Michelle Williams revela desafios que pretende enfrentar no cinema


Atriz foi a primeira escolha de Steven Spielberg para o papel inspirado em sua mãe no filme ‘Os Fabelmans’

Por Kyle Buchanan
Entrevista comMichelle WilliamsAtriz

“Você é muito organizada”, eu disse a Michelle Williams.

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“Sou virginiana”, ela respondeu.

Numa tarde chuvosa do final de novembro, Williams estava à minha frente num café do Brooklyn, radiante com o tipo de prazer que você só sente quando planeja seu dia com perfeição. Enquanto conversávamos, seus três filhos estavam todos ocupados e cuidados: a filha adolescente, Matilda, estava na escola, o bebê, Hart, estava cochilando e o recém-nascido não precisaria ser alimentado pela próxima hora e meia.

Que todas essas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo era nada menos que um milagre maternal e, embora seu marido, o diretor Thomas Kail, estivesse fora da cidade, sua mãe tinha vindo a Nova York para ajudar com as crianças, liberando Williams para chegar ao café de olhos arregalados, como se tivesse acabado assaltar um banco.

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“É um momento perfeitamente sem culpa, porque ninguém precisa de mim”, disse Williams, observando que não é fácil atender às demandas de uma turnê de divulgação durante a amamentação: “Estou na linha do tempo de outra pessoa, porque sou a comida”.

Ainda assim, ela está fazendo tudo o que pode para promover Os Fabelmans, um drama familiar semiautobiográfico de Steven Spielberg, onde a atriz de 42 anos interpreta Mitzi, personagem baseada na mãe do diretor. Embora seus sonhos de ser pianista tenham sido deixados de lado para criar a família, Mitzi trata a criação de filhos como um novo playground criativo: um dia, ela bota as crianças no carro para perseguir um tornado, no outro, compra um macaquinho para ser o animal de estimação da família.

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A atriz Michelle Williams  Foto: Sinna Nasseri/The New York Times

As pessoas podem olhar para a personagem excêntrica e pensar que ela é meio exagerada, mas Mitzi olha para sua vida e sabe que não é o suficiente. Ela é casada com o zeloso e monótono Burt (Paul Dano), mas deseja seu melhor amigo (Seth Rogen), uma transgressão que Sammy, seu filho cineasta, só percebe quando coloca Mitzi na frente das lentes. Você sente que Spielberg também está usando Williams como receptáculo para entender melhor sua falecida mãe: o diretor poucas vezes pareceu tão fascinado com uma protagonista, filmando Williams com a mesma admiração que Sammy demonstra quando filma sua mãe no meio de um devaneio artístico.

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Williams foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards por suas atuações eletrizantes. “Vinha trabalhando muito para me preparar para o momento em que encontrasse um papel como este”, disse ela. No Gotham Awards, onde ela ganhou um prêmio em novembro, Williams traçou uma linha desde seu trabalho na série adolescente Dawson’s Creek, que ela estrelou aos 16 anos, ao lado de James Van Der Beek e Katie Holmes.

“Ela parecia muito diferente das outras jovens, uma criatura peculiar mesmo naquela época”, disse a atriz Mary Beth Peil, que interpretou a avó de Williams na novela. “Sua sinceridade era quase dolorosa. É uma das principais coisas que aprendi com ela, que a câmera consegue ver a sinceridade. É algo que está na raiz de cada respiração que ela dá”.

Com indicações ao Oscar por Brokeback Mountain, Blue Valentine e Manchester à Beira-Mar e com os filmes naturalistas que ela fez com a diretora Kelly Reichardt (Showing Up, sua próxima colaboração, sai neste ano), Williams se estabeleceu como uma atriz de primeira linha, capaz de expressar autenticidade sem verniz. Mas ela está ansiosa para experimentar um registro mais elevado, como fez em 2011 interpretando Marilyn Monroe em Sete Dias com Marilyn e, em 2019, com seu papel vencedor do Emmy: a dançarina Gwen Verdon na série Fosse/Verdon, da FX.

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Por e-mail, Spielberg, que escreveu Os Fabelmans com Tony Kushner, disse: “Ela tem uma energia secreta que brotou quando interpretou Gwen Verdon. Foi um longo caminho até ela ser minha primeira escolha para interpretar Mitzi”.

Cena do filme Os Fabelmans, de Steven Spielberg, com Michelle Williams e Paul Dano Foto: Storyteller Distribution
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Ouvir Williams contar tudo isso, essa mudança para atuações maiores e mais estilizadas exigiu um esforço concentrado: pessoalmente, ela é muito mais contida, com uma presença tão discreta quando seu corte de cabelo preferido. “É bom viver assim por um tempo, porque não é meu lugar natural”, disse Williams, sorrindo ao lembrar o que ela teve de fazer para habitar Mitzi Fabelman. “É a coisa mais maravilhosa para se tomar emprestado”.

Aqui vão trechos editados de nossa conversa.

Muitas vezes, quando você assiste a esses filmes autobiográficos sobre o amadurecimento de jovens, as mães recebem pouca atenção. Mas em ‘Os Fabelmans’, a dinâmica mãe-filho parece ser o centro da história.

Não acreditei quando comecei a virar as páginas do roteiro. Meu marido estava na sala comigo e eu dizia: “Está ficando bom”. Muitas vezes, quando você tem um roteiro em mãos, lê uma cena ótima e pensa: “Oh, isso vai ser espetacular”. E eram páginas e páginas disso, dessa vivacidade deslumbrante. Quando terminei, disse ao meu marido: “É um banquete. Fizeram um banquete para ela”.

Levei muito tempo para entender o material porque as palavras e as ideias são puro Kushner, pelas lentes de Steven Spielberg. Então é fílmico e é teatral, que é algo que realmente me interessa e no qual tenho me concentrado propositalmente desde que comecei a fazer teatro de novo. Eu me preparo muito antes dos filmes, e havia muito para assimilar. Era mais como fazer uma minissérie, porque o material era muito rico.

Qual foi o maior desafio de interpretar uma grande personagem como Mitzi?

Na primeira parte da carreira, eu fazia sitcoms, comerciais de TV e séries, aí comecei a ver esse outro estilo chamado naturalismo. Eu queria isso para mim, mas tive de aprender o que era e como habitá-lo, e quando senti que tinha chegado àquele lugar ao qual ansiava pertencer - como Kelly Reichardt e todos os filmes independentes que fiz até os trinta anos - o próximo lugar que eu queria ir era algo mais expressionista. Parecia um desafio muito maior.

Sentia que a jornada nos meus vinte anos era encontrar uma maneira autêntica de me centrar para que me sentisse natural dentro da minha própria pele e pudesse oferecer isso às mulheres que eu estava interpretando, mas queria me livrar completamente dessa pele e conseguir encontrar maneiras inteiramente novas de me relacionar com personagens que nem sempre me moviam. Isso exigia me quebrar e depois me reconstruir à imagem de outra pessoa e fazer escolhas maiores.

O que você acha que a atraiu para essas personagens mais estilizadas?

Acho que uma das coisas que percebi sobre o naturalismo - e ainda é um lugar onde habito, acabei de fazer meu quarto filme com Kelly Reichardt - é que também queria fazer um trabalho que deixasse uma marca e não fosse aberto à projeção. Queria fazer um trabalho com o qual o público tivesse de lidar, onde houvesse menos interpretação da parte deles, porque a interpretação era por minha conta. Sinto que Mitzi pertence a esse lugar, que Gwen e Marilyn pertencem a esse lugar, e o trabalho que fiz no teatro pertence a esse lugar. Mas foi preciso muito aprendizado e muitos erros ao longo do caminho para me sentir confortável em deixar minha própria pele.

Como você se sentiu um dia antes de começar a filmar ‘Os Fabelmans’?

Parecia que a corrida estava prestes a começar e você estava na linha de largada, com os pés coçando, em estado de prontidão.

Por que você ficou tão empolgada para habitar Mitzi?

Em primeiro lugar, é bom ser ela. Ela era cheia de música, então tinha uma vibração emocional percorrendo seu corpo o tempo todo. Penso na escala do piano: quão baixo e quão alto ela pode ir, é emocionante conter tudo isso em você mesma por um tempo. E é assim que ela aborda muitas coisas como: “Isso não vai ser divertido? Não vai ser uma lembrança excelente para a família?” Havia criatividade em todos os aspectos de sua vida, desde como ela brincava com as crianças até como se vestia e cortava o cabelo. Ela era artista até a ponta dos dedos.

Spielberg termina o filme logo após Mitzi trocar o marido por outro homem, mas o que você sabia sobre o resto da vida dela que a ajudou a interpretá-la?

Mais tarde na vida, ela e o pai de Steven tiveram uma reconexão e passaram seus últimos anos juntos. São histórias de amor sobrepostas, e é por isso que a história é de partir o coração, porque esse amor não desapareceu - mudou e se transformou em outra coisa. Ainda havia amor suficiente na relação para manter a família, mas, na vida pessoal, não era suficiente para fazê-la ficar. A coragem dessa decisão! E então nunca a achei egoísta nem desequilibrada. Penso que ela era uma mulher vivendo de forma muito verdadeira, muito expressiva e corajosa, dando esse presente a cada um de seus filhos, porque eles a viram fazer tudo isso.

Muitos especialistas achavam que era certeza que você ganharia o Oscar de atriz coadjuvante por esse papel, mas, em vez disso, você escolheu fazer campanha como protagonista numa corrida muito mais competitiva.

Acho que foi uma conversa que estava acontecendo fora do grupo principal que fez o filme, e realmente não sei por que houve essa disparidade. Embora eu não tenha visto o filme, as cenas que li, as cenas que preparei, as cenas que filmamos, as cenas que me disseram que ainda estão no filme, tudo isso parece com as experiências que tive em papéis considerados principais. Então, para mim, ou para qualquer pessoa envolvida no filme, acho que tínhamos um acordo tácito.

Você ainda não viu ‘Os Fabelmans’?

Não consigo assistir a meu próprio trabalho. Acho que a última coisa que vi foi O Atalho no cinema com minha filha, então já faz quase uma década.

Como assim?

Quando estou trabalhando em alguma coisa, eu me sinto completamente dentro daquilo. E quando passo para a plateia, minha experiência muda - e a experiência é, em última análise, o que estou procurando. Não consigo ir e voltar entre as duas maneiras de me envolver na narrativa, mas gostaria de ser forte o suficiente e capaz de me observar, descobrir o que gostaria de ajustar tecnicamente e depois usar da próxima vez. Tentei fazer isso, estou tendo um conflito interno. Estou mais feliz e talvez mais saudável ficando só na minha experiência pessoal de interpretar essas mulheres.

Isso dificultou o final das filmagens de ‘Os Fabelmans’, porque foi a última experiência que você teve com a personagem?

No último dia, sofri como se alguém tivesse morrido. Fiquei chocada com a tristeza de me despedir da mulher que habitei e das relações que tive com os outros personagens. Ainda sinto falta de ser ela e ter aquele espírito fluindo dentro de mim, então é bom lembrar dela e da urgência daquele período de filmagem. Quando você está fazendo algo, sente que o mundo inteiro é material disponível - tudo fica formigando, tudo é possível - então, quando a filmagem termina, você volta para a mesa do café da manhã. O que eu adoro, porque continuo com as crianças. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

“Você é muito organizada”, eu disse a Michelle Williams.

“Sou virginiana”, ela respondeu.

Numa tarde chuvosa do final de novembro, Williams estava à minha frente num café do Brooklyn, radiante com o tipo de prazer que você só sente quando planeja seu dia com perfeição. Enquanto conversávamos, seus três filhos estavam todos ocupados e cuidados: a filha adolescente, Matilda, estava na escola, o bebê, Hart, estava cochilando e o recém-nascido não precisaria ser alimentado pela próxima hora e meia.

Que todas essas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo era nada menos que um milagre maternal e, embora seu marido, o diretor Thomas Kail, estivesse fora da cidade, sua mãe tinha vindo a Nova York para ajudar com as crianças, liberando Williams para chegar ao café de olhos arregalados, como se tivesse acabado assaltar um banco.

“É um momento perfeitamente sem culpa, porque ninguém precisa de mim”, disse Williams, observando que não é fácil atender às demandas de uma turnê de divulgação durante a amamentação: “Estou na linha do tempo de outra pessoa, porque sou a comida”.

Ainda assim, ela está fazendo tudo o que pode para promover Os Fabelmans, um drama familiar semiautobiográfico de Steven Spielberg, onde a atriz de 42 anos interpreta Mitzi, personagem baseada na mãe do diretor. Embora seus sonhos de ser pianista tenham sido deixados de lado para criar a família, Mitzi trata a criação de filhos como um novo playground criativo: um dia, ela bota as crianças no carro para perseguir um tornado, no outro, compra um macaquinho para ser o animal de estimação da família.

A atriz Michelle Williams  Foto: Sinna Nasseri/The New York Times

As pessoas podem olhar para a personagem excêntrica e pensar que ela é meio exagerada, mas Mitzi olha para sua vida e sabe que não é o suficiente. Ela é casada com o zeloso e monótono Burt (Paul Dano), mas deseja seu melhor amigo (Seth Rogen), uma transgressão que Sammy, seu filho cineasta, só percebe quando coloca Mitzi na frente das lentes. Você sente que Spielberg também está usando Williams como receptáculo para entender melhor sua falecida mãe: o diretor poucas vezes pareceu tão fascinado com uma protagonista, filmando Williams com a mesma admiração que Sammy demonstra quando filma sua mãe no meio de um devaneio artístico.

Williams foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards por suas atuações eletrizantes. “Vinha trabalhando muito para me preparar para o momento em que encontrasse um papel como este”, disse ela. No Gotham Awards, onde ela ganhou um prêmio em novembro, Williams traçou uma linha desde seu trabalho na série adolescente Dawson’s Creek, que ela estrelou aos 16 anos, ao lado de James Van Der Beek e Katie Holmes.

“Ela parecia muito diferente das outras jovens, uma criatura peculiar mesmo naquela época”, disse a atriz Mary Beth Peil, que interpretou a avó de Williams na novela. “Sua sinceridade era quase dolorosa. É uma das principais coisas que aprendi com ela, que a câmera consegue ver a sinceridade. É algo que está na raiz de cada respiração que ela dá”.

Com indicações ao Oscar por Brokeback Mountain, Blue Valentine e Manchester à Beira-Mar e com os filmes naturalistas que ela fez com a diretora Kelly Reichardt (Showing Up, sua próxima colaboração, sai neste ano), Williams se estabeleceu como uma atriz de primeira linha, capaz de expressar autenticidade sem verniz. Mas ela está ansiosa para experimentar um registro mais elevado, como fez em 2011 interpretando Marilyn Monroe em Sete Dias com Marilyn e, em 2019, com seu papel vencedor do Emmy: a dançarina Gwen Verdon na série Fosse/Verdon, da FX.

Por e-mail, Spielberg, que escreveu Os Fabelmans com Tony Kushner, disse: “Ela tem uma energia secreta que brotou quando interpretou Gwen Verdon. Foi um longo caminho até ela ser minha primeira escolha para interpretar Mitzi”.

Cena do filme Os Fabelmans, de Steven Spielberg, com Michelle Williams e Paul Dano Foto: Storyteller Distribution

Ouvir Williams contar tudo isso, essa mudança para atuações maiores e mais estilizadas exigiu um esforço concentrado: pessoalmente, ela é muito mais contida, com uma presença tão discreta quando seu corte de cabelo preferido. “É bom viver assim por um tempo, porque não é meu lugar natural”, disse Williams, sorrindo ao lembrar o que ela teve de fazer para habitar Mitzi Fabelman. “É a coisa mais maravilhosa para se tomar emprestado”.

Aqui vão trechos editados de nossa conversa.

Muitas vezes, quando você assiste a esses filmes autobiográficos sobre o amadurecimento de jovens, as mães recebem pouca atenção. Mas em ‘Os Fabelmans’, a dinâmica mãe-filho parece ser o centro da história.

Não acreditei quando comecei a virar as páginas do roteiro. Meu marido estava na sala comigo e eu dizia: “Está ficando bom”. Muitas vezes, quando você tem um roteiro em mãos, lê uma cena ótima e pensa: “Oh, isso vai ser espetacular”. E eram páginas e páginas disso, dessa vivacidade deslumbrante. Quando terminei, disse ao meu marido: “É um banquete. Fizeram um banquete para ela”.

Levei muito tempo para entender o material porque as palavras e as ideias são puro Kushner, pelas lentes de Steven Spielberg. Então é fílmico e é teatral, que é algo que realmente me interessa e no qual tenho me concentrado propositalmente desde que comecei a fazer teatro de novo. Eu me preparo muito antes dos filmes, e havia muito para assimilar. Era mais como fazer uma minissérie, porque o material era muito rico.

Qual foi o maior desafio de interpretar uma grande personagem como Mitzi?

Na primeira parte da carreira, eu fazia sitcoms, comerciais de TV e séries, aí comecei a ver esse outro estilo chamado naturalismo. Eu queria isso para mim, mas tive de aprender o que era e como habitá-lo, e quando senti que tinha chegado àquele lugar ao qual ansiava pertencer - como Kelly Reichardt e todos os filmes independentes que fiz até os trinta anos - o próximo lugar que eu queria ir era algo mais expressionista. Parecia um desafio muito maior.

Sentia que a jornada nos meus vinte anos era encontrar uma maneira autêntica de me centrar para que me sentisse natural dentro da minha própria pele e pudesse oferecer isso às mulheres que eu estava interpretando, mas queria me livrar completamente dessa pele e conseguir encontrar maneiras inteiramente novas de me relacionar com personagens que nem sempre me moviam. Isso exigia me quebrar e depois me reconstruir à imagem de outra pessoa e fazer escolhas maiores.

O que você acha que a atraiu para essas personagens mais estilizadas?

Acho que uma das coisas que percebi sobre o naturalismo - e ainda é um lugar onde habito, acabei de fazer meu quarto filme com Kelly Reichardt - é que também queria fazer um trabalho que deixasse uma marca e não fosse aberto à projeção. Queria fazer um trabalho com o qual o público tivesse de lidar, onde houvesse menos interpretação da parte deles, porque a interpretação era por minha conta. Sinto que Mitzi pertence a esse lugar, que Gwen e Marilyn pertencem a esse lugar, e o trabalho que fiz no teatro pertence a esse lugar. Mas foi preciso muito aprendizado e muitos erros ao longo do caminho para me sentir confortável em deixar minha própria pele.

Como você se sentiu um dia antes de começar a filmar ‘Os Fabelmans’?

Parecia que a corrida estava prestes a começar e você estava na linha de largada, com os pés coçando, em estado de prontidão.

Por que você ficou tão empolgada para habitar Mitzi?

Em primeiro lugar, é bom ser ela. Ela era cheia de música, então tinha uma vibração emocional percorrendo seu corpo o tempo todo. Penso na escala do piano: quão baixo e quão alto ela pode ir, é emocionante conter tudo isso em você mesma por um tempo. E é assim que ela aborda muitas coisas como: “Isso não vai ser divertido? Não vai ser uma lembrança excelente para a família?” Havia criatividade em todos os aspectos de sua vida, desde como ela brincava com as crianças até como se vestia e cortava o cabelo. Ela era artista até a ponta dos dedos.

Spielberg termina o filme logo após Mitzi trocar o marido por outro homem, mas o que você sabia sobre o resto da vida dela que a ajudou a interpretá-la?

Mais tarde na vida, ela e o pai de Steven tiveram uma reconexão e passaram seus últimos anos juntos. São histórias de amor sobrepostas, e é por isso que a história é de partir o coração, porque esse amor não desapareceu - mudou e se transformou em outra coisa. Ainda havia amor suficiente na relação para manter a família, mas, na vida pessoal, não era suficiente para fazê-la ficar. A coragem dessa decisão! E então nunca a achei egoísta nem desequilibrada. Penso que ela era uma mulher vivendo de forma muito verdadeira, muito expressiva e corajosa, dando esse presente a cada um de seus filhos, porque eles a viram fazer tudo isso.

Muitos especialistas achavam que era certeza que você ganharia o Oscar de atriz coadjuvante por esse papel, mas, em vez disso, você escolheu fazer campanha como protagonista numa corrida muito mais competitiva.

Acho que foi uma conversa que estava acontecendo fora do grupo principal que fez o filme, e realmente não sei por que houve essa disparidade. Embora eu não tenha visto o filme, as cenas que li, as cenas que preparei, as cenas que filmamos, as cenas que me disseram que ainda estão no filme, tudo isso parece com as experiências que tive em papéis considerados principais. Então, para mim, ou para qualquer pessoa envolvida no filme, acho que tínhamos um acordo tácito.

Você ainda não viu ‘Os Fabelmans’?

Não consigo assistir a meu próprio trabalho. Acho que a última coisa que vi foi O Atalho no cinema com minha filha, então já faz quase uma década.

Como assim?

Quando estou trabalhando em alguma coisa, eu me sinto completamente dentro daquilo. E quando passo para a plateia, minha experiência muda - e a experiência é, em última análise, o que estou procurando. Não consigo ir e voltar entre as duas maneiras de me envolver na narrativa, mas gostaria de ser forte o suficiente e capaz de me observar, descobrir o que gostaria de ajustar tecnicamente e depois usar da próxima vez. Tentei fazer isso, estou tendo um conflito interno. Estou mais feliz e talvez mais saudável ficando só na minha experiência pessoal de interpretar essas mulheres.

Isso dificultou o final das filmagens de ‘Os Fabelmans’, porque foi a última experiência que você teve com a personagem?

No último dia, sofri como se alguém tivesse morrido. Fiquei chocada com a tristeza de me despedir da mulher que habitei e das relações que tive com os outros personagens. Ainda sinto falta de ser ela e ter aquele espírito fluindo dentro de mim, então é bom lembrar dela e da urgência daquele período de filmagem. Quando você está fazendo algo, sente que o mundo inteiro é material disponível - tudo fica formigando, tudo é possível - então, quando a filmagem termina, você volta para a mesa do café da manhã. O que eu adoro, porque continuo com as crianças. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

“Você é muito organizada”, eu disse a Michelle Williams.

“Sou virginiana”, ela respondeu.

Numa tarde chuvosa do final de novembro, Williams estava à minha frente num café do Brooklyn, radiante com o tipo de prazer que você só sente quando planeja seu dia com perfeição. Enquanto conversávamos, seus três filhos estavam todos ocupados e cuidados: a filha adolescente, Matilda, estava na escola, o bebê, Hart, estava cochilando e o recém-nascido não precisaria ser alimentado pela próxima hora e meia.

Que todas essas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo era nada menos que um milagre maternal e, embora seu marido, o diretor Thomas Kail, estivesse fora da cidade, sua mãe tinha vindo a Nova York para ajudar com as crianças, liberando Williams para chegar ao café de olhos arregalados, como se tivesse acabado assaltar um banco.

“É um momento perfeitamente sem culpa, porque ninguém precisa de mim”, disse Williams, observando que não é fácil atender às demandas de uma turnê de divulgação durante a amamentação: “Estou na linha do tempo de outra pessoa, porque sou a comida”.

Ainda assim, ela está fazendo tudo o que pode para promover Os Fabelmans, um drama familiar semiautobiográfico de Steven Spielberg, onde a atriz de 42 anos interpreta Mitzi, personagem baseada na mãe do diretor. Embora seus sonhos de ser pianista tenham sido deixados de lado para criar a família, Mitzi trata a criação de filhos como um novo playground criativo: um dia, ela bota as crianças no carro para perseguir um tornado, no outro, compra um macaquinho para ser o animal de estimação da família.

A atriz Michelle Williams  Foto: Sinna Nasseri/The New York Times

As pessoas podem olhar para a personagem excêntrica e pensar que ela é meio exagerada, mas Mitzi olha para sua vida e sabe que não é o suficiente. Ela é casada com o zeloso e monótono Burt (Paul Dano), mas deseja seu melhor amigo (Seth Rogen), uma transgressão que Sammy, seu filho cineasta, só percebe quando coloca Mitzi na frente das lentes. Você sente que Spielberg também está usando Williams como receptáculo para entender melhor sua falecida mãe: o diretor poucas vezes pareceu tão fascinado com uma protagonista, filmando Williams com a mesma admiração que Sammy demonstra quando filma sua mãe no meio de um devaneio artístico.

Williams foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards por suas atuações eletrizantes. “Vinha trabalhando muito para me preparar para o momento em que encontrasse um papel como este”, disse ela. No Gotham Awards, onde ela ganhou um prêmio em novembro, Williams traçou uma linha desde seu trabalho na série adolescente Dawson’s Creek, que ela estrelou aos 16 anos, ao lado de James Van Der Beek e Katie Holmes.

“Ela parecia muito diferente das outras jovens, uma criatura peculiar mesmo naquela época”, disse a atriz Mary Beth Peil, que interpretou a avó de Williams na novela. “Sua sinceridade era quase dolorosa. É uma das principais coisas que aprendi com ela, que a câmera consegue ver a sinceridade. É algo que está na raiz de cada respiração que ela dá”.

Com indicações ao Oscar por Brokeback Mountain, Blue Valentine e Manchester à Beira-Mar e com os filmes naturalistas que ela fez com a diretora Kelly Reichardt (Showing Up, sua próxima colaboração, sai neste ano), Williams se estabeleceu como uma atriz de primeira linha, capaz de expressar autenticidade sem verniz. Mas ela está ansiosa para experimentar um registro mais elevado, como fez em 2011 interpretando Marilyn Monroe em Sete Dias com Marilyn e, em 2019, com seu papel vencedor do Emmy: a dançarina Gwen Verdon na série Fosse/Verdon, da FX.

Por e-mail, Spielberg, que escreveu Os Fabelmans com Tony Kushner, disse: “Ela tem uma energia secreta que brotou quando interpretou Gwen Verdon. Foi um longo caminho até ela ser minha primeira escolha para interpretar Mitzi”.

Cena do filme Os Fabelmans, de Steven Spielberg, com Michelle Williams e Paul Dano Foto: Storyteller Distribution

Ouvir Williams contar tudo isso, essa mudança para atuações maiores e mais estilizadas exigiu um esforço concentrado: pessoalmente, ela é muito mais contida, com uma presença tão discreta quando seu corte de cabelo preferido. “É bom viver assim por um tempo, porque não é meu lugar natural”, disse Williams, sorrindo ao lembrar o que ela teve de fazer para habitar Mitzi Fabelman. “É a coisa mais maravilhosa para se tomar emprestado”.

Aqui vão trechos editados de nossa conversa.

Muitas vezes, quando você assiste a esses filmes autobiográficos sobre o amadurecimento de jovens, as mães recebem pouca atenção. Mas em ‘Os Fabelmans’, a dinâmica mãe-filho parece ser o centro da história.

Não acreditei quando comecei a virar as páginas do roteiro. Meu marido estava na sala comigo e eu dizia: “Está ficando bom”. Muitas vezes, quando você tem um roteiro em mãos, lê uma cena ótima e pensa: “Oh, isso vai ser espetacular”. E eram páginas e páginas disso, dessa vivacidade deslumbrante. Quando terminei, disse ao meu marido: “É um banquete. Fizeram um banquete para ela”.

Levei muito tempo para entender o material porque as palavras e as ideias são puro Kushner, pelas lentes de Steven Spielberg. Então é fílmico e é teatral, que é algo que realmente me interessa e no qual tenho me concentrado propositalmente desde que comecei a fazer teatro de novo. Eu me preparo muito antes dos filmes, e havia muito para assimilar. Era mais como fazer uma minissérie, porque o material era muito rico.

Qual foi o maior desafio de interpretar uma grande personagem como Mitzi?

Na primeira parte da carreira, eu fazia sitcoms, comerciais de TV e séries, aí comecei a ver esse outro estilo chamado naturalismo. Eu queria isso para mim, mas tive de aprender o que era e como habitá-lo, e quando senti que tinha chegado àquele lugar ao qual ansiava pertencer - como Kelly Reichardt e todos os filmes independentes que fiz até os trinta anos - o próximo lugar que eu queria ir era algo mais expressionista. Parecia um desafio muito maior.

Sentia que a jornada nos meus vinte anos era encontrar uma maneira autêntica de me centrar para que me sentisse natural dentro da minha própria pele e pudesse oferecer isso às mulheres que eu estava interpretando, mas queria me livrar completamente dessa pele e conseguir encontrar maneiras inteiramente novas de me relacionar com personagens que nem sempre me moviam. Isso exigia me quebrar e depois me reconstruir à imagem de outra pessoa e fazer escolhas maiores.

O que você acha que a atraiu para essas personagens mais estilizadas?

Acho que uma das coisas que percebi sobre o naturalismo - e ainda é um lugar onde habito, acabei de fazer meu quarto filme com Kelly Reichardt - é que também queria fazer um trabalho que deixasse uma marca e não fosse aberto à projeção. Queria fazer um trabalho com o qual o público tivesse de lidar, onde houvesse menos interpretação da parte deles, porque a interpretação era por minha conta. Sinto que Mitzi pertence a esse lugar, que Gwen e Marilyn pertencem a esse lugar, e o trabalho que fiz no teatro pertence a esse lugar. Mas foi preciso muito aprendizado e muitos erros ao longo do caminho para me sentir confortável em deixar minha própria pele.

Como você se sentiu um dia antes de começar a filmar ‘Os Fabelmans’?

Parecia que a corrida estava prestes a começar e você estava na linha de largada, com os pés coçando, em estado de prontidão.

Por que você ficou tão empolgada para habitar Mitzi?

Em primeiro lugar, é bom ser ela. Ela era cheia de música, então tinha uma vibração emocional percorrendo seu corpo o tempo todo. Penso na escala do piano: quão baixo e quão alto ela pode ir, é emocionante conter tudo isso em você mesma por um tempo. E é assim que ela aborda muitas coisas como: “Isso não vai ser divertido? Não vai ser uma lembrança excelente para a família?” Havia criatividade em todos os aspectos de sua vida, desde como ela brincava com as crianças até como se vestia e cortava o cabelo. Ela era artista até a ponta dos dedos.

Spielberg termina o filme logo após Mitzi trocar o marido por outro homem, mas o que você sabia sobre o resto da vida dela que a ajudou a interpretá-la?

Mais tarde na vida, ela e o pai de Steven tiveram uma reconexão e passaram seus últimos anos juntos. São histórias de amor sobrepostas, e é por isso que a história é de partir o coração, porque esse amor não desapareceu - mudou e se transformou em outra coisa. Ainda havia amor suficiente na relação para manter a família, mas, na vida pessoal, não era suficiente para fazê-la ficar. A coragem dessa decisão! E então nunca a achei egoísta nem desequilibrada. Penso que ela era uma mulher vivendo de forma muito verdadeira, muito expressiva e corajosa, dando esse presente a cada um de seus filhos, porque eles a viram fazer tudo isso.

Muitos especialistas achavam que era certeza que você ganharia o Oscar de atriz coadjuvante por esse papel, mas, em vez disso, você escolheu fazer campanha como protagonista numa corrida muito mais competitiva.

Acho que foi uma conversa que estava acontecendo fora do grupo principal que fez o filme, e realmente não sei por que houve essa disparidade. Embora eu não tenha visto o filme, as cenas que li, as cenas que preparei, as cenas que filmamos, as cenas que me disseram que ainda estão no filme, tudo isso parece com as experiências que tive em papéis considerados principais. Então, para mim, ou para qualquer pessoa envolvida no filme, acho que tínhamos um acordo tácito.

Você ainda não viu ‘Os Fabelmans’?

Não consigo assistir a meu próprio trabalho. Acho que a última coisa que vi foi O Atalho no cinema com minha filha, então já faz quase uma década.

Como assim?

Quando estou trabalhando em alguma coisa, eu me sinto completamente dentro daquilo. E quando passo para a plateia, minha experiência muda - e a experiência é, em última análise, o que estou procurando. Não consigo ir e voltar entre as duas maneiras de me envolver na narrativa, mas gostaria de ser forte o suficiente e capaz de me observar, descobrir o que gostaria de ajustar tecnicamente e depois usar da próxima vez. Tentei fazer isso, estou tendo um conflito interno. Estou mais feliz e talvez mais saudável ficando só na minha experiência pessoal de interpretar essas mulheres.

Isso dificultou o final das filmagens de ‘Os Fabelmans’, porque foi a última experiência que você teve com a personagem?

No último dia, sofri como se alguém tivesse morrido. Fiquei chocada com a tristeza de me despedir da mulher que habitei e das relações que tive com os outros personagens. Ainda sinto falta de ser ela e ter aquele espírito fluindo dentro de mim, então é bom lembrar dela e da urgência daquele período de filmagem. Quando você está fazendo algo, sente que o mundo inteiro é material disponível - tudo fica formigando, tudo é possível - então, quando a filmagem termina, você volta para a mesa do café da manhã. O que eu adoro, porque continuo com as crianças. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

“Você é muito organizada”, eu disse a Michelle Williams.

“Sou virginiana”, ela respondeu.

Numa tarde chuvosa do final de novembro, Williams estava à minha frente num café do Brooklyn, radiante com o tipo de prazer que você só sente quando planeja seu dia com perfeição. Enquanto conversávamos, seus três filhos estavam todos ocupados e cuidados: a filha adolescente, Matilda, estava na escola, o bebê, Hart, estava cochilando e o recém-nascido não precisaria ser alimentado pela próxima hora e meia.

Que todas essas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo era nada menos que um milagre maternal e, embora seu marido, o diretor Thomas Kail, estivesse fora da cidade, sua mãe tinha vindo a Nova York para ajudar com as crianças, liberando Williams para chegar ao café de olhos arregalados, como se tivesse acabado assaltar um banco.

“É um momento perfeitamente sem culpa, porque ninguém precisa de mim”, disse Williams, observando que não é fácil atender às demandas de uma turnê de divulgação durante a amamentação: “Estou na linha do tempo de outra pessoa, porque sou a comida”.

Ainda assim, ela está fazendo tudo o que pode para promover Os Fabelmans, um drama familiar semiautobiográfico de Steven Spielberg, onde a atriz de 42 anos interpreta Mitzi, personagem baseada na mãe do diretor. Embora seus sonhos de ser pianista tenham sido deixados de lado para criar a família, Mitzi trata a criação de filhos como um novo playground criativo: um dia, ela bota as crianças no carro para perseguir um tornado, no outro, compra um macaquinho para ser o animal de estimação da família.

A atriz Michelle Williams  Foto: Sinna Nasseri/The New York Times

As pessoas podem olhar para a personagem excêntrica e pensar que ela é meio exagerada, mas Mitzi olha para sua vida e sabe que não é o suficiente. Ela é casada com o zeloso e monótono Burt (Paul Dano), mas deseja seu melhor amigo (Seth Rogen), uma transgressão que Sammy, seu filho cineasta, só percebe quando coloca Mitzi na frente das lentes. Você sente que Spielberg também está usando Williams como receptáculo para entender melhor sua falecida mãe: o diretor poucas vezes pareceu tão fascinado com uma protagonista, filmando Williams com a mesma admiração que Sammy demonstra quando filma sua mãe no meio de um devaneio artístico.

Williams foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards por suas atuações eletrizantes. “Vinha trabalhando muito para me preparar para o momento em que encontrasse um papel como este”, disse ela. No Gotham Awards, onde ela ganhou um prêmio em novembro, Williams traçou uma linha desde seu trabalho na série adolescente Dawson’s Creek, que ela estrelou aos 16 anos, ao lado de James Van Der Beek e Katie Holmes.

“Ela parecia muito diferente das outras jovens, uma criatura peculiar mesmo naquela época”, disse a atriz Mary Beth Peil, que interpretou a avó de Williams na novela. “Sua sinceridade era quase dolorosa. É uma das principais coisas que aprendi com ela, que a câmera consegue ver a sinceridade. É algo que está na raiz de cada respiração que ela dá”.

Com indicações ao Oscar por Brokeback Mountain, Blue Valentine e Manchester à Beira-Mar e com os filmes naturalistas que ela fez com a diretora Kelly Reichardt (Showing Up, sua próxima colaboração, sai neste ano), Williams se estabeleceu como uma atriz de primeira linha, capaz de expressar autenticidade sem verniz. Mas ela está ansiosa para experimentar um registro mais elevado, como fez em 2011 interpretando Marilyn Monroe em Sete Dias com Marilyn e, em 2019, com seu papel vencedor do Emmy: a dançarina Gwen Verdon na série Fosse/Verdon, da FX.

Por e-mail, Spielberg, que escreveu Os Fabelmans com Tony Kushner, disse: “Ela tem uma energia secreta que brotou quando interpretou Gwen Verdon. Foi um longo caminho até ela ser minha primeira escolha para interpretar Mitzi”.

Cena do filme Os Fabelmans, de Steven Spielberg, com Michelle Williams e Paul Dano Foto: Storyteller Distribution

Ouvir Williams contar tudo isso, essa mudança para atuações maiores e mais estilizadas exigiu um esforço concentrado: pessoalmente, ela é muito mais contida, com uma presença tão discreta quando seu corte de cabelo preferido. “É bom viver assim por um tempo, porque não é meu lugar natural”, disse Williams, sorrindo ao lembrar o que ela teve de fazer para habitar Mitzi Fabelman. “É a coisa mais maravilhosa para se tomar emprestado”.

Aqui vão trechos editados de nossa conversa.

Muitas vezes, quando você assiste a esses filmes autobiográficos sobre o amadurecimento de jovens, as mães recebem pouca atenção. Mas em ‘Os Fabelmans’, a dinâmica mãe-filho parece ser o centro da história.

Não acreditei quando comecei a virar as páginas do roteiro. Meu marido estava na sala comigo e eu dizia: “Está ficando bom”. Muitas vezes, quando você tem um roteiro em mãos, lê uma cena ótima e pensa: “Oh, isso vai ser espetacular”. E eram páginas e páginas disso, dessa vivacidade deslumbrante. Quando terminei, disse ao meu marido: “É um banquete. Fizeram um banquete para ela”.

Levei muito tempo para entender o material porque as palavras e as ideias são puro Kushner, pelas lentes de Steven Spielberg. Então é fílmico e é teatral, que é algo que realmente me interessa e no qual tenho me concentrado propositalmente desde que comecei a fazer teatro de novo. Eu me preparo muito antes dos filmes, e havia muito para assimilar. Era mais como fazer uma minissérie, porque o material era muito rico.

Qual foi o maior desafio de interpretar uma grande personagem como Mitzi?

Na primeira parte da carreira, eu fazia sitcoms, comerciais de TV e séries, aí comecei a ver esse outro estilo chamado naturalismo. Eu queria isso para mim, mas tive de aprender o que era e como habitá-lo, e quando senti que tinha chegado àquele lugar ao qual ansiava pertencer - como Kelly Reichardt e todos os filmes independentes que fiz até os trinta anos - o próximo lugar que eu queria ir era algo mais expressionista. Parecia um desafio muito maior.

Sentia que a jornada nos meus vinte anos era encontrar uma maneira autêntica de me centrar para que me sentisse natural dentro da minha própria pele e pudesse oferecer isso às mulheres que eu estava interpretando, mas queria me livrar completamente dessa pele e conseguir encontrar maneiras inteiramente novas de me relacionar com personagens que nem sempre me moviam. Isso exigia me quebrar e depois me reconstruir à imagem de outra pessoa e fazer escolhas maiores.

O que você acha que a atraiu para essas personagens mais estilizadas?

Acho que uma das coisas que percebi sobre o naturalismo - e ainda é um lugar onde habito, acabei de fazer meu quarto filme com Kelly Reichardt - é que também queria fazer um trabalho que deixasse uma marca e não fosse aberto à projeção. Queria fazer um trabalho com o qual o público tivesse de lidar, onde houvesse menos interpretação da parte deles, porque a interpretação era por minha conta. Sinto que Mitzi pertence a esse lugar, que Gwen e Marilyn pertencem a esse lugar, e o trabalho que fiz no teatro pertence a esse lugar. Mas foi preciso muito aprendizado e muitos erros ao longo do caminho para me sentir confortável em deixar minha própria pele.

Como você se sentiu um dia antes de começar a filmar ‘Os Fabelmans’?

Parecia que a corrida estava prestes a começar e você estava na linha de largada, com os pés coçando, em estado de prontidão.

Por que você ficou tão empolgada para habitar Mitzi?

Em primeiro lugar, é bom ser ela. Ela era cheia de música, então tinha uma vibração emocional percorrendo seu corpo o tempo todo. Penso na escala do piano: quão baixo e quão alto ela pode ir, é emocionante conter tudo isso em você mesma por um tempo. E é assim que ela aborda muitas coisas como: “Isso não vai ser divertido? Não vai ser uma lembrança excelente para a família?” Havia criatividade em todos os aspectos de sua vida, desde como ela brincava com as crianças até como se vestia e cortava o cabelo. Ela era artista até a ponta dos dedos.

Spielberg termina o filme logo após Mitzi trocar o marido por outro homem, mas o que você sabia sobre o resto da vida dela que a ajudou a interpretá-la?

Mais tarde na vida, ela e o pai de Steven tiveram uma reconexão e passaram seus últimos anos juntos. São histórias de amor sobrepostas, e é por isso que a história é de partir o coração, porque esse amor não desapareceu - mudou e se transformou em outra coisa. Ainda havia amor suficiente na relação para manter a família, mas, na vida pessoal, não era suficiente para fazê-la ficar. A coragem dessa decisão! E então nunca a achei egoísta nem desequilibrada. Penso que ela era uma mulher vivendo de forma muito verdadeira, muito expressiva e corajosa, dando esse presente a cada um de seus filhos, porque eles a viram fazer tudo isso.

Muitos especialistas achavam que era certeza que você ganharia o Oscar de atriz coadjuvante por esse papel, mas, em vez disso, você escolheu fazer campanha como protagonista numa corrida muito mais competitiva.

Acho que foi uma conversa que estava acontecendo fora do grupo principal que fez o filme, e realmente não sei por que houve essa disparidade. Embora eu não tenha visto o filme, as cenas que li, as cenas que preparei, as cenas que filmamos, as cenas que me disseram que ainda estão no filme, tudo isso parece com as experiências que tive em papéis considerados principais. Então, para mim, ou para qualquer pessoa envolvida no filme, acho que tínhamos um acordo tácito.

Você ainda não viu ‘Os Fabelmans’?

Não consigo assistir a meu próprio trabalho. Acho que a última coisa que vi foi O Atalho no cinema com minha filha, então já faz quase uma década.

Como assim?

Quando estou trabalhando em alguma coisa, eu me sinto completamente dentro daquilo. E quando passo para a plateia, minha experiência muda - e a experiência é, em última análise, o que estou procurando. Não consigo ir e voltar entre as duas maneiras de me envolver na narrativa, mas gostaria de ser forte o suficiente e capaz de me observar, descobrir o que gostaria de ajustar tecnicamente e depois usar da próxima vez. Tentei fazer isso, estou tendo um conflito interno. Estou mais feliz e talvez mais saudável ficando só na minha experiência pessoal de interpretar essas mulheres.

Isso dificultou o final das filmagens de ‘Os Fabelmans’, porque foi a última experiência que você teve com a personagem?

No último dia, sofri como se alguém tivesse morrido. Fiquei chocada com a tristeza de me despedir da mulher que habitei e das relações que tive com os outros personagens. Ainda sinto falta de ser ela e ter aquele espírito fluindo dentro de mim, então é bom lembrar dela e da urgência daquele período de filmagem. Quando você está fazendo algo, sente que o mundo inteiro é material disponível - tudo fica formigando, tudo é possível - então, quando a filmagem termina, você volta para a mesa do café da manhã. O que eu adoro, porque continuo com as crianças. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

“Você é muito organizada”, eu disse a Michelle Williams.

“Sou virginiana”, ela respondeu.

Numa tarde chuvosa do final de novembro, Williams estava à minha frente num café do Brooklyn, radiante com o tipo de prazer que você só sente quando planeja seu dia com perfeição. Enquanto conversávamos, seus três filhos estavam todos ocupados e cuidados: a filha adolescente, Matilda, estava na escola, o bebê, Hart, estava cochilando e o recém-nascido não precisaria ser alimentado pela próxima hora e meia.

Que todas essas coisas estivessem acontecendo ao mesmo tempo era nada menos que um milagre maternal e, embora seu marido, o diretor Thomas Kail, estivesse fora da cidade, sua mãe tinha vindo a Nova York para ajudar com as crianças, liberando Williams para chegar ao café de olhos arregalados, como se tivesse acabado assaltar um banco.

“É um momento perfeitamente sem culpa, porque ninguém precisa de mim”, disse Williams, observando que não é fácil atender às demandas de uma turnê de divulgação durante a amamentação: “Estou na linha do tempo de outra pessoa, porque sou a comida”.

Ainda assim, ela está fazendo tudo o que pode para promover Os Fabelmans, um drama familiar semiautobiográfico de Steven Spielberg, onde a atriz de 42 anos interpreta Mitzi, personagem baseada na mãe do diretor. Embora seus sonhos de ser pianista tenham sido deixados de lado para criar a família, Mitzi trata a criação de filhos como um novo playground criativo: um dia, ela bota as crianças no carro para perseguir um tornado, no outro, compra um macaquinho para ser o animal de estimação da família.

A atriz Michelle Williams  Foto: Sinna Nasseri/The New York Times

As pessoas podem olhar para a personagem excêntrica e pensar que ela é meio exagerada, mas Mitzi olha para sua vida e sabe que não é o suficiente. Ela é casada com o zeloso e monótono Burt (Paul Dano), mas deseja seu melhor amigo (Seth Rogen), uma transgressão que Sammy, seu filho cineasta, só percebe quando coloca Mitzi na frente das lentes. Você sente que Spielberg também está usando Williams como receptáculo para entender melhor sua falecida mãe: o diretor poucas vezes pareceu tão fascinado com uma protagonista, filmando Williams com a mesma admiração que Sammy demonstra quando filma sua mãe no meio de um devaneio artístico.

Williams foi indicada ao Globo de Ouro e ao Critics Choice Awards por suas atuações eletrizantes. “Vinha trabalhando muito para me preparar para o momento em que encontrasse um papel como este”, disse ela. No Gotham Awards, onde ela ganhou um prêmio em novembro, Williams traçou uma linha desde seu trabalho na série adolescente Dawson’s Creek, que ela estrelou aos 16 anos, ao lado de James Van Der Beek e Katie Holmes.

“Ela parecia muito diferente das outras jovens, uma criatura peculiar mesmo naquela época”, disse a atriz Mary Beth Peil, que interpretou a avó de Williams na novela. “Sua sinceridade era quase dolorosa. É uma das principais coisas que aprendi com ela, que a câmera consegue ver a sinceridade. É algo que está na raiz de cada respiração que ela dá”.

Com indicações ao Oscar por Brokeback Mountain, Blue Valentine e Manchester à Beira-Mar e com os filmes naturalistas que ela fez com a diretora Kelly Reichardt (Showing Up, sua próxima colaboração, sai neste ano), Williams se estabeleceu como uma atriz de primeira linha, capaz de expressar autenticidade sem verniz. Mas ela está ansiosa para experimentar um registro mais elevado, como fez em 2011 interpretando Marilyn Monroe em Sete Dias com Marilyn e, em 2019, com seu papel vencedor do Emmy: a dançarina Gwen Verdon na série Fosse/Verdon, da FX.

Por e-mail, Spielberg, que escreveu Os Fabelmans com Tony Kushner, disse: “Ela tem uma energia secreta que brotou quando interpretou Gwen Verdon. Foi um longo caminho até ela ser minha primeira escolha para interpretar Mitzi”.

Cena do filme Os Fabelmans, de Steven Spielberg, com Michelle Williams e Paul Dano Foto: Storyteller Distribution

Ouvir Williams contar tudo isso, essa mudança para atuações maiores e mais estilizadas exigiu um esforço concentrado: pessoalmente, ela é muito mais contida, com uma presença tão discreta quando seu corte de cabelo preferido. “É bom viver assim por um tempo, porque não é meu lugar natural”, disse Williams, sorrindo ao lembrar o que ela teve de fazer para habitar Mitzi Fabelman. “É a coisa mais maravilhosa para se tomar emprestado”.

Aqui vão trechos editados de nossa conversa.

Muitas vezes, quando você assiste a esses filmes autobiográficos sobre o amadurecimento de jovens, as mães recebem pouca atenção. Mas em ‘Os Fabelmans’, a dinâmica mãe-filho parece ser o centro da história.

Não acreditei quando comecei a virar as páginas do roteiro. Meu marido estava na sala comigo e eu dizia: “Está ficando bom”. Muitas vezes, quando você tem um roteiro em mãos, lê uma cena ótima e pensa: “Oh, isso vai ser espetacular”. E eram páginas e páginas disso, dessa vivacidade deslumbrante. Quando terminei, disse ao meu marido: “É um banquete. Fizeram um banquete para ela”.

Levei muito tempo para entender o material porque as palavras e as ideias são puro Kushner, pelas lentes de Steven Spielberg. Então é fílmico e é teatral, que é algo que realmente me interessa e no qual tenho me concentrado propositalmente desde que comecei a fazer teatro de novo. Eu me preparo muito antes dos filmes, e havia muito para assimilar. Era mais como fazer uma minissérie, porque o material era muito rico.

Qual foi o maior desafio de interpretar uma grande personagem como Mitzi?

Na primeira parte da carreira, eu fazia sitcoms, comerciais de TV e séries, aí comecei a ver esse outro estilo chamado naturalismo. Eu queria isso para mim, mas tive de aprender o que era e como habitá-lo, e quando senti que tinha chegado àquele lugar ao qual ansiava pertencer - como Kelly Reichardt e todos os filmes independentes que fiz até os trinta anos - o próximo lugar que eu queria ir era algo mais expressionista. Parecia um desafio muito maior.

Sentia que a jornada nos meus vinte anos era encontrar uma maneira autêntica de me centrar para que me sentisse natural dentro da minha própria pele e pudesse oferecer isso às mulheres que eu estava interpretando, mas queria me livrar completamente dessa pele e conseguir encontrar maneiras inteiramente novas de me relacionar com personagens que nem sempre me moviam. Isso exigia me quebrar e depois me reconstruir à imagem de outra pessoa e fazer escolhas maiores.

O que você acha que a atraiu para essas personagens mais estilizadas?

Acho que uma das coisas que percebi sobre o naturalismo - e ainda é um lugar onde habito, acabei de fazer meu quarto filme com Kelly Reichardt - é que também queria fazer um trabalho que deixasse uma marca e não fosse aberto à projeção. Queria fazer um trabalho com o qual o público tivesse de lidar, onde houvesse menos interpretação da parte deles, porque a interpretação era por minha conta. Sinto que Mitzi pertence a esse lugar, que Gwen e Marilyn pertencem a esse lugar, e o trabalho que fiz no teatro pertence a esse lugar. Mas foi preciso muito aprendizado e muitos erros ao longo do caminho para me sentir confortável em deixar minha própria pele.

Como você se sentiu um dia antes de começar a filmar ‘Os Fabelmans’?

Parecia que a corrida estava prestes a começar e você estava na linha de largada, com os pés coçando, em estado de prontidão.

Por que você ficou tão empolgada para habitar Mitzi?

Em primeiro lugar, é bom ser ela. Ela era cheia de música, então tinha uma vibração emocional percorrendo seu corpo o tempo todo. Penso na escala do piano: quão baixo e quão alto ela pode ir, é emocionante conter tudo isso em você mesma por um tempo. E é assim que ela aborda muitas coisas como: “Isso não vai ser divertido? Não vai ser uma lembrança excelente para a família?” Havia criatividade em todos os aspectos de sua vida, desde como ela brincava com as crianças até como se vestia e cortava o cabelo. Ela era artista até a ponta dos dedos.

Spielberg termina o filme logo após Mitzi trocar o marido por outro homem, mas o que você sabia sobre o resto da vida dela que a ajudou a interpretá-la?

Mais tarde na vida, ela e o pai de Steven tiveram uma reconexão e passaram seus últimos anos juntos. São histórias de amor sobrepostas, e é por isso que a história é de partir o coração, porque esse amor não desapareceu - mudou e se transformou em outra coisa. Ainda havia amor suficiente na relação para manter a família, mas, na vida pessoal, não era suficiente para fazê-la ficar. A coragem dessa decisão! E então nunca a achei egoísta nem desequilibrada. Penso que ela era uma mulher vivendo de forma muito verdadeira, muito expressiva e corajosa, dando esse presente a cada um de seus filhos, porque eles a viram fazer tudo isso.

Muitos especialistas achavam que era certeza que você ganharia o Oscar de atriz coadjuvante por esse papel, mas, em vez disso, você escolheu fazer campanha como protagonista numa corrida muito mais competitiva.

Acho que foi uma conversa que estava acontecendo fora do grupo principal que fez o filme, e realmente não sei por que houve essa disparidade. Embora eu não tenha visto o filme, as cenas que li, as cenas que preparei, as cenas que filmamos, as cenas que me disseram que ainda estão no filme, tudo isso parece com as experiências que tive em papéis considerados principais. Então, para mim, ou para qualquer pessoa envolvida no filme, acho que tínhamos um acordo tácito.

Você ainda não viu ‘Os Fabelmans’?

Não consigo assistir a meu próprio trabalho. Acho que a última coisa que vi foi O Atalho no cinema com minha filha, então já faz quase uma década.

Como assim?

Quando estou trabalhando em alguma coisa, eu me sinto completamente dentro daquilo. E quando passo para a plateia, minha experiência muda - e a experiência é, em última análise, o que estou procurando. Não consigo ir e voltar entre as duas maneiras de me envolver na narrativa, mas gostaria de ser forte o suficiente e capaz de me observar, descobrir o que gostaria de ajustar tecnicamente e depois usar da próxima vez. Tentei fazer isso, estou tendo um conflito interno. Estou mais feliz e talvez mais saudável ficando só na minha experiência pessoal de interpretar essas mulheres.

Isso dificultou o final das filmagens de ‘Os Fabelmans’, porque foi a última experiência que você teve com a personagem?

No último dia, sofri como se alguém tivesse morrido. Fiquei chocada com a tristeza de me despedir da mulher que habitei e das relações que tive com os outros personagens. Ainda sinto falta de ser ela e ter aquele espírito fluindo dentro de mim, então é bom lembrar dela e da urgência daquele período de filmagem. Quando você está fazendo algo, sente que o mundo inteiro é material disponível - tudo fica formigando, tudo é possível - então, quando a filmagem termina, você volta para a mesa do café da manhã. O que eu adoro, porque continuo com as crianças. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU

Entrevista por Kyle Buchanan

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