Maré Alta, um filme independente internacional com o brasileiro Marco Pigossi como protagonista, ganha sua primeira exibição no Brasil no Festival do Rio, neste sábado, 5. Gravado em Provincetown, reduto libertário histórico em Massachusetts, Pigossi foi dirigido pelo marido, o cineasta italiano Marco Calvani.
O longa conta a história de Lourenço, um brasileiro que emigra para os Estados Unidos para fugir da família conservadora. Em meio às incertezas sobre o futuro, incluindo a possibilidade de não obter um visto, ele se apaixona por um americano negro. Após sua estreia mundial no festival de Austin, o SXSW, o drama foi elogiado por veículos internacionais como Variety e The Hollywood Reporter e será exibido também nos dias 8 e 10 no Festival do Rio. Em São Paulo, poderá ser visto no festival MixBrasil, que ocorrerá de 14 a 20 de novembro.
Para Pigossi, o filme tem um sabor especial. O ator, de 35 anos, acumula 13 novelas no currículo, tendo interpretado mocinhos em produções como Sangue Bom, Boogie Oogie, Regra do Jogo e A Força do Querer, na Globo. Recentemente, conquistou participações em séries internacionais de peso, como Gen V. Na fase atual, ele buscava fazer um filme mais pessoal: “Queria falar sobre o processo de aceitação e de se encontrar no mundo como um homem gay.” Há apenas três anos, ele se declarou homossexual e, há pouco mais de um mês, casou-se com Calvani em um cenário romântico na Toscana, na Itália.
A seguir, a entrevista com o ator:
O que o filme representa para a sua história?
Ele não é autobiográfico, mas é um filme que eu escrevi com Marco Calvani, meu marido. Então, tem muita importância para mim, não só como carreira, mas também como pessoa. É um encerramento de um ciclo em vários sentidos. O documentário Corpolítica foi o começo de uma produção voltada para esses temas, de representatividade LGBT na política institucional. Mas também queria falar, como ator, sobre esse processo de aceitação e de se encontrar no mundo como homem gay.
Como surgiu o projeto do filme ‘Maré Alta’?
No nosso primeiro encontro, estávamos conversando sobre isso. Eu contei que estava fazendo o movimento de “sair do armário” no Brasil e me assumir como homem gay. Na época, ele tinha um roteiro semidesenvolvido com um personagem latino, que eu transformei em um brasileiro, e juntos fomos moldando essa história. E, claro, há uma história de amor por trás, que foi o processo de nós nos apaixonarmos enquanto trabalhávamos juntos. Não sabíamos necessariamente aonde isso ia dar, mas esse projeto era algo que queríamos fazer juntos.
Vocês oficializaram a relação na Itália em agosto. Por que na Toscana?
Primeiramente, porque é um lugar lindo, mas não é só isso. A família do Marco é grande, típica e bem tradicional, com cinco irmãos e milhões de sobrinhos. Então, tinha muita gente. A minha família é superenxuta; é mais fácil cinco pessoas voarem para a Itália do que levar 45 da família do Marco para o Brasil ou para os Estados Unidos.
Como você se sente com a primeira exibição do filme ‘Maré Alta’ aqui no Brasil?
Estou muito feliz e empolgado. É um filme 100% americano em termos de produção, mas totalmente brasileiro. Não vejo a hora de dividir com o público do Brasil esse filme, e o Festival do Rio é uma oportunidade incrível.
Você faz um imigrante ilegal que vive nos Estados Unidos?
Eu faço um imigrante que ainda não é ilegal; ele está no limbo, tentando entender se consegue ficar ou obter o visto que deseja. Lourenço sai do Brasil para escapar de uma família conservadora e, neste momento de incerteza, se apaixona por um homem americano negro que também não se sente pertencente nos Estados Unidos, em um lugar majoritariamente branco.
Você está investindo mais na carreira internacional?
Isso aconteceu naturalmente. Nunca planejei morar em Los Angeles. Estava fazendo a terceira temporada da série Alto Mar, na Espanha, em Madrid, quando cancelaram a quarta temporada devido à covid-19. Fui fazer um piloto para a ABC Studios, conheci o Marco, que morava em Nova York na época, e decidimos desenvolver o filme Maré Alta. Ele estava fazendo a transição do teatro para o cinema, e resolvemos ter uma base em Los Angeles, construir uma casa e ter uma cachorra.
Você está cheio de projetos?
Sim, fiz um filme que a Marisa Tomei me indicou, uma comédia romântica chamada You are Dating a Narcissist, que estreia no próximo ano. Estou lançando a série Astronauta na HBO Max, no dia 18 de outubro; é minha primeira dublagem original e foi uma experiência incrível, baseada no personagem do Mauricio de Sousa, em uma animação adulta. Também participei do filme Maníaco do Parque, onde sou o editor-chefe do jornal que vendia matérias sobre o serial killer, que estreia neste mês no Prime Video.
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Você fez várias novelas, alguns papéis de galã na Globo, depois que se assumiu homossexual. Fez no tempo certo?
O “tempo certo” é quando estamos prontos. É o tempo em que me sinto forte o suficiente para isso. Recebi uma onda de amor muito grande quando me assumi; foi muito bonito para mim, para minha existência e visão de mundo.