Opinião|‘Longlegs’: Com Nicolas Cage irreconhecível, filme de terror arrepia mesmo sem dar susto


Longa de Osgood Perkins sabe criar um clima de terror a partir de uma história e personagens bizarros, em que o macabro parece se sobrepor à lógica da investigação

Por Matheus Mans

Nas últimas semanas, na expectativa para a estreia de Longlegs: Vínculo Mortal, muitas pessoas ventilaram o novo longa-metragem como o melhor terror do ano – há até quem diga que é o melhor da década até agora.

Não é para tanto: dá para pensar em um punhado de filmes de terror melhores nos últimos anos e, em 2024, Imaculada ainda fica à frente. Ainda assim, o longa, que fez sua estreia em 29 de agosto é uma das boas surpresas do ano.

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Surpresa, afinal, já que o diretor Osgood Perkins – filho de Anthony Perkins, ator sempre lembrado por Psicose – não se saiu muito bem nos outros filmes que dirigiu. A Enviada do Mal é insosso, O Último Capítulo é entediante e Maria e João: O Conto das Bruxas até tem certo clima, mas acaba se perdendo demais e se aproximando mais de uma fraca paródia.

Longlegs: Vínculo Mortal é tudo menos isso. Aqui, Perkins – que assina roteiro e direção – sabe como criar o clima de uma história sobre Lee Harker (Maika Monroe), uma agente do FBI que está tentando descobrir o

que há por trás de uma série de assassinatos misteriosos. Afinal, famílias inteiras são mortas, há mais de uma década, e quase não há rastro do criminoso. Geralmente, o pai dá fim à família toda e não há explicação cabível.

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'Longlegs' está em cartaz nos cinemas Foto: Diamond Filmes/Divulgação

A única coisa que liga todos esses crimes é uma carta codificada que fica na cena do crime e que é assinada por um tal de Longlegs – serial killer vivido de maneira brilhante por Nicolas Cage, irreconhecível na tela. Agora, como pegar o criminoso? Como ele faz isso?

Entre a investigação e o sobrenatural

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São essas perguntas que norteiam a primeira metade, que é o mais puro suco de filme de investigação. Vemos pouco de Longlegs na tela, enquanto Harker sobra. É um longa com tons de O Silêncio dos Inocentes, Seven e O Colecionador de Ossos, em que o macabro parece se sobrepor à lógica da investigação. Há uma criação de clima que dá medo naturalmente: Perkins nem precisa de sustos forçados para fazer o espectador arrepiar. As poucas descobertas de Harker dão medo e Longlegs, quando aparece, causa pavor.

Depois, na segunda metade, Perkins, quase escondendo isso do espectador, começa a mudar o tom do filme. Sai essa inspiração nos longas de investigação e começa a chegar com mais força o sobrenatural – há O Bebê de Rosemary, principalmente quando o longa fala sobre a concretização do demônio, e até traços de Invocação do Mal e Annabelle, boneca que chega a aparecer em sua versão original, rapidamente, no canto de um frame.

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É uma mudança de tom que causa certo estranhamento. Afinal, o público está acostumado com filmes de investigação que terminam encontrando psicopatas, maníacos, pessoas fora da ordem social. E quando não é bem isso? E quando o mal está se espalhando e começa a ser uma ameaça que nem mesmo um padre consegue se livrar – morto como qualquer um em uma cena, sem chance de enfrentar qualquer coisa? É uma jogada ousada.

Há uma certa dificuldade, por parte de Perkins, em desenvolver o sobrenatural, o satânico, o desconhecido. Ele não tenta, exatamente, explicar o que está acontecendo ali, mesmo com uma sequência bastante didática. Ele joga pra própria sorte e deixa muita coisa mal resolvida no colo do espectador. Isso, no entanto, não chega a estragar o longa-metragem.

Afinal, depois dessas mudanças de proposta e ideias, Longlegs: Vínculo Mortal acaba sendo um exercício poderoso não só de estilo cinematográfico, mas também de imaginação: e se o pânico satânico que tomou conta dos Estados Unidos nos anos 1990 fosse real? E se tudo aquilo que a mídia alardeou tivesse, realmente, fundo de verdade?

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Maika Monroe em 'Longlegs' Foto: Neon/Divulgação

Perkins toma de inspiração o caso de Charles Manson e vai além, criando uma cultura satânica nas entranhas da sociedade. Pior: nas entranhas da família. No final, Perkins – que é sempre lembrado por seu pai, ator histórico de Hollywood – fala muito sobre as dores familiares em Longlegs, indo desde uma inesperada formação familiar satânica e indo até as dores que movem uma família, como o pai desesperado pela perda de inocência da filha até a mãe que, machucada no parto, entende sua filha como ruptura e dependência.

Longlegs: Vínculo Mortal não tem medo de se arriscar. Ainda que falte um pouco mais de ousadia para chegar no ponto que chegou Imaculada, o filme de Perkins questiona padrões e mostra que família também pode ser amaldiçoada, ficando longe de uma base social alardeada por aí. E o melhor de tudo: na criação de clima e de personagem, dá um medo genuíno, que deixa o espectador oprimido pela atmosfera. É um dos ótimos filmes do ano.

Nas últimas semanas, na expectativa para a estreia de Longlegs: Vínculo Mortal, muitas pessoas ventilaram o novo longa-metragem como o melhor terror do ano – há até quem diga que é o melhor da década até agora.

Não é para tanto: dá para pensar em um punhado de filmes de terror melhores nos últimos anos e, em 2024, Imaculada ainda fica à frente. Ainda assim, o longa, que fez sua estreia em 29 de agosto é uma das boas surpresas do ano.

Surpresa, afinal, já que o diretor Osgood Perkins – filho de Anthony Perkins, ator sempre lembrado por Psicose – não se saiu muito bem nos outros filmes que dirigiu. A Enviada do Mal é insosso, O Último Capítulo é entediante e Maria e João: O Conto das Bruxas até tem certo clima, mas acaba se perdendo demais e se aproximando mais de uma fraca paródia.

Longlegs: Vínculo Mortal é tudo menos isso. Aqui, Perkins – que assina roteiro e direção – sabe como criar o clima de uma história sobre Lee Harker (Maika Monroe), uma agente do FBI que está tentando descobrir o

que há por trás de uma série de assassinatos misteriosos. Afinal, famílias inteiras são mortas, há mais de uma década, e quase não há rastro do criminoso. Geralmente, o pai dá fim à família toda e não há explicação cabível.

'Longlegs' está em cartaz nos cinemas Foto: Diamond Filmes/Divulgação

A única coisa que liga todos esses crimes é uma carta codificada que fica na cena do crime e que é assinada por um tal de Longlegs – serial killer vivido de maneira brilhante por Nicolas Cage, irreconhecível na tela. Agora, como pegar o criminoso? Como ele faz isso?

Entre a investigação e o sobrenatural

São essas perguntas que norteiam a primeira metade, que é o mais puro suco de filme de investigação. Vemos pouco de Longlegs na tela, enquanto Harker sobra. É um longa com tons de O Silêncio dos Inocentes, Seven e O Colecionador de Ossos, em que o macabro parece se sobrepor à lógica da investigação. Há uma criação de clima que dá medo naturalmente: Perkins nem precisa de sustos forçados para fazer o espectador arrepiar. As poucas descobertas de Harker dão medo e Longlegs, quando aparece, causa pavor.

Depois, na segunda metade, Perkins, quase escondendo isso do espectador, começa a mudar o tom do filme. Sai essa inspiração nos longas de investigação e começa a chegar com mais força o sobrenatural – há O Bebê de Rosemary, principalmente quando o longa fala sobre a concretização do demônio, e até traços de Invocação do Mal e Annabelle, boneca que chega a aparecer em sua versão original, rapidamente, no canto de um frame.

É uma mudança de tom que causa certo estranhamento. Afinal, o público está acostumado com filmes de investigação que terminam encontrando psicopatas, maníacos, pessoas fora da ordem social. E quando não é bem isso? E quando o mal está se espalhando e começa a ser uma ameaça que nem mesmo um padre consegue se livrar – morto como qualquer um em uma cena, sem chance de enfrentar qualquer coisa? É uma jogada ousada.

Há uma certa dificuldade, por parte de Perkins, em desenvolver o sobrenatural, o satânico, o desconhecido. Ele não tenta, exatamente, explicar o que está acontecendo ali, mesmo com uma sequência bastante didática. Ele joga pra própria sorte e deixa muita coisa mal resolvida no colo do espectador. Isso, no entanto, não chega a estragar o longa-metragem.

Afinal, depois dessas mudanças de proposta e ideias, Longlegs: Vínculo Mortal acaba sendo um exercício poderoso não só de estilo cinematográfico, mas também de imaginação: e se o pânico satânico que tomou conta dos Estados Unidos nos anos 1990 fosse real? E se tudo aquilo que a mídia alardeou tivesse, realmente, fundo de verdade?

Maika Monroe em 'Longlegs' Foto: Neon/Divulgação

Perkins toma de inspiração o caso de Charles Manson e vai além, criando uma cultura satânica nas entranhas da sociedade. Pior: nas entranhas da família. No final, Perkins – que é sempre lembrado por seu pai, ator histórico de Hollywood – fala muito sobre as dores familiares em Longlegs, indo desde uma inesperada formação familiar satânica e indo até as dores que movem uma família, como o pai desesperado pela perda de inocência da filha até a mãe que, machucada no parto, entende sua filha como ruptura e dependência.

Longlegs: Vínculo Mortal não tem medo de se arriscar. Ainda que falte um pouco mais de ousadia para chegar no ponto que chegou Imaculada, o filme de Perkins questiona padrões e mostra que família também pode ser amaldiçoada, ficando longe de uma base social alardeada por aí. E o melhor de tudo: na criação de clima e de personagem, dá um medo genuíno, que deixa o espectador oprimido pela atmosfera. É um dos ótimos filmes do ano.

Nas últimas semanas, na expectativa para a estreia de Longlegs: Vínculo Mortal, muitas pessoas ventilaram o novo longa-metragem como o melhor terror do ano – há até quem diga que é o melhor da década até agora.

Não é para tanto: dá para pensar em um punhado de filmes de terror melhores nos últimos anos e, em 2024, Imaculada ainda fica à frente. Ainda assim, o longa, que fez sua estreia em 29 de agosto é uma das boas surpresas do ano.

Surpresa, afinal, já que o diretor Osgood Perkins – filho de Anthony Perkins, ator sempre lembrado por Psicose – não se saiu muito bem nos outros filmes que dirigiu. A Enviada do Mal é insosso, O Último Capítulo é entediante e Maria e João: O Conto das Bruxas até tem certo clima, mas acaba se perdendo demais e se aproximando mais de uma fraca paródia.

Longlegs: Vínculo Mortal é tudo menos isso. Aqui, Perkins – que assina roteiro e direção – sabe como criar o clima de uma história sobre Lee Harker (Maika Monroe), uma agente do FBI que está tentando descobrir o

que há por trás de uma série de assassinatos misteriosos. Afinal, famílias inteiras são mortas, há mais de uma década, e quase não há rastro do criminoso. Geralmente, o pai dá fim à família toda e não há explicação cabível.

'Longlegs' está em cartaz nos cinemas Foto: Diamond Filmes/Divulgação

A única coisa que liga todos esses crimes é uma carta codificada que fica na cena do crime e que é assinada por um tal de Longlegs – serial killer vivido de maneira brilhante por Nicolas Cage, irreconhecível na tela. Agora, como pegar o criminoso? Como ele faz isso?

Entre a investigação e o sobrenatural

São essas perguntas que norteiam a primeira metade, que é o mais puro suco de filme de investigação. Vemos pouco de Longlegs na tela, enquanto Harker sobra. É um longa com tons de O Silêncio dos Inocentes, Seven e O Colecionador de Ossos, em que o macabro parece se sobrepor à lógica da investigação. Há uma criação de clima que dá medo naturalmente: Perkins nem precisa de sustos forçados para fazer o espectador arrepiar. As poucas descobertas de Harker dão medo e Longlegs, quando aparece, causa pavor.

Depois, na segunda metade, Perkins, quase escondendo isso do espectador, começa a mudar o tom do filme. Sai essa inspiração nos longas de investigação e começa a chegar com mais força o sobrenatural – há O Bebê de Rosemary, principalmente quando o longa fala sobre a concretização do demônio, e até traços de Invocação do Mal e Annabelle, boneca que chega a aparecer em sua versão original, rapidamente, no canto de um frame.

É uma mudança de tom que causa certo estranhamento. Afinal, o público está acostumado com filmes de investigação que terminam encontrando psicopatas, maníacos, pessoas fora da ordem social. E quando não é bem isso? E quando o mal está se espalhando e começa a ser uma ameaça que nem mesmo um padre consegue se livrar – morto como qualquer um em uma cena, sem chance de enfrentar qualquer coisa? É uma jogada ousada.

Há uma certa dificuldade, por parte de Perkins, em desenvolver o sobrenatural, o satânico, o desconhecido. Ele não tenta, exatamente, explicar o que está acontecendo ali, mesmo com uma sequência bastante didática. Ele joga pra própria sorte e deixa muita coisa mal resolvida no colo do espectador. Isso, no entanto, não chega a estragar o longa-metragem.

Afinal, depois dessas mudanças de proposta e ideias, Longlegs: Vínculo Mortal acaba sendo um exercício poderoso não só de estilo cinematográfico, mas também de imaginação: e se o pânico satânico que tomou conta dos Estados Unidos nos anos 1990 fosse real? E se tudo aquilo que a mídia alardeou tivesse, realmente, fundo de verdade?

Maika Monroe em 'Longlegs' Foto: Neon/Divulgação

Perkins toma de inspiração o caso de Charles Manson e vai além, criando uma cultura satânica nas entranhas da sociedade. Pior: nas entranhas da família. No final, Perkins – que é sempre lembrado por seu pai, ator histórico de Hollywood – fala muito sobre as dores familiares em Longlegs, indo desde uma inesperada formação familiar satânica e indo até as dores que movem uma família, como o pai desesperado pela perda de inocência da filha até a mãe que, machucada no parto, entende sua filha como ruptura e dependência.

Longlegs: Vínculo Mortal não tem medo de se arriscar. Ainda que falte um pouco mais de ousadia para chegar no ponto que chegou Imaculada, o filme de Perkins questiona padrões e mostra que família também pode ser amaldiçoada, ficando longe de uma base social alardeada por aí. E o melhor de tudo: na criação de clima e de personagem, dá um medo genuíno, que deixa o espectador oprimido pela atmosfera. É um dos ótimos filmes do ano.

Opinião por Matheus Mans

Repórter de cultura, tecnologia e gastronomia desde 2012 e desde 2015 no Estadão. É formado em jornalismo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie com especialização em audiovisual. É membro votante da Online Film Critics Society.

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