grande empresa de telefonia? “Por meio de teste. Embora seja superconhecido, o João topou fazer o teste comigo. Deu química na hora.”

A pergunta embaraçosa – na gravação do clipe, quando Camila canta e dança, o excesso de cortes é para disfarçar que Kéfera canta pouco e não sabe dançar? “Eh! Quer me derrubar, cara?”, e ela ri, uma risada gostosa. “É uma coisa moderna. Se você procurar na internet, vai ver que a linguagem do clipe é assim mesmo, toda desconstruída.”

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E como é interpretar, para ela? “No YouTube já havia criado uma personagem. Gosto de sair da zona de conforto, de criar figuras que, necessariamente, não têm sempre a ver comigo. É uma forma de entender o outro.” Quem a preparou para o filme foi Estrela Strauss, que usa o método de Stanislavski, que Lee Strasberg desenvolveu no Actor’s Studio. “É feito de muita leitura, concentração e preparação do corpo. Deu tão certo que a Estrela me acompanhou na Globo e também me preparou para a novela.” A novela é a das 6, Espelho da Vida, em que Kéfera faz a vilã Mariane. Quem vê sabe que Mariane faz de tudo para roubar o papel de Vitória Strada na novela dentro da novela. “E ela conseguiu, no capítulo 91, que foi ao ar nesta terça.”

Qual é o aporte da Estrela (a preparadora) à novela? “A Mariane é obcecada, ambiciosa, mas também é muito burra. Seria fácil exagerar no tom, cair na caricatura, e o público ia rir, porque é o que se espera de vilãs em novelas mais leves. Seguimos uma via um pouco mais difícil, evitando a caricatura. Isso exige mais de mim, mas também gratifica mais.” 

De volta ao filme, Kéfera destaca – “Estamos nessa fase de afirmação das mulheres e a ideia é que nós não devemos passar a vida tentando agradar aos outros, aos homens. Eu mesma já fui assim, preocupada com a opinião dos outros, o olhar dos outros. Se o filme tem uma solução é que ela não é encontrar o cara da sua vida, mas se encontrar a si mesma. A autoestima é fundamental para se viver bem.” 

Kéfera conversa com a reportagem do Estado de dentro do carro da produção, que a leva para o Projac, o complexo de estúdios da Rede Globo, na zona oeste do Rio. É quinta à tarde, Kéfera, de 26 anos, chegou de Fortaleza e pediu só uns minutos – “para passar uma água no corpo” – e aí brincou. “No carro, vou ser só sua.” Seu nome é trabalho. Novo filme – Eu Sou Mais Eu, que estreou na quinta, 24 –, novela. Conta que o ano passado foi decisivo para ela, mas, na verdade, as transformações começaram ainda em 2017.

Kéfera e João Cortês no filme 'Eu Sou Mais Eu' Foto: Damasco Filmes

“Queria muito fazer esse filme sobre o bullying que marcou minha adolescência, na escola. Mas aconteceu uma coisa curiosa. Ao vestir a peruca, voltando a ser como era, as pessoas ao redor começaram a me dizer que o meu cabelo era mais bonito cacheado. E eu comecei a me sentir melhor. Durante dez anos, fiz tudo a que tinha direito para ter cabelo liso. Era um sacrifício, e por quê?”

Pode parecer pouca coisa, mas a mulher que tem milhões de seguidores foi a típica adolescente problema. “Estudei nove anos numa escola e era um inferno. Chorava todo dia, não queria mais estudar. As pessoas, os jovens, podem ser muito cruéis. Zoavam comigo por causa de tudo – cabelo, óculos, comportamento. Eu era a bizarra, a estranha e todo mundo tirava sarro. Reviver tudo isso para o filme foi uma viagem no tempo. Precisei voltar a ser quem eu era para reafirmar quem eu sou. Em janeiro do ano passado, voltei a usar meu cabelo cacheado e, durante todo o ano, nas redes sociais, dei minha cara a bater repudiando um candidato. Tomei muita porrada, mas estamos numa democracia e eu também quero o melhor para o meu país. Nossa, apanhei muito. Me disseram coisas horríveis. Estou ligada no que ocorre, mas agora estou focada em mim, no meu trabalho. Quanto ao Brasil, estamos torcendo.”

Mesmo tendo sofrido bullying numa fase difícil da vida, como é a adolescência, Kéfera Buchmann avalia que o ano passado não foi fácil. “O Brasil rachou na eleição, nunca vi um processo de tanto ódio. Atingiu famílias, separou amigos, uma polarização absurda.” Mas, para ela, foi bom. Sedimentou o processo de ‘eu sou mais eu’. O filme, claro, mas também, e principalmente, a própria Kéfera. A garota, que virou fenômeno midiático em seu canal do YouTube, já havia alcançado números estratosféricos – 1,85 milhão de espectadores – no longa É Fada! Solicitada pelo cinema, tentou algo diferente, a comédia romântica Gosto Se Discute e o (semi)autobiográfico Eu Sou Mais Eu. Admite estar ‘mordida’ pelo cinema. “Adoro fazer.” Empenhou-se tanto em Eu Sou Mais Eu que virou produtora associada.

“Participei de todas as etapas e, mesmo gravando (a novela), fui a pré-estreias em todo o Brasil. Nos últimos dias participei de sessões no Nordeste, a última em Fortaleza. Estou virada, dormindo pouco, mas vale a pena porque senti uma receptividade muito grande. Bullying é um tema universal, que mexe muito com as pessoas. E o filme fala de adolescência numa época específica – 2005 –, quando a própria tecnologia era outra, então os jovens de hoje e os de ontem, que agora são adultos, podem se identificar.”

Kéfera faz Camila, uma pop star arrogante que tiraniza todo mundo ao redor. O filme abre-se com a gravação de um clipe e logo ela está hostilizando um jornalista, a quem não quer mais dar entrevista. “Peraí, Camila, sou eu, o Cabeça!” Hein? O amigo de escola, atrapalhado e zoado como ela. Você terá de ver o filme dirigido por Pedro Amorim para saber como Camila inicia uma louca viagem no tempo e volta à escola em que sofria humilhações atrozes (e diárias).

“A Camila adolescente sou eu e o filme retrata muito o processo que vivi, e sofri.” E o Cabeça? “Houve vários. O Cabeça do filme (João Côrtes) é uma súmula de vários amigos.” OK, a estrela é ela, mas como chegaram ao João, que se tornou conhecido pelos comerciais de uma grande empresa de telefonia? “Por meio de teste. Embora seja superconhecido, o João topou fazer o teste comigo. Deu química na hora.”

A pergunta embaraçosa – na gravação do clipe, quando Camila canta e dança, o excesso de cortes é para disfarçar que Kéfera canta pouco e não sabe dançar? “Eh! Quer me derrubar, cara?”, e ela ri, uma risada gostosa. “É uma coisa moderna. Se você procurar na internet, vai ver que a linguagem do clipe é assim mesmo, toda desconstruída.”

E como é interpretar, para ela? “No YouTube já havia criado uma personagem. Gosto de sair da zona de conforto, de criar figuras que, necessariamente, não têm sempre a ver comigo. É uma forma de entender o outro.” Quem a preparou para o filme foi Estrela Strauss, que usa o método de Stanislavski, que Lee Strasberg desenvolveu no Actor’s Studio. “É feito de muita leitura, concentração e preparação do corpo. Deu tão certo que a Estrela me acompanhou na Globo e também me preparou para a novela.” A novela é a das 6, Espelho da Vida, em que Kéfera faz a vilã Mariane. Quem vê sabe que Mariane faz de tudo para roubar o papel de Vitória Strada na novela dentro da novela. “E ela conseguiu, no capítulo 91, que foi ao ar nesta terça.”

Qual é o aporte da Estrela (a preparadora) à novela? “A Mariane é obcecada, ambiciosa, mas também é muito burra. Seria fácil exagerar no tom, cair na caricatura, e o público ia rir, porque é o que se espera de vilãs em novelas mais leves. Seguimos uma via um pouco mais difícil, evitando a caricatura. Isso exige mais de mim, mas também gratifica mais.” 

De volta ao filme, Kéfera destaca – “Estamos nessa fase de afirmação das mulheres e a ideia é que nós não devemos passar a vida tentando agradar aos outros, aos homens. Eu mesma já fui assim, preocupada com a opinião dos outros, o olhar dos outros. Se o filme tem uma solução é que ela não é encontrar o cara da sua vida, mas se encontrar a si mesma. A autoestima é fundamental para se viver bem.” 

Kéfera conversa com a reportagem do Estado de dentro do carro da produção, que a leva para o Projac, o complexo de estúdios da Rede Globo, na zona oeste do Rio. É quinta à tarde, Kéfera, de 26 anos, chegou de Fortaleza e pediu só uns minutos – “para passar uma água no corpo” – e aí brincou. “No carro, vou ser só sua.” Seu nome é trabalho. Novo filme – Eu Sou Mais Eu, que estreou na quinta, 24 –, novela. Conta que o ano passado foi decisivo para ela, mas, na verdade, as transformações começaram ainda em 2017.

Kéfera e João Cortês no filme 'Eu Sou Mais Eu' Foto: Damasco Filmes

“Queria muito fazer esse filme sobre o bullying que marcou minha adolescência, na escola. Mas aconteceu uma coisa curiosa. Ao vestir a peruca, voltando a ser como era, as pessoas ao redor começaram a me dizer que o meu cabelo era mais bonito cacheado. E eu comecei a me sentir melhor. Durante dez anos, fiz tudo a que tinha direito para ter cabelo liso. Era um sacrifício, e por quê?”

Pode parecer pouca coisa, mas a mulher que tem milhões de seguidores foi a típica adolescente problema. “Estudei nove anos numa escola e era um inferno. Chorava todo dia, não queria mais estudar. As pessoas, os jovens, podem ser muito cruéis. Zoavam comigo por causa de tudo – cabelo, óculos, comportamento. Eu era a bizarra, a estranha e todo mundo tirava sarro. Reviver tudo isso para o filme foi uma viagem no tempo. Precisei voltar a ser quem eu era para reafirmar quem eu sou. Em janeiro do ano passado, voltei a usar meu cabelo cacheado e, durante todo o ano, nas redes sociais, dei minha cara a bater repudiando um candidato. Tomei muita porrada, mas estamos numa democracia e eu também quero o melhor para o meu país. Nossa, apanhei muito. Me disseram coisas horríveis. Estou ligada no que ocorre, mas agora estou focada em mim, no meu trabalho. Quanto ao Brasil, estamos torcendo.”

Mesmo tendo sofrido bullying numa fase difícil da vida, como é a adolescência, Kéfera Buchmann avalia que o ano passado não foi fácil. “O Brasil rachou na eleição, nunca vi um processo de tanto ódio. Atingiu famílias, separou amigos, uma polarização absurda.” Mas, para ela, foi bom. Sedimentou o processo de ‘eu sou mais eu’. O filme, claro, mas também, e principalmente, a própria Kéfera. A garota, que virou fenômeno midiático em seu canal do YouTube, já havia alcançado números estratosféricos – 1,85 milhão de espectadores – no longa É Fada! Solicitada pelo cinema, tentou algo diferente, a comédia romântica Gosto Se Discute e o (semi)autobiográfico Eu Sou Mais Eu. Admite estar ‘mordida’ pelo cinema. “Adoro fazer.” Empenhou-se tanto em Eu Sou Mais Eu que virou produtora associada.

“Participei de todas as etapas e, mesmo gravando (a novela), fui a pré-estreias em todo o Brasil. Nos últimos dias participei de sessões no Nordeste, a última em Fortaleza. Estou virada, dormindo pouco, mas vale a pena porque senti uma receptividade muito grande. Bullying é um tema universal, que mexe muito com as pessoas. E o filme fala de adolescência numa época específica – 2005 –, quando a própria tecnologia era outra, então os jovens de hoje e os de ontem, que agora são adultos, podem se identificar.”

Kéfera faz Camila, uma pop star arrogante que tiraniza todo mundo ao redor. O filme abre-se com a gravação de um clipe e logo ela está hostilizando um jornalista, a quem não quer mais dar entrevista. “Peraí, Camila, sou eu, o Cabeça!” Hein? O amigo de escola, atrapalhado e zoado como ela. Você terá de ver o filme dirigido por Pedro Amorim para saber como Camila inicia uma louca viagem no tempo e volta à escola em que sofria humilhações atrozes (e diárias).

“A Camila adolescente sou eu e o filme retrata muito o processo que vivi, e sofri.” E o Cabeça? “Houve vários. O Cabeça do filme (João Côrtes) é uma súmula de vários amigos.” OK, a estrela é ela, mas como chegaram ao João, que se tornou conhecido pelos comerciais de uma grande empresa de telefonia? “Por meio de teste. Embora seja superconhecido, o João topou fazer o teste comigo. Deu química na hora.”

A pergunta embaraçosa – na gravação do clipe, quando Camila canta e dança, o excesso de cortes é para disfarçar que Kéfera canta pouco e não sabe dançar? “Eh! Quer me derrubar, cara?”, e ela ri, uma risada gostosa. “É uma coisa moderna. Se você procurar na internet, vai ver que a linguagem do clipe é assim mesmo, toda desconstruída.”

E como é interpretar, para ela? “No YouTube já havia criado uma personagem. Gosto de sair da zona de conforto, de criar figuras que, necessariamente, não têm sempre a ver comigo. É uma forma de entender o outro.” Quem a preparou para o filme foi Estrela Strauss, que usa o método de Stanislavski, que Lee Strasberg desenvolveu no Actor’s Studio. “É feito de muita leitura, concentração e preparação do corpo. Deu tão certo que a Estrela me acompanhou na Globo e também me preparou para a novela.” A novela é a das 6, Espelho da Vida, em que Kéfera faz a vilã Mariane. Quem vê sabe que Mariane faz de tudo para roubar o papel de Vitória Strada na novela dentro da novela. “E ela conseguiu, no capítulo 91, que foi ao ar nesta terça.”

Qual é o aporte da Estrela (a preparadora) à novela? “A Mariane é obcecada, ambiciosa, mas também é muito burra. Seria fácil exagerar no tom, cair na caricatura, e o público ia rir, porque é o que se espera de vilãs em novelas mais leves. Seguimos uma via um pouco mais difícil, evitando a caricatura. Isso exige mais de mim, mas também gratifica mais.” 

De volta ao filme, Kéfera destaca – “Estamos nessa fase de afirmação das mulheres e a ideia é que nós não devemos passar a vida tentando agradar aos outros, aos homens. Eu mesma já fui assim, preocupada com a opinião dos outros, o olhar dos outros. Se o filme tem uma solução é que ela não é encontrar o cara da sua vida, mas se encontrar a si mesma. A autoestima é fundamental para se viver bem.” 

Kéfera conversa com a reportagem do Estado de dentro do carro da produção, que a leva para o Projac, o complexo de estúdios da Rede Globo, na zona oeste do Rio. É quinta à tarde, Kéfera, de 26 anos, chegou de Fortaleza e pediu só uns minutos – “para passar uma água no corpo” – e aí brincou. “No carro, vou ser só sua.” Seu nome é trabalho. Novo filme – Eu Sou Mais Eu, que estreou na quinta, 24 –, novela. Conta que o ano passado foi decisivo para ela, mas, na verdade, as transformações começaram ainda em 2017.

Kéfera e João Cortês no filme 'Eu Sou Mais Eu' Foto: Damasco Filmes

“Queria muito fazer esse filme sobre o bullying que marcou minha adolescência, na escola. Mas aconteceu uma coisa curiosa. Ao vestir a peruca, voltando a ser como era, as pessoas ao redor começaram a me dizer que o meu cabelo era mais bonito cacheado. E eu comecei a me sentir melhor. Durante dez anos, fiz tudo a que tinha direito para ter cabelo liso. Era um sacrifício, e por quê?”

Pode parecer pouca coisa, mas a mulher que tem milhões de seguidores foi a típica adolescente problema. “Estudei nove anos numa escola e era um inferno. Chorava todo dia, não queria mais estudar. As pessoas, os jovens, podem ser muito cruéis. Zoavam comigo por causa de tudo – cabelo, óculos, comportamento. Eu era a bizarra, a estranha e todo mundo tirava sarro. Reviver tudo isso para o filme foi uma viagem no tempo. Precisei voltar a ser quem eu era para reafirmar quem eu sou. Em janeiro do ano passado, voltei a usar meu cabelo cacheado e, durante todo o ano, nas redes sociais, dei minha cara a bater repudiando um candidato. Tomei muita porrada, mas estamos numa democracia e eu também quero o melhor para o meu país. Nossa, apanhei muito. Me disseram coisas horríveis. Estou ligada no que ocorre, mas agora estou focada em mim, no meu trabalho. Quanto ao Brasil, estamos torcendo.”

Mesmo tendo sofrido bullying numa fase difícil da vida, como é a adolescência, Kéfera Buchmann avalia que o ano passado não foi fácil. “O Brasil rachou na eleição, nunca vi um processo de tanto ódio. Atingiu famílias, separou amigos, uma polarização absurda.” Mas, para ela, foi bom. Sedimentou o processo de ‘eu sou mais eu’. O filme, claro, mas também, e principalmente, a própria Kéfera. A garota, que virou fenômeno midiático em seu canal do YouTube, já havia alcançado números estratosféricos – 1,85 milhão de espectadores – no longa É Fada! Solicitada pelo cinema, tentou algo diferente, a comédia romântica Gosto Se Discute e o (semi)autobiográfico Eu Sou Mais Eu. Admite estar ‘mordida’ pelo cinema. “Adoro fazer.” Empenhou-se tanto em Eu Sou Mais Eu que virou produtora associada.

“Participei de todas as etapas e, mesmo gravando (a novela), fui a pré-estreias em todo o Brasil. Nos últimos dias participei de sessões no Nordeste, a última em Fortaleza. Estou virada, dormindo pouco, mas vale a pena porque senti uma receptividade muito grande. Bullying é um tema universal, que mexe muito com as pessoas. E o filme fala de adolescência numa época específica – 2005 –, quando a própria tecnologia era outra, então os jovens de hoje e os de ontem, que agora são adultos, podem se identificar.”

Kéfera faz Camila, uma pop star arrogante que tiraniza todo mundo ao redor. O filme abre-se com a gravação de um clipe e logo ela está hostilizando um jornalista, a quem não quer mais dar entrevista. “Peraí, Camila, sou eu, o Cabeça!” Hein? O amigo de escola, atrapalhado e zoado como ela. Você terá de ver o filme dirigido por Pedro Amorim para saber como Camila inicia uma louca viagem no tempo e volta à escola em que sofria humilhações atrozes (e diárias).

“A Camila adolescente sou eu e o filme retrata muito o processo que vivi, e sofri.” E o Cabeça? “Houve vários. O Cabeça do filme (João Côrtes) é uma súmula de vários amigos.” OK, a estrela é ela, mas como chegaram ao João, que se tornou conhecido pelos comerciais de uma grande empresa de telefonia? “Por meio de teste. Embora seja superconhecido, o João topou fazer o teste comigo. Deu química na hora.”

A pergunta embaraçosa – na gravação do clipe, quando Camila canta e dança, o excesso de cortes é para disfarçar que Kéfera canta pouco e não sabe dançar? “Eh! Quer me derrubar, cara?”, e ela ri, uma risada gostosa. “É uma coisa moderna. Se você procurar na internet, vai ver que a linguagem do clipe é assim mesmo, toda desconstruída.”

E como é interpretar, para ela? “No YouTube já havia criado uma personagem. Gosto de sair da zona de conforto, de criar figuras que, necessariamente, não têm sempre a ver comigo. É uma forma de entender o outro.” Quem a preparou para o filme foi Estrela Strauss, que usa o método de Stanislavski, que Lee Strasberg desenvolveu no Actor’s Studio. “É feito de muita leitura, concentração e preparação do corpo. Deu tão certo que a Estrela me acompanhou na Globo e também me preparou para a novela.” A novela é a das 6, Espelho da Vida, em que Kéfera faz a vilã Mariane. Quem vê sabe que Mariane faz de tudo para roubar o papel de Vitória Strada na novela dentro da novela. “E ela conseguiu, no capítulo 91, que foi ao ar nesta terça.”

Qual é o aporte da Estrela (a preparadora) à novela? “A Mariane é obcecada, ambiciosa, mas também é muito burra. Seria fácil exagerar no tom, cair na caricatura, e o público ia rir, porque é o que se espera de vilãs em novelas mais leves. Seguimos uma via um pouco mais difícil, evitando a caricatura. Isso exige mais de mim, mas também gratifica mais.” 

De volta ao filme, Kéfera destaca – “Estamos nessa fase de afirmação das mulheres e a ideia é que nós não devemos passar a vida tentando agradar aos outros, aos homens. Eu mesma já fui assim, preocupada com a opinião dos outros, o olhar dos outros. Se o filme tem uma solução é que ela não é encontrar o cara da sua vida, mas se encontrar a si mesma. A autoestima é fundamental para se viver bem.” 

Kéfera conversa com a reportagem do Estado de dentro do carro da produção, que a leva para o Projac, o complexo de estúdios da Rede Globo, na zona oeste do Rio. É quinta à tarde, Kéfera, de 26 anos, chegou de Fortaleza e pediu só uns minutos – “para passar uma água no corpo” – e aí brincou. “No carro, vou ser só sua.” Seu nome é trabalho. Novo filme – Eu Sou Mais Eu, que estreou na quinta, 24 –, novela. Conta que o ano passado foi decisivo para ela, mas, na verdade, as transformações começaram ainda em 2017.

Kéfera e João Cortês no filme 'Eu Sou Mais Eu' Foto: Damasco Filmes

“Queria muito fazer esse filme sobre o bullying que marcou minha adolescência, na escola. Mas aconteceu uma coisa curiosa. Ao vestir a peruca, voltando a ser como era, as pessoas ao redor começaram a me dizer que o meu cabelo era mais bonito cacheado. E eu comecei a me sentir melhor. Durante dez anos, fiz tudo a que tinha direito para ter cabelo liso. Era um sacrifício, e por quê?”

Pode parecer pouca coisa, mas a mulher que tem milhões de seguidores foi a típica adolescente problema. “Estudei nove anos numa escola e era um inferno. Chorava todo dia, não queria mais estudar. As pessoas, os jovens, podem ser muito cruéis. Zoavam comigo por causa de tudo – cabelo, óculos, comportamento. Eu era a bizarra, a estranha e todo mundo tirava sarro. Reviver tudo isso para o filme foi uma viagem no tempo. Precisei voltar a ser quem eu era para reafirmar quem eu sou. Em janeiro do ano passado, voltei a usar meu cabelo cacheado e, durante todo o ano, nas redes sociais, dei minha cara a bater repudiando um candidato. Tomei muita porrada, mas estamos numa democracia e eu também quero o melhor para o meu país. Nossa, apanhei muito. Me disseram coisas horríveis. Estou ligada no que ocorre, mas agora estou focada em mim, no meu trabalho. Quanto ao Brasil, estamos torcendo.”

Mesmo tendo sofrido bullying numa fase difícil da vida, como é a adolescência, Kéfera Buchmann avalia que o ano passado não foi fácil. “O Brasil rachou na eleição, nunca vi um processo de tanto ódio. Atingiu famílias, separou amigos, uma polarização absurda.” Mas, para ela, foi bom. Sedimentou o processo de ‘eu sou mais eu’. O filme, claro, mas também, e principalmente, a própria Kéfera. A garota, que virou fenômeno midiático em seu canal do YouTube, já havia alcançado números estratosféricos – 1,85 milhão de espectadores – no longa É Fada! Solicitada pelo cinema, tentou algo diferente, a comédia romântica Gosto Se Discute e o (semi)autobiográfico Eu Sou Mais Eu. Admite estar ‘mordida’ pelo cinema. “Adoro fazer.” Empenhou-se tanto em Eu Sou Mais Eu que virou produtora associada.

“Participei de todas as etapas e, mesmo gravando (a novela), fui a pré-estreias em todo o Brasil. Nos últimos dias participei de sessões no Nordeste, a última em Fortaleza. Estou virada, dormindo pouco, mas vale a pena porque senti uma receptividade muito grande. Bullying é um tema universal, que mexe muito com as pessoas. E o filme fala de adolescência numa época específica – 2005 –, quando a própria tecnologia era outra, então os jovens de hoje e os de ontem, que agora são adultos, podem se identificar.”

Kéfera faz Camila, uma pop star arrogante que tiraniza todo mundo ao redor. O filme abre-se com a gravação de um clipe e logo ela está hostilizando um jornalista, a quem não quer mais dar entrevista. “Peraí, Camila, sou eu, o Cabeça!” Hein? O amigo de escola, atrapalhado e zoado como ela. Você terá de ver o filme dirigido por Pedro Amorim para saber como Camila inicia uma louca viagem no tempo e volta à escola em que sofria humilhações atrozes (e diárias).

“A Camila adolescente sou eu e o filme retrata muito o processo que vivi, e sofri.” E o Cabeça? “Houve vários. O Cabeça do filme (João Côrtes) é uma súmula de vários amigos.” OK, a estrela é ela, mas como chegaram ao João, que se tornou conhecido pelos comerciais de uma grande empresa de telefonia? “Por meio de teste. Embora seja superconhecido, o João topou fazer o teste comigo. Deu química na hora.”

A pergunta embaraçosa – na gravação do clipe, quando Camila canta e dança, o excesso de cortes é para disfarçar que Kéfera canta pouco e não sabe dançar? “Eh! Quer me derrubar, cara?”, e ela ri, uma risada gostosa. “É uma coisa moderna. Se você procurar na internet, vai ver que a linguagem do clipe é assim mesmo, toda desconstruída.”

E como é interpretar, para ela? “No YouTube já havia criado uma personagem. Gosto de sair da zona de conforto, de criar figuras que, necessariamente, não têm sempre a ver comigo. É uma forma de entender o outro.” Quem a preparou para o filme foi Estrela Strauss, que usa o método de Stanislavski, que Lee Strasberg desenvolveu no Actor’s Studio. “É feito de muita leitura, concentração e preparação do corpo. Deu tão certo que a Estrela me acompanhou na Globo e também me preparou para a novela.” A novela é a das 6, Espelho da Vida, em que Kéfera faz a vilã Mariane. Quem vê sabe que Mariane faz de tudo para roubar o papel de Vitória Strada na novela dentro da novela. “E ela conseguiu, no capítulo 91, que foi ao ar nesta terça.”

Qual é o aporte da Estrela (a preparadora) à novela? “A Mariane é obcecada, ambiciosa, mas também é muito burra. Seria fácil exagerar no tom, cair na caricatura, e o público ia rir, porque é o que se espera de vilãs em novelas mais leves. Seguimos uma via um pouco mais difícil, evitando a caricatura. Isso exige mais de mim, mas também gratifica mais.” 

De volta ao filme, Kéfera destaca – “Estamos nessa fase de afirmação das mulheres e a ideia é que nós não devemos passar a vida tentando agradar aos outros, aos homens. Eu mesma já fui assim, preocupada com a opinião dos outros, o olhar dos outros. Se o filme tem uma solução é que ela não é encontrar o cara da sua vida, mas se encontrar a si mesma. A autoestima é fundamental para se viver bem.” 

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