Sem os instrumentos da Lei Rouanet e do ProAC, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo chega à 46.ª edição em 2022 sem patrocinadores que foram decisivos nos últimos anos. Renata Almeida chegou a abrir subscrição em busca de patronos, e eles compareceram. Muitas despesas foram cortadas para adequar o orçamento, mas essa é uma conversa de bastidores que talvez não interesse a todo mundo.
Para o cinéfilo, o que importa é que teremos Mostra, e ela se antecipa tão compacta quanto forte. Salvo algum acréscimo de última hora, na coletiva realizada neste sábado, 8, Renata liberou os títulos. Serão 223 filmes, dos quais 73 brasileiros. Os restantes 130 serão estrangeiros. A Mostra deve ocorrer de 20 de outubro a 2 de novembro e o cartaz da vez é do artista Eduardo Kobra.
“Tivemos de abrir mão de sessões que já faziam parte do calendário da Mostra, como aquela do Ibirapuera, com acompanhamento de música ao vivo para um clássico. Nossa abertura e o encerramento serão na Cinemateca, com sessões ao ar livre que poderão ser transferidas para as salas internas, dependendo das condições climáticas”, diz Renata.
Presencial
Com exceção de alguns programas nas plataformas da Spcine e do Sesc Digital, a Mostra volta ser predominantemente presencial. “No pós-pandemia – e nem se pode dizer que ela esteja totalmente erradicada –, ainda estamos vivendo um impasse. O público massivo migrou para outras telas e plataformas. Nossa expectativa é trazermos o público de volta aos 10 cinemas que vão exibir a programação.”
O Triângulo da Tristeza, de Ruben Östlund, vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes, abre a Mostra na quarta-feira, dia 19, na Cinemateca Brasileira, para convidados. Outras sessões do filme serão programadas no evento. E o cinéfilo já pode ir sonhando com a série do italiano Marco Bellocchio, que prossegue com a revisão da história de seu país em Esterno Notte.
Para quem viu Buongiorno Notte, de 2003, o novo Bellocchio talvez tenha algo de repetição, pois ele volta ao tema do sequestro do ex-primeiro-ministro Aldo Moro. Que ninguém se iluda com essa hipotética repetição. Bellocchio arma agora um circuito muitíssimo maior, revisando o sequestro de múltiplos ângulos – Moro, sua família, o Conselho de Ministros, os brigadistas vermelhos, a polícia, o papa. Com a liberdade que a ficção permite, ele começa e termina o filme com monólogos do próprio Moro.
Jonas Cakoff participou ativamente da seleção com Renata Almeida – sua mãe – e talvez seja dele a escolha de um dos filmes mais secretos vistos em Cannes este ano. De Albert Serra, crítica e público podem sempre esperar algo raro, inusitado. Ele poderá confundir, surpreender, maravilhar, mas nunca desapontar, com Tourment Sur les Isles, seu relato, nada convencional, que coloca Benoit Magimel – o ‘touro’ de Amantes, de Nadine Garcia – na pele do alto comissário, seja lá o que isso signifique, num Taiti que evoca relatos fantasmagóricos de Joseph Conrad e Somerset Maugham. Em Cannes, na saída do filme de Serra, os olhos de Jonas brilhavam de encantamento. É o que Oswald de Andrade chamaria de biscoito fino, para o deleite de poucos. A Mostra traz a São Paulo uma das pérolas de Cannes Classics – ‘a’ pérola no festival deste ano. La Mamain et la Putain continua novo e radical. O longa de Jean Eustache recebeu o grande prêmio especial do júri presidido pela atriz Ingrid Bergman. Tem gente que até hoje não se conforma por ele não ter recebido a Palma de Ouro.
Nacionais
Em matéria de escândalo, o Brasil não fica atrás, com A Rainha Diaba, de Antônio Carlos Fontoura. O filme de 1971, com Milton Gonçalves como a travesti preta que domina o submundo, estabeleceu vários paradigmas na produção da época. O menor deles não terá sido escancarar na tela uma cena de tortura que metaforizava o que então ocorria nos porões da ditadura.
A Mostra também homenageia Ana Carolina, outorgando-lhe o Prêmio Humanidades de 2022. Num Brasil em que a cultura foi demonizada e vilipendiada, o prêmio para Ana não reconhece apenas a força das mulheres na cinematografia: ele reverencia a analista que se dedicou a psicanalisar o País desde seu admirável Trabalhadores do Brasil, sobre Getúlio Vargas.
Sobre o não uso do ProAC pela Mostra, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo enviou a seguinte nota:
“Houve inscrição no ProAC ICMS e foi aprovado o projeto da Mostra. O Governo do Estado de São Paulo apoia a realização da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo por dois meios: ProAC ICMS e patrocínio da Sabesp via Lei Rouanet. O projeto da edição 2022 da Mostra foi aprovado pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa para captação por meio do ProAC ICMS, mas não houve captação junto a empresas pagadoras de ICMS. Por outro lado, não foi possível efetivar o patrocínio da Sabesp, a despeito da avaliação favorável da Secretaria e da Sabesp, pois não há projeto aprovado na Lei Rouanet e o evento acontece durante a vigência da Lei Eleitoral, o que infelizmente impede o patrocínio direto, sem incentivo fiscal”.
Destaques da 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
Triângulo da Tristeza
O filme que ganhou a Palma de Ouro no Festival de Cannes deste ano
Bardo
Filme da Netflix, dirigido pelo mexicano Alejandro González Iñárritu
Sem Ursos
Ganhador do Prêmio Especial do Júri de Veneza deste ano, o iraniano Jafar Panahi não pôde recebe por estar preso em seu país
Alcarrás
O segundo longa de Carla Simón levou o Urso de Ouro, em Berlim
Com Amor e Fúria
Mais recente de Claire Denis, também premiado em Berlim
Regra 34
Filme que deu a Julia Murat o Leopardo de Ouro, no Festival de Locarno
Serviço - Mostra Internacional de Cinema de São Paulo 2022
Circuito Pago
CINEMATECA BRASILEIRA Sala Grande Otelo, Sala Oscarito e Área Externa
CINE MARQUISE Sala Globoplay 1 e Sala Globoplay 2
RESERVA CULTURAL Sala 1
CINESESC
INSTITUTO MOREIRA SALLES
CINECLUBE CORTINA
CINE SATYROS BIJOU
MIS - MUSEU DA IMAGEM E DO SOM
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – AUGUSTA 1
ESPAÇO ITAÚ DE CINEMA – FREI CANECA Sala 1 e Sala 2
Circuito com valores populares
BIBLIOTECA ROBERTO SANTOS
CCSP – Centro Cultural São Paulo | Sala Lima Barreto
CCSP – Centro Cultural São Paulo | Sala Paulo Emílio
Circuito Gratuito
Vão Livre Do Masp
CEU Perus
CEU Meninos
CEU Vila Atlântica
CENTRO DE FORMAÇÃO CULTURAL TIRADENTES
PERMANENTES E PACOTES DE INGRESSOS
:: A partir do dia 15 de outubro, sábado, inicia a venda das permanentes e pacotes pelo app do evento (disponível para download a partir do dia 14, sexta-feira) e pelo site da Velox ::
:: a troca de ingresso ocorre pelo app, 4 dias antes de cada sessão, com acesso prioritário entre 09h e 10h::
*Permanente Integral (todos os dias e qualquer horário): R$ 600,00
*Permanente Especial (para sessões de 2ª a 6ª feira até às 17:55h, inclusive - não contempla finais de semana nem sessões noturnas): R$ 150,00
*Permanente Integral Folha (15% de desconto para o titular da assinatura para todos os dias e qualquer horário): R$ 510,00
*Permanente Especial Folha (15% de desconto para o titular da assinatura para sessões de 2ª a 6ª feira até às 17:55h, inclusive, não contempla finais de semana nem sessões noturnas): R$ 127,50
*Pacote de 40 ingressos: R$ 410,00
*Pacote de 20 ingressos: R$ 250,00
INGRESSOS AVULSOS
:: Disponível para compra 4 dias antes de cada sessão pelo app do evento e pelo site da Velox. No dia da sessão, uma pequena cota estará disponível para compra diretamente na bilheteria do cinema ::
*Segundas, terças, quartas e quintas: R$ 24,00 (inteira) | R$ 12,00 (meia).
*Sextas, sábados e domingos: R$ 30,00 (inteira) | R$ 15,00 (meia).
INGRESSOS | CIRCUITO COM PREÇOS POPULARES:
Circuito Spcine: CCSP - Centro Cultural São Paulo (salas Paulo Emílio e Lima Barreto) e Biblioteca Roberto Santos: R$ 4,00 e R$ 2,00
Museu da Imigração do Estado de São Paulo: R$ 10,00
Mostra On-line
Gratuito
Sesc Digital e Spcine Play
CANAIS DE INFORMAÇÕES
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