No começo de maio, quando estiveram em São Paulo num tour para promover a próxima estreia, nesta quinta, 6, de Homem-Aranha – De Volta ao Lar, Tom Holland e Laura Harrier falaram da confusão de sentimentos de seus personagens na fantasia de John Watts e também do que significa estar num blockbuster desse calibre. A própria Sony considera o novo Homem-Aranha seu maior lançamento do ano, e espera faturar os tubos com a identificação do público jovem com mais essa etapa da saga de Peter Parker, zoado no filme, adolescente que é, como ‘Pênis Parker’.
O novo Homem-Aranha difere dos anteriores – a trilogia de Sam Raimi com Tobey Maguire e os dois exemplares com Andrew Garfield por ser uma aventura do Universo Marvel. De cara, Peter/Holland realiza um filme dentro do filme, documentando o início de seu estágio nas empresas do bilionário Tony Stark, aliás, Homem de Ferro. Ao contrário dos filmes anteriores, a trama refere-se menos ao deslumbramento, e problemas de adequação, do garoto que descobre seus superpoderes e mais a uma angústia comum a muitos jovens, e não só a eles. Peter Parker quer se integrar aos Avengers/Vingadores em sua próxima missão, mas passa quase todo o filme em compasso de espera. Afoito, age por conta própria – e mais de uma vez quebra a cara.
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Em São Paulo, para quem está integrado ao Universo Marvel, Holland/Peter Parker fez o que não deixa de ter sido uma transgressão. Foi conhecer o Beco do Batman na Vila Madalena – o Homem-Morcego pertence ao Universo DC – e adorou. Achou ‘super cool’. Sobre o fato de estar no ‘reboot’ (recriação) do personagem, avalia – “Tenho muita sorte de estar ‘on board’ (a bordo dessa aventura) porque já foram feitos cinco filmes antes, com dois atores que formataram o personagem no imaginário do público (Maguire e Garfield). Não tenho vergonha de dizer que roubei alguma coisa de cada um deles. O meu é um garoto que ainda está aprendendo, e curtindo ser o Homem-Aranha. Não é cientista nem atleta, e está ansioso demais. Meu Homem-Aranha está em treinamento.”
O blockbuster entra para ser uma das grandes bilheterias do ano, enfrentando pesos pesados como Mulher-Maravilha, que já ultrapassou 6 milhões de espectadores. Mas Tom Holland, como ator, também está marcando presença num dos maiores filmes do ano, A Cidade Perdida de Z, de James Gray. Ele não vacila em dizer que sua experiência na Amazônia “foi incrível”.
Tudo começou com Billy Elliot:
Em maio, na sua entrevista para o Estado, Tom Holland disse que nunca agradecerá suficientemente a duas pessoas fundamentais para ele. “Meu pai é ator e escritor, minha mãe é fotógrafa, mas foi ela que me matriculou numa escola de dança e insistiu para que eu aprendesse a dançar. Um dia lhe disse que ia fazer o teste para o musical Billy Elliot e ela, sem me desencorajar, disse que seria muito difícil de conseguir, porque todos os garotos do West End (de Londres) estariam audicionando para o papel. Mas eu fui e Stephen Daldry (o diretor do filme) me escolheu. Lhe disseram que não era bom de sapateado, mas ele retrucou que eu poderia aprender. Seu instinto dizia que o papel teria de ser meu, e foi.”
De Billy Elliot, no palco, para Peter Parker/Homem-Aranha na tela a trajetória de Tom Holland foi marcada pela intervenção de outros ‘padrinhos’. “Fiz um papel pequeno em No Coração do Mar (de Ron Howard) e Chris Hemsworth foi meio paizão, me dando conselhos. E depois ainda vieram Robert Downey Jr. e Chris Evans, que insistiram com a Marvel para que ele ganhasse o papel em Capitão América – Guerra Civil, dos irmãos Anthony e Joe Russo. Os produtores queriam se assegurar de que não teriam problemas com um moleque que, afinal, seria contratado para uma série de três filmes nos quatro anos seguintes.”
São Paulo, em maio, foi uma escala no tour de Tom Holland pela América Latina para promover Homem-Aranha – De Volta ao Lar. Daqui ele seguiu para a Cidade do México e, na sequência, para Atlanta, na Georgia, para retomar os trabalhos em Vingadores – Guerra Infinita. Holland simplesmente não sabia dimensionar seu papel no filme. “Nunca me deram um roteiro completo e, quando pergunto, me dizem para deixar de ser ansioso e esperar.” É o que, de certa forma, Robert Downey Jr., como Tony Stark/Homem de Ferro, e Jon Favreau, como Happy, dizem a Holland/Peter Parker em Homem-Aranha – De Volta ao Lar.
O longa que estreia nesta quinta, 6, tem tudo para se converter no megaêxito de bilheteria sonhado pela distribuidora Sony. John Watts fez um filme teen, afinado com o Universo Marvel (e os quadrinhos). Não é Christopher Nolan nem Zack Snyder, que às vezes decepcionam os fãs de Batman e Superman ao se distanciar dos quadrinhos. Snyder, por exemplo, recolhe da mitologia o que lhe interessa – é um autor de tragédias familiares. Superman e o pai no primeiro filme, e a mãe no segundo, Batman vs. Superman. Você com certeza deve ter ouvido falar no ‘retrato do escritor quando jovem’. De Volta ao Lar é, mais ou menos, o retrato do herói quando jovem – em treinamento.
Holland adorou trabalhar com Michael Keaton, que faz o vilão da história. “Pô, o cara foi Batman, faz parte do imaginário de qualquer pessoa que curta cinema e quadrinhos.” Keaton traz sua persona para o papel. O Abutre usa asas, como o Birdman do longa de Alejandro González-Iñárritu que o candidatou ao Oscar. E como Ray Kroc, de Fome de Poder, sobre o comprador da cadeia McDonald’s, vive dizendo ‘hot-dog’. Esse tipo de gracinha visa a garantir a identificação do público com o universo do filme. E ah, sim. Fique até o fim dos créditos. Tem duas cenas que você se arrisca a perder, se sair antes.