São apenas 65 minutos de duração e, durante boa parte do filme da argentina Nele Wohlatz - O Futuro Perfeito -, Xiaobin Zhang está sozinha no quadro. Ela faz uma garota chinesa que migrou para a Argentina para encontrar os pais, que chegaram primeiro e tiveram dois filhos na terra estranha. Xiaobin nem conhecia os irmãos mais novos. E, quando ela começa a falar, o próprio nome Xiaobin é coisa do passado e a garota agora chama-se Beatriz. O filme de Nele conta a história de uma tentativa de integração.
Ao contrário dos pais, que são chineses e querem permanecer como tais, Xiaobin quer ser aceita e fazer parte da nova terra. E por isso ela vai aprender a falar espanhol. Algumas cenas a mostram em seu primeiro trabalho, numa delicatessen. O chefe lhe indica/ensina os nomes dos embutidos, mas Xiaobin faz confusão na hora de atender o cliente. O chefe lhe diz que assim não dá. Despede-se e diz que ela tem de saber espanhol. Lá se vai a garota fazer o curso.
Quando fala para a câmera, ‘Beatriz’ usa frases simples, diretas. Fala como quem realmente ainda está aprendendo e é estranha numa terra estranha. Algumas cenas passam desconforto. A garota vai a um restaurante e não entende o cardápio. Para contar essa ‘inadaptação’, e seu contrário - o desejo de se integrar -, a diretora constrói seu filme em torno a uma sensação de estranhamento. E assim vamos descobrindo o passado de Xiaobin, o presente de Beatriz. Ela conhece um rapaz indiano, Vijay, com quem inicia uma relação às escondidas da família. E chegamos ao xis de toda essa questão. O futuro de Beatriz.
A voz por trás da câmera (a diretora?) pergunta a Beatriz como ela imagina seu futuro, e a garota descortina algumas possibilidades que parecem tristes. Nenhuma que dê certo? Beatriz antecipa mais uma, que termina de forma abrupta. Como se estivesse combinado - estará? -, acende-se a luz e, face ao que a diretora Christiane Jatahy chamaria de ‘corte brusco’, o público troca olhares na sala como quem se pergunta ‘O que aconteceu?’ Ou - ‘O que está acontecendo?’ Pois é justamente isso. Uma vida em três tempos. Passado, presente, futuro. Um futuro que, ao contrário do título, parece (im)perfeito.
Ri-se bastante no filme. Ri-se no final, mas aí talvez seja um riso um pouco nervoso, quando se percebe o sentido crítico desse filme encantador. Futuro Perfeito é enganadoramente simples. Mais complexo do que parece, levanta questões. Dois filmes - além desse, O Conto Chinês, com Ricardo Darín - não configuram uma tendência, mas querem dizer alguma coisa sobre a presença asiática na Argentina contemporânea. A diretora - Nele - é alemã. Desembarcou em Buenos Aires sem falar uma palavra de espanhol. Não é uma história autobiográfica, mas com certeza é pessoal. Sob múltiplos aspectos, esse é, caracteristicamente, um filme sobre linguagem.