De um dia para o outro, o professor Paul (Nicolas Cage) não consegue mais andar na rua. Sem querer, e também sem entender, ele se torna uma celebridade instantânea. As pessoas, afinal, estão tendo sonhos com Paul, mesmo sem conhecê-lo.
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A partir dessa premissa, O Homem dos Sonhos, que chegou aos cinemas na quinta-feira, 4, mostra Paul entre o céu e o inferno, entre a comédia e a tragédia. Ele nunca quis ser famoso, mas quis o mundo que esse acontecimento absurdo surgisse no seu caminho. Ele não sabe explicar, porém vê nisso uma oportunidade de crescer profissional, econômica e até mesmo socialmente.
Como o diretor e roteirista Kristoffer Borgli (do recente e elogiado Doente de Mim Mesma) não queria uma história de conto de fadas, logo esses sonhos se tornam pesadelos. Paul deixa de ser amado para ser temido. Ele não está mais nos sonhos só olhando o que acontece. Ele mata e até estupra.
A farsa de ‘O Homem dos Sonhos’
O Homem dos Sonhos, assim, se revela como uma comédia farsesca extremamente afinada com a realidade. Navegando em conceitos do inconsciente coletivo de Carl Gustav Jung, o filme traz comentários ácidos sobre a fama instantânea que a internet trouxe — nem dá mais para falar em 15 minutos de fama, mas talvez 1 minuto de fama e 14 minutos de desgraça, e, depois, o esquecimento.
Paul, afinal, se torna um sucesso inesperado e não requisitado. As pessoas o adoram: querem tirar fotos, tietar e até mesmo embarcar em aventuras amorosas. Ele, enquanto isso, ri dessa fama apenas na torcida de que prestem atenção em seu trabalho acadêmico. Quem sabe não publica o livro que há tantos anos está fazendo?
Mas a internet — e Borgli, consciente da pequenez de seu protagonista frente à avalanche que o suprime — não é clemente. Um deslize e pronto: vem o cancelamento. Não importa se Paul tem alguma culpa nisso, tampouco se é algo que está sob seu controle. Se ele está no alto, é preciso derrubá-lo.
Comédia e tragédia em iguais medidas, O Homem dos Sonhos tece comentários ácidos sobre essa cultura digital inclemente, seguindo o mesmo caminho do terror Morte. Morte. Morte, de que tanto fala sobre a tal geração Z ou, ainda, sobre como os caminhos do sucesso não são claros, como em Ficção Americana.
O Homem dos Sonhos sabe bem o que quer dizer, ainda que não saiba como terminar sua história. O final é um tanto abobalhado, seguindo por um caminho pouco interessante — aquela clássica derrapada de uma ideia excelente que não sabe como ser finalizada. Pelo menos, no caminho até o final errôneo, encontramos boas ideias, uma boa dose de reflexão sobre a fama e um Nicolas Cage em um de seus melhores trabalhos.